domingo, 22 de dezembro de 2013

As Duas Faces do Dia, de Dora Nunes Gago

Dora Nunes Gago vai lançar novo livro. Trata-se de uma novela que homenageia a malograda Florbela Espanca. Respondendo ao convite da autora, que muito me honrou, escrevi o brevíssimo prefácio. É esse texto que aqui publico, juntamente com o Convite oficial do lançamento da obra.


A voz na dobra do tempo


 Em vão corri mundos, não vos encontrei
 Por vales que fora, por eles voltei.

 António Nobre


Há seis anos, chegava-me por correio um pequeno livro de contos de um autor que desconhecia: Dora Nunes Gago. O título A Sul da Escrita e um golpe de olho ao interior das páginas prometiam histórias de referências históricas e pendor memoralista. A escrita delicada, despretensiosa e envolvente impôs a leitura de um fôlego, para uma experiência que perduraria até hoje, altura em que esta novela a restaura e enriquece. 
No «panteão espiritual» do sul vive agora a voluptuosa princesa desalento, mas Florbela Espanca não vem só: Dora Nunes Gago dá-lhe a opção do passo que ela não deu, do recomeço que ela não ousou, da liberdade que ela sempre quis.

Num puzzle de sintéticas analepses, apresenta-se a vida de duas mulheres, separadas 82 anos, Florbela e Brígida, enjauladas na existência: a uma pesam-lhe memórias de perdas, a outra procura memórias que perdeu, ambas ouvem os relógios ímpios, vigilantes e decisórios, ambas se debatem com o eco das suas identidades, porém enquanto Florbela fixa os olhos na tumular parede branca do quarto, Brígida fixa os olhos nos cortinados brancos, indiciador de destinos distintos. Para conseguir a admirável dramatização, Dora Nunes Gago faz com as suas personagens o que faz o actor: veste-lhes a pele, experiencia-lhes o bater de coração, as alegrias, os arrepios, as quimeras, os cansaços, os espantos, as dores, para que o leitor cheire o que elas cheiram, ouça o que elas ouvem, sinta o que elas sentem, veja o que elas vêem. Este fazer de laboratório é, pois, o responsável pelo intimismo com o leitor, e, consequentemente, pela adesão à leitura. Ainda neste laboratório da escrita, Dora Nunes Gago usa a linguagem de roteiro que dissemina pelo texto como um mapa, com linhas, superfícies, volumes, e a palavra desdobra-se enchendo os espaços com a brisa, o resmalhar do vento, os «rugidos do mar», o chicotear da chuva, o estrondear proceloso, a névoa que se solta dos cigarros, sombras, espectros, personagens bem definidas, e o leitor que, enredado nisto tudo, com o tudo se tatua, de uma tatuagem resistente e colorida. 


 Teresa Sá Couto
 Lisboa, 23 de Agosto de 2013



Texto meu sobre o livro A Sul da Escrita

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

FLY: O enigma da voz

Há muito fora do mercado, porque esgotada, a obra Fly, de Joaquim Pessoa, está finalmente reeditada, altura em que se celebram 30 anos da sua publicação. Com a chancela da Edições Esgotadas, a presente edição, de luxo, com capa dura e sobrecapa, contém cinco trabalhos de ilustração de João Concha e Introdução Crítica minha.  É este texto que aqui disponibilizo.


(Fly, 2013, sobre a edição de 1983; seguem-se as três ilustrações do interior e a ilustração da contracapa)


Apresentação do FLY, de Joaquim Pessoa, no Barreiro. Na imagem, da esquerda para a direita, eu, Joaquim Pessoa, a vice-presidente da Câmara do Barreiro, Teresa Adão (directora da Edições Esgotadas) e Carlos Mendes.


O enigma da voz

É esbelta a sombra, belo o abismo:
Tem cuidado, meu filho, com certas asas
 que roçam O teu coração.

Antonio Gamoneda (1)


Há trinta anos, «Rã Evinha vinha de parir» o filho morto, e trazia a sua casa azul que se movia: evidenciava-se que a mãe inspiração dava à luz a memória com que se edifica a casa da poesia. Hoje, futuro daquele passado e presente do futuro, intersectamo-la no seu contínuo movimento para respirarmos e sentirmos com ela a dor de um dos partos mais belos da literatura portuguesa.

«Estranho Fly», «óptima definição metapoética da poesia, como discurso que parece querer dizer algo e afinal não diz mais do que a necessidade imperiosa de dizer», escreveu Roxana Eminescu, em 1986 (2), em recensão crítica. Editado em 1983, e com a 2.ª edição em 1985, pela Litexa Editora, Fly tem, todavia, a nascente do seu inquietante caudal simbólico em O Livro da Noite (Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura), editado pela Moraes Editores, em 1981.

