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domingo, 28 de agosto de 2011

Hariemuj


                               
É sempre o fascínio dos livros e da sua edição. Enquanto uns deixam cair as suas editoras, outros enchem-se de coragem e iniciam a teia. Hariemuj é uma pequena e novíssima editora dirigida pela escritora Maria Quintans e pelo advogado Vítor Marques da Cruz. Na direcção de arte, a dupla conta com o paginador, designer e Arte-Finalista João Mota. Ver a página Aqui.

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O trabalho de equipa em prol da cultura não é novidade para Maria Quintans, que há muito nos habituou ao empenho e mérito dos seus gestos. Recordo que ela dirige, com João Concha e Ana Lacerda, a revista Inútil, projecto  experimental que une literatura, fotografia e ilustração. De periodicidade quadrimestral, e com três números temáticos  publicados até ao momento, a revista é um encontro de gerações de artistas, de estilos e sensibilidades diversas,  e tem dado visibilidade a novos autores, argumentos que lhe conferem um papel importante no débil e desapoiado panorama cultural português.


Em 2008, Maria Quintans publicou, pela Papiro, o pequeno grande livro de poesia Apoplexia da Ideia, que une as talentosas ilustrações de João Concha à sua escrita original, a um mesmo tempo delicada e enérgica, lúcida e encantatória, secreta e reveladora, características que se reconhecem no livro de prosa poética Chama-me Constança, publicado no final de 2010 pela editora Salamandra. Ambos os livros estão disponíveis no mercado.

A editora Hariemuj vai constar, a partir de agora nesta página, na coluna das editoras, à esquerda, onde estão também editoras já desaparecidas e que tiveram grande importância na divulgação do livro em Portugal; afinal, a história do livro faz-se de perdas e alentos.

domingo, 29 de maio de 2011

Albano Martins em italiano


Textos meus sobre Albano Martins, aqui.

domingo, 28 de março de 2010

Contagem Bang!

Eis o regresso da revista de literatura e fantástico, a Bang!  número 7.
Tempo da contagem decrescente para a apresentação.
Imperdíveis, o evento e a revista, podendo esta ser adquirida na página online da Saída de Emergência.


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terça-feira, 9 de março de 2010

Policial de Fernando Pessoa

Para ir. Impreterivelmente.


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Novo livro de Henrique Normando

Titula-se não acordes o gato e é o novíssimo livro de poesia de Henrique Normando. O lançamento está marcado para  o próximo dia 27 de Fevereiro, no Ateneu Comercial do Porto, pelas 16H30

(clicar na imagem para aumentar)

Este novo título de Henrique Normando (pseudónimo de Manuel H. Martins de Campos) segue-se ao Esfinges, primeiro livro de poesia do autor, publicado em Outubro de 2009. Formando de Mestre João Hogan e Maria Gabriel, Henrique Normando cria palavras com o olhar artístico, com a ductilidade das tintas; o resultado é uma poesia que investe no real, explorando-lhe os mais diversos sentidos, e, a partir dele, solta-se em movimentos e urdiduras  inesperadas, sempre à procura das novas potencialidades da palavra.
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«O conteúdo deve sobrepor-se à forma e ao estilo, pelo que a Poesia não deve reduzir-se a um mero jogo de palavras», defende H. Normando; uma asserção que rejubila leitores (e, no, caso, a crítica literária) cansados da poesia que se esvazia no burilado de formas, que se esforça na pungência do ornato.
não acordes o gato é, por tudo isto, um livro que nos acorda e desafia. Para seguir atentamente, e conferir. 

Poema do novo livro:

O Fenómeno da Luz
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.A luz dos teus olhos
É o enigma do comprimento de ondas e partículas
Que estranhamente se desprendem de forma descontínua
Até me transformarem num espectro
Que timidamente se aproxima
.
É a luz que me ofusca e me dissolve
No mar até à linha do horizonte
É a luz da lua receptiva
Que se reflecte no azul de forma esquiva
Como imagem entrecortada e derivante
.
É a luz agitada do amante que peca
E que não se propaga em linha recta
.
É o momento mágico
De um envolvimento de partículas
Que estão para além das leis da física
A luz revolvida pela maré que se prolonga
Num êxtase sublime em cada onda


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O regresso de Albert Cossery

A Antígona acabou de distribuir a sua prenda de Natal. Uma magnífica prenda. A editora divulgou as primeiras páginas do romance inacabado de Albert Cossery, por morte do autor, aos 94 anos, em Paris, em Junho de 2009, no hotel onde viveu mais de sessenta anos. De Albert Cossery, a Antígona tem publicados, e disponíveis: A Casa da Morte Certa, A Violência e o Escárnio, As Cores da Infâmia, Mandriões no Vale Fértil, Mendigos e Altivos, Os Homens Esquecidos de Deus, Uma Ambição no Deserto, Uma Conjura de Saltimbancos e , de Michel Mitrani, Conversas com Albert Cossery.




