terça-feira, 10 de novembro de 2009

Novo livro de Casimiro de Brito

Casimiro de Brito, o poeta que através do «doloroso prazer da escrita» nos oferece, há meio século, a ignescência do barro humano e a celebração dos enigmas do amor, tem novo livro: En la vía del maestro - Un viaje con Laozi (Na via do mestre - Uma viagem com Laozi,) é uma edição bilingue com tradução espanhola de Montserrat Gibert e chancela da prestigiada editora espanhola Olifante. O lançamento da obra está marcado para o próximo dia 11 de Novembro, no Instituto Cervantes de Lisboa (na Rua de Santa Marta, 43-F), às 18.30, com apresentação a cargo do poeta espanhol Ángel Guinda.


Como o título desvela, e Casimiro de Brito aclara no primeiro belíssimo texto de abertura, esta é a foz poética de um rio que teve a sua nascente nas gotas cristalinas do mestre Lao Zi. Uma viagem longínqua, feita de arrebatamentos e transmutações, como o é a de toda a criação artística. Todavia, o que desagua neste En la vía del maestro é a pureza vocabular a dar conta da torrente subterrânea do ser humano, na sua secreta solidão, do carácter inexorável do tempo, da vida matizada de ganhos e perdas, sonhos e desesperanças, da sábia rendição à Natureza, da voz do amor, motor e legitimação da travessia existencial.
Com agradecimentos a Casimiro de Brito que me facultou o acesso a esta novíssima obra, e à qual regressarei com o olhar que merece, transcrevo dois poemas:

O segredo está na combinação
Do barro e do ar; o segredo,
Nos dedos que envolvem a taça a
Casca do ovo o rio onde se acolhe
A penumbra que deixei pelo caminho.
Assim eu possa buscar o monge mudo,
O princípio desconhecido. (p. 34)
***
Adormeço na praia escura
Ar poluído
Nuvens secas: envelheço. Refreia os desejos,
Diz o mestre. Poucos tenho. A laranja
De som dos meus filhos
Amadurece noutras casas, longe da sabedoria
Que não alcancei. A bondade o conhecimento
Perdem-se na bruma das manhãs no pirilampo
Das noites. Devolvo ao mundo
O barro que me sobra
De tanta escultura falhada. O mestre
Não sabe nada. (p.50)


notas: página de Casimiro de Brito ;
o pnt Literatura tem vindo a editar o Livro de Eros de Casimiro de Brito


© Teresa Sá Couto

4 comentários:

Vitor Oliveira Jorge disse...

Magnífico!
No próximo dia 17 de Novembro, às 19 horas, Casimiro de Brito apresentará o meu último livro de poemas Electri-cidade (Colibri, Lisboa, 2009) na Casa Fernando Pessoa.
Apareça e por favor divulgue. Obrigado.
Cordiais saudações
Vitor Oliveira Jorge
http://trans-ferir.blogspot.com

Jorge Mesquita disse...

LABIRINTOS


Lá porque ando eu perdido
No meio de uma tempestade
À procura que o seu sentido
Seja a força da verdade

Não quero afirmar que a sorte
De toda esta minha mágoa
É um peixe à beira da morte
Sem o sonho puro da água
Que cospe o ar do meu norte

Só porque busco a direcção
Que é o não do cata-vento
E o riso do coração
Ligado à pilha do vento

Não vou pescar letras em vão
Nos rios da canção que passa
Porque quem me vira a razão
É o espaço que ninguém traça
Ao breu que veste a solidão

Lá porque sei viajar perdido
Nos trilhos de outro labirinto
E vagueio meio escondido
Entre os faróis que pressinto

Não quer dizer que sou a fuga
Que se lê no livro aberto
A silhueta que se enruga
Quando descobre no deserto
A luz que vela o incerto.


Oeiras, 11/07/2009 - Jorge Brasil Mesquita
www.comboiodotempo.blogspot.com

Teresa disse...

Não conheço a sua escrita, Vitor, mas vou querer conhecer :).
Raramente vou a lançamentos de livros; acresce que exactamente nesse dia tenho o lançamento do livro do Viriato Teles (como pode ver aqui nesta página), ao qual não faltaria "nem morta".

Um abraço

TSC

Teresa disse...

Jorge,
passarei na sua página logo que possível, com a merecida atenção. Obrigada por se me dar a conhecer.

Um abraço
TSC