tag:blogger.com,1999:blog-85148550779244871602024-03-14T03:58:35.333+00:00 Com Livros«Tudo no mundo é feito para acabar por converter-se num livro.» Stéphane MallarméTeresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.comBlogger317125tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-41524435243242514922022-08-11T13:48:00.009+01:002022-09-19T17:48:16.496+01:00CADÁVER ESQUISITO – ecos de subversão<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4lvtsp2UZmNjVWqOMwLHRkzDS9SI92NBz6YTilCa1hsML2jBfbPgLHJSHBHu2iMGuqg_jfXaM5xuAO6ztZdHcxku1DPO9JSfApzdSmVV9tc8uU-XPTs1boTUhihPwjrQJ2gbKbShtQ6hOgvrrdTc7SNjnCVoZWVzMDmd3l3JrN-Jb5-U2lE-7-v0KYw/s2138/CadvEsq-capa.JPG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2138" data-original-width="2106" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4lvtsp2UZmNjVWqOMwLHRkzDS9SI92NBz6YTilCa1hsML2jBfbPgLHJSHBHu2iMGuqg_jfXaM5xuAO6ztZdHcxku1DPO9JSfApzdSmVV9tc8uU-XPTs1boTUhihPwjrQJ2gbKbShtQ6hOgvrrdTc7SNjnCVoZWVzMDmd3l3JrN-Jb5-U2lE-7-v0KYw/s320/CadvEsq-capa.JPG" width="315" /></a></div><br /><div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>Imaginar, primeiro, é ver. </i></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>Imaginar é conhecer, portanto agir.</i></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;">Alexandre O´Neill (1)</span></div></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>um método para salvar o vento, a chuva ou o fogo</i></span></div><div><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">CADÁVER ESQUISITO</span></div></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Editada pela <i>Edições Sem Nome</i>, esta plaqueta, que também é sanguínea, titulada <b><i>Cadáver Esquisito</i></b>, é um feliz encontro de poesia colectiva da lavra de jorge velhote, também o autor das fotografias, m. parissy e vitor vicente, sendo o arranjo gráfico de Luiz Pires dos Reys. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">À maneira do jogo do <i>cadavre-exquis </i>criado por André Breton em 1925, os poemas estão dispostos sem a sujeição da marca do autor, procurando evidenciar-se que o importante é a liberdade do texto e não quem escreve. São vinte e um textos sobre a metamorfose, transgressão e imaginação da palavra, com o último verso de cada poema a servir de mote ao seguinte, corpo completado com seis fotografias numa unidade irrepreensível onde a matéria e a forma coalescem revelando um projeto estético de admirável beleza. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Tratando-se de uma poesia obscura exige chaves que a desvendem delegando na leitura individual a capacidade de decifração, admissão da liberdade que o texto pretende evidenciar. A união entre o mundo interior e o mundo exterior faz-se através do olhar; a partir daqui a imaginação insurrecta acende-se para revelar o mistério, desvendar o que estava oculto, num movimento misterioso de expansão da consciência a que Baudelaire chamou “o gosto do infinito”. Diz-nos o texto:</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>e uma luz envolve de pólen os dedos deixando ver o que oculto / traz no olhar. No seu olhar peregrina uma fístula como uma paisagem. / Sobre si se dobra ao longe uma nuvem. E no seu olhar uma sombra / espera que a tarde decline as suas cores ou lágrimas. Que o mundo / goteje na precisão dos sonhos os seus muros. / A rudeza das palavras que transparecendo espiam no olhar / o irremediável momento da traição – um verso / como um selo adivinha-se nos seus lábios / como nas mãos a água se escapa</i></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">A palavra acede ao infinito para cair, irremediavelmente, no seu vazio. Eis a traição da palavra que ao desvendar-se oculta-se. Em subsídio desta formulação invoque-se o que é escrito por Mário Cesariny: “a sombra dita a luz / não ilumina realmente os objectos / os objectos vivem às escuras / numa perpétua aurora surrealista / com a qual não podemos contactar.”. (2) </span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">A segunda fotografia revela-nos o céu pintalgado de nuvens efémeras espelhado na água ou projectado num vidro, numa referência ao horizonte ilusório e à noção de que o espelho é eco e reenvio tal como é a palavra renovada.</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"> </span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">O sujeito tem a inquietação do jogador que se reinventa a cada instante com o seu ponto de apoio no vazio infinito. Ele eleva-se do chão para rasgar o ar como as aves, os anjos ou os bailarinos:</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>Das diversas razões para a criação de actores / a dança é a única que permanece intacta // eles também são cinza, ar, incenso / tudo o que de resto serve à morte</i></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Cabe ao aprendiz de anjo a missão de recusar a palavra gasta e asfixiante, experimentar novas formas de dizer, empenhar-se no fulgor do movimento, embrenhar-se no ardor necessário “para que em laboratório se alimentem /aprendizes de anjos”. No laboratório testa-se o movimento delirante da metáfora indómita que procura o <i>corpo visível</i>, mistura o concreto e o onírico, o visível e o invisível atingindo níveis de significação e ressonância extremas. Confira-se:</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>Como se um dedo convulso o sangue lhe espetasse / como se luminosa fosse e táctil a nudez – / é uma ilha de palavras a surdez do silêncio, um lugar / mortal ou um golpe de luz rompendo / os ossos visíveis, as membranas do vento / onde sopramos a alta temperatura dos segredos / ou cravamos os olhos calcinados de pavor / e melancolia – / a dissonância obscura ou o dilúvio inenarrável / de quem regressa e perscruta anónimo a penúria / límpida dos seus passos a simetria dos seus dedos / como se nesse lugar excessivo o fulgor fosse a súplica </i></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">A nudez é a servidão do olhar que aqui se exprime na palavra e na fotografia. O jogo da revelação é, pois, “o jogo da cegueira” que não será apenas “um desejo obscuro”, porquanto é acção expressa em grito urgente, em “súplica”, ideia que se avista no pensamento de Georges Bataille: </span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">"Quando solicito delicadamente, no próprio coração da angústia, um estranho absurdo, um olho abre-se no alto, a meio do meu crânio.</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Esse olho, que, para o contemplar na sua nudez, a sós, se abre para o sol em toda a sua glória, não é um produto da minha razão: é um grito que me escapa. Pois no momento em que a fulguração me cega, sou o estilhaço de uma vida quebrada, e essa vida – angústia e vertigem –, ao abrir-se para um vazio infinito, dilacera-se e esgota-se de uma só vez nesse vazio." (3).</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">A quinta fotografia de Jorge Velhote (reprodução na imagem em baixo) atinge-nos com o grito que se solta pela acção da lança cravada como um dedo espetado no indecifrável. </span></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ5TDVwP87PXo9TeiqJtcEixMR3_Y9-kSYkXZTv02A7-PJa52hfiyPTqnP4QBmsXfPpqCLWDydBp2Ge6Up-D4YbReImDp_cDC_01andDQ7Z-3DykWqn0UP6xv0MXIfJ-G_qhsJ-TrzFyxsxR_zzECWx9pMX6OPNjTbklMxUOIMYbj7D1xS3l2YLQ4Bjg/s3172/C.Esquisito,%20interior.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2104" data-original-width="3172" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ5TDVwP87PXo9TeiqJtcEixMR3_Y9-kSYkXZTv02A7-PJa52hfiyPTqnP4QBmsXfPpqCLWDydBp2Ge6Up-D4YbReImDp_cDC_01andDQ7Z-3DykWqn0UP6xv0MXIfJ-G_qhsJ-TrzFyxsxR_zzECWx9pMX6OPNjTbklMxUOIMYbj7D1xS3l2YLQ4Bjg/w400-h265/C.Esquisito,%20interior.JPG" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">(CADAVER ESQUISITO, interior)</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Se as palavras se erguem em jogos de ruínas em busca do estímulo que as desnude, as fotografias são reverbero no mesmo fulgor: a abrir, deparamo-nos com a imagem de uma porta asfixiada, bloqueada por pedras como se uma explosão depositasse a sua violência na passagem para a qual foi concebida; ainda, contíguas, a terceira e a quarta fotografia dão-nos o silêncio prístino da água e os detritos humanos naquele silêncio. Por sua vez, diz-nos o texto:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>Nessa casa onde o sol se debatia com o pólen / todos os animais rastejavam / era no leite que urdiam / entoavam loas // No fundo /a lama que se estendia por caminhos de esgotos / deixava que ao homem apenas um sorriso fosse permitido</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;">ou rematado assim:</span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i><br /></i></span></div><div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>Eis o estuário. / Feito de fontes, fossas / e outros tubos científicos</i></span></div><div><br /></div></div><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Na última fotografia deste compêndio ergue-se uma parede de placas verticais a bloquear a luz subversiva que afia os seus braços pelas frechas incautas, em gumes ígneos que descarnam as feridas e que o texto esclarece assim: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><i>(...) eis onde a sombra te lava e as serpentes ou as chamas, a caligrafia / breve de um poema como um espelho gota a gota / e na escuridão se ilumina o negrume dos lugares / o sábio esplendor do musgo onde atenuas o sofrimento</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Com <i><b>CADÁVER ESQUISITO</b></i> a editora <i>Edições Sem Nome</i> inaugura a coleção <i>Monte Côncavo</i>: são bons auspícios para a <i>concha devoluta</i> da palavra. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div></div></div></div><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">Notas:</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">(1)<span style="white-space: pre;"> </span>Alexandre O´Neill, <i>Poesias Completas</i>, 5.ª edição, , Assírio &Alvim, Lx, 2007, p.43</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">(2)<span style="white-space: pre;"> </span>Mário Cesariny,<i> Uma Grande Razão</i>, Assírio &Alvim, Lx, 2007, p. 77 </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;">(3)<span style="white-space: pre;"> </span>Georges Bataille, <i>A Experiência Interior</i>, Edições 70, Lx., 2021, p. 113, tradução de António Hall e Lurdes Júdice</span></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: x-small;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b><br /></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b>© Teresa Sá Couto</b></span></div>Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-7679925565414101572021-03-07T20:52:00.009+00:002022-09-19T17:49:12.085+01:00Maria Quintans : o corpo do silêncio<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFvlGL708XQAEVazZtmzZ6nIKfsDsgPJ7JMwpG-bN10MtpR2iRfcrP3uGKw8C8Q24ciIakAPmILsKQC3ERbnLm0rLrVCafyL6VpeovodfIFqW29Sez-UlHjd9Ua2UQ5s-vF5arvJod4kaO/s640/MQuintans-capa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="490" data-original-width="640" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFvlGL708XQAEVazZtmzZ6nIKfsDsgPJ7JMwpG-bN10MtpR2iRfcrP3uGKw8C8Q24ciIakAPmILsKQC3ERbnLm0rLrVCafyL6VpeovodfIFqW29Sez-UlHjd9Ua2UQ5s-vF5arvJod4kaO/w320-h245/MQuintans-capa.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><b>O corpo do silêncio</b><o:p></o:p></span></i></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; mso-ansi-language: PT;"><br /></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;">Aqui me tens. E o texto.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;">Partículas. Partes sensíveis, pequenas<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;">vísceras onde se ocultam vermes;<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;">uma poeira doce;<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;">depois uma ferida (1)<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-size: x-small;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"> </span></i><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT">Armando Silva Carvalho </span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT"><span style="font-size: x-small;">É neste inferno que se mascara o poema. (2) <o:p></o:p></span></span></i></p><p>
<i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="line-height: 107%;"><span style="font-size: x-small;"> Maria Quintans</span></span></i></p><p><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><br /></span></i></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Sabemos que todo o poeta enfrenta o poema com o corpo. Numa biografia a dois. Numa fantasia homicida. O combate é fratricida, o corpo é esquartejado, rasga-se a pele, estilhaçam-se nervos, explodem-se veias, fende-se o escuro da carne até ao osso, até essa essência que é também um ponto luminoso no fundo silencioso do abismo: ao poeta fascina-lhe “o fósforo a abrir em luz o tempo primitivo” </span><span style="font-size: x-small;">(3)</span><span style="font-size: medium;">, diz Maria Quintans, e “Devorar vísceras mortais /é um ofício vil, /apaixonante” </span><span style="font-size: x-small;">(4)</span><span style="font-size: medium;">, diz o poeta Armando Silva Carvalho.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“se me empurrares eu vou”, “se me empurrares eu caio”, responde Maria Quintans ao incitamento do poema, pronta a encenar o corpo num uivo cavernoso como o prefigurado na mulher-cão de Paula Rego. Editado em 2019 pela Assírio&Alvim, <i><b>SE ME EMPURRARES EU VOU</b></i> é o título mais recente da autora onde se investiga a alma e a existência humanas e se reflecte sobre como a matéria investigada pode ser transfigurada no corpo da poesia.</span></div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“Agitas a exaltação do corpo em todas as direcções, ainda que tudo o que eu disser não signifique nada do que pretenderia dizer-te”, escreve Maria Quintans na Carta a António Ramos Rosa, que faz parte do último conjunto de textos de <i><b>SE ME EMPURRARES EU VOU</b></i>, plasmando a ideia do corpo como emblema da criação literária de António Ramos Rosa, outrossim da sua própria criação, ao mesmo tempo que nos dá a noção da palavra como fruto incapaz de ser possuído, porquanto a palavra morre ao ser dita. </span><span><span face="Arial, sans-serif"><span style="font-size: medium;">Mais à frente, na
mesma carta, a autora dá-nos outras pistas de como concebe a criação: no corpo que
sustenta outro corpo – o aparente que contém o invisível, a matéria que contém
o espírito – , nos ombros que carregam o peso do mundo e a linguagem do caos subterrâneo
do espírito em busca de um abrigo: “Não sei quantos ombros são necessários para
levantar um poeta mas será pouco eleger-te grande, com determinante paixão e
avanço de braços, porque macabramente, todos os poetas são engolidos pela
terra. E na verdade, a condição primeira do poema é mesmo essa, um apelo da
raiz dos sonhos, um prodigioso grito vindo das entranhas do fogo, consequente e
brutal, em forma de sentido do não-sentido do poema, em forma de poeta a
apertar a mão a um deus embranquecido nas sacadas dos prédios, no limite do
fôlego." </span><span style="font-size: x-small;">(p.p 61-62)</span><span style="font-size: medium;">. O poeta é constituído por “partículas”, por “pequenas
vísceras onde se ocultam vermes”, como expresso nos versos de Armando Silva
Carvalho, em epígrafe, o homem sabe a vulnerabilidade da sua condição o que o
faz, na sua humildade, “apertar a mão a um deus” forjado ao espírito, um aperto
de mão silencioso, porque a palavra perdeu-se e ficou apenas a linguagem do
corpo ou dito ainda assim por António Ramos Rosa: </span></span></span><span style="font-size: medium;">“O subterrâneo conduzirá ao diamante nocturno do sossego. O seu percurso é uma fuga porque a fuga é uma força e o desconhecido, na sua virgindade, será o supremo elemento de defesa.”.</span><span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: x-small;">(5)</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O poeta escreve contra a solidão, escreve contra a morte, escreve para tornar “invulnerável a sua fragilidade essencial” e, “na exaltação de um pulmão completamente cheio de oxigénio”, o poeta escreve “o amor e a morte”. No poema “os bichos repugnantes”, onde seres trabalham no húmus subterrâneo alimentando-se do corpo putrefacto, sintetiza-se a reflexão sobre a condição humana e a condição poética:</span></div><span><span face="Arial, sans-serif"><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">às vezes durmo<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">muito pouco</span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">aí na clareira da cama soltam-se
animais<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>bichos que nunca <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">vi irradiam até à minha boca cheia de
sal e terra e corrimento<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">bélico da boca aos pulmões qualquer
coisa estranha por dentro <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">do coração<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aperta-me<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">os bichos põem-se de quatro a
alimentar a carne separam-se dois<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">a dois e copulam em todo o lado
rebentam os galhos das árvores<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">e abrem crateras no tronco das abelhas<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">abismo sonoro aberto à voragem dos
ossos</span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">só tenho de fechar os olhos na
angústia das pálpebras. pensar que<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">Deus é uma vertigem sem rosto engolir
o meu pulmão afogado<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: medium; mso-ansi-language: PT;">no bafo amniótico da água. respirar.</span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"> <span style="font-size: x-small;">(p.p.48-49)</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-size: large; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><br /></span></p>
</span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">No emblema do corpo, está o lado esquerdo, o das trevas, do inconsciente, do espírito, o lado das emoções caóticas do coração, o lado das incertezas que fazem com que o incerto se volte para si próprio e se interrogue; no lado esquerdo está a fonte da criação artística, está o resgate da palavra, e o discurso eclode com “todo o caminho aberto até ao peito /um grande mar entre o oceano e o coração /o peito aberto à bala /escancarado a senti-la” </span><span style="font-size: x-small;">(p.16)</span><span style="font-size: medium;">. Doutra parte, o lado direito é conotado com a luz, o conhecimento, o lado onde o labor traduz o caos em ordem, onde as incertezas se eliminam, onde, portanto, se apaga o espírito. Por isto se lê: “o braço direito dói-me e já não tem a sabedoria do poema”, para logo no verso seguinte o corpo emendar a direcção: “espero e dobro-me para tocar o fundo do arame veloz a pender da árvore.” </span><span style="font-size: x-small;">(p.18)</span><span style="font-size: medium;">. Porque “o homem não gosta de casas pequenas” e o poema é “um animal faminto”, “se não fosse a água era o corpo a deixar cair o coração e os pulmões /a onda de um acaso agitado e - afaga o poema com mão esquerda - a mão esquerda no pêlo da cauda /…/ se não fosse a rouquidão das manhãs seria a lã dos outonos /um tubo de plástico na garganta e um cão aos pés da cama a lamber as feridas.”</span><span style="font-size: small;">(p.19)</span><span style="font-size: large;">, lê-se. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></div></span><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O cão, ora nomeado nalguns poemas ora intuído noutros, é o símbolo do mundo interior, o cão fareja a matéria oculta, subterrânea, a palavra invisível, inalcançável, o cão é o “silêncio em quatro patas gigantes”, é o poema calado que espreita antes de o ser; outrossim, a cama é a noite dos naufrágios, é o tempo e o espaço do corpo da incerteza que se implanta numa teia discursiva complexa e iluminada, como concretizado no poema “ombro esquerdo”:</span></div><span><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">a cama é um animal doméstico: esconde<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">o ombro esquerdo, lê a Bíblia e é o mais<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">completo sistema de precisão. não avalia<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">a razão, não acorda, encosta-se na acção<o:p></o:p></span></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">absoluta. a cama é pão e cão.</span> </span></i><span lang="PT"><span style="font-size: x-small;">(p.20)</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></p></span><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"></p><div><span lang="PT"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">Como os raros, <b>Maria Quintans</b> mostra-nos que a criação tem sede de sangue incandescente; a sua palavra explode em pesadelo, a noite antecipa a voz da morte e lança a Interrogação fundamental do sujeito de si sobre si, sobre a realidade e a verdade. A palavra eclode, “asa frágil de um pensamento nódoa”, “o poema é um osso escolhido pela memória”, “a ferida é um pedaço de osso /do braço esquerdo” e o poema é “um cão aos pés da cama a lamber as feridas”. Lê-se no poema “a casa do silêncio”: </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“[...]</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> perdemos tudo muito devagar. de dentro já não se ouve nada. um</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> prego no coração e um cão acordado a noite inteira. tanto</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> descanso. tanto asfalto. tanta água a abrir a boca e sobretudo</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> os palácios do diabo em riso descarado […]”. </span><span style="font-size: x-small;">(p.21)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"> </span></div></span><div style="text-align: justify;"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">O cão é </span></span><span style="font-size: medium;"><i>Anúbis,</i></span><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> o condutor de almas, o </span></span><span style="font-size: medium;"><i>Cérbero </i></span><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">das profundezas infernais ao qual se há-de prestar contas, que desfia o poema e nele faz desfilar a </span></span><span style="font-size: medium;"><i>danse macabre</i></span><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> da existência humana; o corpo, atravessado pela gramática do silêncio, vazio até aos ossos, contorce-se na luta com o espírito; a palavra contorce-se na busca do sentido para anotar o não-sentido; o poema, timbrado de loucura, edifica o corpo nos símbolos:</span></span></div><span lang="PT" style="font-size: large;"><div style="text-align: justify;"><br /></div></span><span lang="PT" style="font-size: large;"><div style="text-align: justify;"><br /></div></span></div><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">“[…]</div> <o:p></o:p></span></span><p></p><span><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">nada existe<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">nem que criemos
as palavras a uma velocidade estrondosa não<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> sabemos onde começa a escrita<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">se na cabeça se
nos dedos se na infelicidade das chagas se na tex-<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> tura da madeira onde nos sentamos
para comer mais e <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> beber mais e saber mais e largar o
corpo à deriva da pele e<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> do desejo<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">que seja um país
inteiro o teu cheiro o teu mijo a tua cona a tua <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> invejável lucidez na largura das
caudas das putas<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">come a laranja
como a laranja espreme-a de encontro ao peito e<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> deixa escorrer o sumo até ao umbigo
e arde de prazer na<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;"> tontura da solidão. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">
</span></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: medium;">o desespero é só
uma palavra na inocência da loucura.”</span><span style="font-size: x-small;"> (p. 42)</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><br /></p></span><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">Na “culinária da besta”, o <i>Eu</i> poético, “em combustão de crenças num mapa de tristezas”, numa casa onde o cão está perdido e cheio de medo, “com as mandíbulas desaparecidas entre a cabeça e o chão”, lança o corpo ao mundo exterior, à sociedade <i>hic et nunc</i>, em anotações transbordantes de ironia e sarcasmo:</div><br />"há cidades que não têm nome. podemos beber, falar e comprar<br /><br />bilhetes para o cinema nas cidades que não têm nome. como<br /><br />os homens que caem para a frente nus e cegos de tristeza.<br /><br />estes também não têm nome. podem um dia ou outro ter a<br /><br />inocência da luz mas não têm nome. como as moscas. "</span><span style="font-size: x-small;">(p.24)</span><br /><br /><br /><span style="font-size: medium;">ou no poema “exercícios de quem não dorme”: <br /></span><br /><br /><span style="font-size: medium;">“[…] pense-se.</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">não há nevoeiro que caiba num poema inteiro. E os talhantes a</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">cortar a carne. E os filhos-da-puta a comer bitoques. E a carto-</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">mante a ler as cartas.</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">e os poetas a arrancarem palavras ao significado da lagarta da</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">maçã. E os sem-abrigo com orelhas de sangue. E as mulheres a</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">crescerem filhos para crescerem depois a crescerem filhos. E os</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">autocarros cheios de gente às sete da manhã e cheios de gente às</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">sete da noite.</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">Pense-se. […]” (p.51)</span><br /><div style="font-size: large; text-align: justify;"><br /></div><div style="font-size: large; text-align: justify;"><br /></div><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">Quando a boa poesia empurra o leitor para a sua emboscada abissal, o leitor cai e erguer-se-á dessa queda com os ombros carregados de luz. É de feitiço que se trata, e Maria Quintans é uma das feiticeiras notáveis da poesia portuguesa:</div></span><br /><span style="font-size: medium;">"cai. deixa-te cair. as pessoas que caem ficam com os polegares es-</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">folados. cai.</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">abate a tiro a realidade de um crime suportado por qualquer in-</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">quietação. cria uma emboscada e cai. não é fácil criar uma embos-</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">cada e ferir de morte a imagem. peritos em emboscadas dizem que</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">é melhor na escuridão com os olhos feridos de luz. e a cabeça. E a</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">boca. e os sentidos magnetizados. irrigados pela tua insuportável</span><br /><br /><span style="font-size: medium;">vulgaridade. respira. cai. a noite consente tudo. "</span><span style="font-size: x-small;">(p. 46)</span><span><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><o:p> </o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT">Notas:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT">(1) Armando Silva Carvalho, <i>O QUE FOI PASSADO A LIMPO – OBRA POÉTICA</i>, Assírio&Alvim,
Lisboa, 2007, p.159<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT">(2) Maria Quintans, <i>O SILÊNCIO</i>, </span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Hariemuj, Lda., Abril de 2013, </span>p.51</p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT">(3) Maria Quintans, <i>SE ME EMPURRARES EU VOU</i>, </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Assírio&Alvim, Porto,
2019, </span><span lang="PT">p.18<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span lang="PT">(4) </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">Armando Silva Carvalho, <i><span style="background: white; color: #444444;">ob.
cit</span></i><span style="background: white; color: #444444;">.,</span></span><span lang="PT" style="background: white; color: #444444; font-family: "Cambria",serif; font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT;"> </span><span lang="PT">p.379<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="PT">(5)</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"> António Ramos Rosa, <i>Antologia Poética</i>, Publicações Dom
Quixote, Lisboa, 2001, p.410<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;">SE ME EMPURRARES EU
VOU, Maria Quintans, Assírio&Alvim, Porto, 2019<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><o:p> </o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span lang="PT"><span style="font-size: x-small;">
</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="background: white; color: #444444; font-size: 10pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT;">© Teresa Sá Couto</span></b><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="mso-ansi-language: PT;"><o:p></o:p></span></p></span></div><p></p>Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-16524401810733062132020-12-06T12:48:00.003+00:002022-09-19T17:50:00.940+01:00Miguel Serras Pereira: uma habitação no enigma da linguagem<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsw2yd6dpVwcF-_zlVjcmX1HOMU4nImA3FVsMniW9mxL5CerVVO6yq5E0EAassuz9jlR3ke1qOD4gnIHD4rIXQdWT9FaxIJDO_R4rQjzgSAZoZ2QErKrNB1o_n2E2IxFxKrfGpJStMFQW5/s960/%25C3%25A0+Tona+do+Vazio.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="942" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsw2yd6dpVwcF-_zlVjcmX1HOMU4nImA3FVsMniW9mxL5CerVVO6yq5E0EAassuz9jlR3ke1qOD4gnIHD4rIXQdWT9FaxIJDO_R4rQjzgSAZoZ2QErKrNB1o_n2E2IxFxKrfGpJStMFQW5/w314-h320/%25C3%25A0+Tona+do+Vazio.jpg" width="314" /></a></div><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p> </p><p><br /></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: left;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;">Ó silêncio que arranca do fundo do meu peito um</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sopro puro! Oh! Como este bendito silêncio escuta!</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 9pt;">Frederico
Nietzsche<i> </i></span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt;">(</span></i><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt;">1)</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 9pt;"><o:p> </o:p></span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;">Do
mesmo modo abri, no labirinto do fogo, a boca</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>imaginando consumir assim o desconhecido</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mar do silêncio.</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 9pt;">Jorge Velhote </span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt;">(2)</span></p></blockquote><p><br /></p><p><br /></p><p style="text-align: justify;"> <span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> <a name="_Hlk58102551"><span lang="PT">Em À
TONA DO VAZIO & REPRISE, Miguel Serras Pereira </span></a><span lang="PT">celebra
o espírito criador de cinquenta anos de produção poética – de 1969 a 2019 – e
liberta no futuro um projecto que se inscreve na reflexão sobre o poder da
linguagem em nomear o mundo e a sua fragilidade e resistência no desvelamento
da palavra, o que vai ao encontro do aludido por Heidegger: “O dizer
projectante é aquele que, na preparação do dizível, faz ao mesmo tempo advir,
enquanto tal, o indizível do mundo”</span></span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%; text-align: justify;">(3)</span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">.
Tal como o viandante Zaratustra, o poeta percorre o mundo da sua montanha para
o esconso da sua caverna, onde ecoam todos os sons, para aí escutar o
“desconhecido mar do silêncio”, aludido nos versos de Jorge Velhote, para
trazer do fundo, onde se funda a poesia, o que está oculto ou dito assim por
Miguel Serras Pereira: “Escuto a tua voz escuto a distância/ o silêncio de um
sino submerso/ ressoando à transparência do silêncio.”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> Referindo-se
ao resgate da palavra pura, escreve Rilk na <i>Nona
Elegia</i> de <i>As Elegias de Duíno</i>: "[…]
Pois o viandante não traz da encosta da montanha / uma mão cheia de terra para
o vale, da terra a todos indizível, /mas sim uma palavra conquistada, pura, a
genciana azul /e amarela. Estamos nós talvez aqui, para dizer: casa, / ponte,
fonte, porta, jarro, árvore de fruta, janela, – / quando muito: coluna, torre…?
Mas para dizer, entende-o, / oh! Para dizer de tal maneira como mesmo as coisas
jamais / pensaram ser tão íntimas. […]”</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%;">(4)</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> . No
poema de juventude titulado <i>Com os mesmos
traços</i>, Miguel Serras Pereira deixa antever o cinzel com que iria esculpir
a casa que agora nos chega: a sua “genciana”, que transporta na mão direita, é
uma “flor vermelha e azul”, as cores da
carne rasgada, do rio subterrâneo que irriga o poema, e que se lança em voo
pela infinitude das águas, aqui referência à tarefa inesgotável do fazer poético,
para a qual concorre, ainda, o verso “é vão todo o rumor de todo o tempo
amada”, que é, também, um apontador da reflexão sobre a memória. O olhar, o
olhar inicial, da descoberta, da eterna infância, é o “fruto”,<i> </i>o agente da deflagração, “talvez aberto ao meio<i>” </i>porquanto é o
olhar que apreende a realidade para a obscurecer e compele a mão silenciosa a
desenhar o enigma: a palavra poética. O olhar “talvez aberto ao meio”,
“talvez”, porque a contaminação entre realidade e invenção torna indistinto
onde começa uma e termina a outra, obtendo-se um corpo artístico uno. Atente-se
no poema integral <i>Com os mesmos traços</i>:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">Se
viesses agora amada encontrarias<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">não
mais que duas mãos cheias de silêncio<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">e
não mais do que o largo silêncio destes dias<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">no
antigo rumor de os saber pelo vento<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">Crianças
que me não conheciam conheceram-te<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">entretanto
adivinhando em mim quando as cruzei<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">com
uma flor vermelha e azul na mão direita<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">e
o seu fruto o meu olhar talvez aberto ao meio<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">Por
isso se viesses agora todas as palavras<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">seriam
só como para quem não espera<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">é
vão todo o rumor de todo o tempo amada<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">E
o meu olhar seria no teu somente a cor da areia<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">a
que de uma flor vermelha e azul dei os mesmos traços<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">
</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">que
no meu pulso um dia soube serem veias (p.94)<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Com efeito, o <i>olhar</i> atravessa toda a obra, o mesmo é dizer, todo o tempo – o dos
cinquenta anos de produção poética e o da memória –, procurando sempre emblemas
que lhe enformem a intenção. As
simbologias da <i>corça</i> – <i>Corça</i> que faz o título do livro de <i>1982 –, </i>do <i>caçador, </i>do <i>espelho</i> e das
<i>águas </i>são alguns desses emblemas que
habitam no centro simbólico donde tudo irradia e para onde tudo reverte. Cabe
ao dizer poético o desafiante caminho labiríntico que sonda o <i>Eu </i>profundo e libertar a palavra que o
nomeie: o arco do tempo lança a sua “flecha de água” que transforma a “corça”
de grandes olhos trémulos” em “rapariga”, “a surpresa da corça de si própria”,
a “carne atravessada” do sujeito nos olhos da procura “à tona” do espelho da
lagoa, tentando perscrutar a profundidade onde mora a palavra nova e registar o
indefinível: “ardia no espelho escuro o brilho de uma lâmpada”, diz-nos o texto
que sabe que a palavra é um espelho ilusório, enganador, porquanto a palavra
resgatada é esquiva e efémera como a luz. Por outro lado, a procura simbolizada
pela imagem invertida do espelho permite que o <i>Eu</i> se veja como objecto que é possível estudar e interrogar,
procedendo a um inventário. Olhar-se e
compreender-se implica confrontar a esfinge, o fantasmático que se esconde
dentro do sujeito: a fadiga, a angústia, a mágoa, a solidão, o desenraizamento,
outrossim o desejo e a alegria assomam com peso místico a estimular a criação.