O texto de Fly é percorrido por fios, linhas de água, braços de vento, rastos cósmicos num movimento incessante a dar unidade às suas três partes: o reconhecimento do rumor da voz, o trabalho da inspiração – «fêmea tecedeira, branca» – sobre a memória, e a passagem de testemunho. Fly é uma asa afiada que, como lâmina, corta o ar, submerge, transforma, reformula, muda, recupera o tempo da memória, «poro a poro» num «trabalho forçado do pensamento». Por isto, Fly é um «Lume escuro, corvo a corvo, esse livro terrível», é o lume de uma alegria escura, é um lugar íntimo do barro onde o «Boi-sol», «animal da ansiedade», rompe como uma centopeia e agoniza no «vespeiro de palavras», é a «Luz, luz e lâmina, a crina da névoa desce /aos ossos como o futuro, leitura vagarosa, /embrião de próximas estrelas. /Num cálice de nuvens a tempestade estala e atemoriza o coração. //É o touro, a máscara, a lentidão, o peso», assim referido em O Livro da Noite (3). Na prodigiosa capa de João Concha, autor de todas as ilustrações desta edição, e com as chaves do texto, é possível divisarmos o esplêndido Touro símbolo de Zeus, o ajuntador de nuvens essenciais da criação, ou surpreendermos a imponente constelação de Taurus com as suas híades e plêiades urdidoras das chuvas que tombam de nuvens onde adejam pássaros, e que a policromia do preto e branco nos sugestiona serem azuis.
Enquanto no espaço cósmico, Orion, o ufano caçador, desafia Taurus, no texto, a imaginação luta com a poalha branca da memória, «as palavras inúteis são a caça», e o «fogo» sobe cego para a «cara das estrelas».

No «objecto longo da memória», que é Fly, há um homem no umbral lutando com o «vazio atordoado» das mãos, portanto, um homem que transforma as mãos: o umbral a transpor simboliza a saída para a realização poética, para a luz; por sua vez, o vazio é um espaço de liberdade. Estão reunidas, pois, as condições para a fabricação do fogo, da palavra sanguínea «como escuro animal, das últimas sombras de um jardim interior.». Para nascer, o homem tem de romper o invólucro escuro, o «ovo de cansaço» onde se encontra, dobrado sobre si mesmo, ideia plasmada na primeira ilustração do interior, de arte maior. Diz María Zambrano que «nascer, no sentido primário e em todos os outros possíveis sentidos, é constituir-se na autonomia do próprio ser. Portanto, afrontar a luz e o que nela acontece: ver e ser visto para começar. A luz é o lugar da suprema exposição para o homem» (4). Porém, a claridade é uma «flor carnívora», e por isso a verdade virá encoberta por uma névoa espessa que envolve tudo, símbolo da espessura do silêncio poético, que puxa o leitor para o abismo do texto e da sua própria intranquilidade. Desta forma se veicula o enigma da palavra que tem de nascer, porquanto se esconde no mesmo instante que se revela; acresce, como referiu George Bataille, que «não poderíamos imaginar contradição mais obscura, com melhores características para assegurar a desordem dos pensamentos.» (5). A ideia de obscuridade relaciona-se também com a de impossibilidade de realização, e ambas estão patentes no enigma do poço de Bernardo Soares: «Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos – um poço fitando o céu» (6). Contudo, a imaginação é um caminho da água, consequentemente, uma rebeldia, um instinto contra a morte; William Blake escreveu que a Imaginação «é a própria Existência Humana» (7) e, em Fly, o «sangue todo» empenha-se no nascimento da voz, nascimento que exige desnudamento e dor:

Saborear-te os nervos, poço a poço,
ó pedra das moléculas perfeitas; comer
os versos e os ossos, pouco a pouco, Fly, e ler
a carne tenra da flor da amendoeira; in-
comodar-te; e renascer de ti – das
cinzas que deixou a tempestade – , ó luz
que dói de espasmos de ar, por sermos pobres
os dois, ó mãe, ó Fly, e um de nós
ter de parir, nu, no interior da voz.

Sendo a imaginação uma casa – a memória usa a imaginação para lembrar o que não sabe, para despir a dor e o delírio, para recompor o tempo e a distância – há que compreender a casa, os seus corredores fundos, escusos e escuros, há que enfrentar o medo: «para romper a solidão, atrever-se-iam os cardos» em «metros de penetração na morte», «profundidade (da ferida) que nada esclarece mas tudo pressagia», diz-nos texto em busca da fundura insondável, «do fundo ilimitado que antecede a visão e a projecta», segundo Ramos Rosa (8).

