domingo, 28 de agosto de 2011
Hariemuj
domingo, 29 de maio de 2011
domingo, 28 de março de 2010
Contagem Bang!
terça-feira, 9 de março de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Novo livro de Henrique Normando
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O Fenómeno da Luz
.
.A luz dos teus olhos
É o enigma do comprimento de ondas e partículas
Que estranhamente se desprendem de forma descontínua
Até me transformarem num espectro
Que timidamente se aproxima
.
É a luz que me ofusca e me dissolve
No mar até à linha do horizonte
É a luz da lua receptiva
Que se reflecte no azul de forma esquiva
Como imagem entrecortada e derivante
.
É a luz agitada do amante que peca
E que não se propaga em linha recta
.
É o momento mágico
De um envolvimento de partículas
Que estão para além das leis da física
A luz revolvida pela maré que se prolonga
Num êxtase sublime em cada onda
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
O regresso de Albert Cossery
Tradução: Luís Leitão
Revisão: Carla da Silva Pereira
domingo, 22 de novembro de 2009
Escalpe de Amadeu Baptista
Extracto:
Nos meus e nos teus rins se acumulam
segredos desusados,
o real é um cúmulo de árvores e areais
desoladores,
visões devastadoras do silêncio,
espaços inaudíveis a sitiar-nos os ombros.
Mas nós, sendo sagrados, ardemos tanto
que sopesamos os ritmos da memória e os da terra,
ainda volúveis,
ainda corça e gamo,
ainda mensageiros.
Assim adormecemos.
Assim velo o teu sono com o meu sono,
assim velas o meu sono com o teu sono.
E são os nossos sonhos sonhos lúbricos,
e fluis suavemente pelos meus lábios,
e fluo suavemente pelos teus lábios. (p.p. 34,35)
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
sábado, 14 de novembro de 2009
Vitor Oliveira Jorge com Electri-cidade em Lisboa

Vitor Oliveira Jorge, nascido em Lisboa em 1948, mas radicado na cidade do Porto desde 1975, tem uma vasta obra publicada, tanto no domínio da Arqueologia como no da Poesia; trata-se de um olhar imenso pelos vestígios e enigmas do tempo e interpelação dos mistérios do canto lírico, em deflagração neste novo compêndio poético de 260 páginas.
Electri-cidade será, pois, um título para desvendar com o máximo interesse, porquanto talhado por um autor de diálogo interdisciplinar, que em 2001 foi distinguido com o grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito pelo conjunto do seu trabalho, outrossim pela sua actividade cívica em prol da defesa do património arqueológico português.
Ler o poema Falas, na página de Vitor Oliveira Jorge
Outro poema, agora do livro Casa das Máquinas:
Àqueles a quem foi cometida a tarefa
De decifrar o enigma do centro das casas,
A aparição no centro, o corpo pleno,
E o olhar:
Parai nesta suspensão, nesta descida do tecto,
Nesta subida do chão: ruído de tábuas no tempo,
Longe: um comboio deve ter atravessado a noite,
Ou o crepúsculo, ou a manhã: tanto faz, foi longe.
Parai neste corpo. Neste centro com lábios, e ombros,
E mãos dispostas de ambos os lados, enquanto
As madeiras estalam, os bichos invisíveis das madeiras
Se alimentam. Mas os lábios, mas o rosto, mas a presença
Impõe-se, como uma imperatriz: no centro, na casa,
Estirada de alto a baixo do texto. E eu aguardo.
Prolongo o enigma das alças, da roupa interior,
Do frémito que a presença enuncia, e no entanto
Não diz. Apenas vem ao centro, desce e sobe, entre
As paredes perenes do cubo, este enigma cinzento
E melancólico. Um comboio atravessa-se ao longe,
Cinde a consciência como um fluxo de sangue,
Como uma linha recta. Mas o corpo nada diz, apresenta-se.
E todo o enigma, a sua extraordinária presença,
Se vai esgueirando de verso para verso, entre os versos,
Entre as sílabas, até se prender na língua e a língua
Correr ao longe para o comboio, à procura de uns lábios,
De alguém que já aqui esteve no passado, e agora se renova
Entre estas quatro paredes, assim de chofre no algodão
Das saias, na cintura das alças, no silêncio da roupa
Interior. Foi há muitos anos, incontáveis anos, tantos
Quantas as pessoas que circularam no comboio, e partiram
Para sempre na calada da noite, ou do crepúsculo, ou da manhã,
E agora aqui regressam, na presença do corpo, na sacralidade
Do centro, na perfeição da simetria, na apresentação obstinada
Do enigma, do supremo enigma de um tu em saias e ligas,
Em mãos depostas, em braços totalmente nus,
Reflectindo o eco longínquo do oferecimento, no modo como
Os ombros se ajustam à aproximação das mãos do verso,
Nessa insuspeita, assustadora harmonia. Cheira este odor
De hortelã-pimenta: são todos os fantasmas da casa que voltam,
Que me rodeiam, amáveis, na tua figura, pedindo tudo e nada.
Bebo um chá quente e contemplo-te, oh aparição perfeita,
Completa, disponível, formidável obra de amor fotográfico.
Um comboio atravessa ao longe o sulco do sangue. Lembras-te?
Fazia uma cruz, uma cruz sobre o território, e essa cruz
Reproduzia-se aqui dentro, do lado de cá da cal, nas paredes
E nos nossos corpos, marcava indelevelmente o centro.
Isso. Exactamente aí.
Quando a mão do poema te atravessava por debaixo nas saias,
E saía pela cabeça, esplendorosa, digna da soberania dos lábios:
Era (é) uma paragem:
Nunca daí saímos.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
A perdição e a Assírio & Alvim

quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Zeca Afonso por Viriato Teles

M.S.Lourenço e "O Caminho dos Pisões"

Gostaria de ir ao teu encontro,
Procurar-te na vila, entre as pessoas,
Ou debaixo da magnólia do jardim.
A cascata corre & tu sentas-te a ouvir
Ao acaso as folhas que o vento espalha.
No teu rosto já só vejo ar frio da serra,
As sombras dos que te abrem o caminho
Para que a cor do dia entre no jardim.
Faz com que a angústia nas palavras que usamos
Seja um bom presságio à nossa volta.
Tudo o que é divino é transitório,
Mas não o é em vão.
Nada Brahma, p.48 (livro incluído no O Caminho dos Pisões)
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Poesia reunida de António Osório

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Deixo 4 textos:
DESPOJOS
Amarras que se lançam ao fluxo das águas,
despojos, limos espraiados,
cabedelos que chegam e partem com o mar,
surgem os versos.
E tudo de roldão, angústia,
vida e morte, oculto movimento de plantas,
o equinócio do amor, que torna a noite igual ao dia,
a confiança, a luta, a respiração dos homens. (p.23)
***
ENTRAR contigo
dentro das searas
e depois
trigo
sairmos da terra. (p.139)
***
VEJO teus olhos,
queria me convertesses
nesta perseverança de cego
esmoler, à porta do Metro,
dedilhando o seu livro
de bilros, e que não explica
nem vislumbra
a pertinácia irredutível da vida. (p. 143)
***
As Lavadoras
Quase todas são negras, fugidas de Angola. Mulheres novas e raparigas, com fatos de oleado e botas de borracha. De dia e de noite, por turnos, lavam os carros na garagem. Contemplo-as: na sua cor e no seu exílio. Entregam-se àquele duro trabalho, e eu admiro o contacto feminino com a água, o apuro, um rigor efectivo – os carros ficam luminosos como crianças saídas do banho. Ou como versos perfeitamente limpos de toda a dor. (p. 420)
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Sérgio Luís de Carvalho lança novo romance
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Espaço Web de Camilo Pessanha

Que este novo sítio na Web seja, pois, um incentivo para se revisitar Camilo Pessanha, o «exilado da beleza».
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Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro – te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.
É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.
É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia! … Foi no entanto
Que chorámos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.
in Clepsidra, p.38, Biblioteca Ulisseia, 1987
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
«cem mil cigarros - Os Filmes de Pedro Costa».

O filme será objecto de uma reposição em cópia nova, no dia 24 de Setembro, em exclusivo no cinema UCI El Corte Inglés, em Lisboa, vinte anos depois da sua estreia mundial em Veneza.
As edições em DVD dos dois filmes são edições de coleccionador com várias horas de complementos e estarão à venda a partir do dia 1 de Outubro. O DVD de O SANGUE tem como extras: “Sangue antigo e sangue novo por João Bénard da Costa”, “Órfãos um comentário de Phillipe Azoury”, “Jeanne Balibar canta duas canções um filme de Pedro Costa”, “13 Fotografias de Paulo Nozolino”, “Fotografias de rodagem”, “Filmografia de Pedro Costa”, “Trailers” e “Capítulos”. ONDE JAZ O TEU SORRISO? tem como extras “Danièle Huillet, Jean Marie Straub, Cineastas – filme da colecção cinema de notre temps”, “6 Bagatelas – seis cenas inéditas montadas especialmente para esta edição”, “O Viandante e O Amolador – duas curtas-metragens inéditas de Danièle Huillet e Jean Marie Straub”, “Filmografias Pedro Costa, Danièle Huillet e Jean Marie Straub”.
Em Novembro, a Midas Filmes estreará ainda NE CHANGE RIEN, o último filme do realizador, antestreado na Quinzena dos Realizadores em Cannes. A estreia do filme contará com a presença da actriz Jeanne Balibar.
NE CHANGE RIEN foi também já apresentado na Filmoteca de Madrid, onde foi exibida uma retrospectiva completa do realizador, no Festival de Marselha, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim, e seguem-se apresentações em mais de vinte festivais em todo o mundo, entre os quais o Festival de Nova Iorque e a Tate Modern em Londres, onde em Setembro e Outubro será apresentada uma retrospectiva completa da obra de Costa e uma selecção de filmes que o inspiraram enquanto realizador.
domingo, 13 de setembro de 2009
Jorge de Sena voltou a casa