No poema <i>Talvez no vento</i>, o olhar
fica “obscuro à espera de um sentido / que não seja nem tacto nem ouvido”, e o
leitor escuta a respiração dessoutro poema invisível que faz tremer o sujeito
poético, pressente uma teia de murmúrios enigmáticos e longínquos aos quais não
estará alheio o diálogo que <b>Miguel Serras Pereira</b> tem encetado, ao longa da
vida, com os autores que leu e traduziu – como </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="background: white; color: #1d2129; font-size: 10.5pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">Rimbaud,
Cervantes, García Marquez, Vargas Llosa, Proust, Kundera, Derrida, entre outros
–, </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">onde foi “o escritor
invisível”, “essa espécie de transfusão de sangue perdido, que é sempre o
trabalho de tradutor”, no dizer de Maria Helena da Rocha Pereira, citada por
Jorge Almeida e Pinho</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">(5)</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 14.6667px; text-align: left;">Portador de um olhar capaz de penetrar na interioridade das coisas, o<span style="font-family: inherit;"> </span></span><i style="font-size: 14.6667px; text-align: left;"><span style="font-family: inherit;">Eu</span></i><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 14.6667px; text-align: left;"> empreende um processo de cisão que se replica pela própria interioridade: na ânsia de se buscar, o<span style="font-family: inherit;"> </span></span><i style="font-size: 14.6667px; text-align: left;"><span style="font-family: inherit;">Eu</span></i><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 14.6667px; text-align: left;"> poético sai de si, multiplica-se para se encontrar, evade-se de si para melhor se olhar, para observar o próprio fogo e as transformações da chama, para interpelar a existência caudalosa do seu ser “todo feito de água se tocado” e o tempo que a produziu, transcendendo-se a si próprio, dito assim no poema <span face="Arial, sans-serif"><i>A bem amada</i></span></span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 14.6667px; text-align: left;">:</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Ficamos a bem amada e eu à tua espera<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">uma corça espantada pela morte da lagoa<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">onde bebia no espelho aberto pela própria
silhueta<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">o brilho entre o voo e a queda na água de
uma folha<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Mas a tua casa era o vento a que vergavas<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Tu não procuravas a morte nem a vida<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">e eu olhava-te e via e nunca mais voltava<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">a ver em ti o rosto que um dia ainda não me
vira<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Estar contigo não era perder-te nem
achar-te<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">e eu ficava a lembrar que te esquecia ou só
a amar-te<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">no ponto de fuga da carne à memória do teu
rosto<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Por isso trago dois corpos no meu corpo
ambos sem ti<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">e o tempo em vão procura o fogo cujo
estranho brilho<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">é a sombra do teu exílio em toda a parte </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;">(p.108)</span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;"></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> “Dirigir-se
às coisas ou dirigir as coisa a si – é a mesma coisa” </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%;">(6)</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">
, escreveu Novalis, e é esta assunção que encontramos na poesia de <b>Miguel
Serras Pereira</b>. As coisas repertoriadas
e os contextos criados estão ao serviço da construção do <i>Eu </i>num<i> </i>processo que<i> </i></span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">acarreta a dimensão temporal
e a interposição dos mecanismos da memória o que, por sua vez, implica a
ficcionalidade. </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Inventiva, pródiga em recursos, a tessitura
poética com que o sujeito se enlaça nas coisas é feita de uma teia de fios
sedosos, robustos e labirínticos que alcança todos os poemas. A luz aponta e
assume o efémero, em fios no enredo do jogo supremo entre sombras e luz, que é
o jogo do olhar, desenha num segredo circular, num movimento circular infinito
do nascente para o ocaso, do nascimento para a morte, da infância mais
recôndita à morte prefigurada. Do latim <i>lux</i>,<i> </i>conceito que exprime a capacidade de
ver claro,<i> </i>a luz, com as suas graduações
e tonalidades, é a metáfora da realização poética. Na peugada deste intricado
criativo, surgem poemas como o </span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Luz de cobre</span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> e o <i>As
manchas de ouro</i>, reproduzindo-se aqui este último: </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Quem dirá o sabor dessa palavra<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">que a tua boca transtorna e se desfaz<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">no mais denso nó de sangue do meu sangue?</span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Agora as manchas de ouro precipitam-se</span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Dentro de ti a casa e a neve</span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">o voo interno<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">
</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">destas águas que já não voltam a partir </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;">(p.117)</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> <span lang="PT">Mas como se
tece a distância? como se pode presentificar o tempo? como “deitar-lhe contas
que não mintam?”. O tempo flui, e o ser humano sabe que fica preso no tempo que
sente, enquanto, todavia, sente o tempo fluir. E sabe-o o poeta que também sabe
que o tempo, na sua corrente, faz o <i>ser</i>
acontecer, declarando-o assim, anotando a</span></span></span><span lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> evidência
de que uma parte de si parece cristalizada e imóvel enquanto que a outra segue
no mistério da liberdade:</span><span face="Arial, sans-serif"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Partias a casca de noz de uma palavra<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">e metade embarcava-me para sempre<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">metade era uma casa na outra margem </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;">(XX, p.131)</span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Cesário Verde, o eterno poeta do olhar e da deambulação,
fecha os olhos cansados de realidade para olhar para dentro de si e descreve
“telas da memória retocadas”; com o olhar a instaurar a distância que torna
possível o acesso ao invisível, apresenta-nos, no poema <i>Nós, </i>o seu método: “A Impressão doutros tempos, sempre viva, / Dá
estremeções no meu passado morto, / E inda viajo, muita vez, absorto, / Pelas
várzeas da minha retentiva. // Então recordo a paz familiar, /Todo um painel
pacífico de enganos! /E a distância fatal duns poucos anos / É uma lente
convexa de aumentar </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(7).</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> Em <b>À TONA DO VAZIO</b></span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><b> & REPRISE</b></span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> a memória é o “coito estelar que nos ronda e
assombra”, lê-se no poema <i>A figura da
amada</i>, poema que, e não é ao acaso, se repete três vezes em lugares
diferentes, sem todavia se repetir: mesmo a palavra desvelada precisa de ser
depurada, renovada e são-nos dados três andamentos desse processo infinito. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;">
</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> Zaratustra
voltou a ser menino, despertou. Em <b>Miguel Serras Pereira</b>, a infância é a febre,
o “tempo das vindimas” e nele um “pássaro que gesta no sangue”, “uma romã na noite em branco”, “</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">o arrepio da primeira madrugada”. </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">No poema
<i>Promessa </i>lê-se que “o brilho das
estrelas” revela e “deita raiz até ao berço”, n</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">uma referência ao carácter arborescente da
memória ou ainda dito assim:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Um longo ramo vai crescer dentro do sono<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">subindo a minha infância ao teu encontro </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;">(XXIII, p.131)</span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT"> </span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> A “distância
é fatal” no sentido em que em todo o projecto de constituição do <i>Eu</i> que se ancore no tempo da memória é
utópico por ser, logo à partida, um projecto eternamente inacabado, que
encontra “em cada rio sempre outra encruzilhada” e cujo <i>Périplo</i> é “tornar ao
princípio / a buscar que buscar”; </span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">doutra parte, o sujeito que se mira no
espelho como sendo outro que não reconhece, jamais concluirá a sua busca. Lê-se
no poema <i>Pranto no malogro do atentado a
Rimbaud</i>:</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> </span><span style="font-size: 10pt; text-align: left;">[...]</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Gostava de matar-te mas tu eras a gaivota<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">que voa muito alto para o coração do meu
fogo <o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">e só não sei ainda se partiste ou se
ficaste tanto<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">que talvez eu me engane apenas no meu nome </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;">(p.101)</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> <span lang="PT">Amiúde,
surgem notações da geografia sentimental do poeta inscritas ou nos poemas ou
enquanto referências ao local da escrita, como Abrantes, lugar de infância do
autor, Valada do Ribatejo, Arles, Vila Nova de Foz Côa, Bruxelas, Foz do
Arelho, registos que parecem ser assumidos como detritos do real, porquanto
esta é uma poesia que pretende acentuar a sua liberdade criativa e desafia a
resistência da matéria poética, todavia consciente da importância de assinalar
a marca de habitação no mundo, que pode surgir subtil e inusitadamente nos
textos, como é disso exemplo o <i>relógio</i>
da vida expresso no poema <i>Num bar de praia fora da estação</i>, com a
indicação de escrita “Foz do Arelho, anos 90”: <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">[...]<i> pescar um pouco em águas turvas<o:p></o:p></i></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">e
ensaiar uma breve digressão<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">sobre o
voo das aves da lagoa<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">ou do
eco outrora no seu grito<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">do
estertor surdo na memória<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">talvez
de deus nas vascas da agonia<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Entretanto
tu vias já as horas no relógio<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">porque
ouviras de súbito na estrada<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">ranger
os pneus de um automóvel </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">[...] (p.p.40-41)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; tab-stops: 81.75pt;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">O</span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"> vaivém do passado é, pois, um movimento
abissal em que o <i>Eu</i> se modela. “No
resfolgo entre uma / arcada e outra arcada / o violoncelo em sua gruta / um eco
arcano guarda: / som ínfimo começa, / inicial de palavra: / sopro só, que
procura / ser o rosto da alva.”, escreveu o poeta José Bento </span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%; text-align: justify;">(8).</span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">
É necessário que o poeta encontre o método do retorno para que cada viagem
irrompa num novo canto; encontramo-lo plasmado no poema que tem precisamente o
título <i>De regresso:</i></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10pt;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Vai ser luz e é a força cega<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">que toda a luz ignora<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Sombra de água inquieta<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">cujo silêncio mais antigo do que a terra<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">repete a solidão de outra nascente<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Começa devagar<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">pedra a pedra no sono incandescente<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">das palavras no escuro<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Barca do mar no espaço aberto<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">pelo tempo no côncavo do tempo<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Sem margens e sem nuvens<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">de regresso<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">ao jorro que me entrega ou te demora<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">Chegar nunca tem fim<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">e a cada instante de novo tudo espera<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";">que o tempo seja agora (p.118)<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 10pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;">Se são fundos os caminhos da
busca, são espiraladas as nervuras da palavra silenciosa que pretende
revivificar </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">o <i>Eu</i>
como um todo.</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Criar é, pois, tirar, é tirar do fundo o
oculto, é trazer à luz o que está fechado, é tirar a água da fonte. Assim, a
poesia funda-se no fundo que a sustém, como o formulado por Heidegger. O
projecto poemático provém do nada, na medida
em que refuta o havia: <i>o “instante
navegante ou desigual / que pelo sem fundo último de tudo/ vem do nada que em
tudo se intercala”, </i>lê-se no poema <i>Viesse a brisa</i>. Tal como Orfeu que
resgatou dos infernos a sua amada, Miguel Serras Pereira desce ao fundo de si,
à interioridade de si mesmo, ao fundo sem fundo das águas da lagoa para
resgatar a palavra iluminada. O som da lira de Orfeu dominava feras, pelo
encanto que gerava; o simbolismo das cordas mágicas traduz o acto poético e a
sua tensão; a “flauta de silêncio” desta obra de Miguel Serras Pereira
envolve-nos num cântico “para sempre chorando entre giestas / o amor perdido e
achado ao mesmo tempo / que em cada pássaro morto se repete”. Por esta missão
se solta a voz, “a voz do caçador”, para nomear o “nome sem piedade”:</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">[...]<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">É aqui bem amada que ao fim da
tarde venho<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">murmurar a esperança como se
inventasse<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">um coração uma flor uma rua ou um
barco<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">murmurar a esperança e dizer o
teu nome<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">à tona do trigo impetuoso e
amargo<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";">[...] (p.103)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="color: #1c1e21; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "\.SFNSText-Regular";"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">A palavra ilumina-se, mas não sai da
obscuridade, desvenda-se e, todavia, encobre-se alimentando e alimentando-se do
jogo do enigma, o que ressuma o “enigma do poço” formulado por Bataille: “o
enigma do poço que responde de tão estranha e perfeita forma ao enigma
fundamental pode (...) apesar de ser o mais obscuro em si mesmo, ser ao mesmo
tempo o mais carregado de sentido. Não resultará o seu peso do mistério inicial
que é, aos seus próprios olhos, a chegada do homem ao mundo, a sua primeira
aparição? Não ligará ao mesmo tempo este mistério ao erotismo e à morte?” </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(9). </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Os dois
polos, pulsão vital e pulsão de morte, Eros e Tanatos, dão origem à tensão permanente,
são o impulso da criação.</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Em vários poemas, o erotismo irrompe sedento e
ondeante, envolvente e provocante, a nimbar a criação, a imprimir-lhe o grito
de libertação, num ritmo que traduz a perseguição do mistério e a tentativa de
o deslindar. Aduza-se o exemplo do poema<i>
De Véspera, </i>do livro inédito, que nos mostra <i>c</i>omo se pode realizar voluptuosa e sensualmente a pulsão tensional entre vida e morte, o verso e o reverso do
mesmo enigma: <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> [...]</span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Acorda
com a minha língua a tua fonte<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">com a
tua fonte a minha febre<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Ensina-me
onde ficam<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">os
charcos das violetas que transtornam<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">a senda
dos teus passos<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">os
telhados de chuva da infância<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">e os
ninhos das perdizes<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">os
campos de morangos bravos e os sítios<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">onde as
lobas têm o seu fojo<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Mostra-me
os troncos ocos<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">onde
guardas o teu arco<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">as
pedras brancas que semeias<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">nas
bermas do crepúsculo a caminho<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">e a
cicatriz secreta<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">que
assombra agora a tua pele<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">porque
nevava muito<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">e sobre
a neve tu ias de rastos<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">no rasto
da primeira corça que mataste<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Faz à
foz toda a minha vida gota a gota<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">e
rema-me e desmede<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">no chão
de musgo do meu ventre<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">o teu
perfil de jovem caçadora<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Devassa
as minhas coxas e devora<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">antecipando
o vinho do banquete<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">a minha
boca incerta<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Irrompe
do veludo e dos relâmpagos<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">da tua
dança em fogo<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">na cova
do meu sono<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">E
esquece-te e esquece-me do que sei<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">[...]
(p.p. 53-54)<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 11pt;">O olhar da memória solta personagens, lugares,
sentimentos, como numa moldura,</span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 11pt;">
</span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 11pt;">invisíveis ao leitor por acção do processo artístico, mas que são
verdade, a verdade da crença que será sempre renovada, a fé no sangue redentor,
a fé na “Profissão de fé” que é a do criador. Do poema <i>De porto em praça</i></span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 11pt;">:</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Já se a
sintaxe tanto se espedaça</span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">tu ontem
saberás foi tarde sempre<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">andante
ainda embora este intermitente<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">cavaleiro
ido teu de porto em praça<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">até onde
a verdade que perpassa<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">se voa
foge e se não voa mente<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">de maneiras
é certo diferentes<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">de uma
verdade para outra e do acaso<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">que nos
põe rio ou vento fora frente<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">ao que
nasceu passado e que o passado<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">veste de
lavado hoje deste lado<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">de quem
se faz ao mar de a todo o tempo<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">saber
que nada quer quem quer morrer<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">pois
incerto quer sempre e só quem quer </span></i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(p.26)</span><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><i><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">Poderá
o tempo ser uma casa? Poderá o poema ser “outro lugar”? “</span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">Mas
poderá o tempo ser lugar / que não nos falte ou exceda onde nos une?”,
pergunta-se no poema <i>Outro Lugar</i>. O
tempo é um espaço interior e a palavra é o seu abrigo. A argumentação
explana-se ao longo de toda a obra, poema a poema, verso a verso e
encontramo-la sintetizada no poema <i>Este
poema chama-se uma casa</i>. Na presente antologia, <b>Miguel Serras Pereira</b>
estende-nos a sua “mesa imensa” de tampo obscuro onde cintilam enigmas e </span><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">onde nos aguarda “um pão quente” amassado
com o mais puro barro humano. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"> </p><p class="MsoNormal"><b><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Notas</span></b><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(1) Frederico NIETZSCHE, <i>Assim Falava Zaratustra</i>, Tradução
revista de Alfredo Margarido, Guimarães Editores, Lisboa, 2000, p. 219<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(2) Jorge VELHOTE, <i>Os Sinais Próximos Da Certeza,</i> Imprensa
Portuguesa, Porto, 1983, p. 29<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(3) Martin HEIDEGGER,<i> A
Origem da Obra de Arte</i>, tradução de
Maria da Conceição Costa, edições70, LDA,
Lisboa, 2010, </span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%;">p.59</span><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(4) Rainer Maria RILKE, <i>Poemas, As Elegias De Duíno, Sonetos a Orfeu</i>,
Prefácios Selecção e Tradução de Paulo Quintela, Edições Asa, 2001, p. 191<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(5) A expressão “ o escritor
Invisível” faz o título do livro de Jorge ALMEIDA e PINHO, <i>O Escritor Invisível – A tradução tal como é vista pelos tradutores
portugueses</i>, Edições QuidNovi,
Lisboa, 2006. A citação de Maria Helena da Rocha Pereira está na página 69.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(6) <i>Fragmentos de NOVALIS</i>, selecção, tradução e desenhos de Rui Chafes,
Assírio&Alim, Lisboa, 2000, p.53<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(7) Poesias de CESÁRIO VERDE,
Editorial Comunicação, Lisboa, 1982, p.128 (citam-se as estrofes 62 e 63 do
poema <i>Nós </i>datado de Setembro de 1884)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(8) José BENTO, <i>Sítios</i>, Assírio&Alvim, Lisboa, 2011,
p.39<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10pt;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(9)Georges
BATAILLE, <i>As Lágrimas de Eros</i>,
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes, Sistema Solar, Lisboa, 2012, p.5</span><span lang="PT" style="font-family: Courier; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10pt;"><span lang="PT" style="font-family: Courier; mso-bidi-font-family: "Courier New";"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-size: 11pt;">À TONA
DO VAZIO & REPRISE – CINQUENTA ANOS DE POESIA</span></i><span lang="PT" style="font-size: 11pt;"> de MIGUEL SERRAS PEREIRA
(1969-2009), Edição Barricada de Livros, Lisboa, 2020</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt;"><b style="background-color: white; color: #444444; font-family: cambria; font-size: 10.6667px; text-align: start;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: arial;"> </span></span></b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt;"><b style="background-color: white; color: #444444; font-family: cambria; font-size: 10.6667px; text-align: start;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: arial;">© Teresa Sá Cout</span><span style="font-family: arial;">o</span></span></b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face="Arial, sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 150%; text-align: justify;"><span lang="PT" style="font-size: 11pt;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;"><span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: "Courier New"; mso-bidi-font-style: italic;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<span face=""Arial",sans-serif" lang="PT" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "MS Mincho"; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;"> </span></p>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-70308950400432774412020-05-20T15:20:00.009+01:002022-09-19T17:50:49.894+01:00Amadeu Baptista: a rebelião da água extrema<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaYQBrjZdnUP9Q8y4oodXStGP-fc7gHvEudnOblXHM3Wvgzw8KLPtE8bHi1gHMKf8CLAPC0LmFkNt9kEz5069dwLXAT5BeZcSw-VPr8M0GyEr9pd9jORo7GIIXuZZzN_Fs3-OzElEvspTx/s1600/AmadeuBap-Livros.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="885" data-original-width="850" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaYQBrjZdnUP9Q8y4oodXStGP-fc7gHvEudnOblXHM3Wvgzw8KLPtE8bHi1gHMKf8CLAPC0LmFkNt9kEz5069dwLXAT5BeZcSw-VPr8M0GyEr9pd9jORo7GIIXuZZzN_Fs3-OzElEvspTx/s320/AmadeuBap-Livros.jpg" width="307" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><i style="font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><font size="2"><br /></font></span></i></div><div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><i style="font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><font size="2"><br /></font></span></i></div><div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<i style="font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><font size="2">Meu rosto nasce desta condição horizontal</font></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<font size="2"><span style="font-size: x-small;"></span></font></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<font size="2"><i style="font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt;">de quem tem a cobri-lo todo o seu cansaço</span></i><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 9pt;"> </span><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;">(1)</span></font></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><font size="2"> Ruy Belo</font></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><font size="2"><i style="font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">Corre implacável o curso da impaciência</span></i><span style="font-size: x-small;"></span></font></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><font size="2"><i style="font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">sob a ofendida</span></i><span style="font-size: x-small;"></span></font></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><font size="2"><span lang="PT" style="font-size: 8pt;"></span></font></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<font size="2"><i><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt;">serenidade do poema</span></i><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 9pt;"> </span><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 8pt;">(2)<o:p></o:p></span></font></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><font size="2"> Amadeu Baptista</font></span></div><div class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: 8pt;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span style="font-family: arial;"><p align="center" class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;"><b><span lang="PT" style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></b></p></span><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">Nome incontornável da actual poesia portuguesa, <b>Amadeu Baptista</b> celebra em <i><b>Caudal de Relâmpagos</b></i> 35 anos de energia artística irascível, torrencial, pulsional, mordaz, desassombrada e apaixonada, testemunhal e secreta, plenamente comprometida com o seu tempo. Editado pela Edições Esgotadas, em 2017, <i>Caudal de Relâmpagos</i> colige poemas selecionados pelo autor, originários de livros seus ou publicações avulsas, dispostos cronologicamente, de 1982 a 2017, para 476 páginas de “sombras calcinadas”, vibração intensiva, “ventanias densas” e fulgor incomensurável gerado na atração entre cargas positivas e negativas, como as que consubstanciam os relâmpagos, e cuja radicalidade discursiva poder-se-á medir pelas cicatrizes, cinzas e precipícios que os poemas exibem: “és assim a maldição e a bênção, o encanto e o desencanto, /a luz que avança e não avança no meu quarto /e me enche o espírito de negrume, /incita a soltar as cinzas, montar acampamento, velar por ti.”</div></span><span style="font-family: arial;"><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><br /></p></span><span style="font-size: medium;"><div style="text-align: justify;">Logo em 1982, em <i>As Passagens Secretas</i>, depara-se o leitor com a imensidão das praias para a infinitude do verbo, o fazer poético como concha que é preciso descascar, a brandura que é preciso revolver, a memória que é preciso perseguir e, na ruptura súbita do último verso do poema que aqui se transcreve , o presente que é preciso questionar. Confira-se:</div><br /><div style="text-align: justify;">"Escrevo algumas vezes pelas praias. // Recolho seixos, pequenas coisas, algas /que me fazem lembrar uma outra infância / que respirei algures num outro mar. // Palavras lisas, vocábulos minúsculos, bruma, /são búzios que manejo nos poemas, /descasco, abro / como súbita concha, / ou súbita mulher de seios brandos. // Duas ou três gaivotas, um navio lá longe, / o mar que enrola na areia / – canções que cantei quando menino –, // escrevo mansa, torrencial, apaziguadamente, / desperto pela brisa, / a espuma branca, / os lábios que há nas ondas. // Às vezes / pelas praias / reconheço // que pago muito pouco pela água. ".</div><br /><div style="text-align: justify;">Evidenciava-se a rebelião do mar poético, o troado emitido pelo búzio, o voo pelos precipícios, anunciava-se a instabilidade, o relâmpago, o fogo a rasgar a água genesíaca, pleno nas suas energias contrárias, o caminho pelas trevas à procura do núcleo do turbilhão onde a desordem se organiza, adivinhava-se o torvelinho nos seus múltiplos rostos, marca iniludível da poética de Amadeu Baptista expresso assim, no poema <i>Metamorfose e Massacre,</i> do livro <i>O Sossego da Luz</i>, de 1989:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...] A sombra revela o significado oculto desse ritual /que o fogo / acumula no obscuro sinal de uma ruína sem nome. // Chamam-lhe escrita, outros preferem nomeá-la /como infinito / exercício de adivinhação, dizem-na outros arte, / enigma redentor a que se entregam os que crescem / para o abismo e perturbam as trevas. // Recompensa ou castigo, eis o que obstina. [...]”.</div><br /><div style="text-align: justify;">Escreveu Walt Whitman : “Ostensivo sol , não preciso do teu calor – afasta-te! /Tu iluminas só as superfícies , eu penetro as superfícies e as profundidades.”(3). Em Amadeu Baptista, “o destino aniquila” e propaga-se no poema “como um grito”, procura o sobressalto de um nome, da palavra indecifrável, obsessiva, que é “rumor”, “tumulto”, “rebelião”, “animal rastejante” metamorfoseado em ave, em “pássaros negros”; a palavra espera colher “a luz do apaziguamento”, mas “nenhum resgate”, “nenhuma árvore” no deserto, somente “sílabas frágeis” resistem “no campo solitário, guerreiro, cego aguardando o sinal / para abater ou ser abatido, em nome da maldição e do esquecimento”. O método desta busca poética é claro: há que encher os pulmões e aspirar a dor “para que a sarça amplie sobre a noite” a luz dos elementos que se respiram: “o ar, o fogo, a terra, a água, a água exausta”. Sim, é de “água exausta” que aqui se fala, mas não água derrotada, tampouco resignada, antes água amotinada, inconformista e revoltada que busca uma língua nova para reivindicar o seu lugar no mundo, ainda no sentido do que nos diz Walt Whitman: “Sou o poeta do Corpo e sou o poeta da Alma, / As aventuras do Céu estão em mim e as penas do Inferno estão em mim, / As primeiras enxerto e reforço em mim mesmo, as últimas traduzo para uma nova língua.”(4). Atente-se a todas estas pegadas, por exemplo, no poema <i>Kefiah</i>, de 1988:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...] Procuras um nome, procuras a solidão de um rosto, uma árvore, procuras o arquipélago alucinado / de uma palavra inscrita no lume das tuas mãos; / procuras a tenacidade do sangue, o amor fortalecido / pela proximidade do perigo, o preço da verdade / que germina no vaso sagrado dos que viajam /com a bagagem restrita dos que procuram, mas a quem ninguém responde. // O solitário não renuncia à solidão quando procura, o solitário / conhece a respiração do chacal no refúgio da noite, acende contra os lobos / o fogo da salvação, pela solidariedade do silêncio; /o solitário é o que contempla a renúncia de uma palavra na limpidez /da página e ama a solidão com a imparcialidade / de quem acusa os que se imobilizam na cisão dos enigmas – / a dor comprometeu definitivamente a vida, não há salvação possível, o resplendor estaca / no bloco calcinado dessa água que arde; a rede /de dúvidas que poderia estancar o caudal de protestos que nos corre nas veias , a grade de frio que ocupa os pensamentos, o ardor / visível nos nossos olhos, não responde às nossas perguntas antiquíssimas, a herança de choro / que nos foi legada pelo desejo e pela ansiedade: / o conflito está aberto, ó desalento, o abandono é a ave de incredulidade que nos esmaga os crânios, o açor /que nos eleva do abismo e nos larga do cume da montanha para que voltemos ao pó, ao pânico da queda, à força de impacto no solo, / como se transportássemos nos ombros todo o peso do mundo, a realidade, / aterradora que inebria e ilude. [...]”.</div><br /><div style="text-align: justify;">Na segunda estrofe do poema <i>Uma imagem divina</i>, de Gastão Cruz, lê-se que “a roupa do homem é em ferro forjada, /a forma do homem é uma forja acesa, / a face do homem um forno selado, / o coração a fornalha a arder”(5), numa alusão à jornada penosa do fazer poético, que Amadeu Baptista cumpre com frémito inigualável – não raras vezes, a palavra parece libertar-se do seu arquitecto para se assumir como um ser autónomo, de respiração livre e imprevisível, o que lhe confere um sentido de estranheza na mesma medida de magia. No poema <i>Carta de Atenas</i>, do livro <i>Arte do Regresso</i>, de 1997, lê-se: “O eco subverte o clarão no horizonte / quando a pira está pronta para o sacrifício. A inquietação é agora a minha alma.”. Acrescente-se: “Pelo meu nome a cinza é um ser vivente” e invoque-se a propósito a conhecida formulação Novalis de que “toda a cinza é pólen”, porquanto as cinzas desta poética espargem-se sobre todas as coisas onde o olhar se detém, e delas renascem as coisas transformadas.</div><br /><div style="text-align: justify;">Na fornalha, o coração “Sonda o terrível. No reverso de um verso /encontra o Fluxo e refluxo da fogueira”; na forja, “com as mãos carregadas de veneno” e “rancor aberto”, soldam-se os ferros como se fossem ossos ou dito assim no poema que se solta a partir de <i>Francis Bacon: Study For Crouching Nude</i>, do livro <i>Doze Cantos do Mundo</i>, de 2009:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">“No osso inciso, / na grande obra incompleta, / sou uma válvula de vácuo /e um transístor, / a desfragmentação / e o cromatismo / que resiste à vileza / e vê no crime / o imparável modo de estar vivo, / a aprofundar a refrega dos subúrbios, /como arte, /dissipação, /incandescência. // E os ferros progridem /sobre a minha cabeça, / e não creio // – quem sou já pouco importa /porque os cães estão em todo o lado, / e devoram as casas, / e sobem aos telhados para devorar / os livros, / e, nas jaulas, /amontoam cadáveres, / instantes peregrinos / com cabeça de rádio / e desorbitados olhos / pelo terror do urânio, / as múltiplas engrenagens.[...]”