sábado, 18 de julho de 2009

Grande Prémio de Poesia para Armando Silva Carvalho

O poeta e ficcionista Armando Silva Carvalho venceu por unanimidade o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT- 2008, com a colectânea poética O Amante Japonês, editado pela Assírio & Alvim.

O prémio, que foi anunciado no passado dia 7 de Julho, é um merecido galardão para o autor, um dos nomes mais originais e carismáticos da poesia portuguesa, à qual se dedica há mais de quarenta anos.

Partindo duma referência prosaica – o amante japonês é um carro de «origem japonesa» -, Armando Silva Carvalho produz um discurso metafórico sobre a escrita, celebrando-a como triunfo da máquina, exaltando-lhe a energia, a velocidade e a força mecânica até ao paroxismo, num excesso violento de sensações construído com recurso à ironia e sarcasmo, a fazer lembrar-nos Álvaro de Campos.

Além deste O Amante Japonês, a Assírio & Alvim tem editados outros títulos individuais do autor, em poesia e prosa, além do magnífico «O que foi passado a Limpo», título que reúne poesia de 1965 a 2005, editado no ano 2007.
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Dois Poemas:
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Já não vejo o som mas só a lama
E acelero.

Quero atravessar este país depressa
Antes da morte.

Já não oiço a luz mas só o sono
E travo

Contigo, com os teus freios cansados
E as tuas jantes tortas.

Sigo esta pista de silêncio
E arrabalde de velhos.

Arrastamos connosco a história cega
E acrobata deste tempo.

Chamo a tudo isto uma gincana
Nas traseiras da Europa

Já não viajamos, vamos em ponto morto
E a meta é ali

Desperta
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in O Amante Japonês, p.36
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Soneto panorâmico

Do alto deste hotel de cinco estrelas
Lisboa não morreu. Nesta revista
até se fala em novas caravelas
e pra tamanho ardor tão curta a vista.

Dum lado o rio do outro o cimenteiro
nas suas sete quintas da marinha
em cima o céu de barro do barbeiro
em baixo o sol a fazer farinha.

Nos silos da mais sábia segurança
boémia estouvanada e bem ligeira
os anjos dão as mãos na contradança

da seringa mais nobre e derradeira
que existe a refulgir na lua mansa
à esquina onde se dorme a noite inteira.

in O Que Foi Passado a Limpo, Assirio & Alvim, 2007, p.451

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