Uma época de filhos de cães

Mokhtar sentou-se na esplanada de um café de aspecto sórdido, mas cujo rádio difundia uma melodia da cantora mítica que lhe fazia lembrar Malika, a sua mãe, que não podia ouvir este lamento de um amor perdido sem que os olhos se lhe marejassem de lágrimas. A esta hora matinal, para além de um jovem adormecido sobre um banco, como um destroço rejeitado pela noite, o local proporcionava uma calma, sem dúvida precária, mas por agora propícia à reflexão. Evidentemente, não estava nas suas intenções reflectir de novo sobre a perenidade da estupidez humana, nem vituperar os lastimáveis dirigentes deste mundo, pois todos estes indivíduos se encontravam há muito esgotados e não eram merecedores de qualquer outra crítica mais aprofundada. Numa palavra, o que ele desejava de imediato era um recanto tranquilo onde pudesse recordar – antes que perdesse todo o sabor – o incidente burlesco que precipitara o seu despedimento do lugar de professor de uma escola de um bairro popular da cidade costeira, considerada histórica, a que chamam Alexandria. Tudo começara por uma discussão sem motivo aparente com o director do estabelecimento escolar, um homem pleno de ignorância e, ainda por cima, casado com uma mulher feia. Esta dupla particularidade tornava-o detestável e intolerante nas suas relações com as pessoas inteligentes e solteiras. Após algumas insinuações pérfidas acerca da concupiscência ligada ao celibato, este gerador de crianças degeneradas acusara-o de ter feito esquecer aos seus alunos, no espaço de alguns meses, o que eles haviam demorado muitos anos a aprender. Mokhtar, nada surpreendido com este elogio que considerava absolutamente merecido, não pôde resistir à tentação de dar uma estocada definitiva e global na hierarquia, mesmo que esta fosse de medíocre qualidade. Respondeu com um tom de comiseração, como se estivesse a dar os pêsames a um viúvo amargurado, que os seus alunos tinham mesmo assim aprendido uma coisa muito importante para o futuro: que o director desta escola era um burro, e que era preciso substituí-lo por um burro de verdade, certamente mais agradável de contemplar. Para qualquer espírito livre dos preconceitos seculares de sacralização do homem, era evidente que tratar um humano de burro constituía um insulto para o burro. Mas o director, incapaz de assimilar uma doutrina tão audaciosa, pôs-se a gritar que um louco estava a querer degolá-lo, atraindo com os seus berros uma matilha de salvadores benévolos que agarraram Mokhtar e o atiraram, com as imprecações habituais, para fora da escola.

