Do azul enérgico do atlântico detenho-me em fulgurantes «Pontos Luminosos» e o “ouro sobre azul” faz ainda mais sentido. Trazida pela mão da Editorial Campo das Letras, a Antologia poética reúne poesias dos Açores e da Madeira com o intuito de, na sua especificidade, se lhe apreenderem pontos de contacto, numa comunicabilidade que se estende ao leitor.
Se todo o “homem é uma ilha”, e o desamparo é uma linguagem universal, esta poesia insular é um compêndio de experiências e subjectividades, contributo para o mundo. Curioso é o caso de Carlos Nogueira Fino, que nasceu em Évora, onde o horizonte é a planura larga da terra, foi para a Madeira em 1959 e lá apreendeu outra vastidão de isolamento: «havia sempre um cais no fim /de cada dia /…/um mar mesmo a teus pés até perder de vista /até perder-se o sol no seu naufrágio brando /até ser tudo sombra e tudo estremecer /…/e então ficavas quieta ficavas mais um pouco /até ser funda a mágoa /funda como o mar».
Se todo o “homem é uma ilha”, e o desamparo é uma linguagem universal, esta poesia insular é um compêndio de experiências e subjectividades, contributo para o mundo. Curioso é o caso de Carlos Nogueira Fino, que nasceu em Évora, onde o horizonte é a planura larga da terra, foi para a Madeira em 1959 e lá apreendeu outra vastidão de isolamento: «havia sempre um cais no fim /de cada dia /…/um mar mesmo a teus pés até perder de vista /até perder-se o sol no seu naufrágio brando /até ser tudo sombra e tudo estremecer /…/e então ficavas quieta ficavas mais um pouco /até ser funda a mágoa /funda como o mar».
A selecção de textos é da responsabilidade de Maria Aurora Carvalho Homem, da Madeira, e Urbano Bettencourt, dos Açores. A organização, posfácio e notas são de Diana Pimentel.
Os textos estão ordenados por ordem alfabética seguindo o apelido dos autores. No final da antologia encontram-se notas bibliográficas de todos os poetas contemplados, numa útil informação ao leitor. Na Nota de Leitura, a abrir a Antologia, Diana Pimentel lança o repto ao leitor para se envolver no diálogo que esta poesia desata: «esta leitura (auto-bibliográfica e hetero-bibliográfica) destina-se, clara, transparente, ao leitor: que (lendo, elegendo) inscreva a sua voz nesta paisagem transfigurada que desenha uma espécie de mapa invisível das ilhas comunicantes».
Os textos estão ordenados por ordem alfabética seguindo o apelido dos autores. No final da antologia encontram-se notas bibliográficas de todos os poetas contemplados, numa útil informação ao leitor. Na Nota de Leitura, a abrir a Antologia, Diana Pimentel lança o repto ao leitor para se envolver no diálogo que esta poesia desata: «esta leitura (auto-bibliográfica e hetero-bibliográfica) destina-se, clara, transparente, ao leitor: que (lendo, elegendo) inscreva a sua voz nesta paisagem transfigurada que desenha uma espécie de mapa invisível das ilhas comunicantes».
«O ofício das vagas»
Como um mapa desdobrado de sensibilidades insulares, a poesia coligida em «Pontos Luminosos» mostra que a mão sabe o pulsar do coração e desenha esse saber fundo com palavras translúcidas, marulhadas nas pedras salgadas e que são «o lastro de não ir». Vibrantes, as palavras surgem como emissárias desse silêncio branco como a espuma, feitas aves que abrem as asas e esperam que o vento as leve. Desse ofício assombroso da escrita dá-nos conta o madeirense José Agostinho Baptista, que recentemente venceu o Grande Prémio de Poesia Associação Portuguesa de Escritores/CTT com o livro "Esta voz é quase o vento", e é um dos contemplados na Antologia:
«Um porto é como uma seara plantada de mastros, /uma azáfama de gritos /…/O ofício das vagas, a minúcia das velas – /outro destino não queria: /empunhei o leme, recolho a ancora, bebo, escrevo – /…/ ainda que o digas não partirei – /conheço a nostalgia que vive para sempre no coração da /infância e dos barcos.».