Tratando do que se perdeu, a memória intensifica a noção de morte. Daí a centralidade da noite na revelação do ser e das suas impossibilidades: «O calor da noite desenterrava moedas, causava febre, quase fazia espuma na pele martirizada»; a noite desvenda o que a manhã oculta: «a noite moveu raízes de choro que a manhã escondeu» e «uma raiz é também um barco navegando em profundidade até tocar outros dias, outros deuses, outros nadas.»; a noite arrima «a palavra calada de um enforcado até acima, onde o sol não entende»; é na noite que «a água cantara, com voz de mulher» – que podemos ter como a imaginação, a inspiração, a poesia; é na solidão da noite que o vento, esse «aluvião turvo», volta para parir um filho morto. Também a associação «cinza fresca» é um princípio da memória em transformação: «Só o teu corpo me interroga /como cinza fresca». Em Fly diz-se claramente que o que exulta é o que fere, o que desafia, e não o que fascina, o que obedece.

De onde nos vem «este dom de morrer, esta potência /degoladora da dor»?, perguntou Gamoneda (9); «O medo solta /os cavalos do amor e as últimas pombas. /O azul é, decerto, a memória de outro céu profundo // Antes, muito antes do fogo, como arderam as lágrimas?», lê-se em O livro da Noite para em Fly se confirmar a transmutação da dor em prazer estético: «em todos os medos e em todos os tempos, Fly, atingiremos a luz, o orgasmo dos sinos.». Assim, em Fly «o tempo é herói» que enforma o informe acoitando-o no poema, o tempo é «mendigo, pó amarelo, depois chuva ou alecrim, mais tarde um fogo liso como um peixe», e o poema será um «pássaro verde» que poisa na folha branca e assobia «para dentro» ou será «água verde» de um pássaro azul que não sabe fugir do seu voo; uma necessidade também dita assim:

 […] e defendo-me
  da fome que em teu útero me aquece:
a memória dos ossos de onde venho
e que nas feridas do corpo se abastece.

Produto humano, a palavra surge como espelho onde se interroga o mistério de se Ser: «a tua nudez me desabrigou e me fez tiritar diante do meu corpo, como num espelho de água. Ouve-me agora quando ao falar de ti me reconheço». É este «vento de espelhos» que encontramos na segunda ilustração onde pulsa um coração negro e rutilante, embutido numa falésia, com amplas janelas espelhadas, coração que serve de miradouro ao homem.

Se a imaginação é uma casa, a pele da imaginação é o mapa da criação da palavra, um mapa prenhe de caminhos que se percorrem incessantemente, «uma carta na água», um «horóscopo do orvalho», rotas de uma peregrinação e, sobretudo, um mapa com o regresso do outro de nós: «[…] de qualquer modo irei/onde sei que não vou porque estou lá; /cansado de cansar-me ramo a ramo/ (na carne contrafeito, no tempo contradito), /[…] Gostando destes ninhos/onde as palavras pedem alimento».

Atentando no carácter labiríntico e disfuncional do texto, Roxana Eminescu escreveu, na recensão já aqui indicada, que «as palavras parecem soltas, as frases desligadas umas das outras, como um discurso psicopata, um discurso partido por dentro, que parece tornar-se poesia por acaso». Também a euforia e a disforia que presidem ao nascimento da voz dão ao texto o tom de loucura, como se a voz fosse originária de um sujeito demente ou possuído. Será o caso de privilégio divino dos poetas, como o enunciado por Platão: os poetas «não passam de intérpretes dos deuses, sendo possuídos pela divindade, de quem recebem a inspiração», pois o poeta é uma «coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão» (9) ; estar possuído e em delírio, «in louco, embriagado, allegro andante /cheio de sangue e chuva, neste quarto /que me azulou os olhos de castanho», palavras com que o sujeito poético se autocaracteriza.

Fly parte de substantivos genesíacos, como água e luz, adeja em sombra e vento, rodopia num jogo inventivo de contradições formantes do enigma, contradições que reflectem a errância humana e criadora e que consubstanciam a própria poesia. Em Fly, a imaginação tortura a água da memória e é dessa água torturada que nasce o grito silencioso do poema. É este grito essencial que nos é exposto, também, na terceira ilustração. Ainda, na ilustração da contracapa, a escada a ligar águas, as do esquecimento – onde estão as recordações –, e as da memória recuperada, as da morte e as da vida, com os degraus à espera que outros os subam em busca da sua própria interioridade, os degraus erguidos pelo texto: «na interpelação de nós outros saberão recomeçar».


