segunda-feira, 22 de junho de 2009

«A Palavra Perfeita» de Albano Martins

A Palavra Perfeita é o título no novíssimo livro de homenagem ao poeta que há mais de cinquenta anos homenageia as palavras: Albano Martins. Com a chancela da Quasi, o pequeno, simples e branco livro colige as comunicações do ciclo de conferências sobre a obra de Albano Martins, promovido pelo Clube Literário do Porto, em 14 de Abril de 2007.

São seis comunicações de admiração e afecto, como só podem ser as palavras de todos os que se encontram com as palavras do poeta, mas também com a generosidade e rectidão deste homem beirão que, na linguagem do silêncio, se descreve assim: «Pertenço a esta/ geografia, ao lume branco /da resina, ao gume /do arado…».

Ao poeta e amigo Albano Martins, deixo o meu agradecimento por este livro que me chegou com uma dedicatória assinada exactamente no dia dos meus anos; tocaram as saudades e com elas o alerta das minhas promessas sempre adiadas de uma ida ao Porto. Do sul, em resposta às saudades, reedito neste meu espaço o meu texto sobre o seu último livro de poesia, o superior e imperdível Palinódias, Palimpsestos.


Maria Helena Padrão, Bernardette Capelo-Pereira, Fernando J. B. Martinho, Manuel Ferreira Patrício, Maria do Carmo Castelo Branco e Maria Lúcia Lepecki assinam os magníficos textos de homenagem. No final, o agradecimento do poeta, que espelha a amizade incondicional que ele sabe ter dos amigos. Um homem do sul, que se radicou em 1969 na cidade de Raul Brandão, «ancorada entre névoas e fráguas», mas também vaidosa do colorido do seu casario em tramas de poesia, que ele aprendeu a amar e que mostra, orgulhoso, da janela da sua casa, «do outro lado do rio».

Sobre si, diz-nos Albano Martins, em palavras que todos sabemos serem as palavras perfeitas que o definem:

Sou um homem do sul, da claridade sem mácula, dos horizontes largos, lavados, varridos pelos ventos da Estrela e da Gardunha. A minha infância é uma écloga de pastores, boieiros e ganhões. Cresci entre fetos, fenos, juncos; entre o coaxar das rãs, o trilho dos pardais, a cegarrega das cigarras, o grasnar dos corvos, o canto dos ralos, das rolas e dos grilos, o arrulho dos pombos nos beirais dos telhados. Andei aos ninhos, como todos os rapazes da minha idade. Percorri, em sobressalto, as veredas e atalhos dos campos, os labirintos dos bosques, os meandros das sarças; persegui perdizes no recolhimento estival das searas e armei ciladas aos tordos nos terrenos lavrados, sob as árvores; colhi amoras nas sebes perfiladas à beira dos caminhos e sorvi o pólen açucarado da flor das acácias. Tive uma infância feliz. Perfumada. Em redor da casa cresciam eucaliptos e castanheiros e, lá ao fundo, depois das hortas e dos lameiros, a ribeira desdobrava o seu perfil de enguia líquida, em cujas águas se dessedentavam salgueiros, choupos e amieiros. Quem conhece a minha poesia sabe que esta é uma reserva que trago escondida no bornal e me serve de sustento na “lôbrega jornada”, como dizia Antero.


© Teresa Sá Couto

2 comentários:

Isabel Victor disse...

Excelente !

Saudações


iv

Teresa disse...

Obrigada, Isabel :)

T.