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span style="font-size: medium;"><br /><div style="text-align: justify;">Tratando-se de uma poesia de “múltiplas engrenagens”, e cuja rebelião não deixa nada intacto, não hesita no diálogo com outras artes, como o encetado com a pintura e a música: Van Gogh, Gauguin , Piero Della Francesca, Caravagio, Mark Rothko, entre outros, outrossim Handel, Brahms, Camille Saint-Seans, Beethoven, Mendelssohn, Mozart, Strauss, Massenet, Verdi, Schumann, Franz Von Suppe, Bach, Tchaikovsky, Billie Holiday ou Leonard Cohen são chamados para a bigorna verbal, num impulso de <i>écfrase</i> que se insere na procura da representação do irrepresentável; em ambas as linguagens, o poeta vai ao centro negro, gritante, do remoinho, escava-o com a sua solidão e “olhos amargos” para, na página, dar a ver ao seu leitor como ele viu, ouviu e sentiu. A transfiguração do objecto visual ou auditivo surge assim no poema <i>Caravaggio, Um Esboço, de Desenho de Luzes</i>, 1997:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...] Neste lado do mundo pouco espero /ou só aguardo um tempo em que o génio /possa subtrair outra palavra para poder ampliar /a noite com uma outra emboscada, um outro golpe / sobre o que advém da eternidade e se consuma enfim / na prega de um vestido, uma janela aberta, o intenso vigor / de um homem que passa carregado de pão e de tristeza. [...]” ou no poema <i>Mozart: Intróito, do Requiem</i>, de <i>O Bosque Cintilante</i>, 2007: “É uma das consequências de ser forasteiro / e deixarmos para trás quem não nos pode perdoar. / Fechamo-nos em casa e acendemos o fogão / sem que mais nada passe de uma emoção, uma dor / ilegítima. Adeus, então. Confinamos todas as coisas / ao enfraquecimento do abandono, à janela / que desce à desolação de um caixilho / onde nenhuma paisagem se fixa, nenhuma luz. / E aí permanecemos, sozinhos, com a morte / subir-nos pelo braço direito e a paralisar-nos / o dedo indicador. [...]”.</div><br /><b>O real como testemunho e compromisso </b><br /><br /><div style="text-align: justify;">O programa poético de Amadeu Baptista encontra no real uma outra forma de presença. Poesia onde não há absolvição, o verbo deambula pelos lugares e encontra motivos que soltem o poema em todo o lado, cria “as condições para que o abismo funcione”, dito assim em <i>Sal Negro</i>, de 2003: “escrevo o que me ditas, /a errância, / a visão, /e o livro vai-se enchendo // de frases inauditas, / por isso me sorris / sabendo que o mistério / é uma transgressão // que não sabemos como / às vezes aqui vem / estremecer-nos, // escrevo / o que vacila / e sem hesitação // há-de matar-nos.”. No real, que o poeta apreende, desfoca, e recria com estranhamento discursivo, prefigura-se a revolta, o que vai ao encontro da asserção de Novalis: “O mundo é o resultado de um acordo infinito e a nossa própria pluralidade interior é o fundamento da nossa concepção do mundo” (6). Trata-se, pois, de estar no mundo e actuar sobre ele na busca essencial do ser pleno, enquanto indivíduo e na relação com o outro; o conceito de testemunho incorpora a problemática de que o eu faz parte do centro de outras vidas de cujas circunstâncias partilha e é nesta reciprocidade que o eu se legitima. Enquanto expressão de sondagem interior que se abre pela metamorfose do eu em outros, o eu está junto dos pobres da sua cidade, com simpatia pelos humilhados e ofendidos de quem se sente irmão, anota-lhes a desgraça e a miséria, está junto dos exilados, dos marginalizados, dos incompreendidos, dos desterrados que foram em busca de pão, dos oprimidos que são capacho de poderes políticos, está no centro do torvelinho, na Síria, em testemunho e compromisso de falar aos e pelos que fogem da ignomínia das balas, despersonalizando-se, sendo eles e as vozes deles sendo a sua. Vejam-se exemplos do poema longo, enformado em 42 andamentos , <i>O Arco Sírio</i>, 2016:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...] A ruína rodeia-nos, sitia-nos. / Não há o que beber, a tiracolo / levamos um cantil cheio de sede / que não há como encher, / nestes caminhos de terra e de poeira. /Aos milhares, partimos de Damasco, / num êxodo infinito e sem escolha. / No céu não há estrelas, nenhum brilho. / Sob os pés há só escorpiões, o pesadelo / de uma lenta agonia a apavorar-nos. // [...] Há um poeta que nos acompanha. / Veio dizer-nos que só conhecemos a tristeza /e que nos acossa o apocalipse, / esta desolação do mar em que morremos. / As balas são só o silêncio ao largo /da Turquia, um vendaval de justos /que morrem afogados, com os olhos / abertos e as mãos fechadas /sobre a terrífica dimensão do sacrifício. // [...] Diz o poeta, ´Chegou a hora de praguejar em vez /de permanecer em silêncio. Chegou a hora /de perguntar para que serve cantar, / o que é esse júbilo para os que o martírio encontra. /Chegou a hora de invectivar as palavras, /de questionar as sílabas amadas, de inquirir o lodo /em que os nossos mortos se afundam.[...]”.</div><br /><div style="text-align: justify;">Se a incorporação da realidade mostra a experiência do mundo, o discurso de revolta edifica-se em vertigem avassaladora que faz o poema exprimir-se em extremos. Notem-se as 14 partes do poema <i>Negrume</i>, e as 8 partes do poema de <i>As Recriminações</i>, de 2006, onde encontramos reminiscências do canto febril, exaltado, eufórico e delirante de Álvaro de Campos, o indisciplinado da sensação, heterónimo de Fernando Pessoa, no qual se detecta uma força centrífuga, que leva o sujeito poético a desejar materializar-se nas máquinas, e uma força centrípeta, que leva as máquinas a serem humanizadas; também em Amadeu Baptista, o delírio é lúcido, a atitude transbordante evidencia a manifestação de uma crise civilizacional, o excesso violento das sensações são gritos de denúncia, a vibração intensiva dos poemas faz desta máquina poética a propulsora de conteúdos novos e sempre livres. Confira-se, da parte 6 de <i>Negrume</i>:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...] vem alguém e entorna leite no chão da cozinha, /um homem vocifera e ergue-se com uma corda ao pescoço / e uma faca na mão, volto a repetir: caralho, caralho, caralho, / passa um carro na rua a buzinar estridentemente e acordo, num sobressalto terrível. // depois, tudo é silencio avassalador. há passos surdos no corredor / contíguo ao meu quarto, oiço um alfinete cair, a mãe gemer. /a cama range, o pai volta-se nos lençóis, para outro lado, / outra direcção atroz. // a casa está submersa num silêncio sólido, irreparável. / estou muito só e tenho frio, embora esteja um calor abrasador. /ouve-se um cântico ao longe. o som de asas a roçar nas paredes. /digo: caralho, caralho, caralho, num sussurro infinito, até perder o fôlego.”.</div><br /><div style="text-align: justify;">Se a busca de um olhar capaz de transfigurar a realidade dá espessura ao poema, ao mesmo tempo procura-se a cumplicidade com o leitor que poderá identificar as questões como suas. Para tal concorre a formulação mais narrativa, o verso em contaminação com a prosa. E o poema escorre no desejo de um mundo habitável com dignidade, mas só encontra o presente errado e um futuro ausente:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...]Vamos pela cidade e todos estão mortos, / morreram uns por inanidade, / outros por decepção, / outros por fantasia, / outros porque preferiram suicidar-se a suportar isto / - só a menina nua da avenida dos Aliados / sorri com os braços apoiados num plinto / de cujas faces quatro mascarões lançam água para um tanque, / vejo-a há cinquenta e sete anos como se visse um sonho, / estarei morto e será ela, ainda, o meu fascínio [...], lê-se em <i>O Ano da Morte de José Saramago</i>, 2010.</div><br /><div style="text-align: justify;">“Ah ninguém sabe / como ainda és possível poesia / neste país onde nunca ninguém viu / aquele grande dia diferente”, escreveu Ruy Belo no poema <i>Desencanto dos Dias</i> (7) ; este é um país “de luto fundo, intenso, cerrado / como o de todos os órfãos e de todas as viúvas, / como o de todos os poetas e de todos os poemas”, diz-nos Amadeu Baptista, num dizer fremente, que é também o grito de uma geração como o que se encontra no poema titulado, precisamente, <i>Última Geração</i>, de 1987:</div><br /><div style="text-align: justify;">“[...] Dai-nos o vómito, Senhor, o vómito / carregado de fel da nossa vida violenta, do nosso amor violento, / da nossa esperança violenta e violentada /pelo preço de um pão e o suor agónico da nossa face. // Recorremos a Ti, Senhor, neste páramo de ódios, / para que nos dês o alívio do vómito letal do nosso desespero / esta amargura carregada de amargura / que nos lançaram sobre os ombros e tem o peso do mundo. [...] // Dai-nos o nojo, Senhor, essa flor infecta, sanguinolenta e suja/ que há-de desabrochar das nossas dores // em tua glória // e em nome do asco a que fomos submetidos.”.</div><br /><div style="text-align: justify;">A vivência criadora da realidade resgata e integra a adolescência “anfíbia” do poeta. Tudo volteia, ilumina-se o despenhadeiro dos possíveis sonhos interrompidos e a busca transforma-se em jogo: “Procuro um texto impossível, / um outro caminho para a salvação.” diz-nos o poeta em <i>Arte do Regresso</i>, 1997. Há que descobrir a unidade da infância, a madre intelectual da gestação, desvendar a raiz, a que despontou para encarnar uma aspiração: “Aprendo a ler e a escrever, /quer dizer, /aprendo a sentir com mais força /a desobediência.”, lê-se; há que ir ao tempo original para lhe restituir a sua verdadeira identidade mesmo que a viagem seja por uma torrente de angústia que soltará uma enérgica gargalhada: lê-se em <i>Açougue</i>, 2012:</div><br /><div style="text-align: justify;">“Logo no primeiro ano /estou só / e não me consigo manter de pé. // Se suspeitasse sequer / que iria ser assim para toda a vida / não me riria // com estas gargalhadas / cristalinas. “.</div><br /><div style="text-align: justify;">“Vejo-me um homem calado, vejo assim os poetas, / vemo-nos como homens calados que não podem estar calados, / ou que estão cegos e não podem estar cegos, / ou que não podem deixar de deambular na cidade, / porque há uma pedra a levantar do chão, / um povo a levantar, / uma infância a levantar”, escreveu Amadeu Baptista, em <i>O Ano da Morte de José Saramago</i>, 2010, enunciando alguns dos fios robustos com que se tece a sua obra e assumindo um compromisso com o seu leitor. E ficamos, nós, os seus leitores, a pensar que das “cinco pedrinhas” com que Ruy Belo fazia o poema – “desalento”, “prostração”, “desolação”, “desânimo” e “desistência” – apenas a última não é admitida ao autor de <i><b>Caudal de Relâmpagos</b></i> ou, se porventura o nome desistência passar a habitar o poema, que o seja com o estrondo cósmico e a luz indomável a que ele já nos habituou.</div></span><span style="font-family: arial;"><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><font size="4"><span lang="PT" style="font-family: arial; text-align: start;"><br /></span></font></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><b style="font-family: cambria; font-size: 12pt; text-align: start;"><span style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><br /></span></b></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><b style="font-family: cambria; text-align: start;"><font size="2"><span style="font-family: arial;">© Teresa Sá Cout</span><span style="font-family: arial;">o </span></font></b></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span style="font-family: cambria; font-size: 10pt; text-align: start;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span style="font-family: cambria; font-size: 10pt; text-align: start;">Notas:</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(1) Ruy Belo, <i>Todos os Poemas</i>, V.I, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004, p.165<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(2) Amadeu Baptista, <i>Caudal de Relâmpagos</i>, Edições Esgotadas, 2017, p. 31<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(3) Walt Whitman, <i>Canto de Mim Mesmo</i>, tradução de José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, Lisboa, 2011, p. 111<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(4) Walt Whitman, ob. cit., p.91<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(5) Gastão Cruz, <i>Poemas Reunidos</i>, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1999, </span><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt;">p.238</span><span lang="PT" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(6) Fragmentos de Novalis, selecção, tradução e desenhos de Rui Chafes, Assírio & Alvim, Lisboa, 2000, p.133<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><span lang="PT" style="font-size: 10pt;">(7) Ruy Belo, ob. cit., p.272<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;"><b><span style="font-family: arial; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 8pt; line-height: 24px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large; text-align: start;"> </span></p></span><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: cambria; font-size: 12pt; text-align: start;"></span></span><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; line-height: 18.4px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt; line-height: 15.3333px;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; line-height: 18.4px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt; line-height: 15.3333px;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; line-height: 18.4px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt; line-height: 15.3333px;"><o:p></o:p></span></p><span style="font-size: 12pt;"><span style="font-family: cambria; font-size: 12pt; text-align: start;"></span></span><p class="MsoNormal" style="font-family: cambria; font-size: 12pt; line-height: 18.4px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><span lang="PT" style="font-family: arial; font-size: 10pt; line-height: 15.3333px;"><o:p></o:p></span></p><font face="cambria" style="font-family: cambria; font-size: 12pt;"><span style="font-size: medium; text-align: start;"></span></font></div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-79330766987433448052020-05-01T22:00:00.001+01:002022-09-19T17:51:37.890+01:00Jorge Velhote: O olhar desagregador<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="font-family: calibri;">
<br /></div>
<div style="font-family: calibri;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 15.3333px;"><br /></span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: calibri; text-align: center;">
</div>
<div style="font-family: calibri;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1t1R5VLoMuuh6JLYmuNnPrJ_9k8aLg7xC0d8h6JGwtPH5N3I_9aTsL6u1NWnaT-ZqAEUqfw4HJMMyDEzX9gLJ2WL44wTE6UHqz6CVM1Vt1XZkMZ2XHBSk-q2qoftQJwv2ZAP533fEZGYG/s1600/CoisasJV.Capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1209" data-original-width="1600" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1t1R5VLoMuuh6JLYmuNnPrJ_9k8aLg7xC0d8h6JGwtPH5N3I_9aTsL6u1NWnaT-ZqAEUqfw4HJMMyDEzX9gLJ2WL44wTE6UHqz6CVM1Vt1XZkMZ2XHBSk-q2qoftQJwv2ZAP533fEZGYG/s400/CoisasJV.Capa.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 15.3333px;"><br /></span></i>
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 15.3333px;"><br /></span></i>
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 15.3333px;"><br /></span></i></div>
<div style="font-family: calibri;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 15.3333px;"><br /></span></i></div>
<div style="font-family: calibri;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 15.3333px;">Assim respira /a mão /enquanto escreve: mancha //</span></i></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 15.3333px;"> ensaiando /o espasmo, aguda //nota, ponto / desfeito.<o:p></o:p></span></i></div>
<div style="text-align: right;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 15.3333px;"><br /></span></i></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span lang="PT" style="line-height: 15.3333px;">José Carlos Soares </span><span lang="PT" style="line-height: 12.2667px;"><span style="font-size: x-small;">(1)</span><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 15.3333px;"> É inesgotável o ar que as palavras essenciais produzem<o:p></o:p></span></i></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 15.3333px;">Jorge Velhote</span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small; line-height: 15.3333px;"> </span><span lang="PT" style="line-height: 12.2667px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">(2)</span><span style="font-family: "calibri";"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: right;">
<div style="text-align: right;">
<br />
<br />
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: medium;">Em <b><i>Coisas Mínimas & Outras Coisas</i></b>, título de 2017, <b>Jorge Velhote</b> reúne poemas e fotografias da sua autoria em diálogo raro, enigmático e cúmplice. Se “luz” e “sangue” são substantivos genesíacos que deflagram a “voz” desta poética e da poética deste “olhar”, o verbo revela a capacidade desagregadora da linguagem, o que se insere num percurso de busca de um dizer sempre novo e de um olhar inusual a urdir um mapa de possibilidades inesgotáveis. Acresce que, enquanto objecto, <b><i>Coisas Mínimas & Outras Coisas </i></b>é um altar do <i>Belo</i>: páginas longas, rectangulares, papel de alta gramagem sensível ao tacto, fotografias a toda a página, capa dura forrada a tecido cru com o título e o nome do autor gravado singelamente a negro; é a face de quem gosta de fazer livros infelizmente arredados do grande público porque fora dos circuitos comerciais. </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4n2kIglQYUFis-vG9PcgWvQ5sz05iGhXeBKjOXYV9EXETsNVCmvunXdRy0SxqqhZXn6QzjKnR51hqco1lVOMiidlvBt0vtwS_b19STK85LEK9pX7WyYoD5qjJxPNAsxF1de1tP0ZBCxut/s1600/CoisasJV.1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="967" data-original-width="1600" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4n2kIglQYUFis-vG9PcgWvQ5sz05iGhXeBKjOXYV9EXETsNVCmvunXdRy0SxqqhZXn6QzjKnR51hqco1lVOMiidlvBt0vtwS_b19STK85LEK9pX7WyYoD5qjJxPNAsxF1de1tP0ZBCxut/s400/CoisasJV.1.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: calibri; line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: small;"><span lang="PT" style="font-size: medium;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Nada aqui é de entendimento imediato; o verbo dentro do sangue desta poesia de palavras e fotografias é o verbo indagar. Nada aqui está ao acaso. A abrir, depara-se o leitor com o fundo negro e uma</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> </b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">fractura no negro:</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> </b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">nervuras de luz assomam, insones, por uma portada</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> </b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">a dizer-nos</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> </b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">que é no escuro que</span><b style="font-family: arial, helvetica, sans-serif;"> “</b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">o sangue embrulha a densidade da alma”, é na correnteza de águas profundas que se encontra a luz da palavra oculta, pronunciado já assim por Jorge Velhote no seu livro </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Os Mapas sem fronteiras sufocam os lugares</i>:</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> “Leio o que os meus olhos vêem, o laço de sangue que os dedos suportam, a sua voz é um grito /no rumor da minha respiração”. O olhar nas fotografias persegue o mesmo escopo. “Entras na sombra como mensagem”, diz o texto a apresentar a chave da sua laboração e a assumir a virtualidade do sentido, a desafiar o leitor para múltiplas interpretações: na imagem do Cristo Crucificado, “um homem antigo como um clarão”, iluminado na sua dimensão humana, dividido pela luz e sombra, com o rosto pendente mergulhado na zona escura, pois “aquilo que ilumina fica sempre na sombra” </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small; line-height: 16px;">(3)</span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">, numa formulação de Edgar Morin, como que<span style="color: blue;"> </span> “rasurando o sangue” para escutar “pequenas coisas impronunciadas” ou, noutra fotografia, a silhueta de uma gaivota que debate o voo na zona escurecida paralela à estrada que a luz desenha sobre o mar; o texto confirmá-lo-á num desenho assim:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Há um excesso de luz zunindo húmida, indagando sob as ruínas<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">do céu o seu esplendor atónito. É como um eco<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">entreabrindo a pele com que cobrimos<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">os mortos de passagem.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT"><i style="text-align: start;"><span lang="PT" style="line-height: 16.8667px;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Ou devolvemos à chuva a sua geometria ácida.</span></span></i><span lang="PT" style="line-height: 16.8667px; text-align: start;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">[...]</span><span style="font-family: "arial"; font-size: medium;"><i></i></span></span><span style="font-family: "arial"; font-size: medium;"><span style="text-align: start;"></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: calibri; line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><span lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; text-align: start;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjcTFQLYMgl7ol7cKQjhuA6aerSRsLJvktj0IU8794-WtRDykwXUDr-1FumURVXpBGDrLQq3nr2tS_s6lSlTYF3Vkndbpp8jHofrL3okoqOTA47DIB7kOK6VEKorlDzY6sjIuZi2siri-r/s1600/CoisasJV.2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="632" data-original-width="935" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjcTFQLYMgl7ol7cKQjhuA6aerSRsLJvktj0IU8794-WtRDykwXUDr-1FumURVXpBGDrLQq3nr2tS_s6lSlTYF3Vkndbpp8jHofrL3okoqOTA47DIB7kOK6VEKorlDzY6sjIuZi2siri-r/s400/CoisasJV.2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><span lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; text-align: start;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><span lang="PT" style="font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; text-align: start;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Já o referi, a propósito de </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><i><a href="http://comlivros-teresa.blogspot.com/2019/05/jorge-velhote-o-abismo-da-luz_68.html"><span style="color: blue;">Âmago</span></a></i></b>,</span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"> livro publicado em 2019, que a máquina poética de Jorge Velhote inscreve-se na linha da auscultação da palavra, no caminho da busca do silêncio intacto. A voz da linguagem procura a palavra para habitar, um espelho onde se plasmar, mas só encontra a palavra inominável, o eco da origem e “um silêncio de espelhos carbonizados”; a voz que surge em presença a desvelar uma ausência é uma “chaga”, “frenesim”, uma “canção”, um “sudário”, “quase sopro em declínio”. E o poema questiona: “será isso a luz?”, questiona porque interpela os seus limites, e só pode questionar, porquanto sabe que a sua missão é essa. Confira-se com as palavras todas no lugar certo:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Um silêncio de espelhos carbonizados<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Uma chaga propagando a fértil irrisão da morte.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Um frenesim de formigas e cotovias tristes<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">convocando a cegueira sobre as margens –<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">canção que humedece nos teus lábios como urtigas – ,<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">sudário de agulhas ávidas<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">cravando as unhas<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">nos teus bolsos –<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">O que se extingue no rumor das moradas<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">em uníssono – quase sopro em declínio?<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">na deriva ou infinitude anunciada?<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">decompondo apenas o negrume<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">nos seus orifícios e raízes<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">– será isso a luz?</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span lang="PT">A voz da origem é movimento e a voz poética sabe que para a capturar tem de se mover com ela: "Vou com as sementes pelo interior da luz. Vou com as folhas, /com o vento", já escrevia o poeta em 1983, no livro <i>Os Sinais Próximos da Certeza, </i>com a certeza de que o caminho que então iniciava jamais terminaria. Na persecução da tarefa inesgotável, Jorge Velhote imprime à sua voz deslocações constantes:<span style="color: blue;"> </span>na forja poética a carne da palavra é inquirida, sujeita à desagregação, liquefeita até ao osso; na bigorna, a palavra é amansada e libertada, metaforizada, metamorfoseada com<i> Labor limae </i>verso a verso, poema a poema, livro a livro; por isto a palavra poética é constante e inevitavelmente o<i> “ponto desfeito</i>” aludido por José Carlos Soares, na citação em epígrafe; noutro poema, José Carlos Soares diz que a linguagem poética <i> “Não é segredo, é / interpretação, voo / e casa, //provação”:</i> é a provação, a ausência, o sentido de falta que impele a busca. A espessura discursiva e a aparente opacidade da poesia de Jorge Velhote advém da condição de um texto que obriga o leitor a estar atento e a tornar-se sensível à linguagem poética que tem perante si, um texto que obriga o leitor ao diálogo. Na tarefa inesgotável de actualização da palavra, o poeta segue com as "mãos cheias da terra" e com tudo o que tem </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">– </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><span lang="PT">e quer isto dizer que esta poesia é também o registo de uma experiência de vida, a meditação de quem habita e como habita o mundo </span></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">–</span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"> : o sangue, o corpo, a memória , os encontros e desencontros, as conquistas e as perdas, a dor, a solidão, a agonia, o sacrifício da jornada; também aqui é inevitável o diálogo com a fotografia que mostra parte da estrutura em madeira de uma janela que o tempo puiu </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">– </span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">uma janela dá para o infinito, como referiria Baudelaire no poema <i>Le Gouffre</i> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">–</span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">, janela que Jorge Velhote fotografa do lado de dentro, onde está a intimidade, onde está o turbilhão e o abismo, imagem interrompida por um ferro – dito assim porque o objecto grita a sua memória da forja – de ponta enrolada a lembrar um ceptro, como que a aludir que o ceptro desta poesia é de agonia enrolada sobre si mesma, que escava a memória, incansável e infinitamente, para se libertar na voz que a reverbere, para habitar na cal, mesmo que transitoriamente,</span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"> o</span><span lang="PT" style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">u dito assim:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><span lang="PT">O que se observa na brisa ou na espuma simples de um desenho</span><span lang="PT"><o:p></o:p></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><span lang="PT">que se perde na combustão do olhar começa contido nas arestas</span><span lang="PT"><o:p></o:p></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: medium;"><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>que florescem nos dedos que limitam o corpo, nessa deslocação<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>suspendes a intimidade como se atravessasses um jardim.<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>Definisses qual o ângulo puro da ausência. Uma medida trazida<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>pelo alento de uma voz inacabada. Um murmúrio entoando<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>secreto a simetria de uma sombra perfeita como os lábios de<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>um coral. Nessa haste ambígua em que a metamorfose decifra<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>um pressentimento há um labirinto imprevisível onde dissolves<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>a pele e fechas os olhos. Então o que escutas como se viesse<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>de algum lado pulsa nessa mão que levas à boca carregada de<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i>vento como hóspede esquecido. Enquanto ao teu lado o vestígio<o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>de um esforço ou anel de grafite se inscreve lentamente na cal.</i></span><span style="font-family: "arial";"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi65yrDPDDUqS06Hwm9-GkFP2mO8joVTunJLb5tN93_kZQOBbVK6yY4m55ZvaGM3XncG2jS1rGqqRDgOeMeZ9l7wI0MKwzPBthsZiLFMRpy203IeTK3tBZWTfaWoKZTgNeNlummvNLgLs7u/s1600/CoisasJV3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="680" data-original-width="935" height="290" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi65yrDPDDUqS06Hwm9-GkFP2mO8joVTunJLb5tN93_kZQOBbVK6yY4m55ZvaGM3XncG2jS1rGqqRDgOeMeZ9l7wI0MKwzPBthsZiLFMRpy203IeTK3tBZWTfaWoKZTgNeNlummvNLgLs7u/s400/CoisasJV3.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: small;"><span lang="PT" style="font-size: medium;">Se o texto se oferece ao leitor como espaço indefinidamente aberto à interpretação, o mesmo acontece com as fotografias do autor. Entre o sujeito e o objecto há uma fractura onde se sobrepõem o imaginário e o real e é no intervalo que a criação acontece. Apresentado em certos ângulos, o real fotografado ganha vida, força, movimento, torna-se mistério. É disso exemplo a fotografia com o pormenor de uma estrutura em madeira que parece sair do olhar de quem a olha, para entrar na página e apontar a um horizonte branco e infinito ou aqueloutra onde figura um tronco decepado, porém reanimado por ramagens que o vento escolheu. Estamos perante o olhar do poeta “vidente”, como se assumia Rimbaud </span><span lang="PT" style="font-size: x-small; line-height: 16px;">(4)</span><span lang="PT"><span style="font-size: x-small;"> </span><span style="font-size: medium;">, o “ladrão do fogo”, o que encontra uma linguagem capaz de revelar a magia das coisas que não sabemos ver, capaz de libertar o real para atingir a verdade, i. é., a sua “essência”, a qual, porém, será de imediato questionada uma vez que esta poesia, que diz que “todos os jardins são invisíveis / mesmo que os observes com os verbos /roubados às cicatrizes”, situa a sua intimidade na indefinível essência, nos vestígios, nos ecos, nos rumores, nos murmúrios, em infinitos movimentos de avanços e recuos que o poema averba assim:</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><i><span lang="PT">É um desenho nos seus vestígios o que se afasta em presença</span></i><span lang="PT"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: medium;"><i><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">luminosa. Uma substância íngreme que toca as narinas com<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">cheiros que fulgem e suspendem os passos. Como se num<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">espelho a imagem devolvida abandonasse a simetria<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">ou despedisse a humidade do olhar.<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">Então a noite virá com as suas escamas escorrendo de lentidão<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;">pelas paredes em rumor cúmplice dos bichos até que na terra<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: medium;"><span lang="PT"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">se elevem as sementes trazidas pelo vento.</span></span><span lang="PT" style="font-family: "calibri";"><o:p></o:p></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<i><span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<b><i><span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;">Coisas Mínimas & Outras Coisas</span></span></i></b><span lang="PT"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: medium;"> é um livro sobre coisas mínimas donde nascem todas as coisas. É respiração. É um livro sobre os labirintos do sangue em busca da luz, sobre o pensamento e a criação artística, sobre dar voz à voz líquida que nos habita. <b>Jorge Velhote</b> é um observador, um intérprete, um lapidário, um filigranista da voz que se oculta e que procura uma linguagem que a possa nomear. Por isto a sua poesia é necessária e cada livro seu é entusiasticamente acolhido.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: calibri; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="font-family: Calibri; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: x-small;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;">(1)<span style="font-family: "times new roman"; font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;">José Carlos Soares, <i>Sottovoce</i>, edições Debout Sur L'Oeuf, 2019, p.11<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: x-small;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;">(2)<span style="font-family: "times new roman"; font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;">in</span></i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;"> <i>Os Mapas sem fronteiras sufocam os lugares</i>, poema 6, livro de textos de Jorge Velhote e fotografias de João Paulo Sotto Mayor<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; text-indent: -18pt;">
<span style="font-size: x-small;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;">(3)<span style="font-family: "times new roman"; font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;">Edgar Morin, <i>O Paradigma Perdido – a natureza humana</i>, Publicações Europa-América, tradução de Hermano Neves, 5.ª edição, p.131<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt; text-indent: -18pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: x-small; line-height: 13.8px;">(4)<span style="font-family: "times new roman"; font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; line-height: 13.8px;"><span style="font-size: x-small;">Jean-Arthur Rimbaud, <i>Iluminações, Uma Cerveja No Inferno</i>, tradução de Mário Cesariny, Assírio&Alvim, p.192</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="font-family: Calibri; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 36pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<span style="background: white; font-family: "arial"; font-size: 10pt; line-height: 15.3333px;"> <b>© Teresa Sá Couto</b></span>Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-3851423935270666932020-02-18T18:27:00.003+00:002020-02-18T18:45:34.859+00:00Cristais da Tarde - fotografias de João Paulo Sotto Mayor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNYeSMqSfLk1cTm9a_-rcXVVhedTOWq7IPGtvWo-pO9vnuzMFggiSsAbVNzZ40bK6RzYwjhp8ogf9BQB5JhJ2WEd1BpDyh7nPkB_E99BruOA6p6W2q0OktI7zuSoRQVpAZndjkJ2D4uSs_/s1600/Cristais+da+Tarde.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1279" data-original-width="1600" height="255" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNYeSMqSfLk1cTm9a_-rcXVVhedTOWq7IPGtvWo-pO9vnuzMFggiSsAbVNzZ40bK6RzYwjhp8ogf9BQB5JhJ2WEd1BpDyh7nPkB_E99BruOA6p6W2q0OktI7zuSoRQVpAZndjkJ2D4uSs_/s320/Cristais+da+Tarde.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">António Ramos Rosa,<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">poema <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nascimento
Último</i></span><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">(1)</span><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><o:p><br /></o:p></span></div>
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"> Na câmara escura de<i> </i>João Paulo Sotto Mayor habitam brilhos e rumores de uma cidade,
reúne-se o espaço e, assim, antologia-se o tempo. Refiro-me a<i> Cristais da Tarde</i>, o mais recente livro
de fotografias do autor que agora nos dá um miradouro sobre as tardes que
enredam a cidade do Porto: o rio e o mar, as nuvens e o vento, as pontes e o
casario, a calma e o bulício, as pessoas e as aves, a luz dramática de poentes
e o brilho baço da neblina que veste o horizonte e a alma, a lembrar a segunda
estrofe do poema <i>Miradouro de Santa
Catarina, de </i>Jorge Velhote: “Uma ave devora-me a alma e / a melancolia,
confesso, suja-me / um pouco os dedos</span><span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">.”.(2)</span><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; text-align: right;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcOSsS46gjqwsrPCnYd0hfQZ4X5PoyjkLvLfu5EXuUuftY_Bdq8wCySrOx_i1ywmOd9YU-1p80-cGwMLzjrLEVtByqHJLLfC6Pz0U1bLsagzMnnXzoMNhgStBQOORt0ywbrkKBD83ao_O0/s1600/Joao+Paulo+S+M+.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="939" data-original-width="1006" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcOSsS46gjqwsrPCnYd0hfQZ4X5PoyjkLvLfu5EXuUuftY_Bdq8wCySrOx_i1ywmOd9YU-1p80-cGwMLzjrLEVtByqHJLLfC6Pz0U1bLsagzMnnXzoMNhgStBQOORt0ywbrkKBD83ao_O0/s320/Joao+Paulo+S+M+.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Fundador, em 1976, do grupo IF,
Ideia&Forma, com António Drumond , entre outros, <b>Joao<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Paulo Sotto Mayor</b>, na centena de fotografias
a cores e preto e branco que unem a sua respiração a textos de autores da
literatura universal e do próprio fotógrafo, mantém o compromisso inicial do
olhar solto e perscrutador do tempo, e para quem a fotografia parece ser uma
expressão vital que ele transformou em expressão artística.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt;">(na imagem, gentilmente cedida pelo autor, <b>João Paulo Sotto Mayor</b> com o seu <i><span style="color: #073763;"><b>Cristais da Tarde</b></span>)</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt;">.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 12pt;">Livro
que não obedece a nenhuma ordem, nas palavras do autor, <i>Cristais da Tarde </i>tem a abrir uma imagem com o rasto triangular de
um barco no vértice veloz do percurso a aspirar o espaço infinito; “o tempo
esqueceu-se de mim”, diz o fotógrafo <i>flâneur</i> que não se esqueceu do tempo e
que, como o barco da fotografia, percorre o espaço para o integrar no tempo,
com a missão clara de registar as experiências do seu olhar livre e vigilante.
