Resgatar grandes obras de grandes nomes que mudaram o pensamento do mundo, buscar-lhes ideias, aprisioná-las numa interpretação crítica musculada, contextualizá-las, revelar-lhes a actualidade, revolvê-las para, argutamente, as soltar a novas reflexões dos leitores é a proposta de António Rego Chaves no necessário «Livros Com Ideias Dentro».
A lista proposta, que contempla nomes portugueses e estrangeiros, é vasta e de tirar o fôlego. Confiara-se: Abbé Pierre, Amos Oz, António Sérgio, Arendt, Beauvoir, Camus, Celan-Heidegger, D. Carlos, Duras-Miterrand, Einstein-Freud, Ernest Jünger, Garrett, Hans Küng, Henri Alleg, Hernâni Cidade, Hobsbawm, Kafka, Kant, Malraux, Manuel Laranjeira, Maquiavel, Marquês de Pombal, Marx, Montaigne, Mounier, Oriana Fallaci, Padre Manuel Antunes, Pasolini, Renzo de Felice, Roger Sruton, Sabato, Salazar, Sartre, Sebald, Simone Weil, Stefan Zweig, Unamuno, Voltaire, Wilde, Wittgenstein. Contam-se ainda os textos titulados Raiz & Utopia, Ramires e Maurras (sobre o Integralismo Lusitano), Jesuítas e Vaticano II.
A lista proposta, que contempla nomes portugueses e estrangeiros, é vasta e de tirar o fôlego. Confiara-se: Abbé Pierre, Amos Oz, António Sérgio, Arendt, Beauvoir, Camus, Celan-Heidegger, D. Carlos, Duras-Miterrand, Einstein-Freud, Ernest Jünger, Garrett, Hans Küng, Henri Alleg, Hernâni Cidade, Hobsbawm, Kafka, Kant, Malraux, Manuel Laranjeira, Maquiavel, Marquês de Pombal, Marx, Montaigne, Mounier, Oriana Fallaci, Padre Manuel Antunes, Pasolini, Renzo de Felice, Roger Sruton, Sabato, Salazar, Sartre, Sebald, Simone Weil, Stefan Zweig, Unamuno, Voltaire, Wilde, Wittgenstein. Contam-se ainda os textos titulados Raiz & Utopia, Ramires e Maurras (sobre o Integralismo Lusitano), Jesuítas e Vaticano II.
O público que se alveja é, pois, particular e exigente: o que conhece as obras e encontra aqui um desafio interpretativo, ou o que está desperto para elas e tem nestas páginas o incentivo que faltava. Todo modo, «Livros Com Ideias Dentro» é uma obra de referência, porquanto são raras edições desta índole, que reúnem, num só espaço, um universo intelectual variado com textos curtos e exactos, pontapeando toda a literatura kitsch. São 81 páginas, que coligem 44 recensões críticas, seleccionadas de cerca de duas centenas que António Rego Chaves, licenciado em Filosofia e com reconhecida actividade jornalística, publicou no Jornal de Negócios.
A actualidade do implacável MaquiavelSaindo em louvor do politicólogo Maquiavel e do seu implacável «O Príncipe», no texto titulado, precisamente, «Em louvor de O Príncipe», António Rego Chaves relembra o que disse Francis Bacon daquela obra: «Estamos muito reconhecidos a Maquiavel e a outros como ele, que escreveram aquilo que os homens fazem, e não aquilo que devem fazer.».
Salientando que o autor quinhentista continua a ser incompreendido pela generalidade dos seus leitores, A. Rego Chaves remete, ilustrando, para o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa que define «levianamente o “maquievalismo” como sistema político, baseado nas ideias do escritor e político florentino Maquiavel e caracterizado pelo princípio amoral de que os fins justificam todos os meios e que a arte de governar deve estar acima de todas as preocupações de carácter ético, religioso…». O italiano, defende-se, «queria desvendar aos seus contemporâneos os segredos do realismo político, a invenção, a táctica e a estratégia, a “ciência” do Poder», limitando-se a proclamar «não apenas que o rei ia nu, mas que os príncipes antigos e os da sua época sempre tinham andado em pelota, ainda que nenhum deles tivesse admitido tal prática.».
A enformar a argumentação, o texto chama Jean Giono, que se pronunciou sobre as «Concepções psicológicas, sociais e políticas» de Maquiavel: o seu grande conhecimento da alma humana fá-lo crer que «para ele, um homem de confiança é um homem que se pode comprar», sabendo que «não se pode confiar totalmente senão nas fraquezas e, em particular, no interesse pessoal».