Teresa Sá Couto
Lisboa, Outubro de 2013


Notas:
(1) Antonio Gamoneda, Oração Fria, Assírio&Alvim, p.145
(2) Roxana Eminescu, Colóquio Letras número 91, Maio 1986, p.93
(3) Joaquim Pessoa, O Livro da Noite, Moraes Editores, p.16
(4) María Zambrano, O Sonho Criador, Assírio&Alvim, p.p.110-111
(5) George Bataille, As Lágrimas de Eros, Sistema Solar, p.50
(6) Bernardo Soares, O Livro do Desassossego, Assírio&Alvim,p.48
(7) William Blake, Milton, Antígona, p.179
(8) António Ramos Rosa, A Impossibilidade da Construção, JL, 7 de Maio de 1991
(9) Antonio Gamoneda, ob.cit., p.31
(10) Platão, Íon, Inquérito, p.51

terça-feira, 18 de junho de 2013

"O Silêncio" de Maria Quintans

Maria Quintans tem novo livro: O Silêncio será lançado no dia 21 de Junho, às 20.30h, na Pensão Amor, Rua do Alecrim, 19, 1200-292 Lisboa. A apresentação é de Inês Fonseca Santos e Ana Zanatti fará leituras de poemas.



(os cinco livros da hariemuj - clicar para aumentar a imagem)


O Silêncio é o quinto título da pequena editora hariemuj, cinco dedos que mostram o poder de uma mão de quem gosta e sabe fazer livros. Com efeito, o zelo impresso no mais ínfimo pormenor e a força estética do grafismo assumido, desde os últimos 3 títulos, por João Concha, são uma marca inconfundível do carisma da hariemuj. Na escolha dos textos está, também, uma postura própria: escolhe-se a palavra desassombrada, harmoniosa, rebelde, intimista e arejada.

«o silêncio demora muito tempo», lê-se na contracapa de O Silêncio de Maria Quintans, livro com 52 páginas e 33 poemas. O silêncio é um lugar largo, acrescento eu, esperando que este livro encontre o lugar grande do fascínio da leitura.


Nota:
Os livros da editora hariemuj podem ser encontrados nestes locais:
Livraria Barata, Lisboa;  Livraria Ler Devagar, Lx Factory - Lisboa;  Livraria Letra Livre - Lisboa Livraria Pó dos Livros - Lisboa;  Livraria Poetria - Porto;  Miguel de Carvalho, Livreiro Antiquário - Coimbra;  Feira do Livro de Poesia e Banda Desenhada, Soc. Guilherme Cossoul - Lisboa


Ainda sobre Maria Quintans, João Concha e hariemuj, AQUI 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Antonio Gamoneda em Antologia

Titula-se Oração Fria e é a primeira antologia traduzida em língua portuguesa do poeta castelhano Antonio Gamoneda. Acompanhada pelo próprio poeta, a edição, bilingue, tem introdução, tradução e posfácio de João Moita. Um livro indispensável para quem não vive sem poesia.




Depois de Livro Do Frio, considerado por muitos a melhor obra de Gamoneda,  também editado pela Assírio&Alvim, em 1998, com tradução e Nota de José Bento, o novíssimo Oração Fria possibita-nos uma panorâmica da obra de António Gamoneda; «segue a ordenação e a fixação dos textos de Esta Luz – Poesía Reunida (1947-2004), livro publicado em Espanha em 2004 pela Galaxia Gutenberg, com organização do próprio poeta. Foram ainda incluídos cinco poemas do seu último livro, Canción Errónea, publicado em 2012 pela editora Tusquets.»,  esclarece João Moita.

Nascido em Oviedo a 30 de Maio de 1931, Antonio Gamoneda é uma das vozes mais ilustres  da poesia contemporânea. Uma voz artisticamente poderosa, num mesmo hausto, atormentada e crua, canto de errância e cansaço, denunciadora desta "idade do ferro na garganta", idade de perdas de identidade, de desvanecimento de causas e sonhos; uma voz que ouve o "cego rouxinol" e que, como ele, cria  no seu cantar "luz entre a ramagem obscura": "Justifico-me na dor. Não há nada; / não encontro nos meus ossos a cobardia. /Em meu canto inverte-se a agonia; / é um caso de luz incorporada.".  

dois textos:

É um homem. Vai pelo campo.
Escuta o seu coração, como bate,
e, de repente, o homem detém-se
e põe-se a chorar sobre a terra.

Juventude da dor. Cresce a seiva
verde e amarga da primavera.

Para o ocaso vai. Um pássaro
triste canta entre os ramos negros.

Já o homem apenas chora. Intriga-se
com o sabor a morto da sua língua. (p.27)

***

Calo-me, espero
até que a minha paixão
e a minha poesia e a minha esperança
sejam como aquela que anda pela rua;
até que possa ver com os olhos fechados
a dor que já vejo com os olhos abertos. (p.59)







terça-feira, 4 de junho de 2013

Lançamento do novo livro de Joaquim Pessoa

Guardar o Fogo é o novo livro do poeta Joaquim Pessoa. Com a chancela da Edições Esgotadas, o livro será lançado dia 8 de Junho, sábado, às 17h00, na livraria Bulhosa do Campo Grande, em Lisboa. A Apresentação será feita por Maria da Conceição Andrade e Maria Fernanda Navarro, autoras do texto introdutório.