A Mokhtar não desagradou esta expulsão brutal, que lhe conferia um estatuto de dissidente político e de mártir da liberdade de expressão, capaz de suscitar o interesse, para além dos mares, dos intelectuais dos ricos países democráticos. Estes bravos pensadores, adeptos de um humanismo sem fronteiras, tinham a faculdade de tornar célebre a pessoa mais insignificante do planeta, desde que esta tivesse sofrido alguns vexames ou alguns meses de prisão por parte de um governo qualificado, para a circunstância, de ditadura sangrenta. Esta ideia divertia-o como uma enorme brincadeira. Por um momento, entreteve-se com a perspectiva de um exílio dourado em terra estrangeira, solicitado e adulado por todas as cabeças pensantes do hemisfério ocidental. Tratava-se, e ele tinha consciência disso, de uma apoteose longínqua, e mesmo improvável, pela simples razão de que o género de dissidência de que era o genial inventor nada tinha em comum com uma oposição a qualquer governo. A Mokhtar todos os governos eram completamente indiferentes, fossem eles eleitos ou impostos pela força das armas, pois todos provinham do mesmo molde e eram compostos pelos mesmos malfeitores. Era, pois, estúpido querer derrubar um governo, para depois ficar diante de outro pior do que o anterior. E na obrigação de recomeçar indefinidamente esta comédia grotesca. Para Mokhtar, a única maneira de combater um regime político só podia conceber-se no humor e no escárnio, longe de toda a disciplina e das fadigas que qualquer revolução geralmente implica. Na verdade, tratava-se de conseguir uma distracção fora das normas e não uma prova debilitante para a saúde. O seu combate contra a ignomínia reinante não tornava necessário um grupo armado nem mesmo uma sigla que referisse a sua existência. Era um combate solitário, não uma congregação de massas ululantes, mas uma operação prazenteira de salvação da humanidade, sem lhe pedir a opinião e sem esperar uma autorização vinda do céu. Há muito tempo que Mokhtar decidira que o seu papel na vida seria o de dinamitar o pensamento universal e os seus miasmas fétidos que atulhavam há séculos o cérebro fraco dos miseráveis. Esmagadas e fragilizadas, as massas humanas ainda sobreviventes à superfície do Globo foram levadas a acreditar em tudo o que lhes conta uma propaganda que ofende em permanência a verdade. Afigurava-se-lhe com nitidez que o drama da injustiça social só desaparecerá no dia em que os pobres deixarem de crer nos valores eternos da civilização, um palmarés de mentiras deliberadas, programado para os manter para sempre na escravidão. Por exemplo, a honestidade. Os pobres estão convencidos de que a honestidade é a virtude fundamental que lhes vai salvar a alma das chamas do inferno, e esta crença condena-os a uma miséria endémica, enquanto os ricos, cujos antepassados inventaram a palavra, sem jamais terem acreditado nela, continuam a prosperar. É certo que esta análise, aparentemente pueril, da economia capitalista, não satisfará os espíritos sérios, inimigos implacáveis da verdade, porque o seu simplismo impede-os de parecer profundos. Três meses antes, quando se candidatou a este lugar de professor, Mokhtar não ambicionava de maneira nenhuma ser profundo em matéria de ensino. Professor era o emprego ideal para começar a pôr em prática a destruição do discurso pernicioso habitual em todos estes continentes, cuja tradicional impostura é proclamarem-se civilizados. Com efeito, a escola proporcionava-lhe uma ocasião magnífica para influenciar jovens alunos, mais dispostos à subversão do que os adultos anestesiados de longa data pelo vocabulário dominante. A indignação do director deu-lhe a certeza de ter sido bem sucedido, pelo menos em relação a uma parte ínfima da população, mas este magro resultado representava uma carga explosiva, manipulada por três dezenas de adolescentes dotados de uma consciência renovada, e que se preparavam para prodigalizar por todo o lado o seu novo saber. Mokhtar via este bando de alegres missionários crescer e disseminar-se por todos os países e, porque não, além-fronteiras em direcção às tristes cidades do Sul moribundo.

A visão deste futuro mirífico foi bruscamente perturbada pelos latidos de um cão que dava a impressão de ser de uma espécie rara, desconhecida no bairro. Havia nestes latidos uma notável dose de insolência e como que um desafio lançado contra sabe-se lá que raça maldita. Subjugado e seduzido por este desempenho, Mokhtar dispôs-se a procurar o animal com a intenção de o adoptar, caso ele tivesse fugido a um dono autoritário e mal-educado. A ideia de passear com um cão pela trela enchia-o já de júbilo como um ataque subtil ao mito insuportável da supremacia do homem. Pôs-se assim a inspeccionar a esplanada, mas, em vez de um encontro amigável com um membro eminente da raça canina, foi ofuscado por um esplendor de cores cambiantes sob os raios pálidos de um sol de Inverno, bruscamente surgido de entre as nuvens, como que para participar neste surpreendente espectáculo feérico. O responsável por esta intrusão excêntrica da moda, símbolo da modernidade, no cenário imundo da esplanada, era um jovem dos seus vinte anos, de físico atraente e porte aristocrático, sentado a uma mesa à entrada do café, e que exibia uma panóplia vestimentar de grande ousadia na escolha dos tecidos e das cores. Este jovem esteta envergara, para uma visita turística nestas paragens deserdadas, calças de linho branco, camisa de seda vermelha, bem aberta no peito, e casaco preto de caxemira, com um pequeno ramo de jasmim na botoeira. Para completar este traje magnificente e requintado, calçava sapatos de verniz, como os que usam os ministros e os proxenetas quando vão à ópera. Mas as originalidades deste enviado do diabo não se ficavam por aqui: estava a fumar um cigarro de haxixe, cujo fumo parado desenhava uma espécie de auréola sobre a sua cabeça.

Perante esta cena inusitada, Mokhtar aguardou calmamente o que se ia passar a seguir, estranhamente consciente de que este príncipe da elegância, perdido neste lugar, tinha para lhe transmitir uma mensagem da mais alta importância. Dir-se-ia que o portador da mensagem se apercebera desta expectativa e que estava pronto para lhe responder, pois, sem mais delongas, abandonou a sua pose descontraída, endireitou-se na cadeira, ergueu os olhos ao céu, e depois, com a determinação do cantor que entoa a ária que o celebrizou, pôs-se a ladrar com um tom implacável e obstinadamente sarcástico, parecendo assim exprimir a sua raiva para com os habitantes da casa em frente. Passado um momento, parou com os latidos e virou-se para Mokhtar, visivelmente satisfeito com a sua proeza.

