O tempo é de celebração. Luísa Freire está agora ainda mais perto de nós. A sua poesia clara, feita de palavras «redondas», «coloridas» e «suculentas» tocadas pelo vento e esmeriladas na água do tempo, surge em 335 páginas da antologia O Tempo de Perfil; com a exposição de pintura da autora, a Assírio & Alvim dá-nos dois testemunhos do esplendor de Luísa Freire.
A antologia abarca poesia de 1980 a 2005, compreende 11 títulos inéditos e 5 já publicados, sendo estes: Verde-Nunca, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985; Searas de Tempo, Digo Tu e Memórias da Cal, reunidos em Ciclo da Cal, Porto, Campo das Letras, 2003; Imagens Acidentais (juntamente com Imagens Orientais), Lisboa, Assírio & Alvim, 2003.
Vê como a boca é triste
quando sorri a distância;
quando o inverno das asas
já atravessa os espaços e
cava na terra a sombra de uma
ausência.
Prova difícil é crermos no azul.
In O Tempo de Perfil, p.186
Nomear Luísa Freire é também chamarmos o seu trabalho de apresentação e tradução dos dois volumes de O Japão no Feminino: Tanka – séculos IX a XI e Haiku – séculos XVII a XX, editados pela Assírio & Alvim em 2007 e que estão disponíveis no mercado. É esta também uma poesia mágica, porquanto desagua na língua portuguesa pela tradução que só poderia ser de uma poeta.
Pergunto se o vento
irá abrir algum trilho
na erva do meu jardim
para que alguém possa vir
ainda hoje visitar-me.
in Tanka, p.51
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Como uma mulher
que desmaia, o lótus branco
caiu por inteiro.
in Haiku, p.97
4 comentários:
É verdade, nem me lembrava que a Luísa Freire apresentou e traduziu a poesia japonesa contida nesses belíssimos livros [que adquiri durante a passada feira de Natal da Assírio] o que me leva a pensar que essa Antologia é mesmo imperdível.
Abraço
É imperdível, sim senhor, C..
Tem outro texto de «O Tempo de Perfil», no Adágio.
Abraço
T.
... outro texto de «o Tempo de Perfil» e não só, sendo que no caso do Adágio é o conjunto que é imperdível... :-)
Abraço
eheh :)))))))
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