Maria do Carmo Serén, num dos textos introdutórios, refere <b>João Paulo Sotto
Mayor</b> como “fotógrafo experiente e poeta” que “surpreende a cidade”, Jorge
Velhote diz que “o autor acolhe o sussurro que se hospeda no seu olhar” e que
“instala na carne a pele do mundo”, Gil Maia<b> </b>alude a<b> “</b>construções
visionárias” e Fernando Maia Pinto aponta a “inteligência” do
fotógrafo; <b>João Paulo Sotto Mayor</b> junta
àquelas observações um elemento transgressor: “para mim, mais do que a imagem é
o som que me alimenta”, diz numa assunção sinestésica da sua expressão
artística, aqui entendendo-se arte por “intenção profunda e jogo, imitação
aparente e transfiguração real”, nas palavras de José Régio, “jogo de
movimentos, de sons, de volumes, de linhas, de cores, e jogo que nos agrade” </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9pt; line-height: 150%;">(3) </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">, </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 12pt;">que nos lisonje os sentidos e nos acorde o espírito. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Com a
intenção de comunicar as suas experiências, o autor instiga o espectador a
ancorar-se num lugar imaginário </span><span lang="PT" style="display: none; font-family: Arial; mso-hide: all;">nteira, marca de quem viveafias: experriencias em
dies, e jogo que nos agrade"</span><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">para daí
experienciar as sonoridades visuais que se passeiam nas fotografias: os ventos
que inquietam o mar do Gilreu, que fazem explodir a água no farol de
Felgueiras, os que na pérgola das nuvens sobre as águas se dedicam a jogos
malabares esculpindo estátuas a que a luz dá leveza e dinamismo, os que rasgam
nuvens espessas e concebem abismos cintilantes que recebem os gritos das
gaivotas comovidas com o destino dramático da luz, o rumor da gente que passa e
que a luz transfigura em hologramas, o apelo errático de um detalhe que se
insurge na bruma convulsa, o resmalhar alvoroçado das penas, </span><span lang="PT" style="font-family: Arial;">o sopro de um instrumentista de saxofone com
a luz crepuscular timbrada no rosto, o silêncio de um homem andrajoso de costas
voltadas ao poente, </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o marulho das narrativas enigmáticas
esculpidas pelo sal na areia, na orla onde o morre o mar, o silêncio da maré
vaza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É fortíssimo o sentimento telúrico nestas
fotografias e não o é só por causa da terra<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>geográfica. É-o pelo diálogo cúmplice e afectuoso que o fotógrafo enceta
com a cidade. </span><span lang="PT" style="font-family: Arial;">Seja qual for a
diversidade dos planos, o fotógrafo procura sempre a imagem inteira, marca de
quem vive na cidade integrado nela. </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Como
o Anteu do mito que se regenera ao tocar o solo, <b>João Paulo Sotto Mayor</b> une a
pele do olhar à pele da cidade para receber dela a pulsão criadora; à cidade,
ele oferece como préstimo quadros de tempo para além do tempo. Muitas vezes
afigura-se-nos uma inversão de papéis, pois parece que é a paisagem que vigia o
fotógrafo e a nós através dele. E lá estão</span><span lang="PT"> o </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">casario no regaço vítreo das poças de água</span><span lang="PT" style="font-family: Arial;">, o ouro engalanado a escorrer nos vidros das
janelas, o reflexo tremente do casario no espelho pardo do rio, o rio que
se finge manso e tateia sedoso as margens, os botes com os bicos das proas a
beber o rio em lenta direcção à eternidade, os rabelos de cores garridas no
secular rio de mosto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“O desejo do início e do silêncio / para que o
instante seja a fábula do instante.”, escreveu, ainda, António Ramos Rosa </span><span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">(4)</span><span lang="PT" style="font-family: Arial;">. “Gostarei de ser sentido como quero”, anota
João Paulo Sotto Mayor sobre a sua representação do mundo, num manifesto desejo
de partilha de instantes, emoções e sentimentos, que sabe que comunicar é
emergir da ocultação e espacializar o tempo é um gesto contra a morte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial;"><o:p> .</o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">Notas:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">(1) António Ramos Rosa, Antologia Poética,
Dom Quixote, Lisboa, 2001, p.246<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">(2) Narrativa da Foz do Douro, poemas de
Jorge Velhote e fotografias de Tiago Reis, Edição Projecto, Porto, 2013<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">(3) José Régio, Três Ensaios Sobre Arte,
Portugália Editora, Lisboa, 1967, p.61<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 10.0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; line-height: 150%;">(4) António Ramos Rosa, Antologia Poética,
Dom Quixote, Lisboa, 2001,p. 225<o:p></o:p></span></div>
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<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: Arial; font-size: 9.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: "MS 明朝"; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;"><br /></span></div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-64627610278807058622019-08-17T15:46:00.000+01:002019-08-18T11:14:30.511+01:00Aurora, de Renato Roque<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRmkpvyFvwsGTu6AZUB_8hBGBBEpa6TxWrRGLKcod7UXhCnwj2_wjD7FPoXX7FzmhgL7m1s8bA3nx35Hj0sxoeBsHrTVEJO7Kghwqk0-LNEVifb7s26HI90rXhoam-hkouIIdqqiEhgs-a/s1600/aurora-capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="895" data-original-width="709" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRmkpvyFvwsGTu6AZUB_8hBGBBEpa6TxWrRGLKcod7UXhCnwj2_wjD7FPoXX7FzmhgL7m1s8bA3nx35Hj0sxoeBsHrTVEJO7Kghwqk0-LNEVifb7s26HI90rXhoam-hkouIIdqqiEhgs-a/s320/aurora-capa.jpg" width="253" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-size: medium;">Partindo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Antígona,</i>
de Sófocles, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Renato Roque</b> constrói <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aurora</i></b>,
libreto em verso, dramático e crítico, com direito a habitar a história
dramatúrgica de intervenção, a que denuncia a tirania e a soberba dos poderes
que desprezam a cooperação e confraternização humanas; a escolha do título <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aurora</i>, sinónimo dos nomes alvorada,
madrugada ou despertar, evidencia o propósito de alguém comprometido com o seu
tempo. Aliando-se às máscaras diabólicas de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Vitor Sá Machado</b>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aurora</i>
revisita a nossa cultura e arqueologia mental: o Diabo, figura mais grotesca
que terrível, intrépido e vulcânico, é o subversivo estandarte dos humilhados,
o que está onde está a humanidade para que esta crie o espírito humano e este
concretize a Ideia: resgatar o mundo para a verdade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span>
<span style="font-size: medium;">Numa altura em que o mundo vive a tragédia dos
migrantes, em que se assiste à eclosão da extrema direita em lugares de poder e
decisão, em que pululam tentativas ditatoriais que abocanham as
liberdades,</span><span style="font-size: medium;"> </span><i style="font-size: large;">Aurora </i><span style="font-size: medium;">surge</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">pleno de
sentido. Escrito à maneira clássica, o texto propõe-nos um jogo de símbolos
cuja animação fica a nosso cargo: os factos narrados implicam experiências,
percepções e reacções do leitor incitando-o a avaliar o lugar humano no
mundo:</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">“O que vos vai ser narrado /é o
que está a acontecer. /E se repete o passado, /anuncia o que há-de ser”, avisa
o texto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span>
<span style="font-size: medium;">Feito de ardis, o texto dispensa as personagens
e usa dois coros para apresentar a narrativa e conduzir a eloquente, desditosa e
atual história de </span><i style="font-size: large;">Aurora. </i><span style="font-size: medium;">O Coro dos
anjos, na advertência para a contenção dos gestos humanos, mostra a solidão que
</span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> negou, a desobediência</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">à doutrina da frustração como meta do destino
de todos os homens, a recusa da condição de nada pedir e do juízo final
exercido por um homem sobre outro. Diz o coro: </span><i style="font-size: large;">Sabias bem, muito bem, /devias obediência /aos Crónidas e a quem/devias
a existência. </i><span style="font-size: medium;">Ao invés, O Coro dos diabos apresenta-se conluiado com </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> e com todos os que se opõem aos
ditames de </span><i style="font-size: large;">Creonte</i><span style="font-size: medium;">, como </span><i style="font-size: large;">Filomena</i><span style="font-size: medium;">, irmã de </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;">, </span><i style="font-size: large;">Hémon</i><span style="font-size: medium;">, noivo de </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> e filho de </span><i style="font-size: large;">Creonte</i><span style="font-size: medium;">, e os estrangeiros ajudados por </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;">. Assim se dá ao séquito diabólico o papel que
tradicionalmente lhe pertence: o de viver na terra para cumprir a necessidade
de enfrentar o mundo,</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">ao lado do povo
para apostrofar os poderosos, arauto dos direitos cívicos à existência,</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">fundamental na empresa de nos relacionarmos
com o outro: </span><i style="font-size: large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;">Seguiste
o teu coração, queriam que olvidasses, /que não falasses (...)/ que teus
ouvidos cerrasses;<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quem como tu quer viver,/crueldade não
suporta;<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É melhor viver a morte /do que morrer a vida; <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;">a morte
para todos chegará, / porque ao Hades não se escapa.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span>
<span style="font-size: medium;">A estrutura externa do texto composto por
quadras de rimas cruzadas, simples, melódicas, ao jeito popular, fortalece esta
teia</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">de laços mágicos onde se</span><i style="font-size: large;"> </i><span style="font-size: medium;">bordam lendas seculares e também agora </span><i style="font-size: large;">Aurora. E</i><span style="font-size: medium;">mbora com posicionamento
ideológico distinto, os anjos e os diabos de</span><i style="font-size: large;">
Aurora</i><span style="font-size: medium;"> trabalham em conjunto para a Ideia: os primeiros, lamentando as
decisões de Aurora, engrandecem-nas; os segundos, rejubilando-se,
legitimam-nas. E é este outro ardil de um texto que propõe a confraternização
humana e que também sabe que o embate entre forças antagónicas pode resultar no
aniquilamento de ambas. O </span><i style="font-size: large;">Creonte</i><span style="font-size: medium;"> de
ontem e o de hoje só consegue ver um adversário como inumano, como o “outro”; </span><i style="font-size: large;">Antígona</i><span style="font-size: medium;"> e </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> reconhecem a mesma humanidade em todos, pois todas as
pessoas partilham um destino comum.</span><i style="font-size: large;"> </i><span style="font-size: medium;">A
humanidade de </span><i style="font-size: large;">Antígona</i><span style="font-size: medium;"> é a humanidade
de </span><i style="font-size: large;">Aurora.</i><span style="font-size: medium;"> Ambas saem da sua
menoridade, entendendo-se esta como a falta de coragem para se usar o próprio
entendimento, como a define Kant ao abordar o uso autónomo da razão: “A
preguiça e a cobardia são as causas que explicam que um tão grande número de
homens, depois da Natureza os ter há tanto tempo libertado duma direcção
estranha, permaneçam, de bom grado, não obstante e durante toda a sua vida como
menores, sendo tão fácil a outros constituírem-se como seus tutores. É tão
fácil ser-se menor!”, refere Kant. Tal como </span><i style="font-size: large;">Antígona</i><span style="font-size: medium;">,
</span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> desobedece aos </span><i style="font-size: large;">Creontes</i><span style="font-size: medium;"> do mundo, ergue o peito, repele</span><i style="font-size: large;"> a cobardia, ajuda os estrangeiros, </i><span style="font-size: medium;">age</span><i style="font-size: large;"> à luz do dia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i><span style="font-size: medium;">É esta a denúncia, a crítica e a nova
escala de sentido que Renato Roque imprime no texto bebido do tragediógrafo
grego. Lê-se em </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;">: </span><i style="font-size: large;">Perante os deuses e os reis /há que baixar o
olhar, /cada um com seus papéis, /cada um em seu lugar </i><span style="font-size: medium;">- coro dos Anjos;</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT">Não te
queriam é livre,/pois temem a liberdade. /Temem quem a vida vive /e olha para
além da grade. – coro dos Diabos. </span></i><span lang="PT"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span>
<span style="font-size: medium;">Também comprometido com os direitos humanos,
com as questões da </span><i style="font-size: large;">hybris</i><span style="font-size: medium;"> e do poder,
o poeta, dramaturgo e activista Harold Pint escreveu, no poema </span><i style="font-size: large;">Morte</i><span style="font-size: medium;">, sete séculos depois de Antígona
em palavras reminiscentes: “Estava morto o corpo quando foi abandonado /O corpo
foi abandonado? / Por quem foi o corpo abandonado?//Estava o corpo morto nu ou
vestido para a viagem?”.</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">Tal como </span><i style="font-size: large;">Antígona</i><span style="font-size: medium;">, </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> é executada pela sua desobediência, mas o seu “emparedamento”</span><span style="font-size: medium;"> </span><span style="font-size: medium;">destrói o mito do poder: no </span><i style="font-size: large;">Êxodo</i><span style="font-size: medium;"> de </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> imprimem-se as lições a tirar da história: a liberdade
enfeitiça, os fracos podem ser fortes e os que se pensavam fortes podem
revelar-se fracos, a eternidade só é alcançada por poucos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span>
<span style="font-size: medium;">O poder deste </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;"> é o reinado do silêncio, onde se acha a personalidade e a
vigília humana. As perguntas que encontramos no texto estão ao serviço da
persuasão, do despertar das consciências: “Porque desobedecer /quando o coração
nos impele, /e se pode obedecer /vestindo uma outra pele?” , diz o </span><i style="font-size: large;">Diabo-Mor</i><span style="font-size: medium;"> no </span><i style="font-size: large;">Prólogo</i><span style="font-size: medium;">; “Queriam que fosses cega, /que não visses o que se via.
/Mas como é que se nega /a ajuda a quem agonia?”; “Recolheste no teu lar
/estrangeiros proibidos. /Poderias não olhar, /deixá-los desprotegidos?”, lê-se
no Coro dos diabos. Ter a coragem de se usar o próprio entendimento, </span><i style="font-size: large;">Sapere aude!</i><span style="font-size: medium;"> é, pois, a divisa de </span><i style="font-size: large;">Aurora</i><span style="font-size: medium;">, o grito que ecoa do texto para
nos implicar:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: medium;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;">Os anjos e os chifrudos<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tudo aqui vos vão contar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E
não vos queremos mudos,<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: medium;">mas sim no fim a pensar.<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT">Aurora</span></i><span lang="PT">, Renato Roque,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>edições Lema d’Origem, Julho de 2019<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: black; font-family: "arial"; font-size: 10.0pt;">© <b>Teresa Sá Couto<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: black; font-family: "arial"; font-size: 10.0pt;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background: white; font-family: "arial"; font-size: 10pt;">nota: </span></b><span style="background: white; font-family: "arial"; font-size: 10pt;">O
libreto </span><i><span style="font-family: "arial"; font-size: 10pt;">Aurora </span></i><span style="background: white; font-family: "arial"; font-size: 10pt;">foi lançado em Morille, Salamanca durante o PAN , no
passado mês de Julho, bem como a Curta Metragem do mesmo nome, com as máscaras
de Vítor Sá Machado, realizada por Renato Roque e Tiago A. Fonseca.</span></div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-61411932702237281452019-05-11T22:14:00.001+01:002022-09-19T17:52:57.834+01:00"Os Animais Perdidos Na Floresta" de Francisco Duarte de Azevedo<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: left;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhvo1m0XAtudsbQiVPuYrbSF0pTgsy3-iEY5WvE0dWSVgMwBb3LRFBtPf_VIB4WNXE6iR1eT4-n60A8VqQ34O8hsKqYHr1RsPaV3cev-gbbOxzLt6f_CBcgz8aI1OBnTt6KisR_h3KH5ig/s1600/os+animais_capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="850" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhvo1m0XAtudsbQiVPuYrbSF0pTgsy3-iEY5WvE0dWSVgMwBb3LRFBtPf_VIB4WNXE6iR1eT4-n60A8VqQ34O8hsKqYHr1RsPaV3cev-gbbOxzLt6f_CBcgz8aI1OBnTt6KisR_h3KH5ig/s320/os+animais_capa.jpg" width="213" /></a></div>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;"> Com o <i><b>Os Animais Perdidos Na Floresta</b></i>, Francisco Duarte de Azevedo conclui a trilogia poética proposta há vários anos ; à semelhança dos outros títulos,<i><b> As Habitações Interrompidas</b></i> e <b>Livro de Inverno e Transições</b>, também este tem prefácio meu; é esse texto que aqui publico. </span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: center; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Cântico de solidão</span></b><b><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></b><br />
<b><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p><br /></o:p></span></b>
<b><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><o:p><br /></o:p></span></b>
<br />
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> Enquanto eu bebo a
respiração dum fruto / </span></i><i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">o tempo chama-me, pelo
rio.</span></i></div>
<i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> </span></i><span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; text-align: center;"> </span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; text-align: center;"> M.S.Lourenço</span><span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; text-align: center;"> </span></div>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; text-align: center;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> Os rios, obstinados, / </span></i><i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">abrem sulcos profundos / </span></i><i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">nos nossos braços.</span></i></div>
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; tab-stops: 212.65pt 8.0cm; text-align: center; text-autospace: none;">
<div style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Francisco Duarte Azevedo</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A solidão é
um rio, às vezes negro, outras vezes azul intenso, outras, ainda, verde gramíneo,
amarelo crepuscular, branco das manhãs ou das areias, mas, indubitavelmente, o
rio da solidão escreve-se a vermelho. É um rio revoltoso o que encontramos
neste terceiro tomo da trilogia proposta há já alguns anos por Francisco Duarte
Azevedo. No seu tutano, uma explosão, o centro das incertezas, a habitação; nas
suas artérias, o latejo da demanda, o uivo do tempo, a pulsação do instinto da
escrita ininterrupta.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"></span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglbKmxjVAn61HkupYwW8mHzHhGckFEMLeInrUrml7AjL6tzCvfUd9Gfut41sV-QfB83cYpnX5ymfwTRcxWw7LnUx6RXZKk1fudvG7G-dzaoT5M5AyKXjCMB_1sJVyoAi5PKPFR-ralSaBs/s1600/FDA_capas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="850" data-original-width="850" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglbKmxjVAn61HkupYwW8mHzHhGckFEMLeInrUrml7AjL6tzCvfUd9Gfut41sV-QfB83cYpnX5ymfwTRcxWw7LnUx6RXZKk1fudvG7G-dzaoT5M5AyKXjCMB_1sJVyoAi5PKPFR-ralSaBs/s320/FDA_capas.jpg" width="320" /></a></span></span></div>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;"> À semelhança dos dois primeiros títulos da
trilogia – <b>As <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Habitações Interrompidas</i></b>
e <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><b>Livro de Inverno e Transições</b></i> -, <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><b>Os Animais Perdidos na Floresta</b></i>
reverbera os temas da memória, da natureza e da solidão mas este atinge agora
um cântico lapidado onde a palavra toca “a polpa das pedras” e, em golpe de
asa, liberta-se do “jugo terreno”, a sua condição, acede “</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11pt; line-height: 150%;">a um céu/ delicado sobre a falésia” para se
lançar no infinito ao encontro da sua plenitude ou dito, ainda, assim: “Ao
acaso./ No centro
da floresta/ entre a montanha/ e o infinito/ assistiremos/
ao
voo metálico/ de um pássaro/ de fogo contornando/ as asas da imaginação.”</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">.</span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Jorge Luís Borges, no Prólogo<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> de A Rosa Profunda</i>, de 1975, escreveu: “A palavra teria no
princípio um símbolo mágico, que a usura do tempo desgastaria. A missão do
poeta seria restituir à palavra, mesmo parcialmente, a sua primitiva e agora
oculta virtualidade. Dois deveres teria qualquer verso: comunicar um facto
preciso e tocar-nos fisicamente, como a vizinhança do mar.”</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8.0pt; line-height: 150%;">(2).</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> Em <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><b>Os Animais
Perdidos Na Floresta</b></i>, a água é o discurso sobre a génese, sobre os
sacrifícios da viagem, a luz é o discurso sobre o efémero, o transitório, o
vento é inquietação, o sopro criador que dissemina, avança e inventa o canto
dos “pássaros que já não falam”, que produz um eco sonoro que nos envolve,
despe e impele para novas significações da palavra. Água, luz e vento são,
assim, princípios fundadores, artérias deste cântico poético sobre a solidão.
Diz-nos o texto: “Navegamos no âmago/ de substâncias etéreas./ <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Para tocar a polpa
das pedras,/ o coração
necessita de água/ e da tua voz</i>. Para isso me iniciei.”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com efeito, há uma solidão lacustre nesta
poesia que procura as ruínas no fundo das águas doces: “Na macieza do éter/ são
frustrantes/ todas as tentativas/ para alterar o rumo/ da navegação./ O que é
isso/ dos navios sorvendo/o lodo dos rios? “, sendo o “isso”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o enigma dos caminhos que se desdobram em
múltiplas sendas criando labirintos que são o desígnio da própria<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>poesia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na
viagem que nos é proposta, há uma emergência de quietude que confere à
caminhada um principio de onirismo, “Há uma insistência/ para amaciar os gestos/
num campo de girassóis adormecidos.”, há a confiança:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Como o aprendiz/ montado/ na sua cegueira
ansiosa,/ amestrarei
o corcel /e um cravo
florescerá/ entre os dentes”; e há
também a tensão entre dois polos extremos, a energia e a lassidão, a esperança
e o niilismo: “E no desespero/ assimétrico
do confronto/ entre massa e energia,/
os elementos celestes/ derramam-se
sobre a terra./</span><span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uma
chávena
de café/ amargo e quente
emerge/ das entranhas do fogo</i>.”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Por vezes,</span><span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> </span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">uma refracção violenta desvela um movimento auto-reflexivo, uma demanda
intelectual impregnada de memória de paraísos perdidos e de desejos
suspendidos:</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Se o pudesse abraçar
</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">abraçava mas não posso.
</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Os meus braços</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">são pequenos</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">para tamanha imensidão.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Precisaria da tua ajuda
</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">e perdi-a. E
os braços </span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">de
mais duas, três ou quatro
</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">pessoas não bastariam
</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">para abraçar
o mundo
</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">da árvore de memórias </span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">e lendas tão antigas</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">como
a criação dos
séculos.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><br /></i></span>
<span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Precisaria apenas</i></span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">do teu abraço </i></span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">para abraçar </i></span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">o baobá por inteiro. </i></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "book antiqua"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Na viagem, as mãos têm um papel essencial, porquanto<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>são a “bagagem do criador”, o seu
“elemento original”: “O silêncio não digerido,/ as mãos aquietadas/
sob a
sombra das águas
/ e o corcel mansamente
/ estacado à porta dos desejos/ contemplam
de soslaio o aprendiz.“; embebida numa luz “crepuscular”, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a palavra é projectada pela mão que</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> percorre a tela “como um caminho cego”, desenha o
silêncio que “uiva no vento”, certa de que “</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Uma árvore estremecerá./ Apenas uma.
Aquela/
onde depositas
o reencontro/ dos elementos/ e acolhe as nossas habitações.”,
lê-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“Que pássaro/ é este que na ponta / dos dedos/ faz o ninho?”, escreveu o
nosso saudoso poeta Albano Martins no poema <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Para
a Flautista de “O Pássaro de Fogo”</i>,<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
de Stravinsky </i></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8.0pt; line-height: 150%;">(3),</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> </span></i><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">onde se evidencia que a Arte é o lugar onde habita a voz<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>;<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“digerido” o silêncio, é preciso dar-lhe voz, e cabe às mãos instaurar o
silêncio no silêncio da tela – e recordo que as capas que envolvem os três
títulos da trilogia são reproduções de quadros de Francisco Duarte Azevedo –
ou, no caso, no silêncio estridente das palavras</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> que são jogo, manha, o lugar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>onde a incerteza se </span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">torna um viático porquanto a dúvida atinge
a dimensão reflexiva, a dúvida pela qual o sujeito se interroga sobre as
condições do seu próprio pensamento: “E as águas do rio / seguem o seu
caminho./ Já não sei onde estancam.
/ Se no deserto imenso /ou nesse outro mar
azul / tão distante e incerto.”.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Disse,
ainda, Jorge Luís Borges que a solidão é</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> a sina do transviado mas também do pioneiro. </span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Outrossim do poeta, acrescente-se, e Francisco
Duarte Azevedo evidencia-o uma vez mais neste <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><b>Os Animais Perdidos na Floresta</b></i>.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Nas
“cúpulas dos bosques” cantam os pássaros o cântico febril na vigilância dos
dias, sendo a vigília o instinto do poeta: “Sonha-se de olhos abertos
/ no
centro da solidão./ Como um dicionário fechado/ no sacrário das palavras.”.