Mokhtar aplaudiu discretamente para não acordar o homem adormecido no seu banco, único elemento de realidade tangível que o impedia de ficar alarmado. Sem qualquer dúvida, estes latidos continham um sentido oculto que ele tinha de decifrar o mais rapidamente possível, mas o imitador de cães furiosos não lhe deu tempo para isso ao desferir-lhe a seguinte frase insensata:

- Estava certo de que compreenderias.
- De onde vem essa certeza? – perguntou Mokhtar. – Gostaria muito de conhecer as razões dela.
O jovem pimpão, que se chamava Haydar, levantou-se para se ir sentar a uma mesa junto de Mokhtar e começou a falar com um tom fortemente caloroso, como se pretendesse cativar o seu interlocutor com vista a uma cumplicidade eterna.
- Passava por aqui, guiado apenas pelo acaso, quando te vi sentado, sozinho, neste café piolhoso. Mas, em vez da tristeza e do abatimento do solitário, pairava nos teus lábios um sorriso muito especial, o género de sorriso malicioso que é um desafio à infâmia universal. Sentias-te mais poderoso do que algum monarca jamais foi. Isto levou-me a pensar que tinha obtido a tua compreensão.

Tradução: Luís Leitão
Revisão: Carla da Silva Pereira

domingo, 22 de novembro de 2009

Escalpe de Amadeu Baptista

Cumplicidade da carne, «expressão do desejo», o centro do corpo, «inquietação na procura do corpo», saliva, esperma, «vício absoluto», paixão amorosa, «sortílegos caminhos», a solidão do amor e a luta contra as sombras que acossam o acto primordial da entrega. Nas livrarias, Escalpe, um poema longo de Amadeu Baptista, com imagens da arte de António Ferra e chancela da &etc .




Extracto:

Nos meus e nos teus rins se acumulam
segredos desusados,
o real é um cúmulo de árvores e areais
desoladores,
visões devastadoras do silêncio,
espaços inaudíveis a sitiar-nos os ombros.

Mas nós, sendo sagrados, ardemos tanto
que sopesamos os ritmos da memória e os da terra,
ainda volúveis,
ainda corça e gamo,
ainda mensageiros.

Assim adormecemos.

Assim velo o teu sono com o meu sono,
assim velas o meu sono com o teu sono.

E são os nossos sonhos sonhos lúbricos,
e fluis suavemente pelos meus lábios,
e fluo suavemente pelos teus lábios.
(p.p. 34,35)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Imperdível

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sábado, 14 de novembro de 2009

Vitor Oliveira Jorge com Electri-cidade em Lisboa

Depois da invicta, no passado dia 5 de Novembro, o arqueólogo, professor catedrático, ensaísta e poeta Vitor Oliveira Jorge vem a Lisboa lançar o seu mais recente livro de poesia: Electri-cidade tem a chancela das edições Colibri e será apresentado pelo poeta Casimiro de Brito, no próximo dia 17 de Novembro, pelas 19 horas, na Casa Fernando Pessoa.

Vitor Oliveira Jorge, nascido em Lisboa em 1948, mas radicado na cidade do Porto desde 1975, tem uma vasta obra publicada, tanto no domínio da Arqueologia como no da Poesia; trata-se de um olhar imenso pelos vestígios e enigmas do tempo e interpelação dos mistérios do canto lírico, em deflagração neste novo compêndio poético de 260 páginas.

Electri-cidade será, pois, um título para desvendar com o máximo interesse, porquanto talhado por um autor de diálogo interdisciplinar, que em 2001 foi distinguido com o grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito pelo conjunto do seu trabalho, outrossim pela sua actividade cívica em prol da defesa do património arqueológico português.


Ler o poema Falas, na página de Vitor Oliveira Jorge

Outro poema, agora do livro Casa das Máquinas:

Àqueles a quem foi cometida a tarefa
De decifrar o enigma do centro das casas,
A aparição no centro, o corpo pleno,
E o olhar:

Parai nesta suspensão, nesta descida do tecto,
Nesta subida do chão: ruído de tábuas no tempo,
Longe: um comboio deve ter atravessado a noite,
Ou o crepúsculo, ou a manhã: tanto faz, foi longe.

Parai neste corpo. Neste centro com lábios, e ombros,
E mãos dispostas de ambos os lados, enquanto
As madeiras estalam, os bichos invisíveis das madeiras
Se alimentam. Mas os lábios, mas o rosto, mas a presença
Impõe-se, como uma imperatriz: no centro, na casa,
Estirada de alto a baixo do texto. E eu aguardo.

