Se o pintor soube retratar como poucos esses sinais sociológicos caracteristicamente portugueses, a sua pintura assinala-se pelo constante movimento, numa estimulante invenção e reinvenção que o levou à procura de «um cada vez mais nítido domínio da cor», a penetrar noutras dimensões da linguagem e exploração cromática. Uma pintura não abstracta, mas sim metafísica cujo diálogo se encontra neste livro de partilha e que é, também, uma homenagem à Cultura Portuguesa.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
A Arte maior de Nikias Skapinakis
Se o pintor soube retratar como poucos esses sinais sociológicos caracteristicamente portugueses, a sua pintura assinala-se pelo constante movimento, numa estimulante invenção e reinvenção que o levou à procura de «um cada vez mais nítido domínio da cor», a penetrar noutras dimensões da linguagem e exploração cromática. Uma pintura não abstracta, mas sim metafísica cujo diálogo se encontra neste livro de partilha e que é, também, uma homenagem à Cultura Portuguesa.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
As Mulheres na pintura de Isabel Botelho
Para ver ao vivo e conferir o afago que nos chega pelo olhar, para se disseminar por todos os sentidos....
Jorge Pinheiro - Pintura de silêncio e luz
- Senhor, tenho dois filhos. Qual deles devo levar comigo?
- O teu único filho.
-Senhor, cada um é o filho único de sua mãe.
- Leva o filho que tu amas.
- Senhor, amo os dois.
-Leva o filho a que tens mais amor.
- Senhor, o que devo fazer na terra de Moriá?
-Oferece um holocausto no meu altar.
Nas telas, as personagens «movem-se entre um grito de terror e o sacrifício». Nem falta o holocausto no altar de pedra, nem o grito da mulher e mãe que ressoa num infinito sofrimento – à maneira de O Grito de Munch –, a evocar e a convocar toda a humanidade. E o silêncio está lá, denso na tragédia, estridente na denúncia da ruína humana, instigando à reflexão: «Qualquer morte é um sacrifício, um drama que desce sobre a pedra do sacrifício.».
«Jorge Pinheiro: um pintor, um signo. Na procura de uma verdade pictórica, o pintor deixa percorrer a sua obra de uma luz que ’incendeia’, com uma arqueologia nostálgica e com a fragilidade de uma existência longínqua, ícones, índices e símbolos», escreve João Miguel Fernandes Jorge sobre a pintura de Jorge Pinheiro.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
ZECA AFONSO - NOME DE LIBERDADE
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Sociedade secreta de Vila-Matas, em Lisboa
Desta vez “desmantela-se” a conspiração shandy ou sociedade secreta dos portáteis, fundada em 1924 onde conjuraram escritores de renome da literatura universal, como García Lorca ou Scott Fitzerald. Com todos, por acontecimentos bizarros e hilariantes, o leitor viaja à psicologia dos criadores, que jamais verá da mesma maneira: este portento de Vila-Matas, como o próprio diz, permite-nos conhecer «os que tornaram possível que hoje se possa desmascarar com mais facilidade do que nunca todos os que, como disse Hermann Broch, “não é que sejam maus escritores, mas sim delinquentes».
Esta "História Abreviada da Literatura Portátil" foi publicada pela primeira vez em 1985 e é uma obra emblemática de Enrique Vila-Matas, traduzida em inúmeras línguas e, «transpondo as páginas do livro, originou diversas conspirações na vida real» ou não fosse o seu conteúdo “abrasivo”. A conjura shandy – que significa alegre, volúvel e maluco –, cuja característica era a de conspirar por conspirar, foi o «elo de união dos que formaram uma sociedade secreta sem precedentes na história da arte». Fundada na foz do rio Níger, foi dissolvida três anos depois, na sequência de um escândalo em Sevilha.Dela fizeram parte, entre muitos outros, García Lorca, Scott Fitzerald, Marcel Duchamp, Walter Benjamin, César Vallejo, Rita Malú, Valery Larbaud, Berta Bocado, Alberto Savinio e Georgia O’Keefe.
Pela mão de um narrador-investigador daquela sociedade secreta, mergulha-se na «história abreviada ou avariada» de escritores com atracção pelo minimalismo e defensores da «apoteose dos pesos ligeiros na história da literatura» e segue-se-lhes o rumo por vários pontos do mundo, «peregrinos medievais para quem o essencial era a viagem» e terem histórias para contar.
Para se ser shandy, e assim ser-se admitido na sociedade secreta, havia requisitos a cumprir: exigia-se um alto grau de loucura, ter uma obra que não fosse pesada e coubesse numa caixa-mala – para se cumprir o gosto de viajar com uma maleta que continha toda a obra –, «ter espírito inovador, sexualidade extrema, ausência de grandes propósitos, nomadismo infatigável, tensa convivência com a figura do duplo, simpatia pela negritude, o culto da arte e da insolência». Todos requisitos para a concentração na criação artística e apologias do desconcerto, «como fonte inesgotável de novas e estimulantes sensações».