Como o título indica, Guardar o Fogo reúne poemas sobre a natureza da palavra e o laboratório poético de Joaquim Pessoa, e vem responder a um projecto do autor de concentrar num livro a relação do poeta com o ofício enigmático da palavra, a busca do tutano e da textura, os «ossos de uma paciência que persegue o mundo». Neste sentido, o fogo guardado nas 388 páginas é uma libertação de ar para os leitores e estudiosos da poesia, em geral, e da poesia de Joaquim Pessoa, em particular. 
 
Como poeta é sinónimo de desassossego, o autor junta 104 textos inéditos à Antologia que contempla textos desde O Pássaro no Espelho, editado pela Moraes Editores em 1975 até Ano Comum, editado pela Litexa em 2011. Guardar o Fogo é, afinal, «Um mundo de palavras. Língua/que lambe o universo para espanto/da imobilidade das estrelas.», como se lê no texto inédito da página 73.

Transcrevo, ainda, dois textos inéditos:


Poema quadragésimo terceiro

Falo-te do limite do mundo: para lá
das palavras, para lá da fala. Um oceano vazio
é a nossa boca, território atormentado por
uma água seca antes das cerejas e depois do
parto. Cordão que liga o teu tempo
a um tempo universal: da tua voz,
ao canto tremendo das estrelas, fogo
cantando luz.

Luz, e ouro altíssimo: sangue, ideia, ventre, vida. (p.75)


Poema quinquagésimo primeiro

A escrita
foi a terra prometida 

Por ela
as águas se abriram
para que o poeta guiasse
o seu povo de sílabas. (p.83)


sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Tempo e Memória" de Albano Martins, no Porto


A Exposição Biobliográfica Tempo e Memória, do Poeta Albano Martins, vai estar patente no Porto, de 25 de Maio a 1 de Junho de 2013, no auditório da Fundação Engenheiro António de Almeida, à Rua Tenente Valadim, número 325. A inauguração está marcada para as 16h00 de dia 25, e estará aberta ao público, de segunda a sexta, entre as 14h30 e as 18h30, e sábado, dia 1 de Junho, entre as 14h30 e as 17h30.

Perto de completar 83 anos (em 24 de Julho próximo), o poeta beirão volta a contar com o carinho da cidade que o acolheu há mais de 40 anos, onde mergulhou raízes, criou amizades e a sua poesia medrou, como o próprio refere no texto Sou um homem do sul, escrito em 2007 e publicado no livro A Palavra Perfeita (ver link). É  nestas quatro décadas que Albano Martins atinge o mundo inscrevendo nele o seu nome entre os grandes poetas universais, tendo poemas traduzidos  em espanhol, catalão, francês, italiano inglês, chinês (cantonense) e japonês; é neste espaço de tempo que traz para língua portuguesa poetas clássicos gregos e latinos, Pablo Neruda, entre tantos outros.
«Relógio: a caixa /dourada onde o tempo /vive aprisionado.», lê-se em Estão Agora Floridas As Magnólias, o mais recente livro de Albano Martins; é da mais pura e dourada filigrana a memória que o poeta nos apresenta nestas exposições.


Recordo que a exposição Albano Martins, Tempo e Memória, onde se narra, com documentação vária, a vida de letras e afectos do poeta, esteve patente no Casino Fundanense, Fundão, de 27 de Outubro a 25 de Novembro de 2012, no ensejo do tributo que lhe foi prestado no Paul (na Casa da Cultura José Marmelo e Silva) e no Fundão.


  (Albano Martins, à esquerda, na Casa da Cultura José Marmelo e Silva e, à direita, pormenor da exposição Tempo e Memória, no Fundão - clicar na imagem para aumentar)

Se a exposição da invicta  recupera a exposição do Fundão, surge, todavia, mais alargada, nomeadamente com a inserção de fotografias, desenhos, pinturas e esculturas de e produzidas por amigos de Albano Martins ao longo dos anos,  marcas de diálogo e cumplicidade na jornada da vida.

Ainda, na Homenagem do Fundão foi lançado o Uma Vida Interior Na Escrita Da Paisagem, um pequeno belo livro editado pela Câmara Municipal, que reúne duas abordagens críticas da obra de Albano Martins, testemunhos, dados biográficos, bibliográficos e fotografias, tudo contributos para o conhecimento do poeta comprometido com o humano.