Prolongo o enigma das alças, da roupa interior,
Do frémito que a presença enuncia, e no entanto
Não diz. Apenas vem ao centro, desce e sobe, entre
As paredes perenes do cubo, este enigma cinzento
E melancólico. Um comboio atravessa-se ao longe,
Cinde a consciência como um fluxo de sangue,
Como uma linha recta. Mas o corpo nada diz, apresenta-se.

E todo o enigma, a sua extraordinária presença,
Se vai esgueirando de verso para verso, entre os versos,
Entre as sílabas, até se prender na língua e a língua
Correr ao longe para o comboio, à procura de uns lábios,
De alguém que já aqui esteve no passado, e agora se renova

Entre estas quatro paredes, assim de chofre no algodão
Das saias, na cintura das alças, no silêncio da roupa
Interior. Foi há muitos anos, incontáveis anos, tantos
Quantas as pessoas que circularam no comboio, e partiram
Para sempre na calada da noite, ou do crepúsculo, ou da manhã,

E agora aqui regressam, na presença do corpo, na sacralidade
Do centro, na perfeição da simetria, na apresentação obstinada
Do enigma, do supremo enigma de um tu em saias e ligas,
Em mãos depostas, em braços totalmente nus,

Reflectindo o eco longínquo do oferecimento, no modo como
Os ombros se ajustam à aproximação das mãos do verso,
Nessa insuspeita, assustadora harmonia. Cheira este odor
De hortelã-pimenta: são todos os fantasmas da casa que voltam,
Que me rodeiam, amáveis, na tua figura, pedindo tudo e nada.

Bebo um chá quente e contemplo-te, oh aparição perfeita,
Completa, disponível, formidável obra de amor fotográfico.

Um comboio atravessa ao longe o sulco do sangue. Lembras-te?
Fazia uma cruz, uma cruz sobre o território, e essa cruz
Reproduzia-se aqui dentro, do lado de cá da cal, nas paredes
E nos nossos corpos, marcava indelevelmente o centro.

Isso. Exactamente aí.
Quando a mão do poema te atravessava por debaixo nas saias,
E saía pela cabeça, esplendorosa, digna da soberania dos lábios:

Era (é) uma paragem:
Nunca daí saímos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A perdição e a Assírio & Alvim



Pois é. A Assírio & Alvim não se cansa de nos desafiar para os jubilosos caminhos da perdição. No Verão passado foi a Feira do Livro Manuseado, que a editora teve patente na sua livraria da Rua Passos Manuel, nº 67, onde os nossos únicos problemas foram resistir à visita e regressar com um carrego e um sorriso do mesmo quilate.


Agora, no coração do Chiado, na Rua do Carmo, e até 31 de Dezembro, o desafio é o que se segue :
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Livros mais baratos, livros esgotados, livros impossíveis de encontrar, livros de artista, livros de tiragem limitada, e ainda, postais, cartazes e outras surpresas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Zeca Afonso por Viriato Teles


Acabado de chegar às livrarias. Ver mais aqui
Lançamento no Museu da República e Resistência, no dia 17 de Novembro, às19h
Brevemente, o meu texto crítico
Zeca na literatura infantil: Zeca Afonso - Nome de Liberdade

M.S.Lourenço e "O Caminho dos Pisões"

É hoje o lançamento do O Caminho dos Pisões, obra reunida de M.S.Lourenço. E que fulgurante está a Assírio &Alvim na abertura do ano editorial.


Gostaria de ir ao teu encontro,
Procurar-te na vila, entre as pessoas,
Ou debaixo da magnólia do jardim.
A cascata corre & tu sentas-te a ouvir
Ao acaso as folhas que o vento espalha.
No teu rosto já só vejo ar frio da serra,
As sombras dos que te abrem o caminho
Para que a cor do dia entre no jardim.
Faz com que a angústia nas palavras que usamos
Seja um bom presságio à nossa volta.
Tudo o que é divino é transitório,
Mas não o é em vão.

Nada Brahma, p.48 (livro incluído no O Caminho dos Pisões)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poesia reunida de António Osório

Já está nas livrarias o majestoso A Luz Fraterna, que reúne a poesia de António Osório dos últimos 44 anos. São 653 páginas imperdíveis, num belo livro de capa dura, que a Assírio & Alvim dá agora à estampa. Ver aqui.
Além de prefaciado por Eugénio Lisboa, o compêndio compreende também uma entrevista de Ana Marques Gastão - que «revela o homem, na aproximação ao mistério, de uma escrita avessa à retórica» - feita a António Osório em 24 de Março de 2001.