Ligada à vigilância, a ansiedade estimula a pesquisa errante, e não<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>parará de trabalhar subterraneamente na procura
das soluções que as suas angústias exigem. Neste tomo, a errância está patente
na forma de poemas ora curtos, ora mais longos, em prosa, atrelados ao real ou
saltando dele com metáforas frenéticas e enigmáticas, onde as palavras que são
a “lucidez da insónia”, as palavras<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“importadas de memórias/ derramadas e imprecisas” edificam “Imagens/ passageiras
girando na espuma / da madrugada”, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>”cansam-se, irritam-se”, “Explodem
como um
vulcão /outrora indeciso entre água, ar e fogo”. As palavras arriscam,
afrontam, mergulham no delírio e na loucura criativa que culmina e desfralda
quando há simultaneamente ausência: </span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">As acácias as casuarinas</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">regurgitam
no
delírio</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">dos rios e nas areias
da praia.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Os seres perdidos
na floresta</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">rasgam
as veias
sob a pele</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">a camada do fogo
e o crepitar </span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">vermelho
de bocas exauridas.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Do mar,
sorvem o sal</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">o plâncton
para temperar</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">o aço dos seus braços.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> São as
palavras que se iluminam contra a banalidade, que arrostam o caminho, que procuram<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“a migalha/ de podermos /antever/ quão
irreais/ os rios/ em busca do mar”, que escutam “o grande rio que habita/ o
coração dos animais /perdidos na floresta”, que mergulham “na densidade dos
lobos reaprendendo a caminhar” ou dito , ainda, assim:</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Caminhamos no coração</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">das trevas modernas de betão.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">O peso da solidão</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">é tão grande como o arco</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">planetário de Deus;</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">a aliança entre os mitos e os rios</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">bíblicos permanece</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">na
densidade da memória.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A solidão esgueira-se</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">na silhueta das trovoadas,</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">cíclicas, da floresta.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A chuva asperge-nos</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">de frescura, eis o maná</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">da
fertilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A assunção da escrita como poalha, o
carácter efémero da palavra - a “varanda provisória”-,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e o elogio da imperfeição são senhas para a
escrita ininterrupta.. A palavra é frágil, é um ser sensível “perdido na
floresta”,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é imperfeita, de uma
imperfeição absoluta a exigir constantes reparações:</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Súbito, um estremecimento</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">reacende as vozes a galope</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">do corcel das trevas.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">A insónia, essa coisa</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">brumosa de dormir</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">acordado, apodera-se</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">de reflexos,
denuncia o corpo</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">entre
sono e morte,</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">vampiriza o vocabulário</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">torna-o redondo
e repetitivo.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> </span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Pensar, analisar, reinventar a voz da solidão</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> serão etapas do método do</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu</i>
monologante em demanda intelectual, do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu</i>
dialogante com o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tu </i>da poesia e com o
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nós</i> de um leitor implicado no peso
das fadigas humanas, atento aos movimentos do mundo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>impelido, também ele, para a caminhada de
pensar, analisar e reinventar a sua própria solidão.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"> “Não fosse tão
intenso/ e tão azul/ este voo iniciático / contemplaria os seres/ que pululam/
fora das nossas vidas,/ pulsando, pulsando, pulsando/ como as veias/ nos pulsos
dos nossos braços.”, lê-se neste último título da trilogia. Crê-se que o
laboratório poético de diálogos interrompidos, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que assume <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“amaciar o corpo” da palavra nas noites de
chuva, não se ficará por este tomo. Deseje-se, pois, chuva à palavra
policromada de Francisco Duarte Azevedo.</span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial"; font-size: 11pt;">Teresa Sá Couto</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: right; text-autospace: none;">
<div style="text-align: left;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Lisboa, Novembro de 2018<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Notas:</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">(1). </span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">M.S.Lourenço, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Caminho dos Pisões</i>, Assírio & Alvim, Lisboa 2009, p.13<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">(2). Jorge Luís Borges, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Obras Completas 1975-1985</i>, Editorial
Teorema, Lisboa, 1998, p.79<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">(3) Albano Martins, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Livro de Viagens</i>, Edições Afrontamento, Porto,
Março de 2015, p.47<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 115%; margin-bottom: 12.0pt; mso-add-space: auto; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<!--EndFragment--><br />Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-28615201583999009512019-05-01T15:09:00.003+01:002022-09-19T17:53:21.943+01:00Jorge Velhote: o abismo da luz<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4BiH3j9IG1b4Hb189Y-3gXnlu3StILIAdyCZ28VQAUyLQxBA52tBkw8m2vvew4nyA2jfb8k955pvy2VZ-ojdCtqiHe3g3gQ6U0YTIg9yHZOhi4dkxrncWDkbwHHGW62mDm7t2L_zllfZ6/s1600/JV-capas.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="695" data-original-width="709" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4BiH3j9IG1b4Hb189Y-3gXnlu3StILIAdyCZ28VQAUyLQxBA52tBkw8m2vvew4nyA2jfb8k955pvy2VZ-ojdCtqiHe3g3gQ6U0YTIg9yHZOhi4dkxrncWDkbwHHGW62mDm7t2L_zllfZ6/s320/JV-capas.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT"><br /></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT">Envolvo de pele as pedras e as sombras brilham </span></i><span lang="PT" style="font-size: 8pt; line-height: 115%;">(1)</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT"><o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span lang="PT"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Jorge Velhote<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span lang="PT"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span lang="PT"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT">Ponho os frutos negros na boca e a sua doçura é de <o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT">outro mundo<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT">como o meu pensamento arrasado pela luz</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 8pt;">. </span></i><span lang="PT" style="font-size: 8pt;">(2)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span lang="PT"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span lang="PT"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Antonio Gamoneda<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span lang="PT"><o:p><br /></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Luz e trevas, leveza e densidade,
despojamento e complexidade, desvelamento e ocultação, união entre realidade e
espírito<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>são os elementos essenciais da
correnteza de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Âmago</i></b>, o mais recente livro de poemas e fotografias de Jorge
Velhote. Discreto, longe das luzes e fanfarras mediáticas, Jorge Velhote tem, no
tempo e no modo, dado à estampa alguns títulos sem preocupações de agenda, mas
sempre fiel à beleza e à exploração dos enigmas da linguagem poética. A
chancela é da zelosa, e também discreta, <i>Edições Sem Nome</i> dirigida pelo
incansável Luiz Pires dos Reys.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "arial";"> “Ofício
e peregrinação”: assim se assume este <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Âmago</i></b> na epígrafe assinada por
Jorge Velhote, tendo o olhar como ofício e uma poesia que decanta a luz para
atingir a medula, o centro perdido. </span><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Logo a abrir, as trevas oferecem ao poema a sua resistência e a sua
impulsão e de imediato divisamos o programa poético do autor, irradiante neste
título, outrossim em títulos anteriores: surgem-nos as trevas de um “olhar
cego”, contrariadas por uma “luz virulenta” que faz acordar “o animal do poema”
a fim de cumprir “funções ásperas” : indagar a voz da solidão,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da dor, da morte. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Impelido pela busca, o “olhar dobra-se como um
seixo”, curva-se no jogo que a luz lhe dá a jogar: procurar o <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“segredo exclusivo” da voz poética, numa trama
que vai urdindo com fios de diferentes espessuras, num percurso labiríntico,
aracnídeo, como anunciado na fotografia que abre o conjunto de poemas seguida
de outra imagem com, interpretemos, a dissipação de uma “inevitável neblina”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A partir daqui, com “vagar luminoso que arde
inabalável e engenhoso”, o<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>olhar ocupa-se
na sua missão de procurar a luz nas trevas, de levedar a imaginação:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Há uma luz branca que chega<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Como antes chegou uma luz<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">negra ou o frio vertiginoso<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">do esquecimento.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Olhavas as tuas mãos<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">enquanto nas veias escorriam<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">líquidos furiosos abrasando.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Por vezes a melancolia inclinava-te<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">a cabeça para lugares enxutos<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">e velozes. Ou escuros.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Vias os melros entre ramagens ocultos<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">como sombras e tangias o vento<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">para selar o inverno. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Canto das profundezas e de triunfo da dor,
esta poética não transmite, porém,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>angústia ao leitor, mas uma inquietação agasalhadora, uma sensação de
consolo, de abrigo. Para tal concorrem a mestria do autor no declinar com
naturalidade a fragilidade, a efemeridade, a dor e a morte envolvendo tudo com
serena melancolia, pois são “simples e eternos /os instrumentos da agonia” ou
dito, ainda, assim: “Diante da chuva o medo cresce / como bosque inacessível. / Mais
tarde, destinaste à morte / Um relâmpago de tristeza. / E a serenidade das
sementes.”; também a musicalidade que atravessa, dominadora, todas as
composições, imprimindo no poema um jogo tensional e dramático enformado por metáforas
de beleza arrebatadora: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">É a luz, dizias, essa fístula.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">E no limite os vestígios da penumbra ou da tristeza<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">com que humedeces a música.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Lambes a vertigem como num espelho<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">os líquenes devoram a espessura da terra.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Um pastor vem e deixa indecifrável o seu rasto<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">como um rosto o seu destino.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">E nos seus claustros a água apenas varre<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">os lilases do medo.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"> Por tudo isto
entendemos o que o autor nos quer dizer quando diz que “A beleza não é um lugar
maldito” </span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 8pt; line-height: 150%;">(3)</span><span lang="PT" style="font-family: "arial";">. Se a
noite impulsiona a procura da luz,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a luz
dispara os enigmas, torna leve a densidade, desnuda a complexidade e revela
outros enigmas num círculo infinito onde enreda o leitor, ou dito assim:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Na noite cintilam entre paredes<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">os despojos da pele e<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>uma labareda<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">devastando os ossos dispara<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">a cegueira.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">Infinitamente desce no teu olhar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">apenas uma gota de luz<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">que varre das pedras a poeira inútil<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "arial";">a dor e a loucura. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O poeta
Amadeu Baptista, na apresentação pública de <b><i>Âmago</i></b>, disse que a “metáfora na
poesia de Jorge Velhote integra-se no que os gregos dizem que ela é, um
transporte e um vínculo para que outros vínculos se expandam”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com efeito, </span><span lang="PT" style="font-family: arial;">as metáforas
abrem sulcos</span><span lang="PT" style="font-family: "arial";">, expandem-se em
portas, galerias, labirintos, qualquer lugar é outro lugar, “um enigma inaugura
um outro modo de ver”, o olhar declina-se no fogo, “declina<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>infindo”, como uma “bactéria”. Muitas vezes o
palco é um abismo, o alvo da luz é o vazio, outras um círculo, não vicioso, mas
espiralado e, por conseguinte, infinito: “são paisagens incrementes e austeras
que figuram / o inextinguível, a quase escuridão ou alegoria /luminescente dos
labirintos e dos portais da voz”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span lang="PT"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"> Amadeu Baptista referiu, ainda, que esta “poemática é
filha de um processo criador que vem do mundo antiquíssimo, de uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pangeia</i> inerente ao mundo e à linguagem,
ao trabalho ancestral dos dias e das noites, em que tudo está à deriva para se
recolocar na vastidão da nossa ignorância e da nossa ousadia.”. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Jorge Velhote procura o “nome despido”;<span style="mso-spacerun: yes;"> a</span>travessada pela meditação também sobre o
fazer poético, nesta poesia os sentimentos são categorias do pensamento, as
coisas desmaterializam-se, a realidade é metamorfoseada. Mais do que procurar o
sentido da palavra, procura interpelá-la, explorar-lhe a ambiguidade, dando ao
leitor espaço amplo de interpretação, desoculta a palavra original, liberta-a
dos grilhões do sentido, mas cujo poder de nomeação só é possível no “silêncio
de um nome” que não pertence a ninguém, na peugada do expresso por Fernando
Guimarães: “A poesia é o silêncio de um nome. Os caminhos a que ela nos conduz
são tão próximos como a intimidade de qualquer linguagem. Mas não é em nós que
essa linguagem existe. Há nela<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>uma
realidade própria que vem recusar a presença de quem é capaz de a pronunciar,
porque só deste modo estaria ao nosso alcance revelá-la aos outros. É essa
realidade, que há-de ficar por fim repartida, se poderá chamar silêncio, para
que a ninguém pertença.”</span><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 150%;">(4)</span><span lang="PT" style="font-family: "arial";">. Essa
brecha secreta, essa luz divida é o fundamento da poesia que Jorge Velhote
cumpre sabiamente. <o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"> A poesia é um
ofício carnal; “Procuramos o amor e a morte em cada rio / para que seja igual
ao mar da nossa vida”, escreveu, ainda,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Fernando Guimarães. Também na poesia de Jorge Velhote, o corpo define a
tempestade e a veia mais secreta, o pensamento, inventa os modos de dizer: “Há
um excesso de luz zunindo húmida”, que é “como um eco/entreabrindo a pele com
que cobrimos /os mortos de passagem”, e o poema tece-se procurando sempre o
equilíbrio entre luz e sombra, pois sabe que esse equilíbrio dá harmonia à
poesia, enunciado assim: “O peso de uma pedra que não sabes/ medir, a quantidade
de luz /que compõe o granulado /de uma sombra, a temperatura /do frio que se
estende no teu braço”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"> A escrita é “Um espelho onde cuspir a alma”, escreve
o autor em <i>Coisas Mínimas &Outras Coisas.</i> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A palavra é respiração: “Alguém acorda e
regressa à terra / subindo pelas sementes /resgatando o céu para respirar”; é
um lugar onde se redimem os medos;<span style="mso-spacerun: yes;"> a página é</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“ um mapa ofuscante” percorrido
pelos olhos “à procura de uma fronteira ou de um caminho”; é um mapa
onde pousa a mão frágil “que percorre /no papel os seus sinais, a invenção /dos
nomes, o vento que desfaz /as dunas, o rascunho fiel / da luz e da morte”;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é um rio que faz sede; é um “lugar para
morrer”, sempre que a luz encontrar a palavra secreta, e a palavra encontrar a
noite;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>acumulam-se palavras para “salvar
o tempo”, para “salvar a alma” contra a dor, contra o esquecimento, contra a <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>morte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "arial";"> “O sangue
embrulha a densidade da alma”, escreveu Jorge Velhote; <i><b>Âmago</b></i> é água em
movimento cuja amplitude da corrente atinge, em aluvião, o leitor, pelo que o
horizonte de leitura desta poesia depende do nosso “horizonte íntimo”, da
capacidade de desviarmos o olhar para dentro de nós mesmos ou, como escreveu,
ainda, o autor, “talvez um pouco de água baste”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span style="mso-list: Ignore;">(1)<span style="font: 7pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 115%;">Jorge Velhote, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máquina
de Relâmpagos</i>, Ed. Afrontamento, Porto, 2005, p.51,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt;"><span style="mso-list: Ignore;">(2)<span style="font: 7pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt;">Antonio Gamoneda, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Livro do Frio</i>, tradução e nota
biográfica de José Bento, Assírio &Alvim, Lisboa, 1998, p.25<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span style="mso-list: Ignore;">(3)<span style="font: 7pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 115%;">Jorge Velhote, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Coisas
Mínimas&Outras Coisas</i> -textos e fotografias, Edições Luz de Papel, 2017<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18pt;">
<!--[if !supportLists]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span style="mso-list: Ignore;">(4)<span style="font: 7pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><span lang="PT" style="font-family: "arial"; font-size: 9pt; line-height: 115%;">Fernando Guimarães, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Algumas
Palavras, Poesia Reunida 1956-2008</i>, Edições Quasi, Lisboa, 2008, p.79<o:p></o:p></span></div>
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<b><span style="font-family: "arial"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">© Teresa Sá Couto</span></b><!--EndFragment-->
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-37234309995697385562016-07-24T23:11:00.000+01:002016-09-11T21:59:03.177+01:00Aos 86 anos de Albano Martins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcysKydjXoErwDvu9hrhmmUis_0gghc45g8Pp-wH9EWVp3wS-bu4ZA1T271RsgBXy2VgJu7bMTwMN3dVVGp5ufQlFD5E7Y8egp7k8FQ6OHWD8EYGJ_j7Qc3RXK96gvWgjspOnmI5bNq8uE/s1600/Albano+3livros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="326" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcysKydjXoErwDvu9hrhmmUis_0gghc45g8Pp-wH9EWVp3wS-bu4ZA1T271RsgBXy2VgJu7bMTwMN3dVVGp5ufQlFD5E7Y8egp7k8FQ6OHWD8EYGJ_j7Qc3RXK96gvWgjspOnmI5bNq8uE/s400/Albano+3livros.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Evoco os 86 anos de <b>Albano Martins</b>, cumpridos neste dia 24 de Julho, com a chamada de atenção para <i><b><span style="color: #0b5394;">Desta varanda, o mar</span></b></i>, <i><span style="color: #674ea7;"><b>Livro de Viagens</b></span></i> e <i><span style="color: #741b47;"><b>O Caroço</b></span></i>, os livros mais recentes do autor que cumpre o seu destino «como qualquer fonte». </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O <i><span style="color: #0b5394;"><b>Desta varanda, o mar</b></span></i> é uma edição bilingue - português e castelhano -, com Alfredo Pérez Alencart a assinar a tradução castelhana. É um belíssimo livro de <i>haikus</i>, género que Albano há muito pratica com reconhecida mestria e que enforma na perfeição a limpidez desconcertante da voz do poeta. Transcrevo um dos poemas nas duas edições:</div>
<br />
<i> O luar montou na crista</i><br />
<i> duma onda; chegou à praia </i><br />
<i> e quebrou-se. </i><br />
<br />
*<br />
<i> Una luz de luna subió en la cresta</i><br />
<i> de una ola; llegó a la playa </i><br />
<i> y se despedazó. </i><br />
<br />
Em <i><b><span style="color: #674ea7;">Livro de Viagens</span></b></i>, faz-se um percurso por lugares e sentimentos, que, no caso de Albano, é a mesma coisa. E lá estão a demanda do sentido da vida, os afectos, a melodia, a luminosidade, a concisão. O poema <i>Terras de Xisto</i>:<br />
<br />
<i>Aqui, o sol</i><br />
<i>vem beber</i><br />
<i>às nossas mãos, dorme</i><br />
<i>connosco, na nossa</i><br />
<i>cama, sob </i><br />
<i>o mesmo tecto. Aqui, </i><br />
<i>o xisto é pedra</i><br />
<i>de sangue, lágrima </i><br />
<i>solteira, lâmina </i><br />
<i>e pálpebra </i><br />
<i>do silêncio</i>. (p.55)<br />
<br />
Finalmente, <i><b><span style="color: #741b47;">O Caroço</span></b></i> é um curto conto juvenil fundeado no ninho da memória do autor, mais uma luminosa fábula construída com fios secretos que tecem o futuro. É a história de um caroço de cereja desprezado que haveria de se tornar cerejeira. As ilustrações expressivas são do incontornável pintor e escultor José Rodrigues. Extracto do lamento pelo desprezo:<br />
<br />
<i><span style="color: purple;">Se alguém – pensou – se condoesse de mim, me levantasse deste chão estéril em que jazo e me lançasse à terra de semeadura, talvez eu voltasse, por metamorfose, a ser o que já fui: uma casa para as aves, que ali tantas vezes tiveram morada e sustento, alimento para os homens e sedução para os olhos ávidos dos transeuntes. </span></i>(p.9)<br />
<br />
<br />
© Teresa Sá Couto
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-70304613003865607532016-02-02T10:30:00.002+00:002022-09-19T17:54:03.202+01:00Vila Algarve, de Francisco Duarte Azevedo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-YtRCcQHcTIuEUvfy9AmeKTOJUnp5fygMLxRwugh4-T5U_mJwAUCegGm8POV_cGc2hhAwrI6j9Xxy-6XZJ0hJBgCwvjt53Jb7vg0n4vLKie7BoA2aqVX1fRjL6ew8RV4mkmuyD5oV3EaE/s1600/VAlgv.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="255" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-YtRCcQHcTIuEUvfy9AmeKTOJUnp5fygMLxRwugh4-T5U_mJwAUCegGm8POV_cGc2hhAwrI6j9Xxy-6XZJ0hJBgCwvjt53Jb7vg0n4vLKie7BoA2aqVX1fRjL6ew8RV4mkmuyD5oV3EaE/s400/VAlgv.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A História acaba quando a literatura toma o seu lugar, sabemo-lo, e <i><span style="color: #073763;"><b>Vila Algarve</b></span></i>, de <b>Francisco Duarte Azevedo</b>, demonstra-o. O romance vai buscar o título à casa construída em 1934, que foi quartel general da PIDE em Maputo, lugar temeroso onde estiveram presos Malangatana, José Craveirinha, Rui Nogar, entre outros, uma herança do fascismo português que tem instigado um caudal de <i>estórias</i> de que nela vivem os espectros inquietos dos mortos. A objectividade do título e a fotografia do pórtico de entrada da casa, hoje em ruínas, que faz a capa do romance de Francisco Duarte Azevedo, tirada pelo próprio, envolvem uma narrativa que encena o passado consciente de que a História é um jogo.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No compromisso do autor com a literatura, a narrativa perscruta todas as potencialidades inerentes ao jogo entre passado e presente, reconstrói novo enredo ancorado numa “Peregrinação interior de memórias” de cicatrizes do colonialismo ou, como nos diz o texto, junta “as pedras soltas da memória para recompor o tempo”, desenha personagens, ambientes, atmosferas, sentimentos, enche as páginas de cores, silêncios, brados e ecos, e o texto vai fornecendo e traduzindo dados, não quando o leitor quer, mas quando o narrador decide.
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><b>Vila Algarve</b></i> é o segundo romance de Francisco Duarte Azevedo e, como o anterior, <i><b>O Trompete de Miles Davis</b></i>, também editado pela Planeta, comprova um estilo pessoal do autor.
O presente romance tem uma estrutura narrativa coerente e bem montada. A acção passa-se em Maputo, neste século XXI, com a chegada de Dória, 40 anos depois de ter partido de Moçambique. Representante de uma geração, Dória regressa ao centro do redemoinho do vento, símbolo de litígio e demanda, com a missão de “fechar a circularidade da memória”. Nesse centro de “vento e de <i>milando</i>”, encontra o amigo, o narrador participante, professor e poeta, mas também encontra a obstinação de Esperança que mantém no seu bar uma fotografia da casa maldita com o dístico <i>Presos na Vila Algarve</i>, a militância de Atanásio que intenta elaborar a lista das vítimas da Vila Algarve, a vigilância do inspector Mavuze. Ainda, o azul intenso e profundo – das águas e do céu –, as árvores ancestrais, o amarelo caril, a turba ruidosa das ruas, o silêncio e a força das mulheres, os miúdos, os <i>moluenes</i> que atravessavam a rua "esmolando", a violência, a morte, conferem à narrativa o grande poder de se aglutinar: todas as personagens, ambientes, lugares, todas as coisas se ligam de uma ou outra forma na absoluta solidão, característica de um texto interessado em contar uma história e tratar uma problemática. O <i>Incipit</i> dá-nos logo conta daquele programa: Dória chega, numa manhã de “vento insistente”, o vento que é, notoriamente aqui, o palco do abismo, “para cumprir um ciclo de memórias que lhe tombavam nas entranhas”. Dória, o errante, um “sonâmbulo”, um “morto-vivo”, carrega na mochila, e no mais esconso de si, uma “tragédia sufocante”: ter perdido a capacidade de esquecer.<br />
<br />
O homem por dentro “é ele e todos os mortos. É uma sombra desmedida. Encerra em si a vastidão do universo. Agora somos fantasmas, o que construímos não cabe entre as quatro paredes da matéria”, escreveu Raul Brandão; os fantasmas de Dória exigem a expiação; os fantasmas da <i><b>Vila Algarve</b></i> gritam contra o esquecimento; os fantasmas são agitação, desespero e impulso das personagens e, por elas, da narrativa. Mavuze foi torturado na Vila Algarve. “Nunca traiu os amigos. Nunca denunciou”. Acreditava que os seus fantasmas o auxiliavam na demanda. Os bons, porque lhe mostravam o caminho, os maus, porque não o deixavam dormir. A vigília do inspector é a vigília humana que é, também, a vigília da escrita, papel que a presente narrativa desempenha com distinção. Relembre-se que já o poeta moçambicano José Craveirinha, que o texto de Francisco Duarte Azevedo não esquece, havia nomeado a casa ardente, no poema titulado, exactamente, <i>Vila Algarve</i>:<br />
<br />
<i>Privilégio de alvenaria/adaptado aos menos/loquazes/era ali. //Ou se dizia sim/ou éramos boatados/por uma fuga inexistente//No entanto um típico tremor/quando olho os clássicos azulejos/são os meus joelhos a recordar. //Ainda são vinte e quatro séculos morridos/em duas dezenas de horas de pé:/Graças à tua heroica humildade/não tive de ser boatado/que o Zé Craveirinha/escapuliu.//Devo-te, Maria/no tremor do pânico/manter-me eu mesmo/sem me sentir/um verme.//Só eu/e o portão da nossa vigília/ainda somos relembrados/na memória dos filhos</i>.. (José Craveirinha, in <i>Maria</i>, Caminho, 1998, p..p.159,160)<br />
<br />
Com efeito, o fantasma maior é o que não tem nome, é “pedra e desespero, noite e desespero, que se imobiliza na inutilidade de todos os esforços”, refere o autor de <i>Húmus</i>. Contra a imobilidade, contra o esquecimento, há o esforço das palavras. Por isto, os mortos erguem-se como o vento ergue a poeira, até aos confins da vida. Diz-nos o texto de Francisco Duarte Azevedo:<br />
<br />
<i> - Há gente a viver lá dentro há muitos anos. Não é fácil remover quem lá vive. Não têm para onde ir.
[...] Haverá fantasmas. Podes não acreditar, mas eles estão lá: os espíritos das pessoas torturadas que ali morreram. E há quem fale dos corpos que foram enterrados no chão mais profundo da Vila. Vi um tipo dormitando sobre uma laje de cimento encolhida no chão da cave. A mulher disse, é a cova dele. Escuta a voz dos fantasmas que borbulham debaixo da terra. Vi palavras nas paredes e um chão tão belo como um fresco levantino. E a mulher disse, cuidado não passa, pode matar o espírito. E os miúdos assustaram-se. E a mulher disse: não tem medo</i>. (p.p.102, 103)<br />
<br />
<i> Vila Algarve</i>, de Francisco Duarte Azevedo, transporta uma utopia: até Dória que carrega a ternura, a dor, a desgraça e o desespero, tem o sonho estreme da liberdade, e a sua liberdade é encontrar-se. É neste sentido que se pode configurar a asserção de Nietzsche em Epígrafe desta obra: “O perigo de todos os perigos: nada mais ter sentido.”.<br />
<br />
<br />
© <b>Teresa Sá Couto</b></div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-90747112598580600622014-11-23T15:36:00.001+00:002022-09-19T17:54:35.251+01:00O Aleph de Mário Sequeira Santos <div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "times new roman"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">AREIAS DE LAÍR é o título do primeiro romance de Mário Sequeira Santos, obra lançada neste Novembro com a chancela da Edições Esgotadas. Em dia de aniversário do autor, publico aqui o Prefácio do livro, que tive a honra de escrever.</span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: #0b5394;">O <i>Aleph </i>de Mário</span><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;">Se
todos os lugares da Terra estão no Aleph, ali estarão todas as luminárias,
todas as lâmpadas, todas as fontes de luz.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Jorge Luís Borges</span><b style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnAuj0fxSZEL2n8cv5ltiYh8TCBzKuUx-kuQ-Vn9ik2W7Jw7AXzaz-yZJ_OezxRIgiqF3fXGIwBvFNTxtLvmw5QzbyPWaxYB53OvdUh4uqM31gCozf8HDmzqihO-FY8vGg6G19RoBSaal-/s1600/areias-capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="278" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnAuj0fxSZEL2n8cv5ltiYh8TCBzKuUx-kuQ-Vn9ik2W7Jw7AXzaz-yZJ_OezxRIgiqF3fXGIwBvFNTxtLvmw5QzbyPWaxYB53OvdUh4uqM31gCozf8HDmzqihO-FY8vGg6G19RoBSaal-/s1600/areias-capa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Há uns
anos, navegando erraticamente na <i>web</i>,
estanquei num ponto luminoso: um texto raro, de palavras marulhadas em pedras,
pedras boleadas pela memória depois poalha no dorso do vento. Aquela
luminescência levar-me-ia ao presente cais de assombro, o romance <i><b>Areias de Laír</b></i>, primeira obra de<b> Mário
Sequeira Santos</b>. A obra «instala um mundo», diz Heidegger, e «ao abrir-se um
mundo, todas as coisas adquirem a sua demora e pressa, a sua distância e
proximidade, a sua amplidão e estreiteza», acrescenta. Instituindo um mundo, a
presente narrativa prolonga o braço e introduz forças sobrenaturais, telúricas,
lança mão ao realismo mágico para ocupar vazios, acrescentar universos
paralelos, criar infinitos, mostrar que obscuridade e transparência, segredo e
revelação são, afinal, faces da mesma moeda, que em tudo há um lado visível e
invisível, dando </span><span style="line-height: 150%;">amplitude ao próprio
conceito de imaginário.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;">Na narrativa de Mário, o lugar de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Santa Eménia</i>, com o rio <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uádi</i>
que lhe nutre os campos e se reúne no espelho circular de uma lagoa, é a lente
donde se vê o universo amplificado, o ponto onde confluem os tempos, os
lugares, as pessoas, a história das demandas; é o <i>Aleph</i>, na
inconfundível acepção de Jorge Luís Borges, no conto do mesmo nome, <i>Aleph </i>elevado
a A<i>leph</i> repetindo-se até ao infinito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">O som de uma campainha que estremece o silêncio
anuncia ao leitor a entrada na história que, prestes, lhe dá a saber que «Há
três dias, <i>São Domingos</i> era, como há cem anos, uma memória parada». Com
um presente a remeter para uma memória passada que, por sua vez, remete para
outra ainda mais longínqua, evidencia-se a intenção narrativa de levar o leitor
numa expedição ao interior do tempo. E o texto sabe que para construir a
memória tem de ser errante, saber que executa na perfeição: imbricando as duas
grandes sequências narrativas em que assenta; construindo </span><span style="line-height: 150%;">espaços
e tempos múltiplos, para uma peregrinação que só se cumpre no infinito; </span><span style="line-height: 150%;">estruturando-se
em sucessivas escarpas</span><span style="line-height: 150%;"> e nexos que se ocultam por detrás dum enredo fragmentário
e aparentemente desconexo, efectivamente desconcertante; desenhando personagens
intimamente ligadas, nos desejos, nos gestos, nas vozes, não obstante o tempo
que as separa, e cujos nomes vamos sabendo por acaso, no meio dum diálogo,
nomeadas por outras personagens, pois o que interessa a este texto é a voz da
memória ou, como diz o narrador participante, </span><span style="line-height: 150%;">um marinheiro que vem do mar para
subir o rio, em afirmações dirigidas a outra personagem, mas que contêm o
desígnio da obra e da sua leitura</span><span style="line-height: 150%;">: «O passado, na minha vida,
sempre fora uma espécie de intermitência no presente. Era assim que te seguia,
servil, arrastando as patas do cavalo pelo rasto que ias deixando em trilhas
que só os teus olhos descobriam parecendo ter a capacidade de desvendar, onde
os outros não viam, vestígios antigos de vida ou a dimensão habitada por
espíritos de sentimentos passados.». <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Texto que não admite fronteiras, <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><b>Areias de Laír</b></i> acha no realismo mágico a
enunciação certa para </span><span style="line-height: 150%;">derramar a sua luz, criar enigmas, exibir </span><span style="line-height: 150%;">prazeres da imaginação e da
leitura. </span><span style="line-height: 150%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«As memórias precisam de estímulos e
cores para despertarem», diz-nos o texto que vê, ouve e serve de morada a vozes
perdidas, sente e idealiza <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sentires</i>, e
propaga.</span><span style="line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;">No desempenho
deste programa, contempla-se o <strong><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold;">diálogo de intimidade, secreto, entre as coisas e os
seres, em palavras puras, quase sagradas, a interligação</span></strong></span><span style="line-height: 150%;"> entre o
mundo dos vivos e dos mortos, que talvez não sejam dois, mas apenas um, com
facetas diferentes, </span><span style="line-height: 150%;">personagens espectrais, assombrações, a história
enigmática de Fusun, um Turco «que habitara no extremo junto às margens do Uádi»,
que enfeitiça a terra – prova-a para saber o sabor que lhe falta, tempera-a
para ter dela várias colheitas num ano –, peixes maiores que pessoas que
habitam o rio tornando-o inavegável, a passagem por baixo do rio, um caminho
subterrâneo de simbologia múltipla: o enigma do poço, o</span><span style="line-height: 150%;"> abismo de
trevas que está em nós, </span><span style="line-height: 150%;">a </span><span style="line-height: 150%;">voragem do Tempo, o território ambíguo dos desejos, o
caminho para o desconhecido de uma vida nova. No final da narrativa, liberta-se
já não o som de uma campainha, mas do silvo de um comboio onde embarcarão duas
personagens. Quiçá, rumarão ao mar… Quanto ao leitor, certamente rumará ao
início da narrativa, chamado pela voluptuosidade da escrita, pela ânsia de descobrir
outros trilhos da memória, experimentando o </span><span style="line-height: 150%;">sentido da demanda de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ulisses</i>, do poema <i>Ítaca</i>, de
Caváfis: o mais importante não é chegar, mas sim a inquietude, o desejo de
partir e a experiência da travessia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;">«Como
as frases, as imagens podem ser histórias do que vemos, ditadas pelos olhos da
nossa alma», diz-nos o texto. Pelos olhos da alma, vi, neste <i style="mso-bidi-font-style: normal;">aleph</i> de <b>Mário Sequeira Santos</b>, o mastro
alto e sábio da Rúbia-no-mar, no cais contíguo de um estaleiro que servia de
cemitério de navios. Vi uma garrafa contendo um pergaminho com um mapa e uma
morada, vi o amarelo do whisky desmaiar no gelo. Vi pessoas e sombras no
tabuleiro de xadrez da vida, vi um planalto de campas, com «pedras dispersas,
de diversos tamanhos, geometrias e tonalidades». Vi uma casa em ruínas com
frinchas nas paredes donde escorriam segredos, o cinzento desbotado de
fotografias antigas, o verde do prado junto à margem do Uádi, o branco das
margaridas, o verde da íris de Esmeralda fixar-me, e estremeci. Vi o
caranguejo-real atraiçoado pelas correntes «a carregar com a
desproporcionalidade das patas uma carapaça sem ideias e, conforme me
aproximava, quase lhe pude distinguir os olhos suspensos a fitarem-me, numa
partilha de compaixão, antes de se resignarem ao bico das gaivotas». Senti a
água «gelada por um quilómetro de trevas», vi a chuva de meteoros, os clarões
dos relâmpagos, ouvi o rugido do céu, o ruído das portas, vozes perdidas, o
restolho de almas finadas, o canto das cigarras, as patas dos cavalos no
empedrado, personagens em cochichos com os bichos, o pio dum casal de corujas,
o som pungente de um cravo em diálogo com os gemidos do vento e o chicotear da
chuva, o «gotejar ritmado de água na água» e o eco da saudade. Vi a escuridão
povoada. Ouvi o gemido das algas. Vi arder a água fria e escura da memória. Vi
homens e mulheres tentando equilibrar-se na linha recta das suas solidões,
vi-os recolherem-se no ventre acolhedor do tronco largo de uma velha oliveira,
«espécie de barco velho ancorado por raízes fossilizadas», e senti-lhes a
vontade de se evadirem da sua condição. Vi o espelho assustador das águas do
Uádi, porque são assustadores os trilhos que levam o ser humano ao encontro de
si mesmo. E vi todos os seres da Terra em areias brilhantes de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Laír </i>que a mão do escriba acendeu.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%; text-align: right;">Teresa
Sá Couto</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; line-height: 150%; text-align: right;">Lisboa,
Maio de 2014</span></div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-69701001025832128312014-01-27T21:35:00.003+00:002014-01-27T21:37:42.584+00:00Biblioteca Itinerante José Marmelo e Silva<div style="text-align: justify;">
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Já aqui falei de <a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/2009/04/imperecivel-seducao-de-jose-marmelo-e.html"><span style="color: blue;"><b>José Marmelo e Silva</b></span></a> (1911-1991) e da <a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/2011/10/casa-da-cultura-jose-marmelo-e-silva.html"><span style="color: blue;"><b>Casa da Cultura José Marmelo e Silva</b></span></a>, na freguesia do <b>Paul</b>, local de nascimento do autor. Menciono agora a <b>Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva</b>, em Espinho, onde o autor fixou a sua residência, e a iniciativa de serviço público que nos orgulha. As fotos e o texto que se seguem são da Biblioteca. O agradecimento é todo nosso.
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixJ7BXOF10RckEcP3yeGuuLfjHOu9eF14PzsmXdm5tU07qp53IIzeYVhY4ZLFRV-qyX2zws2Qx1CJTHe5LfI8KnGJ-wdkBb1FfJINMGBmEb-CNgwDB1kFutMPqRO-D4Vc_0F5syt114oq7/s1600/BM-JM_e_Silva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixJ7BXOF10RckEcP3yeGuuLfjHOu9eF14PzsmXdm5tU07qp53IIzeYVhY4ZLFRV-qyX2zws2Qx1CJTHe5LfI8KnGJ-wdkBb1FfJINMGBmEb-CNgwDB1kFutMPqRO-D4Vc_0F5syt114oq7/s1600/BM-JM_e_Silva.jpg" height="236" width="640" /></a></div>
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"Com o início do novo ano letivo, a <strong>Carrinha Itinerante da Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva</strong> faz as delícias de crianças e idosos, percorrendo quilómetros para levar os livros a mais de 7000 pessoas por ano.
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<div style="text-align: justify;">
A Biblioteca sobre rodas, do concelho de Espinho, atende uma diversidade de público que vive na periferia da cidade, inclusive as escolas que não possuem biblioteca escolar, infantários, lares e centros de dia.
Da carrinha saem cerca de 13 189 documentos por empréstimo anual, permitindo, desta forma, fazer o leitor viajar através do contacto com os livros e material multimédia.
Este projeto também pretende ser útil para utilizadores com mobilidade reduzida, fazendo chegar os documentos ao domicílio. </div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, os interessados neste serviço poderão contactar a Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva para mais esclarecimentos, através do telefone <strong>227335869</strong> ou pelo email:<strong> <a href="mailto:bme@cm-espinho.pt">bme@cm-espinho.pt</a></strong>.
