Recentemente, pedi atenção para o nome de Paulo Assim. Não por causa dos prémios que o autor tem vindo a receber, mas pela natureza da sua poesia limpa, com depuração e segurança raras, impressa no pequeno grande livro Celulose, livro que deu ao autor o Prémio Nacional de Poesia de Vila de Fânzeres 2010.
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Agora, Paulo Assim recebe o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2011, com o livro Retrato a Sépia, sobre o qual diz Pedro Tamen:
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«Li-o com toda a atenção e constituiu para mim uma grata surpresa. O autor demonstra um à-vontade no tratamento das palavras e um amor por elas que para mim são indiscutíveis marcas de um poeta a sério. Por outro lado, o livro revela uma unidade temática sem falhas que o torna particularmente aliciante. E acresce (excelente coincidência) que o espírito deste "Retrato a Sépia" não anda longe da natural simplicidade da obra do Poeta a que o prémio presta homenagem.».
Esperando que Retrato a Sépia chegue rapidamente ao mercado, deixo duas estrofes que lhe desvendam o interior, gentilmente cedidas por Paulo Assim:
O ar quente e quieto da tarde
era uma porta.
Vindo de além, o cuco
batia com as nozes dos dedos
nessa invisibilidade que não abria nem fechava
para nos anunciar a dureza do estio.
Trazia-nos as más notícias de África
ou, como nós, roubaria algures mais um ninho,
o cuco, invisível pássaro.
E as amoras tinham
o sabor da aventura.
A língua roxa soletrava
outras palavras, talvez paixão ou mesmo já amor,
e as mãos com riscos de sangue
pedindo que incendiássemos
a tarde das cigarras.
*Ver AQUI texto meu sobre o Celulose
2 comentários:
Como sou distraído!...
Ainda não tinha visto este post.
Obrigado, Teresa.
:)
... coisa de poetas, Paulo :))
Beijinho.
T.
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