Loucura, criação, fraude e magnetismo
Porque a solidão é necessária para criar, todos odiavam crianças, elucidado na história de Walter de la Maré que, «na sangria da vontade, da independência, da liberdade de concentrar-se no trabalho», chegou a atirar o filho pela janela. Em busca do retiro amigo da actividade criadora, muitos shandys resolveram fazer uma viagem imóvel ao fundo do mar, refugiando-se durante algum tempo dentro dum submarino ancorado no fundo das águas do porto de Dinard, na Bretanha, uma antiguidade bélica da primeira guerra mundial. Uma Nave de loucos, onde se libertava a excitação, o fumo e o álcool, que «evocava a bíblica Arca de Noé, tão parecida com o submarino, pois nunca como nesta ocasião houve tanta variedade de feras portáteis reunidas».
O escrúpulo em relação ao pormenor era justificado por só as coisas mínimas permitirem viver intensamente. Por outro lado, «miniaturizar é tornar portátil, e esta é a forma ideal de possuir coisas para um vagabundo ou exilado». Mas miniaturizar é também ocultar, daí o fascínio dos shandys por tudo o que exigisse ser decifrado: emblemas, manuscritos, anagramas. E assim seguiam, com a sua caligrafia microscópica, enigmática, volúvel e maluca, «coleccionadores carregados de coisas, quer dizer, de paixões».
Na “simpatia pela negritude”, refere-se Blaise Cendrars com a sua Antologia Negra que, baseada numa «intensa biografia», coligia histórias populares africanas, e propunha-se reproduzir «pela primeira vez na Europa contos que missionários e exploradores foram transmitindo oralmente». Concluiu-se que as estórias de Cendrars eram uma fraude, fabricadas pelo próprio, «apanhadas no ar» e construídas a seu belo prazer.
Por breves 107 páginas, o leitor segue magnetizado pela escrita indomável do autor catalão, que apresenta e polemiza o impensável, e que, veloz, só admite pausas na leitura para a interjeição do espanto, o sorriso que reage à ironia ou a reflexão proposta pela singularidade. E segue os encontros dos portáteis nas sextas-feiras, numa livraria, a polémica dos suicídios reais e literários - com a moda de suicídios por barbitúricos, numa «grande orgia de pastilhas», em quartos elegantes de hotéis europeus -, o “extravio” de alguns membros dos portáteis, por desistência, incompatibilidade ou morte, até à extinção da sociedade secreta heróica, em 1927.
História Abreviada da Literatura Portátil, Enrique vila-Matas; editorial Campo das Letras, Porto, Junho 2006
Nota: texto meu sobre Da Cidade Nervosa
© Teresa Sá Couto
Crónicas de Enrique Vila-Matas
Portugal “deliciosamente atrasado”
© Teresa Sá Couto
nota: este texto foi publicado no sítio da Orgia Literária em 20.06.2008
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
O erotismo de David Mourão-Ferreira
Os mistérios da pele
Afinal, como diz o poeta, «Nós temos cinco sentidos: /são dois pares e meio de asas. /- Como quereis o equilíbrio?».
(to Artur)
© Teresa Sá Couto
«Emendar a Morte, Pactos em Literatura»
«se é certo que nele a intensidade de uma voz pessoal se faz sempre sentir, não é entretanto menos visível que essa voz não coincide com os estritos (e estreitos) limites daquilo que usualmente consideramos como “o indivíduo”. Este indivíduo é sobretudo, para Vergílio Ferreira (aqui uma vez mais com Dostoiévski), o lugar onde repercutem as várias vozes do mundo: passados e presentes; classes e pertenças diferenciadas; realidades vividas e outras tantas imaginadas, ou temidas; géneros de identidade sexual que se falam; memórias e futuros que se encontram nodularmente no momento intenso do presente; idades do homem para quem o passado nunca está encerrado e para quem o futuro faz parte do agora – todos estes discursos entretecem e em última análise produzem o discurso individual, nele fazendo cristalizar os múltiplos e mutáveis pactos pelos quais tecem a sua vida.».
nota: Helena Carvalhão Buescu editou em 2007 o livro de poesia Ardem as Trevas e Outros Lugares, que aconselho vivamente
© Teresa Sá Couto
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Os fios da poesia de Ana Luísa Amaral
O fundo do abismo
ou da muralha
saber até à precisão mais certa
as unhas de distância
para o céu
Horror é conhecer
O vento mais macio
a bandeira mais clara
a que anuncia
mas sem dentes nem
mãos
Horror é conhecer:
tudo o resto se cura
com a vida
«Podem ser do que forem
as pontes de que falo,
que nada lhes retira a alma mais oval
como a do espelho
que tive há muito tempo.
III
Tive um espelho em criança
que me lembrava um rio,
me fez lembrar um rio,
as suas pontes.
Falei. Que o coração possa Sonhar –
E o pastor-estatuário,
que guardara e gravara o que de mais ninguém,
viu como o aguardava tudo, ou quase:
os mais perfeitos prados,
o absoluto e recortado amor,
em sonho: o mais tangível.
E aquilo que os seus olhos contemplavam
não tinha jeito ou modo
em tempo algum
E desejar
era maior que tudo
– o mais vivo navio
para a viagem
À procura da «Génese do Amor»
O grito inteiro de Camões
A Génese do Amor, Ana Luisa Amaral; Editora Campo das Letras, Porto, 2005
© Teresa Sá Couto