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<div style="text-align: justify;">
A partir do dia 7 de outubro, de <strong>2ª a 6ª feira, das 9h00 às 17h00</strong>, poderá encontrar a Carrinha Itinerante a circular pelas estradas do concelho de Espinho.".<br />
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Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-73523798450838227722014-01-17T22:14:00.003+00:002022-09-19T17:56:37.463+01:00Novo livro de poesia de Francisco Duarte Azevedo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKwjndfocQOJ-zUAJBzFntQWm_RJGFKRV6xtagOTFnyRhuh3hYnCQNkHLq8s3NP7UqBlVVJVgypTAcIgdVVDFm96ikexTEkYaxo19l8gJLPNUPxv0JQ3tVr5Sm3CqNCtFEpZfNnnelbSP7/s1600/FDAzevedo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKwjndfocQOJ-zUAJBzFntQWm_RJGFKRV6xtagOTFnyRhuh3hYnCQNkHLq8s3NP7UqBlVVJVgypTAcIgdVVDFm96ikexTEkYaxo19l8gJLPNUPxv0JQ3tVr5Sm3CqNCtFEpZfNnnelbSP7/s1600/FDAzevedo.jpg" height="246" width="320" /></a></div>
<i><b><span style="color: #4c1130;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #4c1130;"><br /></span></b></i>
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<i><b><span style="color: #4c1130;"><br /></span></b></i></div>
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<i><b><span style="color: #4c1130;">Livro de Inverno e Transições</span></b></i> é o novo livro de poesia de <b>Francisco Duarte Azevedo</b>, que o próprio apresentou, no passado dia 15 de Janeiro, em Viseu. Como no livro anterior, <i><b><a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/2012/12/o-livro-de-poesia-as-habitacoes.html"><span style="color: blue;">As Habitações Interrompidas</span></a></b></i>, publicado em 2012, o prefácio é meu. É esse texto que aqui deixo. </div>
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<b><br /></b>
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<b><br /></b>
<b><br /></b>
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<b>A partitura do tempo no silêncio da palavra</b><br />
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<i> Já sabíamos</i><br />
<i> que na poesia cabem</i><br />
<i> todas as cores e todos</i><br />
<i> os disfarces. Ou não fosse ela</i><br />
<i> feminina. Mas lá </i><br />
<i> também cabem, como agora</i><br />
<i> sabemos, todos</i><br />
<i> os timbres do solfejo. No corpo</i><br />
<i> da poesia há sempre </i><br />
<i> uma partitura.</i> […]<br />
<br />
Albano Martins in <i>A Voz do Olhar</i><br />
<i><br /></i>
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<div style="text-align: justify;">
<i><b><span style="color: #741b47;">Livro de Inverno e Transições</span></b></i> é o segundo andamento de uma trilogia poética que <b>Francisco Duarte Azevedo</b> iniciou em <i><b>As Habitações Interrompidas</b></i>, este publicado em 2012, também pela Edições Esgotadas. Produzido em 2005 entre Summit, Newark, New York, Lisboa e Springfield, o presente livro transporta um silêncio ramificado por aqueles espaços, outrossim por caminhos interiores do ser humano. Propõe-se uma «sinfonia escrita na partitura do tempo» regida por um sujeito poético que cumpre uma viagem de auto-conhecimento, reconhecimento e de construção da identidade. </div>
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O tema do Inverno emoldura na perfeição o tempo de recolhimento, de intimismo, aquele em que «Os seres hibernam nas profundezas da terra». Em <i><b><span style="color: #741b47;">Livro de Inverno e Transições</span></b></i>, o vento gélido empurra o barco pelo rio branco da memória, o sujeito poético aconchega-se na brancura da neve, ata-se «à cadência do tempo embranquecido», deixa-se hipnotizar pelos «movimentos simétricos e gelados» dos átomos níveos, leveda-se na «aragem fria e cortante», procura que o céu de bruma lhe devolva a razão de Ser, lança-se numa viagem iniciática ampliada, modificada e resgatada pelo olhar metafórico e sensitivo. Se <b>Francisco Duarte Azevedo </b>já nos atestava, em <i><b>As Habitações Interrompidas</b></i>, a sua competência plástica, que erigiu em imagens inundadas de cor e luz, o poeta/pintor junta-lhe, agora, os timbres do solfejo com que se compõe a sinfonia da vida: unidas, paisagem visual e sonora anunciam a liberdade do sujeito na viagem ao conhecimento da própria vida. Assim, enquanto a palavra asperge luz sobre os dias pardos, o corpo do texto deixa-se invadir pela música fazendo nela mais uma sua casa. Instado a participar na recordação de um trajecto, o sujeito poético revive as experiências pela memória, atrai o leitor para a pauta da viagem onde regista o zunido do vento, o chiar dos ramos plátanos ao sacudirem «a neve dos braços», o estalido das farpas do gelo, «vozes», «gargalhadas», aquela «voz/que nos reconhece /como nós a reconhecemos», o pressentimento dos «passos/passos e mais passos/ensimesmados, meio acordados,/o toque-toque dos tacões», «tábuas rangentes», o «silêncio dos mochos», «o assobio/dos mantos leitosos/esvoaçando/como lençóis à luz», «os cânticos /e as cores dos colibris/ desatados num voo desenfreado», «telefones celulares/e aparelhos ultrassónicos» em busca de «diálogos íntimos/convencionais», o tilintar da porta do Barber Shop que se abre «para uma intimidade/soturna e melancólica», e tudo o que possa ser abarcado no jogo do olhar em volta, olhar com que o sujeito poético interpela a natureza e o ritmo dos corpos rumorejantes que com ele se cruzam e passam a ser parte da sua experiência. </div>
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A «neve» marca o ritmo e a intenção que tecem este livro. Ela representa o tempo branco da memória e a página branca onde os seres deixam as suas pegadas. Ela é «um manto /habitável e delicado» onde «até Deus cabe». Ela é o frio que emite calor. Ela repercute o silêncio, é a fala essencial, pois tudo vem do silêncio e para ele converge. Ela confere energia musical à paisagem, marca a cadência da repetição do tempo e, nessa cadência, ela representa o movimento libertador da viagem a que se propôs o sujeito poético. A repetição cadenciada das anáforas é, ainda, a responsável pela tonalidade profética do futuro, patenteia eternos recomeços, e é uma interpretação do mundo:
«N<b>eve. O silêncio repete-se /Há paisagens eternas /onde o vento se acolhe /num silvo agudo e persistente /e a neve adormece./Neve. Repete-se o voo /das mãos vorazes sedutoras /evoluindo sobre a nudez./Neve. Repete-se /a magia da luz /que um silêncio/antigo não nega./Neve. /Repete-se o mundo</b>.». </div>
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Tratando-se de uma poesia que não posterga as outras artes, mas onde todas as artes interagem, onde tudo o que pode ser matéria humana convive, esta lírica ampara-se na estruturação rítmica para conjugar pulsões contrárias, pelo que encontramos, alternados, tons de resignação crepuscular e energia musical no renascimento da voz, esta inscrita a sangue fumegante no gelo branco: «O fôlego momentâneo/ oriundo da miragem/ de fim de inverno prende-se/ aos tons vermelhos/ das nossas lutas militantes/ e à memória das mãos firmes /empunhando as bandeiras /da liberdade e dos nossos /amores re-inventados.». Estamos perante as consequências do «drama do olhar/ que habita no espelho» de duas faces, a que recebe o olhar com amabilidade, e aqueloutra que lhe devolve a inquietação. Jorge Luís Borges disse que há espelhos hospitaleiros e há o pesadelo do espelho, e que «bastam dois espelhos opostos para construir um labirinto»; o silêncio deste <i><b><span style="color: #741b47;">Livro de Inverno e Transições</span></b></i> posiciona-se no infinito que está no centro do labirinto; é desse centro infinito que nos chegam os acordes de um cravo e de um piano antigos de Scarlatti e Pachelbel, e é dele que emergem os violinos de Debussy; é a imagem desse labirinto a querer mostrar o seu infinito no branco das páginas que nos é sugestionado pela belíssima imagem da capa, uma pintura também de <b>Francisco Duarte Azevedo</b>. </div>
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No centro do labirinto, «a ansiedade saltita /como os esquilos/frenéticos», o texto poético institui-se como participante de revelações e descobertas, marca o compasso da sua condição: «A noite azul /cobalto sobrevém no céu/e anuncia dias doirados./Entre sono e sonho / permanecemos ansiosos.». É no sonho que a ansiedade procura libertar as suas palavras que se amotinam, encostadas umas às outras, carregadas de memória, ousadas e indagadoras: «buscar uma prova,/um indício teu/no centro da floresta onde paira um sentimento, o murmúrio da água/a harmonia surpreendente/e uma nota musical que/as tuas mãos entrelaçam/entre partituras que esvoaçam/ ao acaso, eis o pedido que faço/ às aves que por aqui passam.». A presença do Tu, um sujeito feminino, sedutor e ambíguo, que carrega a ambiguidade inerente à poesia, surge no movimento de união com o Eu, num pacto de duas vozes viajantes e marca da viagem partilhada: «<b>a pele das árvores/ está cheia de nervuras/ e os ramos frondosos/ amareleceram./ O meu corpo prende-se/ ao teu em busca/de um trilho./ Onde vais tu vou eu,/ simples e claro/ como a ondulação do mar.</b>». </div>
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Somos o <i>obscuro</i>, somos feitos da fugacidade da água, como já o disse Heraclito. Cabe ao poeta encontrar a palavras certas, esses «objectos ocultos/que desvendam os segredos,/ os códigos e os medos» da «mutação do tempo»; cabe à poesia imaginar; pela poesia, os poetas aninham-se e afiam «as palavras/na bigorna dos ferreiros./Elas são as espadas/e os cutelos que tecem/no campo de batalha/as cores da liberdade.». «E dá gozo imaginar», lê-se. E fica o leitor a imaginar o trajecto deste arroio que traz no seu caudal o percurso desde a nascente e que, em transições, se precipita para a foz anunciada do último tomo da trilogia. </div>
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<b>Teresa Sá Couto</b><br />
Lisboa, Novembro de 2013
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-84659342903605499602014-01-14T19:00:00.001+00:002022-09-19T17:56:51.265+01:00Poesia de José Emílio-Nelson: A lanterna do Feio<div style="text-align: justify;">
É um pequeno grande livro, anda nas livrarias, contém uma poesia musculada, avassaladora, a poesia de que se precisa. Titula-se <em><strong>Pesa Um Boi Na Minha Língua</strong></em> e é assinado por <strong>José Emílio-Nelson</strong>, uma das vozes mais originais da poesia portuguesa desde há mais de três décadas. Deixo aqui o texto que elaborei, há largos meses, com a minha leitura do poeta.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqBUtNf2SnIMU05CEBf44Yvw67s7yE630KgbGhShQMHCItD74zImHsWm_Fh0eFyeXCo4G0LkBGYssw_Pk4whS_emPv3oixkScp7tVFSq4-l8Huv55tbTEoIhbxR4LI-U-S_as3JRtXJfHO/s1600/Poesia-JE-N.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqBUtNf2SnIMU05CEBf44Yvw67s7yE630KgbGhShQMHCItD74zImHsWm_Fh0eFyeXCo4G0LkBGYssw_Pk4whS_emPv3oixkScp7tVFSq4-l8Huv55tbTEoIhbxR4LI-U-S_as3JRtXJfHO/s400/Poesia-JE-N.jpg" width="400" /></a></div>
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<span style="color: #666666; font-size: x-small;"><strong>(José Emílio-Nelson entre o seu novo título e as duas antologias poéticas que reúnem a sua poesia. Clicar na imagem para aumentar.)</strong></span></div>
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A Lanterna do Feio</div>
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«Uma noite, sentei a Beleza nos meus joelhos. – E vi que era amarga. – E injuriei-a.», escreveu Arthur Rimbaud <span style="font-size: x-small;">(1)</span><span style="font-size: small;">,</span> nome da vertigem, do desregramento dos sentidos, da transgressão, da procura de um verbo novo que as enfornasse, de uma estética que lhes servisse. Procurar a transgressão na poesia portuguesa contemporânea é encontrar, obrigatoriamente, o nome de José Emílio-Nelson para quem o verbo maldito vê na estética do feio o veículo da libertação. PESA UM BOI NA MINHA LÍNGUA<span style="font-size: x-small;">(2)</span> é o título do seu mais recente livro de poesia e mais um andamento dum projecto estético muito próprio, de uma invejável coerência, que desenvolve há 34 anos. Com o título colhido numa expressão do <em>Agamémnon</em>, de Ésquilo, o poeta, todavia, evidenciando o símbolo do boi enquanto animal terreno e sacrificado, imprime-lhe um deslocamento de sentido. <br />
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No <em>Agamémnon</em>, o Vigia espera o momento de apertar na sua mão a mão do seu senhor herói regressado de Troia, mas encobre o horror da traição da esposa durante a sua ausência, cala-se, porque «pesa-lhe um boi» na sua língua, i.é., inibe-se, recalca o fardo pesado que não o deixa dormir. O título, <i><b>Pesa Um Boi Na Minha Língua</b></i>, é uma engenhosa subversão da expressão de Ésquilo, porquanto solta um boi negro que não é manso nem amansado, que exulta a sua verdadeira natureza intensa e plena para depositar o fardo da sua existência no branco luzente das páginas.<br />
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«Porque me amarga a verdade, /quero lançá-la da boca», escreveu Quevedo anunciando os excessos que carregou de sátira e burlesco. <b>José Emílio-Nelson</b> liberta a poesia dos compromissos morais e do estético asséptico para escavar a imperfeição, o inferno humano e a divina comédia da vida, dando-nos a ideia de que os bons sentimentos inviabilizam a inquietação imprescindível ao acto de criar. Já Gomes Leal, em <i>Fim de um Mundo</i>, se arrogava «um cirurgião» que havia de retalhar a escalpelo a «carcaça linda e podre do mundo». A poesia de <b>José Emílio Nelson</b> «ocupa o território tenebroso do feio expressivo, princípio estético da intensidade realista que organiza a experiência existencial», escreve Luís Adriano Carlos na majestosa introdução à antologia <i><b>A Alegria do Mal – Obra Poética I, 1979-2004</b></i>, editada em 2004, pela Quasi Edições.<br />
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«Esta é uma poesia que assume a agressão ao velho e conformado bom gosto do leitor, levanta os véus, e o que se observa sob os véus são as fibras moles e corrompidas da carne, sem disfarces ou unguentos que mascarem a humana, demasiado humana condição do que decai, se degrada, se corrompe, se extingue», escreve Fernando de Castro Branco, no ensejo da publicação do segundo volume da obra reunida de José Emílio-Nelson, a antologia <i><b>Ameaçado Vivendo – Obra Poética II, 2005-2009</b></i>, editada em 2010 pela Edições Afrontamento. Consciente de que a fealdade é o que sobra quando o belo se ausenta, a poesia de <b>José Emílio-Nelson</b> adorna a beleza de sarro, «cospe mísero canto», faz do feio o espaço de exploração e, consequentemente, de conhecimento.
No laboratório poético, onde o gesto selvagem e grotesco esgrime liberdade artística, dialoga-se com autores – quer explícita quer implicitamente – da literatura universal de todos os tempos, e dialoga-se com outras artes, como a pintura, escultura, música e fotografia, artes que emprestam o seu gesto à iluminação dos corredores escuros do ser humano.<br />
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Na <i>Conversão</i> à luz, as palavras de <b>José Emílio-Nelson</b> surgem como aves «derramadas no seu voo sobre a bruma inquinada», voam em «águas ermas», retêm-se no fundo das águas, e desafiam o leitor com perguntas obscuras, carácter, ainda, de uma poesia de questionamento de si mesma: porquê?, o «Que as retém lá fundo?» (p.10), «que mão desaparece e aparece por dentro de nós? /É mão ainda a que desce sobre os versos? Mão agónica? /Qual mão? /A que mortifica muda e confusa e nos consome? / Ou a que evola Deus?» (p.9); ou, ainda, intercetemos o desígnio desta poesia detendo as chaves do poema <i>Lux Aeterna</i>: «A mão que faz de si um sopro enlaça os dedos e canta. /É a voz de quantos gestos? /Sobre ela se enxerta uma e outra voz que escurece. /Num sítio ermo, bem fundo, /A sua magnificência na vacuidade do Mundo. /E apodera-se dum silêncio que depois clamoroso se repete /E repete belamente a sua escuridão. /Perde-se e relampeja em orlas escuras, /Sulca e assenta, acalmada.» (p. 22).
A mão de uma poesia que liberta objectos e seres da aparência comum, que é a artífice da denúncia da desventura terrena, e que enxertando-se de vozes evoca a procura da condição humana, só pode imprimir o Deus humílimo que se liberta da sua condição inumana para habitar o corpo desgraçado do Cristo agonizante da crucificação, o Deus escuro que ressuma nestoutro poema de <i>O Livro de Horas,</i> de Rainer Maria Rilke: «o meu Deus é escuro e como que um tecido /de cem raízes que bebem silenciosas. /Só sei que me levanto assim do seu calor, /e mais não sei, pois todos os meus ramos /repousam lá no fundo e acenam só ao vento» (3), escreveu o poeta alemão aludindo a um Deus que é a «Coisa das coisas», e o poeta a sua «ânfora», o seu «hábito», o seu «ofício»; posto isto, em <i><b>Pesa Um Boi Na Minha Língua</b></i>, não será Cristo a resina que se queima nas brasas?, ou dito assim no texto <i>Naveta e Colher</i>: «Do meu escuro Deus cai a luz que O deixa morrer /E que O depõe e O apodrece com roupa purpura, incensado. // <eu oro.="" que="" sei=""> Cristo é a naveta? Deus é colher?» (p.11). </eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><br /></eu>
<eu oro.="" que="" sei="">Iluminar o feio é pôr a nu a decadência e a miséria humanas. Sem nos falhar, o texto faz a pergunta e dá a resposta clara: «Como aparece Deus velado ao que perde a nudez esbelta? /Maravilhado.» (p.12). É por esta razão que a nudez de San Sebastián, de <i>El Greco</i>, é profanadora, e é também por isso, e porque aquela dor nos identifica, nos é familiar, que a sua beleza convulsiva nos maravilha e nos fascina: «A devoção encandeia, afadiga-se, alastra até ao amortalhamento./ As flechas mortíferas escoram o corpo vazado. /Detenhamo-nos, sem mais detalhes. /Escorre o óleo santo na nudez profanadora.» (p.54).
O Homem é carne, mas também é espírito, e só a sabedoria artística do espírito pode harmonizar a fealdade do mundo em destroços. Acha-se o belo removendo escombros, escreveu o poeta Antonio Porchia, cita-o <i><b>José Emílio-Nelson</b></i>. </eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><br /></eu>
<eu oro.="" que="" sei="">Cumprindo a ideia de que a obra de arte deve devolver o homem a si mesmo, na inteireza vital, espiritual, material e física, a sua poesia adopta um processo análogo ao da fotografia que adquire a sua força deslocando o objecto do seu contexto para o imprimir num outro e novo contexto. O resultado são imagens de espanto e inquietante estranheza. Para <i><b>José Emílio-Nelson</b></i>, o ar é uma zona corporal do homem, o que vem ao encontro do defendido por Novalis, de que «O ar é tanto órgão do Homem como o sangue», que «o exterior não é mais do que um interior distribuído» (3). O ar é a casa da voz, onde se dá a luta teimosa entre a efemeridade do ser humano e a infinitude do cosmos; veja-se o poema <i>Cosmic Pulses</i>: «Poisado cone num sopro aspergido /Espirais que derramam /Luminosos teclados turbulentos,/Eixos suspensos num horizonte de obscuridade profunda./Erguem em roldanas o Cosmos.» (p.21), estoutro: </eu>«Carrilhões riscam de sinos os mortos./A teimosia dos 6 percussionists de Strasbourg alumia com luz fraca //O caminho que estreita./Acedemos à infinitude a cada momento/ <tam immensa=""> (p. 20), e ainda o poema, <i>Circles Movements</i>: «A Voz soletra o ar de pompa da percussion. A um ermo /Abre e distorce. Cada som ‘perscruta os planaltos’ /Ao excedê-los. Vislumbramos o exumar do Céu.» (pág. 17).
O ar do corpo interno também se liberta em burlesco sonoro, como no exemplo do texto <i>Dama Canhão</i>: «A dama move-se, /Nada mal, as nádegas em tacão /Deixam rasto de lagartas /Castrenses, só que a mulher usa pestana escarlate. /O cinto seca-lhe a cintura farta, é seca, /A dama para quem em redor a faz de louca. /(Detona pó sem dó que nem canhão. /Ou serão gases?)» (p.77). </tam><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><br /></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa="">Por outro lado, «Em divergência com as mitologias literárias, a cosmogonia de <b>Emílio-Nelson</b> começa na urina, a água da vida segundo a tradição medicinal», diz Luís Adriano Carlos. Com efeito, se o «verdete agonizante do metal da alma» se estende às reveladoras «alvíssimas lágrimas», a (outra) água da vida irrompe purgadora no texto
<i>Cães</i>: «Vou ser asceta, piedade pela cadela./O chumaço das tetas, vou ser vulgar, lágrimas rosas,/ A arrastar a matilha estouvada que a morde à vez, de joelhos./Cadela em fuga, prostrada nas urinas,/A rezar, julgo eu, a rezar.» (p.51), ou em purificação apolínea, numa viagem a <i>Delfos</i>: «Nas poucas horas que passei em Delfos, /Miniatura do folclore grego, uma mulher rendada /Oferecia os seus olhos cegos poisados na mão com que me tocava. / (A excursão inteira continua atenta ao guia que mal fala.) / Iludindo a mais amada, urinei para os olhos da cega, / Que por isso implorava.» (p.72).
Falar do feio é falar do Tempo – <i>tempus edax omnium rerum</i> –, o feroz devorador de todas as coisas até as tragar totalmente; o tempo é «Impiedade» apresentada, por exemplo neste texto: «Com sapatinha de espalhar trampa, chagado. De capuz, carapinhoso. /Agitava-se empoleirado no vinho drogado./ Desfalecido, as pestanas escurecem./ Repousará, tão atroz, outra vez dentro de sua mãe. <do a.="">/ Ah, que importa. Jaz Morto.». (p.59). O regresso ao útero materno indicia que, se «O decorrer do tempo ofende a Beleza», o texto também lhe reconhece a capacidade de recomeço, ideia plasmada na Fénix que se regenera: «a fénix aflitíssima mede o tempo justo para repetir as cinzas» (p.49). Nas <i>Metamorfoses</i>, Ovídio apresenta a Fénix rediviva e também a Fénix do poeta latino «Não é de grãos ou de ervas/que vive, mas de lágrimas de incenso e da seiva de amomo.» (4). </do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.="">Símbolo da morte e renascimento, também a cobra é chamada ao texto; nela se conjugam metamorfose e erotismo patentes na mulher que se contorce voluptuosamente, confundindo-se com a serpente, metamorfoseando-se na própria serpente, do poema <i>Cobra, a Morbideza:</i> «A mulher que trabalha na morgue vai vomitando. / Enrosca-se cerosa nas gavetas como se fosse dormir /Demasiadas vezes na morte. / (Muda, a cobra escuta-a, /Suspira noutra muda repentina.)» (p.70).</do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><br /></do></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.="">Com admirável rigor, o vasto bestiário está ao serviço do reconhecimento da dimensão infernal da dita vida interior e de um programa poético que nomeia a penitência da lesma, a pomba que martiriza o espírito, o pelicano que «obedece a Deus ao aspergir o seu sangue redentor sobre as crias que mata», o asno com desejos de autoflagelação, a gralha cuja crista é o «abanico de certas almas» ou o cisne, «a soberba que alegra os órgãos genitais de suspiros». As pulsões sexuais, o sadismo e o masoquismo têm terreno fértil na palavra que exprime o subterrâneo, a perversão, o licencioso, pelo que esta poesia não se coíbe na utilização de vocabulário erótico e pornográfico, provocatório e agressor para o qual concorre a atenção sobre os detalhes físicos da violência sexual que compõe a coreografia dramática do discurso corrosivo e satírico; vejamos dois clips: «Assisti a um clip [bondage] em que eram penetrados / Uns tantos pelo corpanzil dum latino que os cobria empenhado /Untando com vaselina nas pálpebras doutro mais alheado. /Consumido nisso, pondo-se a jeito, implora, e é enfiado. / (E sem óleo santo que o salvasse.)»; «O cão cobria-a como pele de raposa, empertigara-se, /A pata rosa abusava, deixava mossa. <span style="color: black;">. / O focinho mordia, ia avançando, encostou-se, / E ao bambolear ela gemia, devia ser mau, /Mais do que no vídeo se ouvia.» (p.74). </span></do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><br /></a></do></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.="">Se na origem da beleza está unicamente a ferida, há pois que isolar as feridas para lhes descobrir o significado, iluminá-las, pelo que cada texto é um espaço infinito e de luz imensa. Neste sentido, a poesia de <b>José Emílio-Nelson</b> é um humanismo, e em muitos dos seus textos ecoa o grito das figuras cruas, delicadas e terríveis, e por isso, de beleza avassaladora, de Alberto Giacometti. Confira-se no texto <i>Mina San José</i>: «Rezo pelos mineiros chilenos. /As almas soltando labaredas de El Greco./Ciclopes à espera de subirem ao céu azul pelos tubos dum órgão de luzes que os ressuscita no sepulcro. //Estes mineiros extraem Deus.» (p. 60).
Ainda, o jogo de acasos, imagens e metáforas e hipálages com que se liga o mundo interior ao mundo exterior fazem lembrar a prática surrealista do cadavre-exquis. Veja-se o poema <i>Moeda</i> com que esta poesia paga a experiência da realidade esmagadora: «Numa viela, em cima de cartão prensado, /Senta-se mais engelhada que os trapos. /Raspa com as unhas a cabeça do cão atormentado. /O fundo da garrafa serve de caçarola /E atira para aí as moedas. / (Ferrugentas são peças de coleccionadores.)» (p.84).</do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><br /></a></do></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.="">A poesia de <b>José Emílio-Nelson</b> não é de fácil leitura. Independentemente de questões de gosto, ela não é acessível ao leitor pouco experimentado. A sua «escrita em mosaico», assim caracterizada por Luís Adriano Carlos, prenhe de deslocamentos de sentido, associações insólitas, movimentos espiralados, vocabulário onde dialogam o erudito e o brejeiro, a dor e a mofa, a inevitabilidade e o recomeço, fazem sacudir um outro novo nervo, outro latejar se impõe, outra releitura se inicia, e a sua poesia nunca está lida. Mas não será este o privilégio da melhor literatura?</do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><br /></a></do></tam></eu>
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<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><br /></a></do></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><br /></a></do></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><b>notas:</b></do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><br /></a></do></tam></eu>
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><span style="font-size: x-small;">(1) Arthur Rimbaud, Iluminações / Uma Cerveja no Inferno, Assírio&Alvim, 2007, p.117.</span></do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><span style="font-size: x-small;">(2) José Emílio-Nelson, Pesa um boi na minha língua, Edições Afrontamento,2013.</span></do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><span style="font-size: x-small;">(3) Rainer Maria Rilke in Poemas, ed.Asa, Lisboa, 2001, tradução de Paulo Quintela, p.84.</span></do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><span style="font-size: x-small;">(4) Fragmentos de Novalis, Assírio&Alvim, tradução de Rui Chafes, 2000, p.95.</span></do></tam></eu><br />
<eu oro.="" que="" sei=""><tam immensa=""><do a.=""><a cauda="" estranha="" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8514855077924487160"><span style="color: black; font-size: x-small;">(5) Ovídio, Metamorfoses, Livros Cotovia, tradução de Paulo Farmhouse Alberto, 2007, p.375.
</span><br />
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</a></do></tam></eu></div>
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<strong>© Teresa Sá Couto</strong>Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-70180072854117293492013-12-22T20:13:00.000+00:002013-12-27T20:14:28.230+00:00 As Duas Faces do Dia, de Dora Nunes Gago<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLzyS2aFtVXNr19gqW7EDBFE4cBTi_OayPQYRLd2UoBfmSwnHzd45-mkNt9yYrrjg6D9CgFeSMroYIV8iDAv_BNHA2HvR_psSqKeGApFsp9BCTKNg7_uWpo_KBIyovNWoiZyPEQ48EAVab/s1600/cartaz+(4)%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLzyS2aFtVXNr19gqW7EDBFE4cBTi_OayPQYRLd2UoBfmSwnHzd45-mkNt9yYrrjg6D9CgFeSMroYIV8iDAv_BNHA2HvR_psSqKeGApFsp9BCTKNg7_uWpo_KBIyovNWoiZyPEQ48EAVab/s320/cartaz+(4)%5B1%5D.jpg" width="223" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Dora Nunes Gago</b> vai lançar novo livro. Trata-se de uma novela que homenageia a malograda Florbela Espanca. Respondendo ao convite da autora, que muito me honrou, escrevi o brevíssimo prefácio. É esse texto que aqui publico, juntamente com o Convite oficial do lançamento da obra.</div>
<br />
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<b>A voz na dobra do tempo</b><br />
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<br />
<i>Em vão corri mundos, não vos encontrei</i><br />
<i> Por vales que fora, por eles voltei.</i><br />
<br />
António Nobre<br />
<br />
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<div style="text-align: justify;">
Há seis anos, chegava-me por correio um pequeno livro de contos de um autor que desconhecia: <b>Dora Nunes Gago</b>. O título <span style="color: blue;"><i><b><a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/2009/08/canto-do-sul.html"><span style="color: blue;">A Sul da Escrita</span></a></b></i> </span>e um golpe de olho ao interior das páginas prometiam histórias de referências históricas e pendor memoralista. A escrita delicada, despretensiosa e envolvente impôs a leitura de um fôlego, para uma experiência que perduraria até hoje, altura em que esta novela a restaura e enriquece. </div>
<div style="text-align: justify;">
No «panteão espiritual» do sul vive agora a voluptuosa princesa desalento, mas Florbela Espanca não vem só: <b>Dora Nunes Gago</b> dá-lhe a opção do passo que ela não deu, do recomeço que ela não ousou, da liberdade que ela sempre quis.</div>
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<div style="text-align: justify;">
Num <i>puzzle</i> de sintéticas analepses, apresenta-se a vida de duas mulheres, separadas 82 anos, Florbela e Brígida, enjauladas na existência: a uma pesam-lhe memórias de perdas, a outra procura memórias que perdeu, ambas ouvem os relógios ímpios, vigilantes e decisórios, ambas se debatem com o eco das suas identidades, porém enquanto Florbela fixa os olhos na tumular parede branca do quarto, Brígida fixa os olhos nos cortinados brancos, indiciador de destinos distintos. Para conseguir a admirável dramatização, Dora Nunes Gago faz com as suas personagens o que faz o actor: veste-lhes a pele, experiencia-lhes o bater de coração, as alegrias, os arrepios, as quimeras, os cansaços, os espantos, as dores, para que o leitor cheire o que elas cheiram, ouça o que elas ouvem, sinta o que elas sentem, veja o que elas vêem. Este fazer de laboratório é, pois, o responsável pelo intimismo com o leitor, e, consequentemente, pela adesão à leitura. Ainda neste laboratório da escrita, <b>Dora Nunes Gago</b> usa a linguagem de roteiro que dissemina pelo texto como um mapa, com linhas, superfícies, volumes, e a palavra desdobra-se enchendo os espaços com a brisa, o resmalhar do vento, os «rugidos do mar», o chicotear da chuva, o estrondear proceloso, a névoa que se solta dos cigarros, sombras, espectros, personagens bem definidas, e o leitor que, enredado nisto tudo, com o tudo se tatua, de uma tatuagem resistente e colorida. </div>
<br />
<br />
<b>Teresa Sá Couto</b><br />
Lisboa, 23 de Agosto de 2013
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Texto meu sobre o livro <i><a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/2009/08/canto-do-sul.html"><span style="color: blue;"><b>A Sul da Escrita</b></span></a></i>Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-19007061238282156892013-11-28T19:30:00.001+00:002022-09-19T17:57:10.490+01:00FLY: O enigma da voz<div style="text-align: justify;">
Há muito fora do mercado, porque esgotada, a obra <em><strong>Fly</strong></em>, de <strong>Joaquim Pessoa</strong>, está finalmente reeditada, altura em que se celebram 30 anos da sua publicação. Com a chancela da <em>Edições Esgotadas</em>, a presente edição, de luxo, com capa dura e sobrecapa, contém cinco trabalhos de ilustração de João Concha e Introdução Crítica minha. É este texto que aqui disponibilizo. <strong></strong></div>
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<strong></strong><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtHhVQS7EfCNs3NvhWSvQmVEi0D5tJmDOxYrYDwwVuTkTi8nR0r64gIF7ffS_8d7Asq-Z-7llrtuaV8kUjW2ANpixep3mBr88SBQeGQmpICE58E7IuTGF-3oBz8lz5wf18ht05eBxrcs78/s1600/FLY-ilustra%C3%A7%C3%B5es_Joao.Concha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtHhVQS7EfCNs3NvhWSvQmVEi0D5tJmDOxYrYDwwVuTkTi8nR0r64gIF7ffS_8d7Asq-Z-7llrtuaV8kUjW2ANpixep3mBr88SBQeGQmpICE58E7IuTGF-3oBz8lz5wf18ht05eBxrcs78/s640/FLY-ilustra%C3%A7%C3%B5es_Joao.Concha.jpg" height="194" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: x-small;"><strong>(<em>Fly</em>, 2013, sobre a edição de 1983; seguem-se as três ilustrações do interior e a ilustração da contracapa)</strong></span><br />
<span style="color: #444444; font-size: x-small;"><strong><br /></strong></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixuP7w6syvomU1RDZznGI2Lo4cQgLpNEhYxcNc7vPAO8LKezZGuvzix96uqiVMrYkpI7yoQvfrRxQ0t5m2yzdm6o5xpL3K5gfmO3peGtVnpHY1aiqenvIA0zHUs54pYaXFouoXq7Kkay23/s1600/ap.Fly.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixuP7w6syvomU1RDZznGI2Lo4cQgLpNEhYxcNc7vPAO8LKezZGuvzix96uqiVMrYkpI7yoQvfrRxQ0t5m2yzdm6o5xpL3K5gfmO3peGtVnpHY1aiqenvIA0zHUs54pYaXFouoXq7Kkay23/s1600/ap.Fly.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span aria-live="polite" class="fbPhotosPhotoCaption" id="fbPhotoSnowliftCaption" style="background-color: white; display: inline; line-height: 18px; outline: none; text-align: left; width: auto;" tabindex="0"><span class="hasCaption" style="color: #666666; font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"><b>Apresentação do FLY, de Joaquim Pessoa, no Barreiro. Na imagem, da esquerda para a direita, eu, Joaquim Pessoa, a vice-presidente da Câmara do Barreiro, Teresa Adão (directora da Edições Esgotadas) e Carlos Mendes.</b></span></span></div>
<br /></div>
<strong></strong><br />
<strong>O enigma da voz</strong>
<br />
<br />
<em>É esbelta a sombra, belo o abismo:
</em><br />
<em>Tem cuidado, meu filho, com certas asas</em><br />
<em> que roçam
O teu coração.</em>
<br />
<br />
Antonio Gamoneda <span style="font-size: xx-small;">(1)</span><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Há trinta anos, «Rã Evinha vinha de parir» o filho morto, e trazia a sua casa azul que se movia: evidenciava-se que a mãe inspiração dava à luz a memória com que se edifica a casa da poesia. Hoje, futuro daquele passado e presente do futuro, intersectamo-la no seu contínuo movimento para respirarmos e sentirmos com ela a dor de um dos partos mais belos da literatura portuguesa.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
«Estranho <em>Fly</em>», «óptima definição metapoética da poesia, como discurso que parece querer dizer algo e afinal não diz mais do que a necessidade imperiosa de dizer», escreveu Roxana Eminescu, em 1986 <span style="font-size: xx-small;">(2),</span> em recensão crítica. Editado em 1983, e com a 2.ª edição em 1985, pela Litexa Editora, <em>Fly</em> tem, todavia, a nascente do seu inquietante caudal simbólico em <em>O Livro da Noite</em> (Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura), editado pela Moraes Editores, em 1981.