E António Rego Chaves acrescenta: «Pessimista, Maquiavel? Tememos bem que não. Considerava que “é necessário ser um príncipe para compreender totalmente a natureza do povo e ser um vulgar cidadão para compreender totalmente a natureza dos príncipes.” Talvez tenha encarado o cruel César Bórgia, filho do não menos cruel Papa Alexandre VI e aventureiro sem escrúpulos, como o “governante perfeito”, pois aprendera à sua custa que “aquele que negligencia aquilo que é feito em benefício daquilo que devia ser feito efectiva mais rapidamente a sua ruína do que a sua preservação”. Também sabia, por saber de experiência feito, que os homens “são ingratos”, inconstantes, mentirosos e velhacos, fogem do perigo e são gananciosos” e não vislumbrava qualquer espécie de “salvação” para aquilo que considerava ser a natureza humana, estando convicto de que ninguém poderia ser ao mesmo tempo um bom cristão e um governante forte, condição esta indispensável ao eficaz exercício do poder.».
Segundo A. Rego Chaves, o «arguto repórter» e «lúcido historiador de comportamentos dos políticos» que foi Maquiavel, permitiu-lhe constatar que o objectivo da acção dos políticos «não seria, segundo lhe foi dado a observar, pôr em prática grandes ideais capazes de conduzir a Humanidade à formação e consolidação de sociedades mais perfeitas, mas apenas jogar o jogo do Poder – para o ganhar, seja a que preço for, retirando qualquer carga moral aos meios utilizados para alcançar os seus fins egoístas. Para os governantes – mas não para o repórter e historiador Maquiavel – tais mesquinhos fins, justificariam, de facto, todos os meios.».
Segundo A. Rego Chaves, o «arguto repórter» e «lúcido historiador de comportamentos dos políticos» que foi Maquiavel, permitiu-lhe constatar que o objectivo da acção dos políticos «não seria, segundo lhe foi dado a observar, pôr em prática grandes ideais capazes de conduzir a Humanidade à formação e consolidação de sociedades mais perfeitas, mas apenas jogar o jogo do Poder – para o ganhar, seja a que preço for, retirando qualquer carga moral aos meios utilizados para alcançar os seus fins egoístas. Para os governantes – mas não para o repórter e historiador Maquiavel – tais mesquinhos fins, justificariam, de facto, todos os meios.».
Pertinentemente, pois temos de aquiescer, António Rego Chaves refere que «a denúncia do florentino em nada contribuiu para alterar a pratica dos líderes políticos que nos últimos cinco séculos se têm assenhoreado dos destinos dos povos.».
Livros com ideias dentro, António Rego Chaves, Campo das Letras, Porto 2008
© Teresa Sá Couto
6 comentários:
parece um bom livro...
por falar em bons livros.. mandei um mail com novidades :P
bjs
Já vi o teu mail,Hugo. Que magníficas novidades.
Em breve coloco aqui mais uns textos sobre o Neruda ;))...e tenho de pensar também na Gabriela Mistral, que não tenho aqui nada sobre ela, e é uma grande falha.
Bjinhos
TSC
Li-te e fiquei com curiosidade de ler o Rego Chaves. Mas a verdade é que passei por aqui sobretudo para te dizer olá.
Ah, e o saite renovado está quase pronto. Mais uma semanita ou duas, espero eu...
Bjinhos
olá Viriato
Ora e fizeste tu muito bem ;)
Eu passo-te o livro do A.R.Chaves.
Boas notícias do saite, então. Está a fazer-me falta ir lá ler-te!
Bjinhos
Teresa
Olá Teresa,
Ando calada faz bastante tempo , mas passo por aqui quase todos os dias. Gosto muito da sua maneira de nos descrever as suas leituras, e da da forma admirável, com cria em nós a vontade de ler os livros, todos os livros, que nos aconselha. Esta admiração já vem dos tempos de «Kaminhos» e também ando pela «Orgia Literária.
Nestes ásperos tempos , para a cultura e para a educação, muito obrigada por existir e estar aqui á distância de tecla.
Um grato, solidário e nocturno abraço
Obrigada, nocturna, por me acompanhar de tão longe, e pelas palavras generosas.
Eu também vou frequentemente ao seu sitio; isto de ter a ligação logo à esquerda faz com que lá chegue num ápice. ;)))
Beijinhos
TSC
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