(à esquerda, livro de testemunhos lançado no Fundão; à direita, Fernando Paulouro, Perfecto Quadrado, Albano Martins e Paulo Fernandes, no Casino Fundanense)

Deixo um extracto do texto inédito de Albano Martins, publicado no Uma Vida Interior Na Escrita da Paisagem:

«[...] foi este chão, o chão da Rascoa, que me deu a seiva, me definiu o ser e moldou o carácter. Dele vêm o sol que percorre a minha poesia e o sangue que sustenta as flores que nela medram e vicejam. Depois  do leite materno, foram os frutos da terra e as águas da Meimoa que me alimentaram a infância. Eles e o vento que por ali passava às vezes a galope, levando consigo as folhas das árvores, a espuma das horas e a poeira dos dias.».

Outras imagens da Homenagem no Paul e no Fundão:




Ver textos meus sobre Albano Martins, AQUI

sábado, 30 de março de 2013

Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, Nuno Dempster


 Texto editado no sítio da Orgia Literária , a 26.03.2013.
«Entremos pelo mito de Inês dentro». Chame-se o irreal, o que se quer «do exílio da rainha degolada», e desvie-se o poema para a verdade do presente. O poema longo Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, de Nuno Dempster, sabe que as palavras criam realidades e mostra-nos que o que «Interessa é o olhar com que fitamos»: um olhar que liberte a alma de que fala o mito, limpo da ilusão mundana e de denúncia da vida informe dos homens.
 
Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo compreende um conjunto de poemas, na justeza e vivacidade do decassílabo, mosaicos unidos pela memória e pelo olhar, entretecidos por um vaivém incessante, pelo que devem ser lidos como um poema longo. A indústria desta escrita conta com o efeito estético da clareza vocabular, recorrente em Nuno Dempster, que dá ao poema dinamismo, fluidez, estremecimento, desagregação, inquietação; as palavras são depuradas e rigorosas ou, mais exactamente, como é dito pelo autor no poema «Poética», incluído no seu livro Dispersão, Poesia Reunida, de 2008, as palavras são «tão exactas /quanto é possível ser exacto um pássaro /que não é bem pássaro», e «da experiencia íntima se libertam /e iluminam e falam as palavras, /e tão cuidadosamente que esse pássaro /torna a ser, daquela imagem, o pássaro /que voa, verdadeiro, no poema.» (p.235).
 
 
 Na construção da verdade, imaginar é ver e ver é conhecer: o sujeito poético vê «cenários apagados» de um tempo longínquo, imagina a vida interior da qual a História só «escreve equações», ouve diálogos que não vêm em «nenhuma das crónicas do reino» e recria a «poesia, /que se gera no sentido inverso à vida: /Inês num paraíso que não há, /caminha virtual entre poemas.». Se ver é conhecer, conhecer é agir: o que interessa de Pedro e Inês ao poema é a sua condição de clandestinos, porquanto «tudo nos garante que na vida/ foram somente humanos e, por isso,/ menos sentimentais do que se sonha» (p.32); soltam-se os mecanismos para dar voz ao grito, à «urgência da denúncia» que bate nas «têmporas» do mito e do poema: o intenso presente resgata Pedro e Inês da «meia luz da lenda», «o sol devolve-os ao quotidiano» presente, o poema move-se de um tempo para outro, de um lugar para outro, de um corpo para outro: «Pedro e Inês estão vivos e caminham/ pelas ruas urbanas, são a imagem / que salva da tristeza quem não vive /como eles se entregaram: doidamente.» (p .30).

Heresia há seiscentos anos, o amor louco, trangressor, surge no presente como impossibilidade: «Pedro e Inês são o exemplo de que só /um grande amor exige amor maior, /e assim a perfeição da vida humana, /não o quotidiano que nos rouba /a existência de modo tão anónimo./”Pois”, respondo. “Percorram a cidade / e entrem em um dos prédios suburbanos /à hora do jantar. O cheiro a fritos /é coisa que não liga com amor /de príncipes. Se tanto, Pedro e Inês /são um casal de amantes sem história /que chegou de autocarro e ninguém viu.” (p.31).

Do par dos amantes do mito, é Inês, «ícone do Mito», «razão do Mito», a «nossa Matriz», que detém uma espiritualidade superior, uma verdade oculta que o texto aclara: Inês, a quem deveria passar «pelos olhos uma sombra, /como sucede a todas as mulheres /em dias negativos para o amor», representa «a vida sucessiva das mulheres», é a mãe infeliz que, «ajoelhada, chora pelos filhos/e por ela», numa prece onde «também estão as outras/mulheres que morrem por amar», Inês «é o exemplo da morte delas todas: habitam o poema, reclamando: /”Testemunhem-nos sempre com revolta». (p.49). Se o poema se assume como voz de revolta, também incita o leitor à reflexão de que sem se repensar o amor não haverá espanto: «Senta-te no silêncio das arcadas /místicas da abadia. Frente a Cristo, /vai pensando nos ossos de Pedro e Inês / […] /Medita então na morte dos amantes / […] e pensa o grito /que alguém deixou no livro dos profetas. /Sai então do mosteiro, observa a praça /[…] Onde estão Pedro e Inês? Ninguém os vê./ Um a seguir ao outro, a morte teve /a carne luminosa dos seus corpos /e hoje os ossos antigos nada dizem: /o presente é o largo do mosteiro/ e a lojista ao fundo que dispõe /a tralha de recuerdos sempre iguais, /e nada irá surgir ali que espante.» (p.57).

