
São mulheres que se exaurem na banalidade rotineira dos gestos, por isso gestos secos continuamente a fechar cortinas, que choram por dentro, que olham para “as costas da felicidade” e para o chão, sem capacidade de joeirar sonhos. Por isso, Helena fica a “quatro passos da janela” e Rosário cruza o xaile de renda, envolvendo-se na teia ímpia, e urdida com esmero, do destino, e todas afogadas na solidão, cumprindo o seu “papel de espectro patético”.
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No seu claustro de silêncio, fechadas no lamento do fado, algumas das mulheres estioladas no abafar da frustração, aninhadas no luto da saudade, têm na maternidade o único sentido das suas vidas, dito assim sobre Irene:
outra agulha. Outra barriga cheia. Outra vez que não conseguira fugir ao corpo que a puxava a meio da noite. Mas dessa vez, escondera os vómitos no abafar da água da torneira aberta e a barriga que logo se fez saliente, na cinta apertada. Até ser tarde demais para que fosse de novo. E a mesma parteira que lhe desmanchou os filhos, agarrou-lhe as pernas para que ela parisse aquele. Que lhe saiu num grito imenso, prenhe de culpa, parido de alívio. (p.39, da primeira edição).
.Simples e despretensiosa, com vocabulário, concomitantemente, doce e cru, a expressão escrita veicula eficazmente a voz interior das mulheres, íntima e confessional, seguramente capaz de estabelecer diálogos de cumplicidades com leitores homens e mulheres.
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© Teresa Sá Couto
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