Titula-se Oração Fria e é a primeira antologia traduzida em língua portuguesa do poeta castelhano Antonio Gamoneda. Acompanhada pelo próprio poeta, a edição, bilingue, tem introdução, tradução e posfácio de João Moita. Um livro indispensável para quem não vive sem poesia.
Depois de Livro Do Frio, considerado por muitos a melhor obra de Gamoneda, também editado pela Assírio&Alvim, em 1998, com tradução e Nota de José Bento, o novíssimo Oração Fria possibita-nos uma panorâmica da obra de António Gamoneda; «segue a ordenação e a fixação dos textos de Esta Luz – Poesía Reunida (1947-2004), livro publicado em Espanha em 2004 pela Galaxia Gutenberg, com organização do próprio poeta. Foram ainda incluídos cinco poemas do seu último livro, Canción Errónea, publicado em 2012 pela editora Tusquets.», esclarece João Moita.
Nascido em Oviedo a 30 de Maio de 1931, Antonio Gamoneda é uma das vozes mais ilustres da poesia contemporânea. Uma voz artisticamente poderosa, num mesmo hausto, atormentada e crua, canto de errância e cansaço, denunciadora desta "idade do ferro na garganta", idade de perdas de identidade, de desvanecimento de causas e sonhos; uma voz que ouve o "cego rouxinol" e que, como ele, cria no seu cantar "luz entre a ramagem obscura": "Justifico-me na dor. Não há nada; / não encontro nos meus ossos a cobardia. /Em meu canto inverte-se a agonia; / é um caso de luz incorporada.".
É um homem. Vai pelo campo.
Escuta o seu coração, como bate,
e, de repente, o homem detém-se
e põe-se a chorar sobre a terra.
Juventude da dor. Cresce a seiva
verde e amarga da primavera.
Para o ocaso vai. Um pássaro
triste canta entre os ramos negros.
Já o homem apenas chora. Intriga-se
com o sabor a morto da sua língua. (p.27)
***
Calo-me, espero
até que a minha paixão
e a minha poesia e a minha esperança
sejam como aquela que anda pela rua;
até que possa ver com os olhos fechados
a dor que já vejo com os olhos abertos. (p.59)
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