Quando se assinalam 50 anos do início da guerra do Ultramar, Nuno Dempster lança o poema longo K3, título que é o nome do aquartelamento na Guiné, onde o autor esteve como mobilizado entre 1968 e 1970 (ver na página de Nuno Dempster, AQUI).
Para já, garanto: são 63 páginas com a marca da escrita inconfundível do autor, que se lêem de um fôlego a pedir a releitura para o prazer demorado no texto. K3 sucede ao também poema longo Londres, editado no ano passado e, novamente, com a chancela das edições &etc. (Ver Aqui texto meu sobre o Londres)
Extracto do K3:
.
.
«[...]
O Sol clareia a falta de sentido
do rumo que levamos,
daí que eu não chegasse a ver no mar
sinal de deuses,
dos deuses que se lê terem andado ali,
.
só peixes-voadores,
alheios ao clamor dos afogados,
.
os deuses, se existissem, lembrariam
não haver quem alcance
quantos náufragos jazem sob as águas,
.
e nós
não queremos contá-los,
medir a maldição em estatísticas
do pensamento.
.
Que não venham à tona,
que se deixem estar no fundo do oceano,
os ossos branqueados pelo sal:
.
os esqueletos tendem
a ser esquecidos,
a ser uma abstracção marítima,
.
a vida bastaria para os ignorar,
se o estrondo, uma nuvem, a vista cega,
trinta serpentes de aço a cuspir veneno
em sucessivas lâminas de fogo
não fossem evidências de naufrágio. [...] p.p.12,13
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