O próprio eu acaba por ser envolvido nas malhas do olhar severo e amargo que resulta do conhecimento da realidade, característica que atravessa toda a poética de Nuno Dempster. «Criei-te de alegrias e tristezas: /de tantas circunstâncias, tantas coisas. /Já não és senão como te sinto.», escreveu Konstandinos Kavafis. Em Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, a memória desenha sombras que já não são as das figuras do mito, mas as de uma interioridade avassalada pelo desencanto, pela descrença, pelo niilismo: «com as palavras nuas deste tempo, /forma-se o desencanto dos poemas/ e vai-se refractando a luz da lenda, /até sobrarem só coisas vulgares», ou, ainda, «As lendas são ingénuas como sóis /em um caleidoscópio adolescente […]/Agora que perdi todo esse encanto /em ondas sucessivas de descrença […] /Pedro não a acompanha, não o vejo,/afastou-se de Inês que vai morrer, /não sabemos ao certo porquê. Usa-se, /na história dos compêndios escolares, /a mesma manha impune das notícias: /esconde-se a verdade em verbos ocos /e mata-se nas frias madrugadas.» (p.46). O futuro é, assim, uma figura de ausência, interrogação e até dissolução, esta presente na diáspora com peso de exílio: «quem sabe um dia emigrem como povo /e fiquem pelos livros sem voltar».

Ainda no contexto dramático da existência, o poema, com olhar largo, nomeia os assassinos do amor: a vida, a guerra, a indiferença, o desprezo, a falta de esperança, a descrença, o desencanto: «[…] já nem se ouve o grito degolado /com que a vida termina de repente. /Há muito se tornaram em costume. /Assim Inês, assim os outros todos /que a História não regista. Todavia, /vivemos sobre mortos que nos gritam /quando acordam. Ines e Lorca gritam /(“se le vio, caminhando entre fuziles”), /grita ainda no Prado o homem de Goya, /longos versos de Sena aos fuzilados. /Revolvo-me ao ouvi-los, Inês bela. /Não conheço justiça que os redima, /e, com eles, os outros mortos todos /que nenhum deus salvou da madrugada.» (p.50). «Seiscentos e cinquenta anos passados,/ tudo pode mudar-se», diz-nos o texto que, estribado na memória, cumpre com mestria a viagem pelo real transportando a consciência de que a literatura pode e deve ser inovação. A partir de agora, qualquer incursão artística ao mito inesiano tem de passar, obrigatoriamente, pelo poema Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, de Nuno Dempster.

Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, Nuno Dempster, Edições Sempre-Em-Pé, 2011
Outros textos meus sobre livros de Nuno Dempster, AQUI
 
© Teresa Sá Couto

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Inútil dedicada à Morte

Disponibilizo aqui o meu texto que serviu de base à Apresentação pública da revista  Inútil, número quatro, que aconteceu na fnac do Chiado, em Lisboa, no passado dia 25 de Janeiro de 2013.

(imagem da capa e fotografia do interior, esta a duas páginas, de Rui Aguiar - clicar para aumentar)
 
A Morte

Detendo-nos na capa, divisamos os símbolos próprios de um percurso de iniciação: em fundo branco, uma porta branca, cor da lua (símbolo de morte e regeneração), uma porta fechada, como o luar é a tampa do sepulcro, na formulação de Teixeira de Pascoaes que diz, num poema, medir os anos, a sua idade, por metros de profundidade sepulcral, de lá «ergue-se, como espectro, inclina-se sobre ela para ver-lhe o fundo, sente vertigens e retira os olhos espantados». Este número 4 da revista Inútil propõe-nos um caminho iluminado pelos olhos espantados dos autores que nomeiam a morte, assim esconjurando-a. Espectros, principiemo-lo pelo fim, uma subtileza técnica, e também uma subversão, deste número que pretende escandir a morte escandindo a vida.

Sónia Baptista aponta-nos o chão que nos acolhe, a terra que «Não faz na morte distinção» entre os seres vivos, e fala-nos também da água, símbolo da vida, mas também do abismo: «Peixe vermelho /na água desafogado para cima /tornou-se salva vidas /boiou para baixo /encarnado”.