Os meus recortes fugindo para o Sul!
Velozes, tão velozes!
Ainda ontem desdobrados
e hoje azuis de corpo inteiro!...
e a sombra de olhar circundante,
num passo apressado e decidido,
e a minha forma entregue, aberta,
escancarada,
mas a barreira caída em falhas de sinais.
Eu não soube cortá-los pelo meio,
colá-los
nas páginas onde os sentiria com os meus dedos
- igual aos cegos diante de um livro para cegos,
porém sentindo mais e muito mais
e cego eu fosse aos livros de mim próprio!
Os meus recortes
fugindo para o Sul no carroussel:
amanhã, um dia, tornarão a passar,
tornarão a fugir…
E eu talvez então nem fale
- porque falei hoje.
25/8/1939
Há que deixar no mundo as ervas e a tristeza,
e ao lume de águas o rancor da vida.
Levar connosco mortos o desejo
e o senso de existir que penetrando
além dos lobos sob as águas fundas
hão-de ser verdes como a velha esperança
nos prados de amargura já floridos.
Deixar no mundo as árvores erguidas,
e da tremente carne as vãs cavernas
aos outros destinados e às montanhas
que a neve cobrirá de álgida ausência.
Levar connosco em ossos que resistam
não sabemos o quê de paz tranquila.
E ao lume de águas o rancor da vida.
Madrid, 4/9/1972
Obras de Jorge de Sena, Poesia-III, p.p. 207,208, edições70, 1989
sábado, 12 de setembro de 2009
Gonçalo M. Tavares elogiado em França

«Enumerar os ilustres autores aos quais é comparado depois de Saramago ter declarado ver nele um futuro prémio Nobel seria esmagador. Traduzido em cerca de trinta línguas, Tavares foi louvado pelos maiores (Lobo Antunes, Vila-Matas ). Se a referência Kafkiana e a herança Mittel Europa são os tópicos que ocorrem com mais frequência para qualificar o seu universo literário, ele surge mais amplamente considerado como a nova encarnação na categoria "grande escritor europeu". ».
Clicar na imagem para ler o texto da Livres Hebdo.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Prémio de Literatura Casa da América Latina / Banif para Helder Moura Pereira

A edição de 2009 do prémio que visou distinguir a melhor tradução literária de obras latino-americanas, publicadas em Portugal em 2007 e 2008, no valor de 7.500 euros, teve a unanimidade do júri. O Prémio será entregue dia 16 de Setembro, às 18:30, na CdAL.
sábado, 18 de julho de 2009
Grande Prémio de Poesia para Armando Silva Carvalho

O prémio, que foi anunciado no passado dia 7 de Julho, é um merecido galardão para o autor, um dos nomes mais originais e carismáticos da poesia portuguesa, à qual se dedica há mais de quarenta anos.
Partindo duma referência prosaica – o amante japonês é um carro de «origem japonesa» -, Armando Silva Carvalho produz um discurso metafórico sobre a escrita, celebrando-a como triunfo da máquina, exaltando-lhe a energia, a velocidade e a força mecânica até ao paroxismo, num excesso violento de sensações construído com recurso à ironia e sarcasmo, a fazer lembrar-nos Álvaro de Campos.
Além deste O Amante Japonês, a Assírio & Alvim tem editados outros títulos individuais do autor, em poesia e prosa, além do magnífico «O que foi passado a Limpo», título que reúne poesia de 1965 a 2005, editado no ano 2007.
E acelero.
Quero atravessar este país depressa
Antes da morte.
Já não oiço a luz mas só o sono
E travo
Contigo, com os teus freios cansados
E as tuas jantes tortas.
Sigo esta pista de silêncio
E arrabalde de velhos.
Arrastamos connosco a história cega
E acrobata deste tempo.
Chamo a tudo isto uma gincana
Nas traseiras da Europa
Já não viajamos, vamos em ponto morto
E a meta é ali
Desperta.
Soneto panorâmico
Do alto deste hotel de cinco estrelas
Lisboa não morreu. Nesta revista
até se fala em novas caravelas
e pra tamanho ardor tão curta a vista.
Dum lado o rio do outro o cimenteiro
nas suas sete quintas da marinha
em cima o céu de barro do barbeiro
em baixo o sol a fazer farinha.
Nos silos da mais sábia segurança
boémia estouvanada e bem ligeira
os anjos dão as mãos na contradança
da seringa mais nobre e derradeira
que existe a refulgir na lua mansa
à esquina onde se dorme a noite inteira.
in O Que Foi Passado a Limpo, Assirio & Alvim, 2007, p.451