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Deixo 4 textos:

DESPOJOS

Amarras que se lançam ao fluxo das águas,
despojos, limos espraiados,
cabedelos que chegam e partem com o mar,
surgem os versos.

E tudo de roldão, angústia,
vida e morte, oculto movimento de plantas,
o equinócio do amor, que torna a noite igual ao dia,
a confiança, a luta, a respiração dos homens. (p.23)

***
ENTRAR contigo
dentro das searas
e depois
trigo
sairmos da terra. (p.139)

***
VEJO teus olhos,
queria me convertesses
nesta perseverança de cego
esmoler, à porta do Metro,
dedilhando o seu livro
de bilros, e que não explica
nem vislumbra
a pertinácia irredutível da vida. (p. 143)

***
As Lavadoras

Quase todas são negras, fugidas de Angola. Mulheres novas e raparigas, com fatos de oleado e botas de borracha. De dia e de noite, por turnos, lavam os carros na garagem. Contemplo-as: na sua cor e no seu exílio. Entregam-se àquele duro trabalho, e eu admiro o contacto feminino com a água, o apuro, um rigor efectivo – os carros ficam luminosos como crianças saídas do banho. Ou como versos perfeitamente limpos de toda a dor. (p. 420)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sérgio Luís de Carvalho lança novo romance

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O Destino do Capitão Blanc é o título do novo romance histórico de Sérgio Luís de Carvalho, com a chancela da Planeta. O lançamento está marcado para a tarde do próximo sábado, dia 10, na Fnac do Chiado, com apresentação de Miguel Real.

Sempre na peugada da Memória, Sérgio Luís de Carvalho traz-nos «os destinos» de um capitão do exército português, nos três últimos meses da Primeira Guerra Mundial, de 7 de Agosto a 27 de Novembro de 1918. Luís Guilherme d’Orey Sarmento Blanc, «solteiro, 29 anos, filho do cidadão belga Guillaume Blanc e da senhora portuguesa D. Maria Amélia d’Orey Sarmento», «instrutor na Escola de Guerra e colunista do jornal “A Situação”… (periódico afecto ao governo sidonista e ao Partido Nacional Republicano)», lê-se no Prólogo, é a personagem que incentiva a escrita no jogo da realidade e ficção que ilumina um passado de sombras da Primeira República e da Primeira Grande Guerra.

À semelhança de anteriores títulos do escritor, trarei brevemente a minha leitura crítica desta novíssima obra. Ver textos sobre O Retábulo de Genebra e Os Peregrinos Sem Fé.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Espaço Web de Camilo Pessanha

A Biblioteca Nacional (BN) fez ontem a apresentação pública do sítio Web de Camilo Pessanha. Representante do simbolismo português, o autor deu-nos, num só livro, Clepsidra, uma poética de símbolo, sugestão e música, construídas com ânsia, abulia e sentido de diluição, de inutilidade da vida.
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Fernando Pessoa considerou-o seu mestre; António Ferro disse, sobre Clepsidra: «a nossa geração tem um missal. Saiu o livro de Camilo Pessanha. A alma de todos nós, desnorteada, tem, enfim, um relógio». Com efeito, o título Clepsidra funciona como símbolo de uma poesia de símbolos: se no grego significa relógio de água, a terminação –idra remete para hidra, mitológico monstro marinho, serpente de inúmeras cabeças que nascem e se desenvolvem à medida que são cortadas, símbolo da impotência humana perante os obstáculos, manifesto sobre a fragilidade da condição humana.
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Que este novo sítio na Web seja, pois, um incentivo para se revisitar Camilo Pessanha, o «exilado da beleza».
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Um poema:
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Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro – te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia! … Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

in Clepsidra, p.38, Biblioteca Ulisseia, 1987

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

«cem mil cigarros - Os Filmes de Pedro Costa».

«cem mil cigarros – OS FILMES DE PEDRO COSTA» é o próximo lançamento das edições Orfeu Negro. Coordenada por Ricardo Matos Cabo, a monografia tem mais de 300 páginas com textos de 28 críticos, ensaístas, realizadores e artistas de todo o mundo. O lançamento está marcado para 22 de Setembro, terça-feira, na Cinemateca Portuguesa, às 19h30.
Serão também apresentados os lançamentos da Midas Filmes da edição em DVD do primeiro filme de Pedro Costa, O SANGUE, a partir de um novo master digital de alta definição 2K, com restauro digital de imagem e som, e da reedição em DVD de ONDE JAZ O TEU SORRISO? Às 21h30, segue-se uma sessão de O SANGUE na sala Dr. Félix Ribeiro, com a presença do realizador.

