sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Espaço Web de Camilo Pessanha

A Biblioteca Nacional (BN) fez ontem a apresentação pública do sítio Web de Camilo Pessanha. Representante do simbolismo português, o autor deu-nos, num só livro, Clepsidra, uma poética de símbolo, sugestão e música, construídas com ânsia, abulia e sentido de diluição, de inutilidade da vida.
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Fernando Pessoa considerou-o seu mestre; António Ferro disse, sobre Clepsidra: «a nossa geração tem um missal. Saiu o livro de Camilo Pessanha. A alma de todos nós, desnorteada, tem, enfim, um relógio». Com efeito, o título Clepsidra funciona como símbolo de uma poesia de símbolos: se no grego significa relógio de água, a terminação –idra remete para hidra, mitológico monstro marinho, serpente de inúmeras cabeças que nascem e se desenvolvem à medida que são cortadas, símbolo da impotência humana perante os obstáculos, manifesto sobre a fragilidade da condição humana.
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Que este novo sítio na Web seja, pois, um incentivo para se revisitar Camilo Pessanha, o «exilado da beleza».
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Um poema:
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Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro – te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia! … Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

in Clepsidra, p.38, Biblioteca Ulisseia, 1987

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