Fotógrafo amador, que ocupa as horas vagas com a arte do olhar, José Rodrigues surge-nos finalmente em livro e exposição: .a des.crever esta língua que me é mar: , com chancela da Câmara Municipal de Cascais, será apresentado no dia 30 de Agosto, às 18 horas, no Centro de Interpretação Ambiental, situado no majestoso lugar da Ponta do Sal, em São Pedro do Estoril; as 53 fotografias são acompanhadas por textos de Isabel Mendes Ferreira e prefácio de José Pires F.
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No ensejo do lançamento, outro aplauso: é inaugurada a exposição Marés, organizada pela Agência Cascais Atlântico. A exposição ficará patente até ao dia 22 de Setembro, com fotos em loop contínuo, em painéis electrostáticos, e outras reproduzidas em painéis suspensos (conforme maquete da exposição, em baixo, imagem gentilmente cedida por José Rodrigues).
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São deste esmalte /os olhos de Afrodite. É deste /mar e deste céu /a carne palpitante/ da beleza, escreveu o poeta Albano Martins no poema Golfo Sarónico. É a carne palpitante da beleza que José Rodrigues fabrica na sua câmara escura, uma carne poética, depurada, de beleza avassaladora.
No impulso criador, está a luz. É pela luz que o fotógrafo calcorreia a orla marítima, e é com ela que decanta a realidade. Perseguindo-a, o fotógrafo posiciona-se muitas vezes rente aos elementos procurando-lhes a essência que a luz lhes dá, as formas que ele há-de perscrutar, interpretar e registar com o olho da objectiva prenhe de subjectividade: os labores de água, luz e vento, linhas sinuosas, símbolos quase hieroglíficos, figuras de uma mágica encenação, tudo enigmas escritos a sal no silêncio da areia.
É uma luz transgressora que confere tridimensionalidade à superfície plana dos fotogramas, tira densidade ao real, dissolve-o numa aproximação ao surreal, em aventura pelo domínio do maravilhoso e do sonho. E a dureza da pedra surge-nos com a leveza do ar, a luz abre fendas nas rochas à procura de sentidos, o mar prateado extasia-se na areia ou, exausto, entrega-se-lhe como sangue de sacrifício.
É a luz que esculpe planos gerais e grandes planos ora com dinamismo abrupto e inesperado, ora com placidez e quietude místicas, mas sempre em discursos sobre o efémero e o transitório. É, ainda, o discurso da espera de José Rodrigues na sua paciente missão de topógrafo dos diálogos íntimos e secretos.
Enquanto se espera pelo livro e pela exposição, temos ao nosso dispor as duas páginas de José Rodrigues, onde corre o deslumbramento:
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