Mas como pode um pequeno livro de literatura infanto-juvenil ser a mais bela homenagem à lenda da guitarra portuguesa? Mostrando aos miúdos que a genialidade só pode ser consequência do amor; permitindo-lhes levar para o futuro o virtuosismo daquele que um dia disse: “Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas".
O livro O menino que se apaixonou por uma guitarra – Carlos Paredes segue cronologicamente os passos físicos e o dedilhar apaixonado do compositor que nasceu em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925 e morreu no dia 23 de Julho de 2004, após 11 anos de agonia que o afastaram da guitarra.
É escrito, com uma ternura infinita, por José Jorge Letria, que pretende eternizar a memória do amigo, escolhendo para isso os únicos interlocutores capazes de o fazer: as crianças. Para elas, a narrativa é encantada e certamente vão fazer muitas perguntas. Para nós é um revisitar comovente e, indubitavelmente, vamos gostar de lhes responder.A narrativa apresenta-nos Carlos Paredes desde a sua meninice, numa família que já conhecia os acordes da guitarra e da poesia. Com a oferta da primeira guitarra – “bisneta de outra vinda de Inglaterra dois séculos antes”, mas que falava português, com o som do Mondego e do Choupal” – começa a paixão da sua vida. Descobre-lhe os “Sons de oiro e trigo” e devota-lhe juras “de amor com a timidez dos grandes apaixonados”.
É escrito, com uma ternura infinita, por José Jorge Letria, que pretende eternizar a memória do amigo, escolhendo para isso os únicos interlocutores capazes de o fazer: as crianças. Para elas, a narrativa é encantada e certamente vão fazer muitas perguntas. Para nós é um revisitar comovente e, indubitavelmente, vamos gostar de lhes responder.A narrativa apresenta-nos Carlos Paredes desde a sua meninice, numa família que já conhecia os acordes da guitarra e da poesia. Com a oferta da primeira guitarra – “bisneta de outra vinda de Inglaterra dois séculos antes”, mas que falava português, com o som do Mondego e do Choupal” – começa a paixão da sua vida. Descobre-lhe os “Sons de oiro e trigo” e devota-lhe juras “de amor com a timidez dos grandes apaixonados”.
Segue-se a sua partida para Lisboa, aos nove anos de idade, para junto do “rio largo e muito azul”. Enquanto “os dedos cresceram, e os indomáveis sonhos”, o menino/homem observava a azáfama dos cacilheiros, os golfinhos, o “Voo circular das gaivotas". Cresciam a timidez, a humildade, a distracção e a delicadeza na mesma proporção do amor à sua guitarra. Só a ela, por ela e através dela se desvelava e comunicava com o mundo: “foi sempre com a bela guitarra que preferiu conversar e trocar promessas de fidelidade e eterna ternura. Amores assim não se explicam, porque talvez façam parte de um destino secreto que só as estrelas conhecem lá no fundo.”
Não foram esquecidos os momentos tortuosos de afastamento da sua “amada guitarra”, como o tempo que esteve preso e os últimos anos da sua vida, atraiçoado pela doença. Não é esquecida a sua partida, “entre gaivotas e nuvens, sobre as águas do Tejo”, sempre ao som de uma guitarra encantada que jamais se calará. As ilustrações são de José Emídio e compõem a caixa de som e sonho que é este livro. Simples e esplendorosas, recriam afectivamente os locais, as expressões inefáveis de Carlos Paredes, pintam sensações e emoções, dão forma à Saudade da guitarra e à nossa saudade da sua música.
Estão de parabéns os autores e a Editora Campo das Letras, que nos cederam estas doze cordas, estes doze pares de asas, mas estão sobretudo de parabéns todas as crianças que os tomem, porque com eles aprendem a voar. Obrigatório, pois, procurar-se este livro.
O Menino que se Apaixonou por uma Guitarra - Carlos Paredes, José Jorge Letria / Ilustrações de José Emídio, Campo das Letras, Porto, 2004
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