terça-feira, 8 de junho de 2010

Fernando Pessoa - tributo à alma estilhaçada e sem fronteiras

Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1888 e morreu, só e doente, em 30 de Novembro de 1935. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres com o testemunho de cerca de 50 pessoas. No cinquentenário da sua morte foi transladado para o Mosteiro dos Jerónimos, a última morada concedida aos mais altos dignitários de Portugal, para junto daqueles que admirou: o sonhador e o martirizado, Vasco da Gama e Camões.

Mensagem foi o livro da sua vida e o único que viu publicado em vida. A sua voz, impiedosamente denunciadora, e hoje tão actual, grita esta terra onde «tudo é nocturno e confuso», com «três espécies de Portugal, três espécies de português»: um começou com a nacionalidade, «é a forma e o fundo da nação, trabalha obscura e modestamente. Existe porque existe, e é por isso que a nação existe». O outro «é o português que o não é», o que governa o país, «mas divorciado do país que governa. Contra a sua vontade é estúpido». O terceiro é o «português que fez as Descobertas, o que sonhou, mas que se foi em Alcácer Quibir», deixando, porém, alguns parentes que intentam, ainda no sonho - são os portugueses que «projectam a fé», que procuram ideais.

Deixou-nos um acervo genial de palavras, multiplicadas pela sua heteronímia, marca de um indivíduo que não coube num só corpo nem numa só alma. A escrita de Mensagem foi iniciada a 21 de Julho de 1913, finalizada em 26 de Março de 1934 e posta à venda simbolicamente, em 1 de Dezembro desse ano.

Eu nunca fiz senão sonhar

Mensagem é, também, a voz de um povo, uma raça que partiu em busca de uma Índia, que a tomou e perdeu. Porém, todas as naus são de sonho logo que esteja em nós o poder de as sonhar, ou Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Expõe-se a dor, a nostalgia, a saudade, mas fomenta-se um devir com glória, com um olhar fito no mar, no horizonte, na esperança: Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?.
.
É preciso que a chama ilumine o herói, fecunde a realidade e faça com que a vida valha a pena ser vivida. E dá-nos o seu exemplo: Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso. Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que sou: viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma lenha desse fogo.
.
«Eu nunca fiz senão sonhar», escreveu Bernardo Soares, semi-heterónimo de Pessoa. E a mensagem final de Pessoa é que Portugal tem de se elevar através de uma espiritualidade forte, capaz de subjugar todas as adversidades. É um repto para se cumprir...

© Teresa Sá Couto

2 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

:-)
Sem dúvida. e a minha maior dúvida é: serei algum dia capaz de criar?


csd

Teresa disse...

Cláudia, todos nós temos testemunhado a tua capacidade de criar! :)

Beijinho
T.