<br />
<br /></div>
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</div>
<div style="text-align: justify;">
O texto de <em>Fly</em> é percorrido por fios, linhas de água, braços de vento, rastos cósmicos num movimento incessante a dar unidade às suas três partes: o reconhecimento do rumor da voz, o trabalho da inspiração – «fêmea tecedeira, branca» – sobre a memória, e a passagem de testemunho. <em>Fly</em> é uma asa afiada que, como lâmina, corta o ar, submerge, transforma, reformula, muda, recupera o tempo da memória, «poro a poro» num «trabalho forçado do pensamento». Por isto, <em>Fly</em> é um «Lume escuro, corvo a corvo, esse livro terrível», é o lume de uma alegria escura, é um lugar íntimo do barro onde o «Boi-sol», «animal da ansiedade», rompe como uma centopeia e agoniza no «vespeiro de palavras», é a «Luz, luz e lâmina, a crina da névoa desce /aos ossos como o futuro, leitura vagarosa, /embrião de próximas estrelas. /Num cálice de nuvens a tempestade estala e atemoriza o coração. //É o touro, a máscara, a lentidão, o peso», assim referido em <em>O Livro da Noite</em> <span style="font-size: xx-small;">(3).</span> Na prodigiosa capa de <strong>João Concha</strong>, autor de todas as ilustrações desta edição, e com as chaves do texto, é possível divisarmos o esplêndido Touro símbolo de Zeus, o ajuntador de nuvens essenciais da criação, ou surpreendermos a imponente constelação de Taurus com as suas híades e plêiades urdidoras das chuvas que tombam de nuvens onde adejam pássaros, e que a policromia do preto e branco nos sugestiona serem azuis.
</div>
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Enquanto no espaço cósmico, <em>Orion</em>, o ufano caçador, desafia <em>Taurus</em>, no texto, a imaginação luta com a poalha branca da memória, «as palavras inúteis são a caça», e o «fogo» sobe cego para a «cara das estrelas».
<br />
<br /></div>
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</div>
<div style="text-align: justify;">
No «objecto longo da memória», que é <em>Fly</em>, há um homem no umbral lutando com o «vazio atordoado» das mãos, portanto, um homem que transforma as mãos: o umbral a transpor simboliza a saída para a realização poética, para a luz; por sua vez, o vazio é um espaço de liberdade. Estão reunidas, pois, as condições para a fabricação do fogo, da palavra sanguínea «como escuro animal, das últimas sombras de um jardim interior.». Para nascer, o homem tem de romper o invólucro escuro, o «ovo de cansaço» onde se encontra, dobrado sobre si mesmo, ideia plasmada na primeira ilustração do interior, de arte maior. Diz María Zambrano que «nascer, no sentido primário e em todos os outros possíveis sentidos, é constituir-se na autonomia do próprio ser. Portanto, afrontar a luz e o que nela acontece: ver e ser visto para começar. A luz é o lugar da suprema exposição para o homem» <span style="font-size: xx-small;">(4).</span> Porém, a claridade é uma «flor carnívora», e por isso a verdade virá encoberta por uma névoa espessa que envolve tudo, símbolo da espessura do silêncio poético, que puxa o leitor para o abismo do texto e da sua própria intranquilidade. Desta forma se veicula o enigma da palavra que tem de nascer, porquanto se esconde no mesmo instante que se revela; acresce, como referiu George Bataille, que «não poderíamos imaginar contradição mais obscura, com melhores características para assegurar a desordem dos pensamentos.»<span style="font-size: xx-small;"> (5).</span>
A ideia de obscuridade relaciona-se também com a de impossibilidade de realização, e ambas estão patentes no enigma do poço de Bernardo Soares: «Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos – um poço fitando o céu» <span style="font-size: xx-small;">(6).</span> Contudo, a imaginação é um caminho da água, consequentemente, uma rebeldia, um instinto contra a morte; William Blake escreveu que a Imaginação «é a própria Existência Humana» <span style="font-size: xx-small;">(7)</span> e, em <em>Fly</em>, o «sangue todo» empenha-se no nascimento da voz, nascimento que exige desnudamento e dor:
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">Saborear-te os nervos, poço a poço,</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
ó pedra das moléculas perfeitas; comer</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
os versos e os ossos, pouco a pouco, Fly, e ler</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
a carne tenra da flor da amendoeira; in-
</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">comodar-te; e renascer de ti – das
</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">cinzas que deixou a tempestade – , ó luz</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
que dói de espasmos de ar, por sermos pobres</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
os dois, ó mãe, ó Fly, e um de nós</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
ter de parir, nu, no interior da voz.</span></em>
<br />
<em><span style="color: #134f5c;"><br /></span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Sendo a imaginação uma casa – a memória usa a imaginação para lembrar o que não sabe, para despir a dor e o delírio, para recompor o tempo e a distância – há que compreender a casa, os seus corredores fundos, escusos e escuros, há que enfrentar o medo: «para romper a solidão, atrever-se-iam os cardos» em «metros de penetração na morte», «profundidade (da ferida) que nada esclarece mas tudo pressagia», diz-nos texto em busca da fundura insondável, «do fundo ilimitado que antecede a visão e a projecta», segundo Ramos Rosa <span style="font-size: xx-small;">(8).</span> <br />
<span style="font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Tratando do que se perdeu, a memória intensifica a noção de morte. Daí a centralidade da noite na revelação do ser e das suas impossibilidades: «O calor da noite desenterrava moedas, causava febre, quase fazia espuma na pele martirizada»; a noite desvenda o que a manhã oculta: «a noite moveu raízes de choro que a manhã escondeu» e «uma raiz é também um barco navegando em profundidade até tocar outros dias, outros deuses, outros nadas.»; a noite arrima «a palavra calada de um enforcado até acima, onde o sol não entende»; é na noite que «a água cantara, com voz de mulher» – que podemos ter como a imaginação, a inspiração, a poesia; é na solidão da noite que o vento, esse «aluvião turvo», volta para parir um filho morto. Também a associação «cinza fresca» é um princípio da memória em transformação: «Só o teu corpo me interroga /como cinza fresca». Em <em>Fly</em> diz-se claramente que o que exulta é o que fere, o que desafia, e não o que fascina, o que obedece. <br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
De onde nos vem «este dom de morrer, esta potência /degoladora da dor»?, perguntou Gamoneda <span style="font-size: xx-small;">(9);</span> «O medo solta /os cavalos do amor e as últimas pombas. /O azul é, decerto, a memória de outro céu profundo // Antes, muito antes do fogo, como arderam as lágrimas?», lê-se em <em>O livro da Noite</em> para em <em>Fly </em>se confirmar a transmutação da dor em prazer estético: «em todos os medos e em todos os tempos, <em>Fly</em>, atingiremos a luz, o orgasmo dos sinos.».
Assim, em <em>Fly</em> «o tempo é herói» que enforma o informe acoitando-o no poema, o tempo é «mendigo, pó amarelo, depois chuva ou alecrim, mais tarde um fogo liso como um peixe», e o poema será um «pássaro verde» que poisa na folha branca e assobia «para dentro» ou será «água verde» de um pássaro azul que não sabe fugir do seu voo; uma necessidade também dita assim:
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
[…] <em><span style="color: #134f5c;">e defendo-me</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
da fome que em teu útero me aquece:</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
a memória dos ossos de onde venho</span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><span style="color: #134f5c;">
e que nas feridas do corpo se abastece.
</span></em><br />
<em><span style="color: #134f5c;"><br /></span></em></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Produto humano, a palavra surge como espelho onde se interroga o mistério de se Ser: «a tua nudez me desabrigou e me fez tiritar diante do meu corpo, como num espelho de água. Ouve-me agora quando ao falar de ti me reconheço». É este «vento de espelhos» que encontramos na segunda ilustração onde pulsa um coração negro e rutilante, embutido numa falésia, com amplas janelas espelhadas, coração que serve de miradouro ao homem.
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Se a imaginação é uma casa, a pele da imaginação é o mapa da criação da palavra, um mapa prenhe de caminhos que se percorrem incessantemente, «uma carta na água», um «horóscopo do orvalho», rotas de uma peregrinação e, sobretudo, um mapa com o regresso do outro de nós: «[…] de qualquer modo irei/onde sei que não vou porque estou lá; /cansado de cansar-me ramo a ramo/ (na carne contrafeito, no tempo contradito), /[…] Gostando destes ninhos/onde as palavras pedem alimento».
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Atentando no carácter labiríntico e disfuncional do texto, Roxana Eminescu escreveu, na recensão já aqui indicada, que «as palavras parecem soltas, as frases desligadas umas das outras, como um discurso psicopata, um discurso partido <em>por dentro</em>, que parece tornar-se poesia <em>por acaso</em>». Também a euforia e a disforia que presidem ao nascimento da voz dão ao texto o tom de loucura, como se a voz fosse originária de um sujeito demente ou possuído. Será o caso de privilégio divino dos poetas, como o enunciado por Platão: os poetas «não passam de intérpretes dos deuses, sendo possuídos pela divindade, de quem recebem a inspiração», pois o poeta é uma «coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão» <span style="font-size: xx-small;">(9)</span> ; estar possuído e em delírio, «<em>in louco</em>, embriagado, <em>allegro</em> andante /cheio de sangue e chuva, neste quarto /que me azulou os olhos de castanho», palavras com que o sujeito poético se autocaracteriza.
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<em>Fly</em> parte de substantivos genesíacos, como água e luz, adeja em sombra e vento, rodopia num jogo inventivo de contradições formantes do enigma, contradições que reflectem a errância humana e criadora e que consubstanciam a própria poesia.
Em <em>Fly</em>, a imaginação tortura a água da memória e é dessa água torturada que nasce o grito silencioso do poema. É este grito essencial que nos é exposto, também, na terceira ilustração. Ainda, na ilustração da contracapa, a escada a ligar águas, as do esquecimento – onde estão as recordações –, e as da memória recuperada, as da morte e as da vida, com os degraus à espera que outros os subam em busca da sua própria interioridade, os degraus erguidos pelo texto: «na interpelação de nós outros saberão recomeçar».
</div>
<br />
<br />
<strong>Teresa Sá Couto</strong><br />
Lisboa, Outubro de 2013
<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><strong>Notas</strong>:</span><br />
<span style="font-size: x-small;">
(1) Antonio Gamoneda, <i>Oração Fria</i>, Assírio&Alvim, p.145
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(2) Roxana Eminescu, <i>Colóquio Letras</i> número 91, Maio 1986, p.93</span><br />
<span style="font-size: x-small;">
(3) Joaquim Pessoa, <i>O Livro da Noite</i>, Moraes Editores, p.16</span><br />
<span style="font-size: x-small;">
(4) María Zambrano, <i>O Sonho Criador</i>, Assírio&Alvim, p.p.110-111
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(5) George Bataille, <i>As Lágrimas de Eros</i>, Sistema Solar, p.50
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(6) Bernardo Soares, <i>O Livro do Desassossego</i>, Assírio&Alvim,p.48
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(7) William Blake, <i>Milton</i>, Antígona, p.179
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(8) António Ramos Rosa, <i>A Impossibilidade da Construção</i>, JL, 7 de Maio de 1991
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(9) Antonio Gamoneda, ob.cit., p.31
</span><br />
<span style="font-size: x-small;">(10) Platão, <i>Íon</i>, Inquérito, p.51</span>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-9338018595614090252013-06-18T19:03:00.000+01:002013-06-19T19:43:16.135+01:00"O Silêncio" de Maria Quintans<div style="text-align: justify;">
<strong>Maria Quintans</strong> tem novo livro: <em><strong>O Silêncio</strong></em> será lançado no dia <strong>21 de Junho,</strong> às 20.30h, na Pensão Amor, Rua do Alecrim, 19, 1200-292 Lisboa. A
apresentação é de Inês Fonseca Santos e Ana Zanatti fará leituras de poemas.
</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_eo3KgdDCx9mfX1XUyJbmhc627ewJiEl_FH6KscTrBGqiwe6q76WeAyEXdFe8VWTBucb80iFsVxZjTT6BZ3-98-JbHe5vRYGZQhA8cj-pzELde3-sGOfonLl9Fzl_T0d-J-zkg0qnmvRg/s1600/hariemuj-capas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="271" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_eo3KgdDCx9mfX1XUyJbmhc627ewJiEl_FH6KscTrBGqiwe6q76WeAyEXdFe8VWTBucb80iFsVxZjTT6BZ3-98-JbHe5vRYGZQhA8cj-pzELde3-sGOfonLl9Fzl_T0d-J-zkg0qnmvRg/s400/hariemuj-capas.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: #666666; font-size: x-small;"><strong>(os cinco livros da hariemuj - clicar para aumentar a imagem)</strong></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<em><strong>O Silêncio</strong></em> é o quinto título da pequena editora hariemuj, cinco dedos que mostram o poder de uma mão de quem gosta e sabe fazer livros. Com efeito, o zelo impresso no mais ínfimo pormenor e a força estética do grafismo assumido, desde os últimos 3 títulos, por <strong>João Concha</strong>, são uma marca inconfundível do carisma da hariemuj. Na escolha dos textos está, também, uma postura própria: escolhe-se a palavra desassombrada, harmoniosa, rebelde, intimista e arejada.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
«<strong>o silêncio demora muito tempo</strong>», lê-se na contracapa de <em><strong>O Silêncio</strong></em> de <strong>Maria Quintans, </strong>livro com 52 páginas e 33 poemas. O silêncio é um lugar largo, acrescento eu, esperando que este livro encontre o lugar grande do fascínio da leitura. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<strong><span style="color: #444444;">Nota:</span></strong></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Os livros da editora hariemuj podem ser encontrados nestes locais:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Livraria Barata, Lisboa; Livraria Ler Devagar, Lx Factory - Lisboa; Livraria Letra Livre - Lisboa Livraria Pó dos Livros - Lisboa; Livraria Poetria - Porto; Miguel de Carvalho, Livreiro Antiquário - Coimbra; Feira do Livro de Poesia e Banda Desenhada, Soc. Guilherme Cossoul - Lisboa</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Ainda sobre <strong>Maria Quintans</strong>, <strong>João Concha</strong> e <strong>hariemuj</strong>, <a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/search/label/Maria%20Quintans"><span style="color: blue;">AQUI</span></a> </div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-37241405869708695992013-06-10T01:23:00.001+01:002013-06-10T02:07:08.024+01:00Antonio Gamoneda em Antologia<div style="text-align: left;">
<div style="text-align: justify;">
Titula-se <em><strong><span style="color: #073763;">Oração Fria</span></strong></em> e é a primeira antologia traduzida em língua portuguesa do poeta castelhano Antonio Gamoneda. Acompanhada pelo próprio poeta, a edição, bilingue, tem introdução, tradução e posfácio de João Moita. Um livro indispensável para quem não vive sem poesia.</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6LwG0JmdtUMH_5p53Nf9FeQwQ6-Y2TYtvwwhkzs4cWH-PylzIoHuFTVGgA5u2flcypgWFKC1PFLGn6m4X7hefx_GtJsHtN_Ix4IwSz5vQVSPDZnbiPwBkCH4Wg8r1J3HSoFhjE7TL14YE/s1600/Antonio-Gamoneda.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6LwG0JmdtUMH_5p53Nf9FeQwQ6-Y2TYtvwwhkzs4cWH-PylzIoHuFTVGgA5u2flcypgWFKC1PFLGn6m4X7hefx_GtJsHtN_Ix4IwSz5vQVSPDZnbiPwBkCH4Wg8r1J3HSoFhjE7TL14YE/s400/Antonio-Gamoneda.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Depois de <em><span style="color: #b45f06;"><strong>Livro Do Frio</strong></span></em>, considerado por muitos a melhor obra de Gamoneda, também editado pela Assírio&Alvim, em 1998, com tradução e Nota de José Bento, o novíssimo <em><strong><span style="color: #0c343d;">Oração Fria</span></strong></em> possibita-nos uma panorâmica da obra de António Gamoneda; «segue a ordenação e a fixação dos textos de <em><strong>Esta Luz – Poesía Reunida (1947-2004),</strong></em> livro publicado em Espanha em 2004 pela Galaxia Gutenberg, com organização do próprio poeta. Foram ainda incluídos cinco poemas do seu último livro, <em><strong>Canción Errónea,</strong></em> publicado em 2012 pela editora Tusquets.», esclarece João Moita.
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
Nascido em Oviedo a 30 de Maio de 1931, Antonio Gamoneda é uma das vozes mais ilustres da poesia contemporânea. Uma voz artisticamente poderosa, num mesmo hausto, atormentada e crua, canto de errância e cansaço, denunciadora desta "idade do ferro na garganta", idade de perdas de identidade, de desvanecimento de causas e sonhos; uma voz que ouve o "cego rouxinol" e que, como ele, cria no seu cantar "luz entre a ramagem obscura": "Justifico-me na dor. Não há nada; / não encontro nos meus ossos a cobardia. /Em meu canto inverte-se a agonia; / é um caso de luz incorporada.". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
dois textos:<br />
<br />
<em>É um homem. Vai pelo campo.</em><br />
<em>Escuta o seu coração, como bate,</em><br />
<em>e, de repente, o homem detém-se</em><br />
<em>e põe-se a chorar sobre a terra.</em><br />
<em></em><br />
<em>Juventude da dor. Cresce a seiva</em><br />
<em>verde e amarga da primavera.</em><br />
<em></em><br />
<em>Para o ocaso vai. Um pássaro</em><br />
<em>triste canta entre os ramos negros.</em><br />
<em></em><br />
<em>Já o homem apenas chora. Intriga-se</em><br />
<em>com o sabor a morto da sua língua.</em> (p.27)<br />
<br />
***<br />
<br />
<i>Calo-me, espero</i><br />
<i>até que a minha paixão</i><br />
<i>e a minha poesia e a minha esperança</i><br />
<i>sejam como aquela que anda pela rua;</i><br />
<i>até que possa ver com os olhos fechados</i><br />
<i>a dor que já vejo com os olhos abertos.</i> (p.59)<br />
<br />
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/URTn0oroojw" width="460"></iframe>
</div>
<br />
<br />
<br />
<br />Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-88094074950378652572013-06-04T00:33:00.003+01:002013-06-04T00:35:53.651+01:00Lançamento do novo livro de Joaquim Pessoa<div style="text-align: justify;">
<strong><em><span style="color: #990000;">Guardar o Fogo</span></em></strong> é o novo livro do poeta Joaquim Pessoa. Com a chancela da Edições Esgotadas, o livro será lançado dia <b>8 de Junho, sábado, às 17h00, na livraria Bulhosa do Campo Grande, em Lisboa</b>. A Apresentação será feita por Maria da Conceição Andrade e Maria Fernanda Navarro, autoras do texto introdutório.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkFzEw37N7VrhnFUMAIQT5G8cZFSERwkPZ1eliDobevYtAzt-riK_kRRZn_Zf8_VcBNZOe_R7YDKxJce9bX6UcJe-sxYVy76m6E5tot6lW4XIk_J55AE7amR1c2dh5cBBWs2H97X6T_W04/s1600/jp-guardar+o+fogo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkFzEw37N7VrhnFUMAIQT5G8cZFSERwkPZ1eliDobevYtAzt-riK_kRRZn_Zf8_VcBNZOe_R7YDKxJce9bX6UcJe-sxYVy76m6E5tot6lW4XIk_J55AE7amR1c2dh5cBBWs2H97X6T_W04/s640/jp-guardar+o+fogo.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Como o título indica, <em><strong><span style="color: #660000;">Guardar o Fogo</span></strong></em> reúne poemas sobre a natureza da palavra e o laboratório poético de Joaquim Pessoa, e vem responder a um projecto do autor de concentrar num livro a relação do poeta com o ofício enigmático da palavra, a busca do tutano e da textura, os «ossos de uma paciência que persegue o mundo». Neste sentido, o fogo guardado nas 388 páginas é uma libertação de ar para os leitores e estudiosos da poesia, em geral, e da poesia de Joaquim Pessoa, em particular. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Como poeta é sinónimo de desassossego, o autor junta 104 textos inéditos à Antologia que contempla textos desde <em>O Pássaro no Espelho,</em> editado pela Moraes Editores em 1975<em> </em> até <em>Ano Comum,</em> editado pela Litexa em<em> </em>2011. <strong><em><span style="color: #660000;">Guardar o Fogo</span></em></strong> é, afinal, «Um mundo de palavras. Língua/que lambe o universo para espanto/da imobilidade das estrelas.», como se lê no texto inédito da página 73. </div>
<br />
Transcrevo, ainda, dois textos inéditos:<br />
<br />
<br />
<strong>Poema quadragésimo terceiro</strong><br />
<br />
<em>Falo-te do limite do mundo: para lá</em><br />
<em>das palavras, para lá da fala. Um oceano vazio</em><br />
<em>é a nossa boca, território atormentado por</em><br />
<em>uma água seca antes das cerejas e depois do</em><br />
<em>parto. Cordão que liga o teu tempo</em><br />
<em>a um tempo universal: da tua voz,</em><br />
<em>ao canto tremendo das estrelas, fogo</em><br />
<em>cantando luz.</em><br />
<em></em><br />
<em>Luz, e ouro altíssimo: sangue, ideia, ventre, vida</em>. (p.75)<br />
<br />
<br />
<b>Poema quinquagésimo primeiro</b><br />
<br />
<i>A escrita</i><br />
<i>foi a terra prometida </i><br />
<i><br /></i>
<i>Por ela</i><br />
<i>as águas se abriram</i><br />
<i>para que o poeta guiasse</i><br />
<i>o seu povo de sílabas.</i> (p.83)<br />
<br />
<br />Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-87799773264090761292013-05-24T23:00:00.000+01:002013-05-26T15:12:14.512+01:00"Tempo e Memória" de Albano Martins, no Porto<div style="text-align: justify;">
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent">A Exposição Biobliográfica <strong><em><span style="color: #660000;">Tempo e Memória</span></em></strong>, do Poeta <strong>Albano Martins</strong>, vai estar patente no Porto, de <strong>25 de Maio a 1 de Junho</strong> de 2013, no auditório da Fundação Engenheiro António de Almeida, à Rua Tenente Valadim, número 325. A inauguração está marcada para as 1<span class="text_exposed_show">6h00 de dia 25, e estará aberta ao público, de segunda a sexta, entre as 14h30 e as 18h30, e sábado, dia 1 de Junho, entre as 14h30 e as 17h30.</span></span><br />
<span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="userContent"><span class="text_exposed_show">Perto de completar 83 anos (em 24 de Julho próximo), o poeta beirão volta a contar com o carinho da cidade que o acolheu há mais de 40 anos, onde mergulhou raízes, criou amizades e a sua poesia medrou, como o próprio refere no texto <em><strong>Sou um homem do sul</strong>,</em> escrito em 2007 e publicado no livro <em><strong><a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/2009/06/palavra-perfeita-de-albano-martins.html"><span style="color: blue;">A Palavra Perfeita</span></a></strong></em> <span style="color: #444444;">(ver link).</span> É nestas quatro décadas que Albano Martins atinge o mundo inscrevendo nele o seu nome entre os grandes poetas universais, tendo poemas traduzidos em espanhol, catalão, francês, italiano inglês, chinês (cantonense) e japonês; é neste espaço de tempo que traz para língua portuguesa poetas clássicos gregos e latinos, Pablo Neruda, entre tantos outros. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
«<strong><span style="color: #660000;">Relógio: a caixa /dourada onde o tempo /vive aprisionado</span></strong>.», lê-se em <em><strong>Estão Agora Floridas As Magnólias</strong></em>, o mais recente livro de Albano Martins; é da mais pura e dourada filigrana a memória que o poeta nos apresenta nestas exposições.</div>
<br />
<span class="userContent"></span>
<br />
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
<span class="userContent"><span class="text_exposed_show">Recordo que a exposição <strong><em><span style="color: #660000;">Albano Martins, Tempo e Memória,</span></em></strong> onde se narra, com documentação vária, a vida de letras e afectos do poeta, esteve patente no Casino Fundanense, Fundão, de 27 de Outubro a 25 de Novembro de 2012, no ensejo do tributo que lhe foi prestado no Paul (na <em><strong>Casa da Cultura José Marmelo e Silva</strong></em>) e no Fundão.</span></span><br />
<span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><br /></span></span></div>
<span class="userContent">
</span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_Ll28EpYfdT4kM-5oPXKtEQDIWp13ggerOQtSnmIeKt9C3DwBNjRMiQHw9hzr9SJELxKIpD97ukOe6po9IRKVuAxy5vfP973g5jyT1pW2YBcVzzcepor5ohPtqOTWlK18N6FwU64qGnhx/s1600/Albano_Fundao3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_Ll28EpYfdT4kM-5oPXKtEQDIWp13ggerOQtSnmIeKt9C3DwBNjRMiQHw9hzr9SJELxKIpD97ukOe6po9IRKVuAxy5vfP973g5jyT1pW2YBcVzzcepor5ohPtqOTWlK18N6FwU64qGnhx/s640/Albano_Fundao3.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"> (<span style="color: #666666;"><strong>Albano Martins, à esquerda, na Casa da Cultura José Marmelo e Silva e, à direita, pormenor da exposição <em>Tempo e Memória,</em> no Fundão</strong> - clicar na imagem para aumentar</span>)</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"></span>Se a exposição da invicta recupera a exposição do Fundão, surge, todavia, mais alargada, nomeadamente com a inserção de fotografias, desenhos, pinturas e esculturas de e produzidas por amigos de Albano Martins ao longo dos anos, marcas de diálogo e cumplicidade na jornada da vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda, na Homenagem do Fundão foi lançado o <i style="color: #660000; font-weight: bold;">Uma Vida Interior Na Escrita Da Paisagem</i>, um pequeno belo livro editado pela Câmara Municipal, que reúne duas abordagens críticas da obra de Albano Martins, testemunhos, dados biográficos, bibliográficos e fotografias, tudo contributos para o conhecimento do poeta comprometido com o humano.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6C1v7QHM51QwwA131nNdX1BqrYcOglMKpNbRBHF0WfA7HIX-2McLxvxyq0tklrndNNcHLNgleu2c2STQL81NItFZMK1V_LHrU2eixRnxt9CwWrloYMd_-TMV6zJqKfpefyg9O6NN3VAD2/s1600/AlbanoMartins_H.Fundao.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6C1v7QHM51QwwA131nNdX1BqrYcOglMKpNbRBHF0WfA7HIX-2McLxvxyq0tklrndNNcHLNgleu2c2STQL81NItFZMK1V_LHrU2eixRnxt9CwWrloYMd_-TMV6zJqKfpefyg9O6NN3VAD2/s640/AlbanoMartins_H.Fundao.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: x-small; text-align: center;"><strong>(à esquerda, livro de testemunhos lançado no Fundão; à direita, Fernando Paulouro, Perfecto Quadrado, Albano Martins e Paulo Fernandes, no Casino Fundanense)</strong></span></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<br />
Deixo um extracto do texto inédito de Albano Martins, publicado no <em>Uma Vida Interior Na Escrita da Paisagem</em>:<br />
<br />
«[...] <strong>foi este chão, o chão da Rascoa, que me deu a seiva, me definiu o ser e moldou o carácter. Dele vêm o sol que percorre a minha poesia e o sangue que sustenta as flores que nela medram e vicejam. Depois do leite materno, foram os frutos da terra e as águas da Meimoa que me alimentaram a infância. Eles e o vento que por ali passava às vezes a galope, levando consigo as folhas das árvores, a espuma das horas e a poeira dos dias</strong>.».<br />
<br />
Outras imagens da Homenagem no Paul e no Fundão:<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/GjBQbq7SFnM" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<br />
Ver textos meus sobre Albano Martins, <a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/search/label/Albano%20Martins"><span style="color: blue;">AQUI</span></a></div>
</div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-18870281427212299182013-03-30T09:33:00.001+00:002022-09-19T17:57:37.814+01:00Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, Nuno Dempster<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh_Mju-yD45b2JH6qss9u8Ctll9payBVuPaeFH1QkayEeqmbK4Y40sOQlTxvDrjkTp7sJKnsLVNWIKl7TI2n8kTnjM_LYXDrWnKvqccvsQYUdaUkyQMUyPJ5tkL4x0l45C7-R6UujpqkNs/s1600/NunoDempster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a><strong><em><span style="font-size: x-small;"></span></em></strong><br /></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh_Mju-yD45b2JH6qss9u8Ctll9payBVuPaeFH1QkayEeqmbK4Y40sOQlTxvDrjkTp7sJKnsLVNWIKl7TI2n8kTnjM_LYXDrWnKvqccvsQYUdaUkyQMUyPJ5tkL4x0l45C7-R6UujpqkNs/s1600/NunoDempster.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh_Mju-yD45b2JH6qss9u8Ctll9payBVuPaeFH1QkayEeqmbK4Y40sOQlTxvDrjkTp7sJKnsLVNWIKl7TI2n8kTnjM_LYXDrWnKvqccvsQYUdaUkyQMUyPJ5tkL4x0l45C7-R6UujpqkNs/s320/NunoDempster.jpg" width="320" /></a> Texto editado no sítio da <a href="http://www.orgialiteraria.org/2013/03/pedro-e-ines-dolce-stil-nuovo-nuno.html"><span style="color: blue;"><strong><em>Orgia Literária</em></strong></span></a> , a 26.03.2013.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">«Entremos
pelo mito de Inês dentro». </span><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chame-se o irreal, o que se quer «do exílio da
rainha degolada», e desvie-se o poema para a verdade do presente. O poema longo
<b><i>Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo</i></b><span style="mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold;">, de<b><i> </i>Nuno Dempster</b>, sabe que as
palavras criam realidades e mostra-nos que o que</span> «Interessa é o olhar
com que fitamos»: um olhar que liberte a alma de que fala o mito, limpo da
ilusão mundana e de denúncia da vida informe dos homens.</span> </span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"><strong><em>Pedro
e Inês: Dolce Stil Nuovo</em></strong></span><span style="font-family: "arial; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: small;">compreende um conjunto de poemas, na justeza e vivacidade do decassílabo,
mosaicos unidos pela memória e pelo olhar, entretecidos por um vaivém
incessante, pelo que devem ser lidos como um poema longo. A indústria desta
escrita conta com o efeito estético da clareza vocabular, recorrente em Nuno
Dempster, que dá ao poema dinamismo, fluidez, estremecimento, desagregação,
inquietação; as palavras são depuradas e rigorosas ou, mais exactamente, como é
dito pelo autor no poema «Poética», incluído no seu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dispersão, Poesia Reunida</i>, de 2008, as palavras são «tão exactas
/quanto é possível ser exacto um pássaro /que não é bem pássaro», e «da
experiencia íntima se libertam /e iluminam e falam as palavras, /e tão
cuidadosamente que esse pássaro /torna a ser, daquela imagem, o pássaro /que
voa, verdadeiro, no poema.» (p.235).</span></span></span></span></span></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
Na construção da verdade, imaginar é ver e ver é conhecer: o sujeito poético vê «cenários apagados» de um tempo longínquo, imagina a vida interior da qual a História só «escreve equações», ouve diálogos que não vêm em «nenhuma das crónicas do reino» e recria a «poesia, /que se gera no sentido inverso à vida: /Inês num paraíso que não há, /caminha virtual entre poemas.». Se ver é conhecer, conhecer é agir: o que interessa de Pedro e Inês ao poema é a sua condição de clandestinos, porquanto «tudo nos garante que na vida/ foram somente humanos e, por isso,/ menos sentimentais do que se sonha» (p.32); soltam-se os mecanismos para dar voz ao grito, à «urgência da denúncia» que bate nas «têmporas» do mito e do poema: o intenso presente resgata Pedro e Inês da «meia luz da lenda», «o sol devolve-os ao quotidiano» presente, o poema move-se de um tempo para outro, de um lugar para outro, de um corpo para outro: «Pedro e Inês estão vivos e caminham/ pelas ruas urbanas, são a imagem / que salva da tristeza quem não vive /como eles se entregaram: doidamente.» (p .30).</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Heresia há seiscentos anos, o amor louco, trangressor, surge no presente como impossibilidade: «Pedro e Inês são o exemplo de que só /um grande amor exige amor maior, /e assim a perfeição da vida humana, /não o quotidiano que nos rouba /a existência de modo tão anónimo./”Pois”, respondo. “Percorram a cidade / e entrem em um dos prédios suburbanos /à hora do jantar. O cheiro a fritos /é coisa que não liga com amor /de príncipes. Se tanto, Pedro e Inês /são um casal de amantes sem história /que chegou de autocarro e ninguém viu.” (p.31).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Do par dos amantes do mito, é Inês, «ícone do Mito», «razão do Mito», a «nossa Matriz», que detém uma espiritualidade superior, uma verdade oculta que o texto aclara: Inês, a quem deveria passar «pelos olhos uma sombra, /como sucede a todas as mulheres /em dias negativos para o amor», representa «a vida sucessiva das mulheres», é a mãe infeliz que, «ajoelhada, chora pelos filhos/e por ela», numa prece onde «também estão as outras/mulheres que morrem por amar», Inês «é o exemplo da morte delas todas: habitam o poema, reclamando: /”Testemunhem-nos sempre com revolta». (p.49).
