Editado Guia sobre a nova ortografiaA Editorial Caminho acaba de lançar um utilíssimo Guia que colige as mais significativas mudanças ortográficas do português europeu, consequência da recente rectificação do Acordo Ortográfico de 1990, que continua a gerar celeuma em Portugal, mas também no Brasil, cá e lá contestado por uma grande facção de editores, escritores e outros praticantes atentos da língua. Questiona-se, sobretudo, onde está a unificação da língua, bandeira dos promotores para legitimarem as novas mudanças ortográficas, unificação que também eu, após análise atenta deste guia, não consigo vislumbrar. Todavia, abstenho-me, tanto quanto possível, de comentários – sobre a forma e a decisão política que engendrou a rectificação do Acordo – para que não estorvem as conclusões que cada um pode tirar dos exemplos que aqui selecciono.
Com participação da linguista Maria Helena Mira Mateus – que tem, entre outros títulos da especialidade, editada na Editorial Caminho a magnífica Gramática da Língua Portuguesa, de 2004 –, o livro compreende três grandes partes, de fácil consulta e inequivocamente esclarecedoras: as «Regras que mudam», «Lista alfabética das palavras cuja grafia muda» e «Formas verbais cuja grafia muda». O alfabeto passa a ter as letras k, w e y.
A abrir, nas «Regras que mudam», apresenta-se e explica-se a nova restrição do hífen em palavras com os prefixos anti- e co-, pelo que passar-se-á a escrever copiloto, antirreflexo e cooperação. Mantêm-se hifenizados os prefixos ex-, pré-, pró-, bem- e não-: ex-diretor, pré-seleção, pró-ativo, bem-vindo, não-católico.
As formas monossilábicas do verbo haver perdem o hífen, como há muito se pratica no português do Brasil: há de e não há-de. Também neste princípio de identidade brasileira que dita a regra e justifica as excepções, surgem as polémicas subtracções dos acentos tónicos, consoantes mudas, maiúsculas e a letra h em início de palavra:
–como no Brasil se escreve tônico e no resto dos países de língua oficial portuguesa se escreve tónico, as duas formas passam a ser oficiais;
Com participação da linguista Maria Helena Mira Mateus – que tem, entre outros títulos da especialidade, editada na Editorial Caminho a magnífica Gramática da Língua Portuguesa, de 2004 –, o livro compreende três grandes partes, de fácil consulta e inequivocamente esclarecedoras: as «Regras que mudam», «Lista alfabética das palavras cuja grafia muda» e «Formas verbais cuja grafia muda». O alfabeto passa a ter as letras k, w e y.
A abrir, nas «Regras que mudam», apresenta-se e explica-se a nova restrição do hífen em palavras com os prefixos anti- e co-, pelo que passar-se-á a escrever copiloto, antirreflexo e cooperação. Mantêm-se hifenizados os prefixos ex-, pré-, pró-, bem- e não-: ex-diretor, pré-seleção, pró-ativo, bem-vindo, não-católico.
As formas monossilábicas do verbo haver perdem o hífen, como há muito se pratica no português do Brasil: há de e não há-de. Também neste princípio de identidade brasileira que dita a regra e justifica as excepções, surgem as polémicas subtracções dos acentos tónicos, consoantes mudas, maiúsculas e a letra h em início de palavra:
–como no Brasil se escreve tônico e no resto dos países de língua oficial portuguesa se escreve tónico, as duas formas passam a ser oficiais;
– o acento que distingue palavras homógrafas é suprimido, passando a escrever-se pelo (pêlo, substantivo), indistintamente da proposição pelo (por+o); por (verbo pôr), indistintamente da proposição por; para (em vez de pára, verbo parar). Excepções para o verbo pôr, que mantém o acento para se diferenciar da preposição por e a forma dêmos, do verbo dar que se escreverá opcionalmente como dêmos ou demos. Acrescento que a polémica desta medida prende-se, sobretudo, com a confusão dos tempos no presente e no pretérito perfeito dos verbos terminados em –ar que, no português de Portugal, ao contrário do Brasil, é bem distinto: "nós andámos na cidade", distinto de "nós andamos na cidade"; "gostámos das férias", distinto de "gostamos das férias", etc., o que obriga a um estudo do contexto para se decifrar a correcta mensagem e, consequentemente, a compreensão de enunciados. Acresce que a eliminação do acento nalgumas palavras de português de Portugal faz com que a palavra passe a ter um sentido oposto para o qual ela existe: não se entenderá para-fogo (em vez de pára-fogo) um auxiliar do fogo e não o oposto? Ver entre os exemplos, no final.
– na queda das consoantes mudas, passa a escrever-se ação, atual, ótimo, adoção, assunção, etc. quando a pronúncia no Brasil executa as consoantes, as palavras passam a ter duas grafias, como por exemplo, recepção no Brasil, mas receção em Portugal, e, onde a pronúncia é variável, mantém-se essa variação, sendo aceite, por exemplo, amígdala e amídala;
– passam a escrever-se com minúsculas os nomes dos meses, estações do ano, pontos cardeais, com opcionalidade maiúscula ou minúscula para formas de tratamento, lugares, e títulos de obras: janeiro, verão, norte, professor ou Professor, avenida da Liberdade ou Avenida da Liberdade. Há a ressalva para a grafia dos nomes próprios de pessoa que pode ser mantida….
– como no Brasil se escreve úmido e em Portugal e nos restantes países de língua oficial portuguesa se escreve húmido, as formas mantêm-se; explica-se que se emprega h inicial quando é «etimologicamente válido, excepto quando a grafia sem h se encontra já inteiramente consagrada pelo uso. Para esclarecimentos adicionais, os autores deste guia remetem para o portal da Língua portuguesa que fornece toda a informação relativa à Língua: http://www.portaldalinguaportuguesa.org
Da extensa «Lista alfabética das palavras cuja grafia muda», seguem outros exemplos, com a grafia antiga e a palavra ou palavras (aceitando-se variantes e excepções – com palavras em itálico da variante brasileira) regulamentadas:
Abdómen – abdómen, abdômen
Abjecto – abjeto, abjecto
Actividade – atividade
Agro-alimentar – agroalimentar
Anti-salazarista – antissalazarista
Director – diretor
Ejectar – ejetar, ejectar
Fracturar – fraturar, fracturar
Gastronómico – gastronómico, gastronômico
Pára-lamas – para-lamas
Pára-vento – para-vento
Pára-raios – para-raios
Pára-fogo – para-fogo
Pêra – pera
Reacção – reação
Recta – reta
Rectilínio – retilínio, rectilínio
Sub-raça – subraça
Sub-reino – subreino
Tecto – teto, tecto
Tramóia – tramoia
Vêem – veem
Voca Bulá Rio - As palavras que mudam com o Acordo Ortográfico, ILTEC - Instituto de linguística Teórica e Computacional; Editorial Caminho, Lisboa, Junho 2008
© Teresa Sá Couto
3 comentários:
Como não sou um purista...acho q devemos levar um caminho de aproximação
Também não sou purista. Sou apenas alguém que cresceu, fisica e intelectualmente, com a Língua Portuguesa e não com o «português do brasil».
Lamento muito, mas acentos continuo a pô-los e os "C", também, mudos ou não. O novo acordo não permite unificação nenhuma, e além disso vai lançar mais confusão na escrita (pêlos púbicos e pelos caminhos e outras pérolas).
É o que dá quando a política interfere demasiado na ciência...
csd
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