A nossa vida é uma dança de espelhos, porque eles dão-nos a terrível duplicação visual da realidade, a verdade de que a vida é também morte, e vemo-nos reflectidos nos esqueletos da ilustração da página 7; ouvimos, também, os sinos que, como relógios, marcam-nos as pulsações; ouvimos o ensinamento dos sinos de Edgar Allan Poe, o alarme dos sinos, o seu uivo, “carrilhões afinados” que marcam e regem o tempo com aprumo, interpretando o futuro, os sinos que “plangem aos finados”. Bénédicte Houart fala-nos de «espelhos caseiros», de sinos e do espírito dos mortos que nos habita: os espelhos com o seu hábito antigo de se estilhaçarem, «um ruído familiar» como outros que ouvimos no decorrer dos nossos dias: «O estilhaçamento regular dos espelhos. Compassando o tempo, como os sinos; não as horas ou as meias ou os quartos, mas o tempo que demora para que um rosto se componha e se desfaça, se recomponha e volte a desfazer-se. Isto é a vida. E os espelhos continuam esse trabalho bem depois da morte de quem neles se mirou, e se espantou, talvez, por existir.»; aludindo ao movimento que urde a vida, escreve Ricardo Tiago: «há dias em que morro /e a terra move-se. // nos dias em que há mortos /eu durmo / e a terra move-nos.»; na soberba fotografia de Rui Aguiar, ressoam, como sinos, as palavras de Herberto Helder: «Tocamo-nos todos como as árvores de uma floresta /no interior da terra. Somos / um reflexo dos mortos».
 
Transitoriedade, efemeridade, ilusão da vida estão metaforizadas ao longo de todo o compêndio, como na imagem do cadáver de um pássaro, de João Braz, no rosário de laborioso crochet de Paula Fernandes, na ilustração do quimérico banquete da vida, de Catarina Sobral, nas rendas e véus puídos do tempo desfeito, nas fotografias de Mami Pereira.
 
Afinal, “Tudo é soma na natureza humana.”, escreve Nuno Brito, e Casimiro de Brito invoca o Tudo da soma dos poucos com que se dissipa a vida: o Tudo é o Amor, porque nada mais fica. «Ama agora. Dou tudo, dou-me todo e não recuso nada.», lê-se. O motor que impulsiona o ser para o exterior será o coração , pois ele, na formulação de María Zambrano, “é o símbolo e representação máxima de todas as entranhas da vida”,  portanto uma “interioridade aberta” porque ao oferecer-se não é para sair de si, mas para levar para si tudo o que vagueia fora. As ilustrações de Rui Vitorino Santos evidenciam um corpo aberto pelo coração donde saem árvores; a ilustração de Sofia Morais traz-nos um homem de coração na mão mirando a sua sombra torturada ou, ainda, e finalmente,  o Tudo, o Amor eterno de Pedro e Inês no corpo arborescente de Ana Lacerda, da fotografia de Amir Filho.
 
Com fotografias e textos, André Gago, o convidado central, mostra-nos que a vida é a máscara da morte. Fixando os olhos nos olhos da morte, movido pela curiosidade «de ser até não ser», diz-nos André Gago: «Agarro-me muitas vezes à ilusão de estar vivo, porque as minhas mortes são devaneios. Nesses devaneios da morte, soletro os nomes amados, e acabo por me encontrar a salvo num rochoso pico de audiência íntima, num clímax de enredo que promete a sequela. Adio o desfecho, como quem quer escutar ainda o silêncio que sobrevém à paragem do relógio. Quero espreitar o mecanismo da morte por detrás do pano, porque sei que ela é puro teatro.».
 
«Cara senhora, és criminosa», escreve Maria Quintans à voluptuosa, altiva e inexorável senhora morte da fotografia de Edgar Keats. A reacção ao crime está patente nas ilustrações convulsivas de Bruno Corte, num mapa de tensões a fazer lembrar-nos os registos pulsionais de Henri Michaux, ou nas ilustrações de Joanna Latka, murais com olhos escancarados e bocas negras em corpos moles, bocas negras de silêncio à procura da palavra dura. A palavra suspende o tempo e, assim, preserva-o. É isto que nos diz Maria Quintans: «a palavra é uma folha nova de consciência quente na sofreguidão do desgosto até que caia em imagem.». Palavra confunde-se com “mãe”, a que “nunca se despede”, que nunca diz adeus.
 
Maria Quintans, Ana Lacerda e João Concha fazem da Inútil revista um objecto mágico de palavras e imagens; «mágico, poeta e maluco são palavras sinónimas», disse, e ainda, Teixeira de Pascoaes. Aqui confluem gerações de artistas, de estilos e sensibilidades diversas, e dá-se visibilidade a novos autores, (até se tira do anonimato a «Noite Escura» de um poeta encontrado ao acaso nas veias do Bairro Alto). Aqui gera-se oxigénio imprescindível para animar o asfixiado panorama cultural português.  
 
© Teresa Sá Couto