Se o poema se assume como voz de revolta, também incita o leitor à reflexão de que sem se repensar o amor não haverá espanto: «Senta-te no silêncio das arcadas /místicas da abadia. Frente a Cristo, /vai pensando nos ossos de Pedro e Inês / […] /Medita então na morte dos amantes / […] e pensa o grito /que alguém deixou no livro dos profetas. /Sai então do mosteiro, observa a praça /[…] Onde estão Pedro e Inês? Ninguém os vê./ Um a seguir ao outro, a morte teve /a carne luminosa dos seus corpos /e hoje os ossos antigos nada dizem: /o presente é o largo do mosteiro/ e a lojista ao fundo que dispõe /a tralha de recuerdos sempre iguais, /e nada irá surgir ali que espante.» (p.57). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O próprio eu acaba por ser envolvido nas malhas do olhar severo e amargo que resulta do conhecimento da realidade, característica que atravessa toda a poética de Nuno Dempster. «Criei-te de alegrias e tristezas: /de tantas circunstâncias, tantas coisas. /Já não és senão como te sinto.», escreveu Konstandinos Kavafis. Em Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, a memória desenha sombras que já não são as das figuras do mito, mas as de uma interioridade avassalada pelo desencanto, pela descrença, pelo niilismo: «com as palavras nuas deste tempo, /forma-se o desencanto dos poemas/ e vai-se refractando a luz da lenda, /até sobrarem só coisas vulgares», ou, ainda, «As lendas são ingénuas como sóis /em um caleidoscópio adolescente […]/Agora que perdi todo esse encanto /em ondas sucessivas de descrença […] /Pedro não a acompanha, não o vejo,/afastou-se de Inês que vai morrer, /não sabemos ao certo porquê. Usa-se, /na história dos compêndios escolares, /a mesma manha impune das notícias: /esconde-se a verdade em verbos ocos /e mata-se nas frias madrugadas.» (p.46). O futuro é, assim, uma figura de ausência, interrogação e até dissolução, esta presente na diáspora com peso de exílio: «quem sabe um dia emigrem como povo /e fiquem pelos livros sem voltar».</span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda no contexto dramático da existência, o poema, com olhar largo, nomeia os assassinos do amor: a vida, a guerra, a indiferença, o desprezo, a falta de esperança, a descrença, o desencanto: «[…] já nem se ouve o grito degolado /com que a vida termina de repente. /Há muito se tornaram em costume. /Assim Inês, assim os outros todos /que a História não regista. Todavia, /vivemos sobre mortos que nos gritam /quando acordam. Ines e Lorca gritam /(“se le vio, caminhando entre fuziles”), /grita ainda no Prado o homem de Goya, /longos versos de Sena aos fuzilados. /Revolvo-me ao ouvi-los, Inês bela. /Não conheço justiça que os redima, /e, com eles, os outros mortos todos /que nenhum deus salvou da madrugada.» (p.50).
«Seiscentos e cinquenta anos passados,/ tudo pode mudar-se», diz-nos o texto que, estribado na memória, cumpre com mestria a viagem pelo real transportando a consciência de que a literatura pode e deve ser inovação. A partir de agora, qualquer incursão artística ao mito inesiano tem de passar, obrigatoriamente, pelo poema Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, de Nuno Dempster.</div>
<br />
<em>Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo</em>,
<strong>Nuno Dempster</strong>,
Edições Sempre-Em-Pé,
2011
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Outros textos meus sobre livros de <strong>Nuno Dempster, <a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/search/label/Nuno%20Dempster"><em>AQUI</em></a></strong></span></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><o:p><strong><span style="line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"><strong><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">© <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Teresa Sá Couto</span></span></strong></span></strong></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: inherit;">
</span></div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-18915505349344950382013-02-02T19:05:00.002+00:002022-09-19T17:58:11.822+01:00Inútil dedicada à MorteDisponibilizo aqui o meu texto que serviu de base à Apresentação pública da revista <strong>Inútil</strong>, número <strong>quatro</strong>, que aconteceu na fnac do Chiado, em Lisboa, no passado dia 25 de Janeiro de 2013.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLiqCFs-Xw-mWtpFOMFNyfRRS4OeSmSzIZUl5JFUECrlJGZAUe1MszNHj4JKvBJ6HJSafAmk-eZYuG2-UHtwE643xrWSsCYBLqLuXMDQWDoUvCLqrHzVC-tAH_r0E7jXwb1mkSTqVC2P8V/s1600/Inutil-n.%C2%BA4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLiqCFs-Xw-mWtpFOMFNyfRRS4OeSmSzIZUl5JFUECrlJGZAUe1MszNHj4JKvBJ6HJSafAmk-eZYuG2-UHtwE643xrWSsCYBLqLuXMDQWDoUvCLqrHzVC-tAH_r0E7jXwb1mkSTqVC2P8V/s400/Inutil-n.%C2%BA4.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: #666666; font-size: x-small;"><strong>(imagem da capa e fotografia do interior, esta a duas páginas, de Rui Aguiar - clicar para aumentar)</strong></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<strong>A Morte</strong></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Detendo-nos na capa, divisamos os símbolos próprios
de um percurso de iniciação: em fundo branco, uma porta branca, cor da lua
(símbolo de morte e regeneração), uma porta fechada, como o luar é a tampa do
sepulcro, na formulação de Teixeira de Pascoaes que diz, num poema, medir os
anos, a sua idade, por metros de profundidade sepulcral, de lá «ergue-se, como
espectro, inclina-se sobre ela para ver-lhe o fundo, sente vertigens e retira
os olhos espantados». Este <strong>número 4</strong> da revista <strong><em>Inútil</em></strong> propõe-nos um caminho iluminado
pelos olhos espantados dos autores que nomeiam a morte, assim esconjurando-a.
Espectros, principiemo-lo pelo fim, uma subtileza técnica, e também uma
subversão, deste número que pretende escandir a morte escandindo a vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong>Sónia Baptista</strong> aponta-nos o chão que nos acolhe, a
terra que «Não faz na morte distinção» entre os seres vivos, e fala-nos também
da água, símbolo da vida, mas também do abismo: «Peixe vermelho /na água
desafogado para cima /tornou-se salva vidas /boiou para baixo /encarnado”. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A nossa vida é uma dança de espelhos, porque eles
dão-nos a terrível duplicação visual da realidade, a verdade de que a vida é
também morte, e vemo-nos reflectidos nos esqueletos da ilustração da página 7;
ouvimos, também, os sinos que, como relógios, marcam-nos as pulsações; ouvimos<span style="color: #1f497d;"> </span>o ensinamento dos sinos de Edgar Allan Poe, o
alarme dos sinos, o seu uivo, “carrilhões afinados” que marcam e regem o tempo
com aprumo, interpretando o futuro, os sinos que “plangem aos finados”. </span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong>Bénédicte</strong> <strong>Houart</strong> fala-nos de «espelhos caseiros», de sinos e
do espírito dos mortos que nos habita: os espelhos com o seu hábito antigo de
se estilhaçarem, «um ruído familiar» como outros que ouvimos no decorrer dos
nossos dias: «O estilhaçamento regular dos espelhos. Compassando o tempo, como
os sinos; não as horas ou as meias ou os quartos, mas o tempo que demora para
que um rosto se componha e se desfaça, se recomponha e volte a desfazer-se. Isto
é a vida. E os espelhos continuam esse trabalho bem depois da morte de quem
neles se mirou, e se espantou, talvez, por existir.»; a</span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">ludindo ao movimento que urde a vida, escreve <strong>Ricardo
Tiago</strong>: «há dias em que morro /e a terra move-se. // nos dias em que há mortos /eu
durmo / e a terra move-nos.»; n</span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a soberba fotografia de <strong>Rui Aguiar</strong>, ressoam, como
sinos, as palavras de Herberto Helder:<span style="color: #1f497d;"> </span>«Tocamo-nos
todos como as árvores de uma floresta /no interior da terra. Somos / um reflexo
dos mortos».</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Transitoriedade, efemeridade, ilusão da vida estão metaforizadas
ao longo de todo o compêndio, como na imagem do cadáver de um pássaro, de <strong>João
Braz</strong>, no rosário de laborioso crochet de <strong>Paula Fernandes</strong>, na ilustração do
quimérico banquete da vida, de <strong>Catarina Sobral</strong>, nas rendas e véus puídos do
tempo desfeito, nas fotografias de <strong>Mami Pereira</strong>.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Afinal, “Tudo é
soma na natureza humana.”, escreve <strong>Nuno Brito</strong>, e <strong>Casimiro de Brito</strong> invoca o
Tudo da soma dos poucos com que se dissipa a vida: o Tudo é o Amor, porque nada
mais fica. «Ama agora. Dou tudo, dou-me todo e não recuso nada.», lê-se. O
motor que impulsiona o ser para o exterior será o coração , pois ele, na
formulação de María Zambrano, “é o símbolo e representação máxima de todas as
entranhas da vida”, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>portanto uma “interioridade
aberta” porque ao oferecer-se não é para sair de si, mas para levar para si
tudo o que vagueia fora. As ilustrações de <strong>Rui Vitorino Santos</strong> evidenciam um
corpo aberto pelo coração donde saem árvores; a ilustração de <strong>Sofia Morais</strong>
traz-nos um homem de coração na mão mirando a sua sombra torturada ou, ainda, e
finalmente, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o Tudo, o Amor eterno de
Pedro e Inês no corpo arborescente de Ana Lacerda, da fotografia de <strong>Amir Filho</strong>.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Com fotografias e textos, <strong>André Gago</strong>, o convidado
central, mostra-nos que a vida é a máscara da morte. Fixando os olhos nos olhos
da morte, movido pela curiosidade «de ser até não ser», diz-nos André Gago: «Agarro-me
muitas vezes à ilusão de estar vivo, porque as minhas mortes são devaneios.
Nesses devaneios da morte, soletro os nomes amados, e acabo por me encontrar a
salvo num rochoso pico de audiência íntima, num clímax de enredo que promete a
sequela. Adio o desfecho, como quem quer escutar ainda o silêncio que sobrevém
à paragem do relógio. Quero espreitar o mecanismo da morte por detrás do pano,
porque sei que ela é puro teatro.».</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">«Cara
senhora, és criminosa», escreve <strong>Maria Quintans</strong> à voluptuosa, altiva e inexorável
senhora morte da fotografia de <strong>Edgar Keats</strong>. A reacção ao crime está patente nas
ilustrações convulsivas de <strong>Bruno Corte</strong>, num mapa de tensões a fazer
lembrar-nos os registos pulsionais de Henri Michaux, ou nas ilustrações de
<strong>Joanna Latka</strong>, murais com olhos escancarados e bocas negras em corpos moles, bocas
negras de silêncio à procura da palavra dura. A palavra suspende o tempo e,
assim, preserva-o. É isto que nos diz <strong>Maria Quintans</strong>: «a palavra é uma folha
nova de consciência quente na sofreguidão do desgosto até que caia em imagem.».
Palavra confunde-se com “mãe”, a que “nunca se despede”, que nunca diz adeus.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial;"></span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong>Maria Quintans</strong>, <strong>Ana Lacerda</strong> e <strong>João Concha</strong> fazem da
<strong><em>Inútil</em></strong> revista um objecto mágico de palavras e imagens; «mágico, poeta e maluco
são palavras sinónimas», disse, e ainda, Teixeira de Pascoaes. Aqui confluem
gerações de artistas, de estilos e sensibilidades diversas, e dá-se
visibilidade a novos autores, (até se tira do anonimato a «Noite Escura» de um
poeta encontrado ao acaso nas veias do Bairro Alto). Aqui gera-se oxigénio imprescindível para animar o asfixiado panorama cultural português. </span> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span></span> </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><strong>© Teresa Sá Couto</strong></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-31957092944825450122012-12-23T22:05:00.002+00:002013-01-29T14:14:48.201+00:00Três momentos da poesia europeia por Albano Martins<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Está nas livrarias o belíssimo volume<em> <strong><span style="color: #6aa84f;">Três momentos da poesia europeia</span></strong> (De Safo e</em> Píndaro a Ungaretti e Salinas), com selecção, tradução e notas de <strong>Albano Martins</strong>, publicado pelas Edições Afrontamento. </span></span><span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: 'Times New Roman'; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Recordo que o poeta português e tradutor de poetas recebeu, no passado dia 12 de Dezembro, o Grande Prémio de Tradução Literária 2011, da Associação Portuguesa de Tradutores /Sociedade Portuguesa de Autores, pela tradução da <strong>Antologia da Poesia Grega Clássica, </strong>também com a chancela da Afrontamento.</span> <span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Noto, ainda, que a <span style="color: black;">tradução do <strong>Canto Geral</strong>, de Pablo Neruda, publicado pela extinta Campo das Letras, em 1998, deu a </span>Albano Martins,<span style="color: black;"> em 1999, o Grande Prémio de Tradução A.P.T. /Pen Clube Português e, pela </span></span><span style="line-height: 115%;"><span style="color: black;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tradução de sete obras do poeta chileno, o governo do Chile conferiu-lhe, em 2004, a Ordem de Mérito Docente e Cultural Gabriela Mistral, no grau de Grande Oficial.</span> </span></span></span></span></span></div>
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 4.3pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXEkZ-_Y8ZEAtO_Zktth3L7dLsyiMrojZaOhhIYz98R_vUXUGnzZpZxGQP16_P0DE8udiyDB7iQ5MbHcED0ism3t35m1C0g-78xXrA35X5bQ7G4xUelXb3OX-W1k8WxELBPpTbzPO6Ez6Q/s1600/Albano-Martins_poesia-tradu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="288" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXEkZ-_Y8ZEAtO_Zktth3L7dLsyiMrojZaOhhIYz98R_vUXUGnzZpZxGQP16_P0DE8udiyDB7iQ5MbHcED0ism3t35m1C0g-78xXrA35X5bQ7G4xUelXb3OX-W1k8WxELBPpTbzPO6Ez6Q/s640/Albano-Martins_poesia-tradu.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: x-small;"><strong>(na imagem, Albano Martins na sua mesa de trabalho, fotografado por mim em Agosto último)</strong></span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Na presente antologia, coligem-se dez poetas gregos arcaicos (Arquíloco, Álcman, Mimnermo, Alceu, Safo, Íbico, Anacreonte, Teógnis, Simónides, Píndaro), dez poetas italianos contemporâneos (Umberto Saba, Dino Campana, Vincenzo Cardarelli, Giuseppe Ungaretti, Eugenio Montale, Salvatore Quasimodo, Raffaele Carrieri, Sandro Penna, Cesare Pavese, Antonia Pozzi) e cinco poetas da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">geração espanhola de 27</i> (Pedro Salinas, Jorge Guillén, Gerardo Diego, Rafael Alberti, Manuel Altolaguirre). No final do livro, encontramos notas biográficas e bibliográficas de cada um dos poetas.</span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">três poemas:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>Não entendo a luta dos ventos. Rola</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>uma onda daqui, outra dali. E nós,</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>no meio, somos arrasados</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>com a escura nau, duramente</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>sacudidos pelo forte temporal. Já a vasa</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>cobre o pé do mastro, toda</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>a vela é rasgada e dela</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>pendem enormes farrapos. Os cabos</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>cedem, e o leme...</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>Firmo os pés nas enxárcias</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>e apenas isso me mantém são e salvo ...</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Alceu, p.17</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">***</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>Não sei onde as gaivotas fazem o ninho,</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>onde encontram a paz.</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>Sou como elas,</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>em perpétuo voo.</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>Raso a vida</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>Como elas rasam a água</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>em busca de alimento.</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>E amo, talvez como elas, o sossego,</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>o grande sossego marinho,</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>mas o meu destino é viver</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #134f5c; font-family: Arial;"><em>faiscando na tempestade.</em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Vincenzo Cardarelli, p.77</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;"><strong>***</strong></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Enganou-se a pomba.<br />Enganava-se.</em></span></span></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em><br /></em></span></span></span></span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Ia para norte, foi para sul.</em></span></span></span></span><br />
<em style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Julgou que o trigo era água.</em><br />
<em style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Enganava-se.</em><br />
<em style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></em><em style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Julgou que o mar era o céu;</em></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #073763;"><em>a noite, a manhã.<br />Enganava-se.</em></span></span></span></span></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #073763;"><em><br /></em></span></span></span></span></span></span><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #073763;"><em>Que as estrelas eram o orvalho;<br />o calor, a neve.<br />Enganava-se.</em></span></span></span></span></span></span><br />
<em style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></em><em style="color: #073763; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Que a tua saia era a tua blusa;</em></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #073763;"><em>o teu coração, a sua casa.<br />Enganava-se.</em></span></span></span></span></span></span><br />
<em style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: #073763;"><br /></span></em><em style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: #073763;"><br /></span></em><em style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: #073763;">(Ela adormeceu na orla;</span></em><br />
<em style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="color: #073763;">Tu, no alto de um ramo).</span></em></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />Rafael Alberti, p.159</span></span></span></span></span><br />
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"></span></span></span></span></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><span class="text_exposed_show"></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show"><span style="font-family: Arial;"></span></span> Ver <a href="http://comlivros-teresa.blogspot.pt/search/label/Albano%20Martins"><span style="color: #0b5394;">AQUI</span></a> outras rubricas sobre Albano Martins.</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
</div>
</span></span></span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
</div>
</div>
Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8514855077924487160.post-7737953319853024592012-12-02T21:45:00.001+00:002022-09-19T18:01:59.302+01:00Poesia de Francisco Duarte Azevedo<div style="text-align: justify;">
O livro de poesia <em><strong>As Habitações Interrompidas</strong></em>, de <strong>Francisco Duarte Azevedo</strong>, foi lançado no dia 27 de Novembro de 2012, no belíssimo Museu da Música, no Alto dos Moinhos, em Lisboa. O livro tem Prefácio meu e a Apresentação Pública esteve a meu cargo. É o texto do Prefácio que aqui vos deixo. Divulgarei oportunamente o texto que serviu de base à sessão do lançamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmDvQ9RAZomJ16ZLyfzxYEWIlgByQ3OLL1gW4YSwvOLb97NrVKCfDq3ULt6Dgh6RZnRa5o50iervBQ7HtWR1nTkJtzbDrnu39gdyLBc6KciK1wJPmljypQdWKjNkZHA-GF9kvSQG-fLIdl/s1600/As-Habita%C3%A7%C3%B5es-Interrompidas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmDvQ9RAZomJ16ZLyfzxYEWIlgByQ3OLL1gW4YSwvOLb97NrVKCfDq3ULt6Dgh6RZnRa5o50iervBQ7HtWR1nTkJtzbDrnu39gdyLBc6KciK1wJPmljypQdWKjNkZHA-GF9kvSQG-fLIdl/s640/As-Habita%C3%A7%C3%B5es-Interrompidas.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: #444444; font-size: x-small;"><strong>(na imagem, da esquerda para a direita: Francisco Duarte Azevedo, Teresa Adão - escritora e directora da editora Edições Esgotadas - , Emília Noronha - Presidente da Junta de Freguesia do Alto dos Moinhos - e eu. A fotografia é de Paulo José Coelho, da editora Edições Esgotadas.)</strong></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<strong><span style="color: #444444; font-size: x-small;"></span></strong> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<strong><span style="color: #444444; font-size: x-small;"></span></strong> </div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Uma morada de sal e luz<o:p></o:p></span></span></b></div>
<span style="font-family: inherit;">
</span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: inherit;"> </span></o:p></span></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">é da palavra errante
que<o:p></o:p></span></span></i><br />
<span style="font-family: inherit;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">devemos falar, da
distância<o:p></o:p></span></i></span><br />
<span style="font-family: inherit;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">das coisas ou da cor do
mar. <o:p></o:p></span></i></span><br />
<span style="font-family: inherit;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: inherit;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;">João
Miguel Fernandes Jorge<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></span><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Diplomata de carreira, com a condição de
errante pelo mundo, Francisco Duarte Azevedo busca na palavra literária uma
habitação na habitação interrompida. O pequeno livro de poemas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Ícones</i>, de 1998, uma edição búlgara
com o patrocínio e apoio da Associação dos Luso-Falantes na Bulgária, iniciava
a catedral dessa demanda; o seu romance de estreia, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Trompete de Miles Davis</i>, de 2011, talhava excertos de prosa
poética fulgurante; neste <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Habitações
Interrompidas</i>, Francisco Duarte Azevedo regressa «à intempestiva forma
caótica do silêncio», à água, «às linhas que atam / (como a chuva) / o corpo às
algas do mar», ancora-se no sal da deriva e encontra refúgio na luz grande do
mar.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">«O espírito do pintor deve assemelhar-se
a um espelho que adopta a cor dos objectos e se enche de quantas imagens tem
diante de si», defende Leonardo da Vinci no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Tratado
de Pintura</i>. Francisco Duarte Azevedo cruza a estética da poesia com a
estética da pintura num canto que urde a existência interior do sujeito que
«interpreta o mundo» e «luta contra as sombras/dos fantasmas, por uma
habitação/não interrompida». A arte poética de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Habitações Interrompidas</i> carrega um trabalho apurado sobre a emoção
e a memória, acto de buscar e conhecer, recorrendo a uma voz simbólica que
interroga interrogando-se, a um olhar dinâmico que, como janela da alma e espelho
do mundo, provoca, recolhe e deposita toda a matéria no corpo do poema, para
que a memória sobreviva. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Como
com a palavra, um quadro é feito de «pequenos nadas», pinta-se «com a argamassa
/dos detalhes que preenchem /a vida», um quadro «Intervém», nele está o grito
de liberdade dos emparedados, «os muros das habitações/transitórias», «os
séculos da memória /e as histórias das aldeias /dizimadas», um quadro «denuncia
o tempo /traz a memória nas mãos», «um quadro é ternura /banhada pelas manhãs
/de luz», «É espaço rendido à leitura». Sobretudo, e sendo espaço de liberdade
e de busca, «Um quadro é espaço vedado à morte» ou, dito ainda assim: «Procuro
o meu ninho/ no aconchego/da brancura de uma tela.// […] uma simples cor
pousada /como a pegada de ave /no reflexo das águas, /rasgam os sulcos por onde
/seguirás na direcção do mar // Eis a claridade /que segue os meus passos /no
percurso /entre a vida possível /e a morte provável». </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Contra
a morte, está este canto lírico de um «Ser feito de mar» que lança ao mar todos
os seus textos poéticos, para que o «sal e a luz» temperem as palavras. Também
as razões são claras e assim enunciadas: «Nunca possuí um lugar a que chamasse
/habitação permanente e onde o mar / me surpreendesse. Porque o mar é o berço
/desta habitação, o lugar onde voo/ sem asas e onde escuto a tua voz». E «Tudo
voa» nesta poesia que se problematiza a si mesma, cônscia até da fugacidade do
traço na página: o «poeta é amador das palavras corroídas pelo tempo», a poesia
«é simples passatempo», «Uma voz vazia, a da poesia» ou, ainda: «trago nada nas
mãos / a não ser um livro de símbolos, /um manual de preces /e a voz sagrada do
tempo /beijando-me as faces». É da voz do silêncio que aqui se fala e da
capacidade do sujeito dar-nos a ouvir o que escuta, silêncio que é a casa do
ser e do nada, sendo esse nada a plenitude do ser. O vazio é, afinal, o lugar
do pleno. É esse silêncio iluminado que encontramos neste livro de poemas «como
uma janela/ voltada para o sol» que inunda o mar, donde o sujeito «Invoca a
terra, as aves e todos os animais perdidos na floresta», à sua semelhança,
«embebe de sonhos a fragilidade dos seres, comete os sentidos/ na espuma do
tempo», escuta e dá-nos a escutar a voz vigilante da memória na «zoada dos
búzios», nas janelas que «desvelam/ os segredos na água» e o corpo da palavra,
janelas que, na ânsia de horizonte, se rasgam em varandas que dão para o mar
adejado de gaivotas, varandas a quem o sujeito pede que lhe devolvam «a luz e
toda a poalha» do «azul profundo» e infinito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">«Entre
um quadro e o infinito» há, pois, a luz que, ávida, traça as rotas de uma
viagem vital, espargindo na brancura, da tela ou da página, cores
incandescentes com que se pressentem silêncios: «As minhas cores /sobre a tela
transpiram /as insónias dos pássaros». Na «senda dos limites», o sujeito detém-se
na voz ilimitada de uma poesia habitada de asas: «porque é afinal para ti que
corro /no limite da solidão», lê-se, solidão que se vai fundando em metáforas e
hipálages. É preciso fixar a luz efémera das manhãs efémeras, a «luz
deslumbrante /da claridade do mar», «luz estonteante» onde «aporta /o sussurro
do mundo/ e a navegação silente», a luz que «madruga» os lábios, que «amornece»
o corpo «absorvido no calor /de um imbondeiro», a luz que testemunha «o abraço
à luz do dia /a uma almofada vazia», a luz que esclarece os contornos do corpo
da palavra, a luz que consome as trevas e ilumina a ternura. No centro de toda
a ternura estão as<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>mãos. Elas retêm
a febre e a luz, levedam o silêncio, «A polpa dos dedos /tacteia a pele da
poesia», as palmeiras lêem e dedilham com facilidade a líquida e secreta
mensagem, num grito de vida: «Sinto as fibras do meu corpo / a latejarem de
poesia e /já não posso parar. Deixei /de comandar a minha mão. /Ela move-se por
um impulso /azul que escorre, líquido, /nas páginas de um caderno /de notas.». A
recolha da luz na página surge magnificentemente nos poemas narrativos dos
pescadores na sua faina: «os pescadores lançaram as redes e recolheram / o mar
dentro de um círculo amarelo. Nele escutei tua voz /que um pássaro inquieto /
me trouxe até ao varandim /onde poisou num breve aceno /de asas e ternura.
Entre ele / e o mar ficou apenas /a distância de um sopro.», e, ainda, «Os
pescadores regressaram /com os seus círculos amarelos /e cercaram o mar.
Depois,/ puxaram as redes e – com / elas – o mar para dentro dos/ seus barcos.
E o mar, na sua/ tranquilidade líquida,/ deixou-se levar. As palmeiras
/afagaram o suspiro /da ave que se aquietou /no topo de uma habitação./ O mar
reconheceu-te /e prometeu enviar-te /a chuva na próxima estação.». </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Na
solidão desta poesia, reina o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tu</i>
secreto – cuja ausência configura o vazio do sujeito, dá plasticidade e
luminosidade à composição poética – que é voz, confidente, interlocutor,
cúmplice e espelho do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">eu</i>. A
construção do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tu</i> é o resultado da
«obsessão pela luz». Um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tu</i> que é sal,
azul ou verde rutilante das esmeraldas, «zoada dos búzios», «razão de respirar»
do sujeito. Ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tu</i>, o sujeito pergunta
«Escutas?», «Sentes?», e roga: «Espera serenamente a mensagem/ do silêncio […]/
deixa que a chuva /se torne a flor de sal /que alimentará a minha voz.»; um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tu</i> que ouve as perguntas e, em murmúrio
sensual, impulsiona o canto inquieto e fortifica a morada almejada: «Entre um
muro /branco rodeando a colina /sobre o mar e o caminho /das palmeiras e baobás
/que envolvem as areias / na maresia, estás aí. /E é tudo o que preciso saber.».
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Poesia
corpórea, táctil, sensorial, com necessidade de ver, cheirar as flores e
sentir-lhes a respiração – por isso «as flores pintadas numa tela» deixam de
ser flores – , tem de questionar a relação com o divino: chama-se por um Deus
«que chora como a humanidade», «hirto e humílimo, /como se fosse homem
enjeitado /na sua própria mátria», um Deus cuja mão deveria ser de «humana
matéria».</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">No
«exercício implacável» da criação, as mãos desta poesia de experiências
acumuladas pintam a paisagem, escrevem a temporalidade com o estilete da
memória, preenchem a habitação transitória; «a ausência é contemplar, /à luz
das manhãs /os muros brancos rasantes/ao mar onde a voz do Profeta/ se expande
dos minaretes», e «o instante de contemplar/ desnuda a poesia». Munido de
hipálages – «Neste mar senegalês /revejo a luz do mar /de Lisboa, ancorada /à
solidão / no cais das colunas» –, o sujeito navega pelas próprias artérias
navegando pelo mar interior da cidade de Lisboa, a «cidade das mil colinas», de
«telhados/ pintalgados de gatos e pombos», com «varandins /de manjericos e
lençóis /esvoaçando como bandeiras», «avenidas percorridas /à luz mortiça das
tardes de chuva», «colinas onde as aves habitam», «perfil das gaivotas atiladas
/no cais das colunas», acusa a incapacidade das palavras, dos símbolos não
desenharem «o vento e as mãos /tecendo a lua /numa rua de Lisboa», e reage num
gesto de evasão para o futuro: «tocaremos a poesia nos /miradouros» ou, ainda, «pela
madrugada, voarei /na direcção do mar em busca da solidão.».</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">«voltarei
um dia /para te buscar / entre os búzios», lê-se neste <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Habitações Interrompidas </i>em versos que atingem o futuro deixando
rastos do presente naqueles dias que virão. Resta-me dizer que o leitor da
melhor poesia sempre aguarda o regresso da palavra desassossegadamente iluminada,
como é esta de Francisco Duarte Azevedo.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<span style="line-height: 150%;"> Teresa
Sá Couto<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;">Lisboa,
Julho de 2012<o:p></o:p></span></span></span>Teresahttp://www.blogger.com/profile/12921671348407265315noreply@blogger.com0