sábado, 28 de fevereiro de 2009

A Arte maior de Nikias Skapinakis


Nikias Skapinakis – Uma pintura desalinhada é o título do magnífico álbum de luxo dedicado àquele nome maior das artes plásticas portuguesas, de ascendência grega, mas nascido em Lisboa em 1931, cidade onde vive e trabalha. Galardoado com o 1º prémio de Artes Plásticas do Casino da Póvoa de Varzim, em 2006, Nikias tem neste livro mais uma grande homenagem.

Nikias, que em 2004 foi também galardoado com Prémio Amadeu de Sousa Cardoso, disse que «o papel do pintor termina no quadro. O que acontece depois é do domínio das circunstâncias.». Dita a genialidade do pintor que a sua pintura desalinhada esteja esculpida nesta jóia editorial com a chancela da Campo das Letras.

«A pintura, quanto a mim, basta-se a si própria e exige uma espécie de dedicação apaixonada – senão, é melhor fazer outra coisa», disse Nikias Skapinakis numa entrevista ao JL. O presente livro – consequência do carácter democrático da Arte, que a retira do elitismo das Galerias –, contribui para iluminar aquela dedicação apaixonada; a abordagem crítica de Bernardo Pinto de Almeida, especialista em Teoria e História da Arte, possibilita-nos o enquadramento da vasta obra do pintor, um empenho de toda a vida, distribuído em dez capítulos: «Nikias, 55 anos depois», «O lirismo expressionista e a consciência da Modernidade», «Figuração versus para-figuração», «A segunda série para-figurativa: das paisagens de “Vale dos Reis” à expressão do desenho», «O ponto metafísico», «A contenção monocromática», «A apologia da cor: A série dos cartazes», «Retratos verdadeiros e falsos retratos», «O desenho» e «A recuperação dos grafitti e as “Cortinas Mirabolantes”.

Segue-se um último capítulo dedicado à Biografia e Bibliografia do artista, coligem-se alguns textos de intervenção de Nikias veiculados por diversas fontes jornalísticas e que constam do Catálogo da Exposição “Prospectiva” realizada no Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves. Inclui-se, ainda, uma entrevista ao pintor, supra referenciada, editada no Jornal de Letras (JL), em Setembro de 2005, altura em que foi distinguido com o Prémio Amadeu de Sousa Cardoso.

Retratos, reinvenção e metafísica

«Se bem me lembro, o que caracterizava o Estado Novo era o tédio. À parte aspectos pontuais, a tragédia veio depois e não terá ainda terminado. Mas eu tinha como ponto de honra não perder a alegria de viver, isto é, não consentir que ma roubassem.». José Gomes Ferreira resume talvez isso quando escreveu sobre mim: “amava os sabores do sistema e era anti-fascista”», disse Nikias em comentário a uma série de retratos da série melancólica, onde se inclui o «Tertúlia», de 1960 (na imagem à esquerda).

Se o pintor soube retratar como poucos esses sinais sociológicos caracteristicamente portugueses, a sua pintura assinala-se pelo constante movimento, numa estimulante invenção e reinvenção que o levou à procura de «um cada vez mais nítido domínio da cor», a penetrar noutras dimensões da linguagem e exploração cromática. Uma pintura não abstracta, mas sim metafísica cujo diálogo se encontra neste livro de partilha e que é, também, uma homenagem à Cultura Portuguesa.
Nikias Skapinakis – Uma pintura desalinhada, Bernardo Pinto de Almeida; Editora Campo das Letras e Casino da Póvoa; Porto, 2006

© Teresa Sá Couto

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