Está nas livrarias o belíssimo volume Três momentos da poesia europeia (De Safo e Píndaro a Ungaretti e Salinas), com selecção, tradução e notas de Albano Martins, publicado pelas Edições Afrontamento. Recordo que o poeta português e tradutor de poetas recebeu, no passado dia 12 de Dezembro, o Grande Prémio de Tradução Literária 2011, da Associação Portuguesa de Tradutores /Sociedade Portuguesa de Autores, pela tradução da Antologia da Poesia Grega Clássica, também com a chancela da Afrontamento. Noto, ainda, que a tradução do Canto Geral, de Pablo Neruda, publicado pela extinta Campo das Letras, em 1998, deu a Albano Martins, em 1999, o Grande Prémio de Tradução A.P.T. /Pen Clube Português e, pela tradução de sete obras do poeta chileno, o governo do Chile conferiu-lhe, em 2004, a Ordem de Mérito Docente e Cultural Gabriela Mistral, no grau de Grande Oficial.
(na imagem, Albano Martins na sua mesa de trabalho, fotografado por mim em Agosto último)
Na presente antologia, coligem-se dez poetas gregos arcaicos (Arquíloco, Álcman, Mimnermo, Alceu, Safo, Íbico, Anacreonte, Teógnis, Simónides, Píndaro), dez poetas italianos contemporâneos (Umberto Saba, Dino Campana, Vincenzo Cardarelli, Giuseppe Ungaretti, Eugenio Montale, Salvatore Quasimodo, Raffaele Carrieri, Sandro Penna, Cesare Pavese, Antonia Pozzi) e cinco poetas da geração espanhola de 27 (Pedro Salinas, Jorge Guillén, Gerardo Diego, Rafael Alberti, Manuel Altolaguirre). No final do livro, encontramos notas biográficas e bibliográficas de cada um dos poetas.
três poemas:
Não entendo a luta dos ventos. Rola
uma onda daqui, outra dali. E nós,
no meio, somos arrasados
com a escura nau, duramente
sacudidos pelo forte temporal. Já a vasa
cobre o pé do mastro, toda
a vela é rasgada e dela
pendem enormes farrapos. Os cabos
cedem, e o leme...
Firmo os pés nas enxárcias
e apenas isso me mantém são e salvo ...
Alceu, p.17
***
Não sei onde as gaivotas fazem o ninho,
onde encontram a paz.
Sou como elas,
em perpétuo voo.
Raso a vida
Como elas rasam a água
em busca de alimento.
E amo, talvez como elas, o sossego,
o grande sossego marinho,
mas o meu destino é viver
faiscando na tempestade.
Vincenzo Cardarelli, p.77
***
Enganou-se a pomba.
Enganava-se.
Ia para norte, foi para sul.
Julgou que o trigo era água.
Enganava-se.
Julgou que o mar era o céu;
Enganava-se.
Ia para norte, foi para sul.
Julgou que o trigo era água.
Enganava-se.
Julgou que o mar era o céu;
a noite, a manhã.
Enganava-se.
Que as estrelas eram o orvalho;
o calor, a neve.
Enganava-se.
Que a tua saia era a tua blusa;
Enganava-se.
Que as estrelas eram o orvalho;
o calor, a neve.
Enganava-se.
Que a tua saia era a tua blusa;
o teu coração, a sua casa.
Enganava-se.
(Ela adormeceu na orla;
Tu, no alto de um ramo).
Enganava-se.
(Ela adormeceu na orla;
Tu, no alto de um ramo).
Rafael Alberti, p.159
Ver AQUI outras rubricas sobre Albano Martins.
1 comentário:
Que lindo este blog, Teresa! Se não for pedir muito, gostaria que fizesse o favor de me passar algum contacto do professor José Neves, um amigo de longa data do qual não tenho mais contacto por estar a viver em outro País. A Teresa tem algum blog/email ou qualquer outra página na internet referente ao José Neves? Saudações, Vasco Sodré.
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