sábado, 9 de abril de 2011

"Rosa do Mundo"

Faz 10 anos neste mês de Abril, e é obrigatório mencioná-lo sempre que se fala de poesia: Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o Futuro, com a chancela da Assírio&Alvim, foi um projecto ambicioso da Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, e hoje é-nos indispensável.

Reúne poesia de todo o mundo, desde o ano 1000 até ao século XX, com apenas um poema por autor, textos facilmente localizáveis devido aos cinco úteis índices: de Autores; Culturas/Países/Povos; Traduções/Versões; Recolhas/Selecções e Índice Geral. 

O grandioso empreendimento resulta de um trabalho colectivo dos organizadores, tradutores, especialistas dos locais donde provêem os poemas, coroado com o esmero de quem gosta de fazer livros. O resultado é um objecto vivo onde se ouvem as vozes das civilizações, que desperta paixão, belo, de capa dura forrada a tafetá azul-escuro, protegida com sobrecapa, resguardos das 1919 páginas de conteúdo sagrado impresso em folhas de papel fino, como o das edições da Bíblia.


Cinco textos:

Nessa noite, uma casa, de repente, ergueu-se do chão e partiu flutuando.
Estava escuro e diz-se que um sibilo violento se ouviu, enquanto voava.
A casa ainda não chegara ao destino, quando as pessoas que nela moravam
lhe pediram que parasse. A casa parou.
Não havia óleo de baleia, quando pararam. Então, apanharam neve fresca,
acabada de cair e puseram-na nas lâmpadas e ela ardeu.
Tinham chegado a uma aldeia. Um homem veio até à casa e disse:
Vejam, estão a queimar neve nas lâmpadas. A neve pode arder.
Mas logo que pronunciou estas palavras, as lâmpadas apagaram-se.

Árctico, Esquimós, trad. José Alberto Oliveira, p.p. 147, 148

***
Na gota de orvalho o sol brilha:
a gota de orvalho seca.
Nos teus olhos, o teu brilho:
e eu tão vivo.

América, Aztecas; versão de Herberto Helder p.159

***
Eu não sei se estiveste ausente.
Eu deito-me contigo, e levanto-me contigo.
Nos meus sonhos tu estás junto a mim.
Se estremecem os brincos das minhas orelhas
eu sei que és tu que te moves no meu coração.

México, Nahuas, trad. José Agostinho Baptista, p.210

***
Nigrim escreveu um livro que não tem qualquer jeito;
Comprei, mesmo sabendo que a obra era mazinha.
Nigrin, desta maneira, tirou duplo proveito:
Da parvoíce dele, e bem assim da minha!

Roménia, Cincinat Pavelescu (1872-1934), trad. Doina Zugravescu, p.1183

***
Tudo o que vês chega de longe: apenas um contorno
ou uma sombra que se desloca devagar. Há gestos
semelhantes a folhas que não caem. Principia agora
a luz a espalhar-se à nossa volta e a verdade torna-se
mais simples. É como um rosto que reconhece a sua idade.

Portugal, Fernando Guimarães, p.1675

2 comentários:

jorge disse...

Saúdo vivamente a grata memória de um livro fundamental e esquecido, com poemas de sempre e para sempre.

Teresa disse...

abraço, Jorge.
:)
T.