O Historiador e professor catedrático António José Telo acaba de vencer o Prémio John dos Passos, no valor de 2500 euros, atribuído pela Câmara Municipal de Ponta do Sol (Madeira), pela obra História Contemporânea de Portugal – do 25 de Abril à Actualidade, de dois volumes, editada pela Presença. Quando foi lançado o primeiro volume, em Março de 2007, elaborei um texto que agora aqui recupero.
História dos nossos 30 anos de democracia
Em Portugal, é o poder que cria os partidos e não o contrário, como é normal noutras sociedades, escreve o historiador António José Telo, referindo-se à criação de partidos que representassem a direita portuguesa logo após a Revolução do 25 de Abril. Argumenta que, por cá, fugindo à denominação maldita, os partidos que vingaram legalmente sentiram a «necessidade de colocar o “social” ou o “socialismo” no nome».
A falta de dirigentes conhecidos, a inacessibilidade aos órgãos de informação, a falta de representatividade nos órgãos do povo e a falta de financiamento privado e apoio internacional – «quem tinha dinheiro para investir na política (…) preferia fazê-lo em quem lhe dava alguma garantia de vir a ser poder a curto prazo» – levou a que as organizações assumidas de direita fossem «pulverizadas».
Respondendo à urgência de se coligir o material histórico e a necessidade de o explicar, António José Telo brinda-nos com o História Contemporânea de Portugal – do 25 de Abril à Actualidade, o primeiro de dois volumes que interpretam a história recente da nossa vivência em democracia. Neste primeiro tomo explana-se desde a Revolução do 25 de Abril até 1985; o segundo volume cobre o período entre 1986 e a actualidade, contemplando, ainda, a descolonização e a adesão de Portugal à União Europeia.
António José Telo, Professor catedrático de História na Academia Militar e autor de uma vasta obra no campo da História, Defesa e Relações Internacionais, refere no prefácio as dificuldades de escrever a História dum período recente: «Temos acesso à selva da informação tornada pública no dia-a-dia em infindável quantidade, mas muito duvidosa na sua verdade e que tende a asfixiar pela mera quantidade».
António José Telo, Professor catedrático de História na Academia Militar e autor de uma vasta obra no campo da História, Defesa e Relações Internacionais, refere no prefácio as dificuldades de escrever a História dum período recente: «Temos acesso à selva da informação tornada pública no dia-a-dia em infindável quantidade, mas muito duvidosa na sua verdade e que tende a asfixiar pela mera quantidade».
Com a «informação sobre a espuma das coisas» interpelada e com recurso a todo o tipo de fontes e testemunhos, desenvolve-se uma «obra que pretende ser uma fonte fidedigna de época». Este primeiro tomo tem 400 páginas para cinco capítulos que organizam criteriosamente a informação. Os títulos e subtítulos conferem-lhe um fácil manuseio e as explicações apresentadas pelo autor possibilitam uma interacção do leitor com a sua História. Ao longo do texto apresentam-se janelas e quadros explicativos com transcrições de documentos, declarações e factos como surgiram a público, composição dos diversos governos constitucionais, resultados de eleições para a Presidência da República; incluem-se ainda gráficos com dados sobre censos, educação e saúde.
O primeiro capítulo versa «O 25 de Abril e o novo poder», as novas organizações políticas numa conjuntura conturbada, própria do renascimento de um país. No segundo capítulo apresenta-se «A deriva comunista – Outubro de 1974 a Novembro de 1975». O terceiro capítulo é dedicado à «Consolidação na instabilidade», analisando-se «a violência remanescente», as novas estratégias dos Partidos Políticos com poder, o nascimento da AD, os realinhamentos partidários e a adesão à CEE. O quarto capítulo aborda «Uma economia à procura de uma estratégia», explanando-se impasses, crises e modulações várias. No quinto capítulo, apresenta-se o estudo sobre «Sociedade e Mentalidades – 1974-2006», analisando-se explicativamente as mudanças: «de emigrantes a imigrantes?», a nova família e o papel da mulher, o ensino, a saúde, a segurança social, a habitação, a Cultura e o lazer, entre outros assuntos.
