domingo, 22 de novembro de 2009

Escalpe de Amadeu Baptista

Cumplicidade da carne, «expressão do desejo», o centro do corpo, «inquietação na procura do corpo», saliva, esperma, «vício absoluto», paixão amorosa, «sortílegos caminhos», a solidão do amor e a luta contra as sombras que acossam o acto primordial da entrega. Nas livrarias, Escalpe, um poema longo de Amadeu Baptista, com imagens da arte de António Ferra e chancela da &etc .




Extracto:

Nos meus e nos teus rins se acumulam
segredos desusados,
o real é um cúmulo de árvores e areais
desoladores,
visões devastadoras do silêncio,
espaços inaudíveis a sitiar-nos os ombros.

Mas nós, sendo sagrados, ardemos tanto
que sopesamos os ritmos da memória e os da terra,
ainda volúveis,
ainda corça e gamo,
ainda mensageiros.

Assim adormecemos.

Assim velo o teu sono com o meu sono,
assim velas o meu sono com o teu sono.

E são os nossos sonhos sonhos lúbricos,
e fluis suavemente pelos meus lábios,
e fluo suavemente pelos teus lábios.
(p.p. 34,35)

4 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

tenho uma entrevista muito interessante com ele nas correntes...


:-)


quando ler o livro posto-a no rendez-vous...


beijinhos


csd

Teresa disse...

e o que eu gostava de fazer um "correntes d´escritas" contigo...; adivinho dupla imbatível :) !!!

Quando "postares", dá-me um sinal, para eu ir ler, please.

Nunca escrevi nada sobre o Amadeu, mas escreverei; nesta minha missão dos poetas portugueses, tenho em agenda (próximo) Casimiro de Brito, Nuno Dempster, Armando da Silva Carvalho e José Agostinho Baptista (por esta ordem, mais o que for surgindo, como de costume).

Beijos
T.

cão sem raiva disse...

Dos vivos (e dos mortos também) é um dos meus poetas preferidos.
A seu tempo ombreará com Ruy Belo ou com Herberto Helder.
Julgo...

Teresa disse...

e este pequeno livro é uma jóia...

Curioso que, como esses grandes poetas que refere, também Amadeu está fora dos ruídos mediáticos, e estou a pensar em mais alguns...Pela reiterada evidência, tenho de concluir que a excelência habita no silêncio...