O filme será objecto de uma reposição em cópia nova, no dia 24 de Setembro, em exclusivo no cinema UCI El Corte Inglés, em Lisboa, vinte anos depois da sua estreia mundial em Veneza.

As edições em DVD dos dois filmes são edições de coleccionador com várias horas de complementos e estarão à venda a partir do dia 1 de Outubro. O DVD de O SANGUE tem como extras: “Sangue antigo e sangue novo por João Bénard da Costa”, “Órfãos um comentário de Phillipe Azoury”, “Jeanne Balibar canta duas canções um filme de Pedro Costa”, “13 Fotografias de Paulo Nozolino”, “Fotografias de rodagem”, “Filmografia de Pedro Costa”, “Trailers” e “Capítulos”. ONDE JAZ O TEU SORRISO? tem como extras “Danièle Huillet, Jean Marie Straub, Cineastas – filme da colecção cinema de notre temps”, “6 Bagatelas – seis cenas inéditas montadas especialmente para esta edição”, “O Viandante e O Amolador – duas curtas-metragens inéditas de Danièle Huillet e Jean Marie Straub”, “Filmografias Pedro Costa, Danièle Huillet e Jean Marie Straub”.

Em Novembro, a Midas Filmes estreará ainda NE CHANGE RIEN, o último filme do realizador, antestreado na Quinzena dos Realizadores em Cannes. A estreia do filme contará com a presença da actriz Jeanne Balibar.

NE CHANGE RIEN foi também já apresentado na Filmoteca de Madrid, onde foi exibida uma retrospectiva completa do realizador, no Festival de Marselha, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim, e seguem-se apresentações em mais de vinte festivais em todo o mundo, entre os quais o Festival de Nova Iorque e a Tate Modern em Londres, onde em Setembro e Outubro será apresentada uma retrospectiva completa da obra de Costa e uma selecção de filmes que o inspiraram enquanto realizador.
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(conforme nota da Orfeu Negro)

domingo, 13 de setembro de 2009

Jorge de Sena voltou a casa

Cumpriu-se o que tinha de se cumprir: JORGE de SENA voltou a casa. Dia 11 de Setembro, na Basílica da Estrela, fez-se a Homenagem de trasladação dos seus restos mortais. Agora há que recuperar a sua obra literária, pois recuperá-la é recuperarmos parte de nós, portugueses.

Fique a página da Fundação José Saramago para o percurso biográfico e bibliográfico de Jorge de Sena, percurso que se confunde com o da nossa história.


Dois poemas de Jorge de Sena:

Recortes

Os meus recortes fugindo para o Sul!
Velozes, tão velozes!
Ainda ontem desdobrados
e hoje azuis de corpo inteiro!...
e a sombra de olhar circundante,
num passo apressado e decidido,
e a minha forma entregue, aberta,
escancarada,
mas a barreira caída em falhas de sinais.

Eu não soube cortá-los pelo meio,
colá-los
nas páginas onde os sentiria com os meus dedos
- igual aos cegos diante de um livro para cegos,
porém sentindo mais e muito mais
e cego eu fosse aos livros de mim próprio!

Os meus recortes
fugindo para o Sul no carroussel:
amanhã, um dia, tornarão a passar,
tornarão a fugir…

E eu talvez então nem fale
- porque falei hoje.

25/8/1939

Obras de Jorge de Sena, Poesia-I p.p. 47, 48, edições70

Madrugada

Há que deixar no mundo as ervas e a tristeza,
e ao lume de águas o rancor da vida.
Levar connosco mortos o desejo
e o senso de existir que penetrando
além dos lobos sob as águas fundas
hão-de ser verdes como a velha esperança
nos prados de amargura já floridos.

Deixar no mundo as árvores erguidas,
e da tremente carne as vãs cavernas
aos outros destinados e às montanhas
que a neve cobrirá de álgida ausência.
Levar connosco em ossos que resistam
não sabemos o quê de paz tranquila.

E ao lume de águas o rancor da vida.