Saber a História para interpretar o presente
Numa breve entrevista ao JL (Jornal de Letras), António José Telo referiu que escrever esta História mudou a sua «perspectiva sobre a evolução de fundo no Portugal nos últimos tempos». Comprovando-se que, como referiu, «a História ajuda a ver um pouco mais longe», no terceiro capítulo, ao abordar-se o «o fim de uma fase», com as eleições de Outubro de 1985, depois do Verão Quente, a assinalarem uma nova etapa na democracia portuguesa, lê-se:
«A instabilidade política de 1975/1985 tinha sido em larga medida uma herança do espírito do PREC de 1974/1975. A deriva comunista terminou com o 25 de Novembro, mas os seus efeitos nas mentalidades perduraram. Estava enraizada numa parte substancial da população a ideia consagrada na Constituição de que não se podia abrir mão da “conquistas irreversíveis» e que se caminhava para o socialismo, com tudo o que isso implicava(…)
Quando começaram as políticas de austeridade que obrigavam a apertar o cinto, a reacção geral foi fortemente negativa e contestatária. (…) A mais pequena tentativa de diminuir os poderes do imenso Estado levantava um coro de protestos de várias origens, com o fogo cruzado que partia da oposição, do Presidente da República, do Conselho da Revolução e da Rua.
(…) O Estado não só mantinha a sua esfera de acção consagrada no PREC, como alargava mesmo a outras funções, onde se destacavam o Serviço Nacional de Saúde, o aumento da segurança social e do ensino obrigatório e gratuito (teoricamente). (…)Era relativamente fácil cair no despesismo, que só tinha um travão eficaz quando surgia a crise de pagamentos internacionais e o FMI aparecia para impor a austeridade, sob pena da bancarrota. (...)
Sá Carneiro procurou desatar o nó górdio do problema em 1980, mas o seu desaparecimento prematuro fez tudo regressar ao mesmo, fossem os governos da AD ou do Bloco Central. Só em 1985 se reuniram as condições para acabar com esta fase. Em larga medida isso deveu-se a um factor externo – a adesão à CEE(...)» (pp.247,248)
Numa altura em que os nossos governantes reconhecem a necessidade de ser ensinada nas escolas portuguesas a História da jovem democracia e que o que vem a ser ministrado está ao sabor das iniciativas de professores que, colmatando o vazio dos programas ditados pelas tutela, fazem questão de levar aos seus alunos a História recente, esta obra é um contributo inestimável; para nos ensinar a nós, tanto mais que «um terço da população portuguesa nasceu depois da Revolução dos Cravos», e para que possamos ensinar os nossos jovens.
História Contemporânea de Portugal – do 25 de Abril à Actualidade, volume I, António José Telo; Editorial Presença, Lisboa, Março de 2007
«A instabilidade política de 1975/1985 tinha sido em larga medida uma herança do espírito do PREC de 1974/1975. A deriva comunista terminou com o 25 de Novembro, mas os seus efeitos nas mentalidades perduraram. Estava enraizada numa parte substancial da população a ideia consagrada na Constituição de que não se podia abrir mão da “conquistas irreversíveis» e que se caminhava para o socialismo, com tudo o que isso implicava(…)
Quando começaram as políticas de austeridade que obrigavam a apertar o cinto, a reacção geral foi fortemente negativa e contestatária. (…) A mais pequena tentativa de diminuir os poderes do imenso Estado levantava um coro de protestos de várias origens, com o fogo cruzado que partia da oposição, do Presidente da República, do Conselho da Revolução e da Rua.
(…) O Estado não só mantinha a sua esfera de acção consagrada no PREC, como alargava mesmo a outras funções, onde se destacavam o Serviço Nacional de Saúde, o aumento da segurança social e do ensino obrigatório e gratuito (teoricamente). (…)Era relativamente fácil cair no despesismo, que só tinha um travão eficaz quando surgia a crise de pagamentos internacionais e o FMI aparecia para impor a austeridade, sob pena da bancarrota. (...)
Sá Carneiro procurou desatar o nó górdio do problema em 1980, mas o seu desaparecimento prematuro fez tudo regressar ao mesmo, fossem os governos da AD ou do Bloco Central. Só em 1985 se reuniram as condições para acabar com esta fase. Em larga medida isso deveu-se a um factor externo – a adesão à CEE(...)» (pp.247,248)
Numa altura em que os nossos governantes reconhecem a necessidade de ser ensinada nas escolas portuguesas a História da jovem democracia e que o que vem a ser ministrado está ao sabor das iniciativas de professores que, colmatando o vazio dos programas ditados pelas tutela, fazem questão de levar aos seus alunos a História recente, esta obra é um contributo inestimável; para nos ensinar a nós, tanto mais que «um terço da população portuguesa nasceu depois da Revolução dos Cravos», e para que possamos ensinar os nossos jovens.
História Contemporânea de Portugal – do 25 de Abril à Actualidade, volume I, António José Telo; Editorial Presença, Lisboa, Março de 2007
© Teresa Sá Couto
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