«Não há maneira de impedirmos pessoas sem escrúpulos de fazerem coisas más. Mas tem de haver uma maneira de as apanhar mais rapidamente – particularmente quando deixam tantas pistas», disse Rider, em 2003, sobre Jayson Blair, um jovem jornalista que durante anos cometeu fraudes informativas a partir do grande bastião do jornalismo mundial, o NYT, originando um escândalo inaudito nos EUA - e com ecos fora de portas –, seguindo-se um longo debate sobre o ofício de informar. Às vezes, o jornalismo também se torna notícia e «nem sempre pelas melhores razões». Este é o enfoque do livro «Casos em que o Jornalismo foi notícia» que colige textos de diversos autores para propor ao leitor a reflexão sobre se a crise do jornalismo é uma crise de morte, renovação ou crescimento.
Concebido e produzido no quadro das actividades do projecto Mediascópio, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, este novo livro da colecção Comunicação e Sociedade, com a chancela da Campo das Letras, é mais um trabalho de alto contributo para o actual debate sobre a diversidade, necessidade, credibilidade e qualidade da comunicação e dos media.
Concebido e produzido no quadro das actividades do projecto Mediascópio, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, este novo livro da colecção Comunicação e Sociedade, com a chancela da Campo das Letras, é mais um trabalho de alto contributo para o actual debate sobre a diversidade, necessidade, credibilidade e qualidade da comunicação e dos media.
O livro é organizado por Manuel Pinto (provedor do Leitor no Jornal de Notícias, onde também foi jornalista, director de cursos de mestrado em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, investigador e professor de Sociologia do Jornalismo e Educação para os Media) e Helena Sousa (Vice-Presidente do Instituto de Ciências Sociais e Vice-Presidente da Secção de Economia Política da International Association for Media and Communications Research, Professora Associada do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da mesma universidade), e inclui, ainda, textos de Manuel Pinto, Helena Sousa, Eduardo Cintra Torres, Joaquim Fidalgo, Hália Costa Santos, Madalena Oliveira, Sandra Marinho, Sara Moutinho, Felisbela Lopes e Luís António Santos.
Práticas em «derrapagem ética»
Grandes acontecimentos de «cunho trágico e traumático» amplificados e recriados pelo jornalismo (com artigos sobre o «11 de Setembro» e sobre a queda da Ponte de Entre os Rios), escândalos relacionados com práticas de informação (os casos de pedofilia na Casa Pia) e «processos extra-jornalisticos» que contaminam o espaço informativo (os reality shows) são os três tipos de situações, profusamente documentadas, que servem de metodologia à reflexão: práticas jornalísticas em «derrapagem ética» coabitam com o exercício profissional do jornalismo provando, por sua vez, que este é «cada vez mais relevante e necessário».
Joaquim Fidalgo, ao abordar o caso do escândalo no jornal NYT, transcreve o juízo contundente de Carey, pronunciado na altura (2003):«O fosso entre ideais professados e práticas encorajadas é precisamente aquilo que um sociopata explora. Essas personalidades são especialmente capazes de retirar vantagem da fraqueza e da vaidade de organizações e de indivíduos, de saber quem precisa de ser bajulado e de que modo, e que caminhos podem ser atalhados com segurança. Eles reconhecem o poder de um segredo bem guardado: a cultura do jornalismo professa lealdade à verdade, minúcia, contexto e sobriedade, mas de facto recompensa a proeminência, a “cacha”, o destacar-se da multidão e a narrativa capaz de fascinar. Os sociopatas acreditam que só estão a dar aos seus superiores aquilo que é secretamente desejado. (…) o número de jornalistas assim arrisca-se a ir aumentando, no mundo que estamos a criar. (…) Os sociopatas, em toda a sua anormalidade, dão-nos novamente lições sobre os mistérios mais recônditos do normal».
Segundo Joaquim Fidalgo, é «sob a capa do normal que se escondem, hoje, algumas das mais preocupantes anormalidades»: as «(a)normalidades» de jornalistas, do sistema mediático e da relação jornal-leitor. Ainda segundo o autor, este caso americano «suscita a reflexão sobre os limites, as fronteiras e as articulações entre a responsabilidade individual e a responsabilidade colectiva no que toca ao exercício concreto do jornalismo».
O livro dedica ainda espaço para a reflexão sobre o fenómeno dos blogues, «a mais utilizada das ferramentas de auto-edição» que se tem vindo a converter «numa das plataformas mais salientes de questionação do jornalismo, seja como espaço de debate, seja como terreno de escrutínio, seja ainda como ampliação da informação pública e respectivo comentário.» Por outro lado, referem os organizadores do livro, a blogosfera representa, «para os media “tradicionais”, uma nova e surpreendente fonte de sugestões e de informação», com os media e os próprios jornalistas a recorrerem, «em muitos casos, aos blogues para neles dar conta dos bastidores das notícias ou dar azo a um maior diálogo com os cidadãos.».
Casos em que o jornalismo foi notícia, organização de Manuel Pinto e Helena Sousa;
Editorial Campo das Letras, Porto, Abril 2007
© Teresa Sá Couto
1 comentário:
Às vezes, o jornalismo também se torna notícia e 'nem sempre pelas melhores razões'. Por este motivo, ligado ao debate sobre o ofício de informar, propondo a reflexão sobre se a crise do jornalismo é uma crise de morte, renovação ou crescimento, Manuel Pinto e Helena Sousa organizaram a obra "Casos em que o Jornalismo foi notícia". Nesta obra, segundo percebi, estão em causa as Práticas em 'derrapagem ética' ligadas ao corrente sensacionalismo e mediatização, que colocam a tónica na dúvida da ética do jornalismo. Principalmente pelo surgimento de patologias da sociedade que interferem na relação entre a a responsabilidade individual e a responsabilidade colectiva dos factos que constituem as notícias a ser divulgadas, o que é debatido na blogosfera, o que nos dá conta dos bastidores da notícia, ao invés da notícia em si.
Será isto, em suma, aquilo para que se pretende alertar?
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