Madrid, 4/9/1972

Obras de Jorge de Sena, Poesia-III, p.p. 207,208, edições70, 1989

sábado, 12 de setembro de 2009

Gonçalo M. Tavares elogiado em França

Segundo divulgado pela Caminho, O Senhor Calvino e O Senhor Kraus de Gonçalo M. Tavares acabaram de ser publicados em França pela editora Viviane Hamy, e arrancam aplausos da crítica na secção Avant-Portrait da revista francesa Livres Hebdo. Véronique Rossignol, que assina o texto crítico, refere-se a O Bairro como "a sua biblioteca ideal concebida como uma cidade ideal que ele povoa pouco a pouco com senhores, artistas queridos do seu panteão, aos quais consagra pequenos livros impossíveis de catalogar".
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Cita-se Alberto Manguel, que escreveu um texto para servir de posfácio à edição francesa de O Senhor Kraus (o posfácio que acompanha o Sr. Calvino é da autoria de Jacques Roubaud), e no qual o conhecido escritor argentino afirma: "O Kraus que Tavares instala no Bairro é um Kraus paralelo, reinventado para o nosso espaço e o nosso tempo."
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Sobre a obra de Gonçalo M. Tavares, a anteceder duas referências a Jerusalém e Aprender a Rezar na Era da Técnica, afirma-se:

«Enumerar os ilustres autores aos quais é comparado depois de Saramago ter declarado ver nele um futuro prémio Nobel seria esmagador. Traduzido em cerca de trinta línguas, Tavares foi louvado pelos maiores (Lobo Antunes, Vila-Matas ). Se a referência Kafkiana e a herança Mittel Europa são os tópicos que ocorrem com mais frequência para qualificar o seu universo literário, ele surge mais amplamente considerado como a nova encarnação na categoria "grande escritor europeu". ».
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Clicar na imagem para ler o texto da Livres Hebdo.
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Ver na Etiqueta os textos sobre Gonçalo M. Tavares.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Prémio de Literatura Casa da América Latina / Banif para Helder Moura Pereira


Hélder Moura Pereira venceu o Prémio de Literatura Casa da América Latina (CdAL) / Banco Internacional do Funchal (Banif), pela tradução do romance O Inútil da Família, do autor chileno Jorge Edwards. O romance foi editado pela Assírio & Alvim, em 2008.

A edição de 2009 do prémio que visou distinguir a melhor tradução literária de obras latino-americanas, publicadas em Portugal em 2007 e 2008, no valor de 7.500 euros, teve a unanimidade do júri. O Prémio será entregue dia 16 de Setembro, às 18:30, na CdAL.
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É, pois, mais um Prémio para a prestigiada Assírio & Alvim e para Helder Moura Pereira; recorde-se que o autor, enquanto poeta, venceu o Prémio Pen Clube 2008 de Poesia com a obra Segredos do Reino Animal, editada em 2007, também pela Assírio.

sábado, 18 de julho de 2009

Grande Prémio de Poesia para Armando Silva Carvalho

O poeta e ficcionista Armando Silva Carvalho venceu por unanimidade o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT- 2008, com a colectânea poética O Amante Japonês, editado pela Assírio & Alvim.

O prémio, que foi anunciado no passado dia 7 de Julho, é um merecido galardão para o autor, um dos nomes mais originais e carismáticos da poesia portuguesa, à qual se dedica há mais de quarenta anos.

Partindo duma referência prosaica – o amante japonês é um carro de «origem japonesa» -, Armando Silva Carvalho produz um discurso metafórico sobre a escrita, celebrando-a como triunfo da máquina, exaltando-lhe a energia, a velocidade e a força mecânica até ao paroxismo, num excesso violento de sensações construído com recurso à ironia e sarcasmo, a fazer lembrar-nos Álvaro de Campos.

Além deste O Amante Japonês, a Assírio & Alvim tem editados outros títulos individuais do autor, em poesia e prosa, além do magnífico «O que foi passado a Limpo», título que reúne poesia de 1965 a 2005, editado no ano 2007.
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Dois Poemas:
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Já não vejo o som mas só a lama
E acelero.

Quero atravessar este país depressa
Antes da morte.

Já não oiço a luz mas só o sono
E travo

Contigo, com os teus freios cansados
E as tuas jantes tortas.

Sigo esta pista de silêncio
E arrabalde de velhos.

Arrastamos connosco a história cega
E acrobata deste tempo.

Chamo a tudo isto uma gincana
Nas traseiras da Europa

Já não viajamos, vamos em ponto morto
E a meta é ali

Desperta
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in O Amante Japonês, p.36
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Soneto panorâmico

Do alto deste hotel de cinco estrelas
Lisboa não morreu. Nesta revista
até se fala em novas caravelas
e pra tamanho ardor tão curta a vista.

Dum lado o rio do outro o cimenteiro
nas suas sete quintas da marinha
em cima o céu de barro do barbeiro
em baixo o sol a fazer farinha.

Nos silos da mais sábia segurança
boémia estouvanada e bem ligeira
os anjos dão as mãos na contradança

da seringa mais nobre e derradeira
que existe a refulgir na lua mansa
à esquina onde se dorme a noite inteira.

in O Que Foi Passado a Limpo, Assirio & Alvim, 2007, p.451