Também Urbano Bettencourt “transfigura” pela palavra aquela paisagem, sinónimo de infinitude:
«Um porto é como uma seara plantada de mastros, /uma azáfama de gritos /…/O ofício das vagas, a minúcia das velas – /outro destino não queria: /empunhei o leme, recolho a ancora, bebo, escrevo – /…/ ainda que o digas não partirei – /conheço a nostalgia que vive para sempre no coração da /infância e dos barcos.».
Também Urbano Bettencourt “transfigura” pela palavra aquela paisagem, sinónimo de infinitude:
«aqui o homem ergue
uma ilha e olha
as palavras cercadas de sal
até onde o olhar se afoga».
A Terra Nova da emigração
Carlos Faria, que nasceu na Golegã, Ribatejo, mas radicou-se nos Açores, em «Telegrama para o Universo» aborda a questão da emigração:
Carlos Faria, que nasceu na Golegã, Ribatejo, mas radicou-se nos Açores, em «Telegrama para o Universo» aborda a questão da emigração:
«A ilha está em flor.
As asas têm as raízes no vento.
O mar é bom para regressar.
As nuvens movem-se
nas mãos da distância…».
Em «Fado», o autor mostra-nos de forma pungente essa condição de amar à distância: «Marinheiro perdido: avariadas /as bússolas só te resta o coração /e a derrota! /Marinheiro perdido: Não tens/outra Fortuna que salvar os Lusíadas /a nado! Marinheiro perdido: regressa /que é hora de voltar a partir /O longe português /é para lá do infinito /…/Ilha ou asa ou raiz? /O mar responde que é o coração /da viagem!»
No posfácio, Diana Pimentel refere que «entre as poéticas açoriana e madeirense aclara-se uma diferença ou tensão entre o fascínio e a repulsa face ao microcosmo simultaneamente individualizante e possessivo da Madeira e a abertura expansiva em direcção a um infinito inominável presente na poesia dos Açores.». Assim, refere, a presente edição de «Pontos Luminosos» pretende integrar e não isolar. Concordamos que esta poesia dá a ler “a construção da subjectividade» e a «experiência do espaço», e desvenda marcas psicológicas da portugalidade. Verdadeiras centelhas rutilantes que esperam nas prateleiras das livrarias o leitor que as saiba olhar.
Pontos Luminosos – Açores e Madeira – Antologia de Poesia do Século XX – Vários Autores, Editorial campo das letras, Porto, Abril 2006
Em «Fado», o autor mostra-nos de forma pungente essa condição de amar à distância: «Marinheiro perdido: avariadas /as bússolas só te resta o coração /e a derrota! /Marinheiro perdido: Não tens/outra Fortuna que salvar os Lusíadas /a nado! Marinheiro perdido: regressa /que é hora de voltar a partir /O longe português /é para lá do infinito /…/Ilha ou asa ou raiz? /O mar responde que é o coração /da viagem!»
No posfácio, Diana Pimentel refere que «entre as poéticas açoriana e madeirense aclara-se uma diferença ou tensão entre o fascínio e a repulsa face ao microcosmo simultaneamente individualizante e possessivo da Madeira e a abertura expansiva em direcção a um infinito inominável presente na poesia dos Açores.». Assim, refere, a presente edição de «Pontos Luminosos» pretende integrar e não isolar. Concordamos que esta poesia dá a ler “a construção da subjectividade» e a «experiência do espaço», e desvenda marcas psicológicas da portugalidade. Verdadeiras centelhas rutilantes que esperam nas prateleiras das livrarias o leitor que as saiba olhar.
Pontos Luminosos – Açores e Madeira – Antologia de Poesia do Século XX – Vários Autores, Editorial campo das letras, Porto, Abril 2006
© Teresa Sá Couto
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