Depois da colectânea de 69 Poemas de Amor, editada em 2008 pela 4Águas, Casimiro de Brito acaba de publicar Amo agora, escrito em parceria com Marina Cedro, pela mesma editora algarvia. Desta vez, o poeta, ficcionista e ensaísta investe num diálogo sensual e erótico com a compositora e cantora argentina, e o resultado são 106 páginas que falam do interdito e prescrevem a transgressão, um hino à escrita capaz de inventar e cantar «a voz da fonte muda», o enigma do desejo no grito libertário da palavra.
São variações musicais do amor, ou da sua invocação, num diálogo envolvente e provocante, em vários passos com sexualidade explícita, mas ganhando, sobretudo, na alusão, sugestão e no jogo sedutor da imaginação. A ligação à memória possibilita recolher emoções vividas na intimidade partilhada ou no vazio das ausências do objecto amado, permitindo um enredo emocional com fácil comprometimento do leitor:
(…) Silenciosa /escucho /tú voz (p.8)
(…) Ouço a tua voz /ao nascer do dia /e vejo brilhar /nas árvores que murmuram /um canto antigo /um ardor orvalhado /cristalino /acabado de nascer (p.9)
Bem organizados, inscrevendo-se nas páginas de números ímpares os poemas de Casimiro de Brito, e nas páginas pares, em castelhano, os poemas de Marina Cedro, os textos estão dispostos em gradação, como o ritmo do desejo à procura do corpo desejado, para nele e com ele se fundir, ritmo a traduzir, também, a perseguição do mistério e a vontade, ainda que gorada, de o deslindar:
(...) te coso a mi corazón para /tender entre tú y yo /una distancia /que no me duela tanto /y se me parte el pecho /de tanto amor (p.100)
(...) És fonte fechada /ó irmã /nascente selada /ó esposa mais bela /que mil rios /mais secreta /que mil fontes (p.101)
(...) te coso a mi corazón para /tender entre tú y yo /una distancia /que no me duela tanto /y se me parte el pecho /de tanto amor (p.100)
(...) És fonte fechada /ó irmã /nascente selada /ó esposa mais bela /que mil rios /mais secreta /que mil fontes (p.101)
Doblegué /mis entrañas /a tu cuerpo /para hacerme /víscera de tu sentir /y encarnarme en /tu sexo (...) p.102
(...) os nossos sexos voam /um dentro do outro // Inventam /um jardim das delícias /comum // Apenas /te peço /que me deixes morrer /em paz /dentro /de ti. p.103
Curioso é, ainda, não haver distinção psicológica entre homem e mulher, nem supremacia de um dos sexos, mas sim equivalência, na linguagem erótica e na comunhão da sede de beber da mesma seiva: o prazer original numa aventura por todos os sentidos e em liberdade vocabular.
Ver uma boa parte de poemas deste Amo Agora, na página de Casimiro de Brito, bem como informações sobre Marina Cedro.
Nota final: com agradecimentos ao autor, que me enviou pronta e generosamente os seus livros, possibilitando-me apresentá-los aos leitores, recordo que Casimiro de Brito lançou também há pouco o belo e importante En la vía del maestro – Un viaje con Laozi. Ver outras ligações para a escrita de Casimiro de Brito, na etiqueta com o seu nome.
© Teresa Sá Couto
2 comentários:
já fiquei com água na boca!
es este ano? enccontramo-nos nas correntes?
csd
o que me tenho lembrado do nosso projecto imbatível das "correntes d'escritas"... mas quando te contar os trabalhos que tenho...já te envio mail
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